— Olha, é loira e monopsy, mas com certeza não é Katherine. — Foi a resposta que deu ao ruivo, um sorriso simples e quase divertido de imaginar que poderia existir alguém
tão parecida com a irmã; Ficava a dúvida se a personalidade também poderia ser a mesma e, se fosse, será que ele apenas estava confundindo os nomes ou eram realmente pessoas diferentes? Bom, acho que não valia tanto a pena ficar explorando pra descobrir. Mesmo que existisse a possibilidade de que Bley tivesse dado uma identidade falsa para Dietricher, com toda a certeza não seria com um pseudônimo tão parecido com o seu original.
Enfim... Acho que é válido dizer que aquele foi o último momento que seguiu com, digamos assim,
tranquilidade. Não só pelo fato de que precisava lidar com o Rocket à frente, nem pela questão de que era mais que óbvio que ele não sabia mentir (o que era meio esquisito, porque um criminoso não dura muito tempo no ramo se não conseguir enganar alguém ou, no mínimo, for o mais sincero possível no que tem a dizer), mas sim pela atitude de Lawrence ao fechar a pata contra o pescoço do moreno e expor uma das suas pernas para Robb com uma única bicuda nada cuidadosa. Eu admito que foi ali, e
só ali, que percebeu que as coisas poderiam estar...
...saindo do controle.
Veja, não era santa. Queria pensar que era, queria fingir que era, mas sabia que não era. Já tinha tido sua cota de, hmm,
interferência no ciclo da vida, por assim dizer, só que... Nunca tinha tido que lidar com a imagem clara, nítida e visível do desespero estampado na expressão de qualquer um. Sempre havia gozado do luxo de deixar tudo nas mãos de seus pokémons, em meio à neblina, dando as costas, deixando pela conta de Karinna, deixando pela conta de outrem e...
...daquela vez, não parecia que teria aquele tipo de luxo.
O arrepio veio sóbrio pela linha de sua coluna e, como reação quase automática, virou os calcanhares e deu as costas para o criminoso ajoelhado. Precisou fazê-lo, pois precisava lidar com o incômodo e a dúvida que se estamparam à ferro e fogo no brilho dos olhos, as mãos se apertando com discrição nos bolsos do moletom e as pupilas vagando pelo chão de terra batida, pelas folhas caídas, os dentes se pressionando com delicadeza contra as laterais da língua, a garganta se entalando em um nó desconfortável que delicadamente roçava contra suas cordas vocais.
Agem como Elites Rocket, foi o que ele disse.
...desde quando já tinha se entalado até o pescoço daquele jeito naquela organização imunda?
As pálpebras se apertaram, suaves, desconfortáveis. Ela respirou fundo uma, duas, três vezes, uma mais devagar que a outra, a unha do polegar se arrastando com firmeza contra o médio em um constante arranhar culpado. Claro que não podia ficar ali pra sempre, tinha consciência, então toda essa situação ocorreu em questão de alguns segundos: Embora, não a julguem, talvez tenham sido
segundos demais.
...respira.
... ...respira.
... ... ...respira.
— ...não, não é suspeito. — Foi o que retrucou, enfim, ao caído, ainda que não voltasse a encará-lo de imediato. A demora para se pronunciar outra vez veio justamente pela necessidade de se certificar de que a inquietação não escaparia pelo próprio tom, o coração pulsando mais forte dentro do peito a cada segundo que processava melhor a situação na qual havia se metido.
— Na verdade, é uma conclusão bem óbvia. — Continuou, o olhar se desviando para a copa das árvores por alguns segundos, as pálpebras caindo em uma tentativa de relaxar e passeando pelas falhas de céu que se expunham através das folhas.
— Você mesmo disse. — Acrescentou, enfim criando coragem para virar novamente para o homem, se aproximando em passos vagarosos - mais por receio d'alma do que por suspense em si, mas...
— Não foi? — Perguntou, pendendo a cabeça para o lado, as pálpebras quase semicerradas em uma expressão relaxada - e as pupilas chegaram a perceber a maneira como as orelhas de Lawrence estavam de pé, a pata firme no pescoço do criminoso e o carmim dos olhos focado em sua própria figura, como se esperasse qualquer sinal de que talvez estivesse indo longe demais...
Esse sinal não veio, porém.
— Você disse que não quer confusão. Você quer passar pelas sombras e não quer bater com treinadores fortes. — Continuou, se abaixando devagar na frente do Rocket.
— Se você só quisesse o Celebi, se você só quisesse pokémons raros, você não estaria aqui. É contradição com todo o seu jeito de agir. — Justificou, as costas da mão se guiando devagar ao rosto do homem e fazendo um carinho gentil, lento, que tão bem poderia ser interpretado como sádico - o tipo que um predador faria ao se deleitar com sua presa.
— ...além disso... — A mão deslizou, relaxada, para o queixo do ninja, as costas dos dedos dando uns "tapinhas" no lugar.
— ...você mente muito, muito mal. — Sussurrou para seu querido refém, dando uma piscadela e aproximando um pouquinho o rosto do seu, mas ainda sem invadir o espaço pessoal.
— Então, eu quero que você pense bem. Eu sei que você já percebeu que a gente não tá brincando sobre não gostar de Rockets... — A ponta da língua correu, devagar, pelo próprio lábio inferior, umedecendo-o.
— A questão aqui não é o que a gente ganharia com você falando a verdade, querido. — Um sorriso simples se desenhou pelos lábios claros.
— ...É o que você tem a perder se não falar. — Assoprou as palavras no rosto alheio, permitindo que ele as absorvesse bem - e que as absorvesse
rápido.
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?