Missão de Aprendiz 3: O Dragão De Hoen em minhas mãos!

As ações caricatas do especialista pouco impressionavam Jarbas que no máximo fazia algum esforço para não rir e não dar moral à loucura. Enquanto não havia grande intimidade entre eles, o homem preferia se manter sério e profissional, só não escondendo a decepção de não ter o Carlos em pessoa para ajudá-lo.

– Derrotou o velho Carlos, uhm?! Com um par de fadas tá tudo tranquilo. – comentou casualmente, sem saber que logo pagaria com a língua.

Enfim, observou Katakuri fazer sua análise prévia do cocô. Seguindo sua linhagem profissional, levava uma mão ao queixo agitando a cabeça positivamente, enquanto absorvia as conclusões. Mas antes que pudesse se manifestar teve que abrir espaço para os dragões invocados ao seu redor. Aí pagou com a língua do comentário anterior.

– Uh... É por isso que ele andava falando em se aposentar? – murmurou baixinho enquanto olhava surpreso de um a outro dos grandes dragões – Eh-hem. Bem, você tem um ponto. Que era de dragão eu já suspeitava, trabalhei aqui durante anos no passado. Acredite em mim, não são só Bagons que vivem por essas bandas. – respirava fundo para tentar tirar os olhos dos bichos.

Jarbas refletia, entre outras coisas, sobre a proposta do treinador. Não seria uma má ideia adotar essa estratégia, mas dali nem todos tinham a habilidade de voar e... Bem, será que dragões tem um faro bom pra essas coisas? Não seria melhor cachorros? Enfim, voltou para perto de Katakuri, para apontar melhor os itens que via o treinador tirar de dentro do estojo.

– Já fez exame de fezes alguma vez? Pois bem, aí tem um potinho lacrado com uma espátula dentro, use-a para tirar um pouco de merda e por no pote. De preferência na área onde não meti a mão. – voltava a encarar os Pokémon, refletindo na proposta – O que você sabe sobre demarcação de territórios dos dragões? Ou comportamentos de grupo? Sua ideia não é ruim, mas só consigo pensar em questões de feromônios pra justificar a tentativa.

Além dos itens coletores pras fezes, Katakuri ainda encontraria lupa, para olhar de perto quaisquer macrofragmentos que pudessem estar presentes no bolo fecal; pinças para remexer e coletar coisas ali no meio; tirinhas de papel com reagentes que lhe permitiram descobrir o pH do cocô; uma caixinha com lâminas de vidro, mas que provavelmente só seriam úteis se houvesse um microscópio auxiliar; e uma série de outras coisas mais específicas, como estilete, bisturi, alfinetes, linha...

Katakuri – Bagon?! Nunca nem vi – Meteor Falls

– Ah não, eu não sou nenhum especialista em dragões. O pouco que eu entendo também vem da literatura ou conversas com o especialistas, como o Carlos. Eu sei que há outras espécies aqui porque já vi. – contemplava a parte do céu que dava pra ver pela abertura na caverna – Bem, você acabou de apresentar um fato sobre Pokémon nascido em cativeiro e criado por treinadores desde sempre. Eles não são tão iguais aos selvagens. Mas na falta de alternativa melhor, vamos nessa então.

Era uma concordância ao "não custa nada tentar". Mas antes ele precisava averiguar se Katakuri estava se virando bem com a tarefa dada. Viu o potinho com a amostra coletada, sim, porém seu sorrisinho veio da cena do treinador com as mãos sujas de bosta. Claro, bem menos do que ele esteve há alguns minutos, mas ainda assim parecia o início de um troco do karma.

Quanto à curiosidade do especialista em descobrir mais coisas naquele monte de cocô, houve um leve sucesso. Encontrava pequenos tufos de pelo - sem cor determinável ainda, por estarem sujos - e ossinhos, que sugeriam um hábito predador. Também haviam lascas de pedra ao redor, mas estas não estavam sujas, era mais como se tivessem caído ali antes do ato.

Na parede da caverna estariam as respostas. A própria irregularidade da parede teria escondido as marcas de crateras bem arredondadas de algo que colidiu com ela diversas vezes em pontos distintos. Podia ser uma nova pista afinal, principalmente para quem entendia bem o comportamento de certas espécies.

– Não quer coletar mais e levar pra viagem? Pra ir renovando o cheiro. A gente precisa sair daqui antes de começar a busca. – Jarbas tirava o Rotom Phone da mochila e começava a analisar algo na tela.

Katakuri – Bagon?! Nunca nem vi – Meteor Falls

Jarbas tirava os olhos do telefone sempre nos momentos em que Katakuri exigia um pouco de sua atenção. Primeiro, para ver os demais vestígios encontrados no cocô, combinados com as conclusões aparentemente corretas do treinador.

– Ah sim. Bagon, faz sentido. A não ser que tenham vindo mais de um carnívoro ao mesmo tempo por aqui, esse cocô deve ser mesmo de Bagon. Eu só nunca tinha visto vestígios de um aqui por essas bandas. Geralmente eles ficam nas cavernas mais altas.

Depois, parou para observa a volta quando foi questionado de qual caminho seguir. Quanto a isso ele não precisou responder de fato, já que os dragões já estavam agitados atrás dos cheiros. Cada um foi pra um lado e Malygos sumiu dentro d'água depois de atender seu dono.

– Ah, veja só. Ali está sua resposta. – o pesquisador apontava para Sindragosa que por sua vez se encaminhava para o caminho de onde tinham vindo.

É claro! Enquanto os outros cheiravam as paredes e os cantos, ela lembrava do aroma que sentiu quando passaram pelo único caminho viável para um Bagon sair dali: aquela passagem estreita e apertada. Alextrasza, por outro lado, se esticava sentindo algo em direção às bordas da abertura no teto. Bagon poderia ter vindo dali, se atirando? Era uma possibilidade.

– Seguindo o rastro então. – ajustando a mochila nas costas, Jarbas se encaminhava para onde Sindra ia. Já parecia mais à vontade com os dragões, apesar de ainda encarar um a um quando passou do lado.

Katakuri – Bagon?! Nunca nem vi – Meteor Falls

O pesquisador já se encontrava a meio caminho da rampa, descendo na direção da passagem estreita da caverna - por onde ele também veio, afinal tinha uma pegada sua na outra câmara, não?! Teve que voltar ao ouvir a voz de Katakuri ecoando pela caverna, informando que exploraria outra área.

– Mas, rapaz...?! – insinuou questionar, mas reconsiderou já que o especialista voava para a borda do teto aberto com Alex – Certo. Me avise se-MINHA NOSSA SENHORA!

Foi Malygos quem deu um susto no homem, saindo da água de repente e atirando para a borda do lago uma carcaça de Magikarp com uma clara marca de dentada nas costas. Depois dos segundos de surpresa, Jarbas logo se debruçou para olhar o peixe.

– Deve ter morrido lutando, pobrezinho. E parece que nosso predador suposto-Bagon andou tentando pescar por aqui também.

Pelas ordens dadas, os Pokémon de Katakuri logo o seguiriam agora que Malygos aparecia. Era hora de Jarbas tomar uma decisão também e, portanto, respirou fundo e cedeu. Se aproximou de Sindra com cautela, fazendo uma leve reverência antes de se dirigir até as costas dela.

– Com licença, senhora. – pedia permissão para montar.

Uma vez lá em cima, encontrariam só o cume arredondado da caverna em formato de bumbum. Dava para pousar por ali, porque era extenso e pedregoso o suficiente para que não caíssem pelas bordas. Já os Pokémon, depois de farejarem a borda da abertura, entrariam num consenso por dois caminhos: um que aparentemente seguia até a entrada da caverna, e outro que seguia para os fundos dela.

Katakuri – Bagon?! Nunca nem vi – Meteor Falls

Os questionamentos de Katakuri sobre os hábitos de Bagon não intrigavam Jarbas no mesmo nível. Ele ficava curioso com os detalhes, é claro, afinal não era ele o especialista dali, mas em sua visão objetiva e leiga ele encontrava um par de teorias:

– Vai ver não é um Bagon comum. E também ele não precisa ter ido até a água para caçar, o Magikarp que pode ter tido o azar de sair pra um passeio e foi pego pelo predador. – depois dava de ombros, voltando a analisar o Rotom Phone e fazer suas próprias anotações, antes de responder a questão seguinte – Na minha imagem mental, parece provável que Bagon tenha chegado até aqui em cima, vindo por trás, ficou aqui na beirada e se jogou até lá embaixo. Ficou preso na caverna procurando uma saída, nem que fosse ele mesmo a abrir uma. Mas encontrou o caminho por onde entramos, e foi embora por ele...

Jarbas fazia a reconstituição dos fatos de forma séria, apontando para cada um dos pontos quando os mencionava. Suspirou, levando a mão ao queixo contemplando as inúmeras outras partes da cordilheira enquanto sua mente trabalhava para estabelecer uma conclusão e um caminho para seguirem.

– Existe a possibilidade de estarmos fazendo o caminho contrário ao dele. Mas mesmo assim há oportunidade de descobrirmos algo. Como tô dividido, seu voto vence, então vamos por aí. Na pior das hipóteses o rastro morre e teremos que voltar pra reencontrá-lo daqui. – concordava então com a sugestão de Katakuri.

Assim, precisariam estar prontos para uma grande aventura, porque o rastro ali nos fundos seguia em direção a um vale bem fundo, acessado pela costa bastante íngreme e irregular da cordilheira. Algumas rochas estavam soltas, o que seria grande problema para quem fosse a pé. Mas não era o caso dos humanos desta cena, que voavam.

Para eles o maior obstáculo seriam as projeções aleatórias das rochas, formando "braços" e pilastras ao longo do caminho. Conforme avançassem entrariam numa área de penumbra onde ainda era possível ver sem uma lanterna, mas o sol em si não chegava ali diretamente. Sinal de vida? Nenhum. Mas em algum ponto os Pokémon precisariam parar. Deviam sentir novamente o cheiro de quem procuravam, porque se confundiam mais uma vez para onde seguir.

Katakuri – Bagon?! Nunca nem vi – Meteor Falls