001 - {Evento} -Lies are like Sour Candy

Lies are like Sour Candy

Para ser útil só me restava aquela opção, como toda boa donzela em perigo: cuidar das feridas do meu salvador e torcer pelo melhor. Confiava nas habilidades da treinadora mais experiente, além do tempo a mais de jornada, Rosemary parecia ser o tipo de mulher que já passou por muita coisa nessa vida, então saberia lidar bem com qualquer obstáculo que aparecesse em seu caminho.

O moreno, por outro lado, só tinha aparência e postura, forçada, de bonzão que sabia o que estava fazendo. E o resultado era o mais óbvio possível: as feridas, arranhões e o estado geral do rapaz falavam por si só. Alguns homens se colocam em perigo por pouco e desnecessariamente e esse cumpria todos os requisitos.

- Não precisa agradecer... Só estou tentando ser útil em alguma coisa. – Comentei, timidamente. Seguindo com os cuidados básicos de esterilização com delicadeza. Sorri para Yuri, quando finalmente soube o seu nome. – É porque vocês dois são muito parecidos. Semelhantes se repelem. Eu, por outro lado, sei que vocês têm boas intenções. Ou você finge muito bem. – Apontei algo que com certeza aterrorizaria Rose. Ela era orgulhosa demais para admitir. – Tome cuidado, viu? – Finalizei os cuidados pedindo para que Yuri fosse mais cauteloso com a própria segurança.

E após a luta se encerrar o cultista tentou fugir. O moreno imediatamente foi atrás dele, pedindo para prosseguirmos sem ele. Chequei se os nossos pertences estavam livres do efeito, ou nós teríamos que localizar o dispositivo e quebrar.

- Rose, você consegue usar seus equipamentos de novo? Verifica aí também.– Vasculhei o meu Rotom Phone e as Pokébolas para ver como estavam. Caso estivessem normais, aproveitaria a folga para curar Nougat com a minha única Potion. Só então prosseguiria com a minha amiga para o que nos esperava do outro lado da porta.

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Por sorte aquele treco estava pifado e a Pokébola do ursinho já se encontrava acessível para ser usada novamente. Libertei o Ice Type para cuidar de alguns dos seus ferimentos, uma vez que se tratava de uma poção simples e relativamente em conta. Ele não ficaria recuperado por completo, mas já era melhor do que nocauteado.

Quando terminei de fazer os curativos de Nougat, o retornei de volta para a sua esfera de captura. Algo me dizia que seria mais seguro para ele. Fora que ele ainda poderia descansar e se poupar dos horrores que nos aguardavam dentro daquela base de cultistas. Parte de mim se perguntava se eu sequer sairia dali com o corpo intacto e a alma ainda dentro dele.

- Agora que os jovens se separaram o demônio pode ir atrás das suas vítimas. – Proferi, debochando da situação com acidez. – Somos a cota LGBTQIAP+ do filme. Já sabe o que significa, né gatinha. – Incluí sarcasmo e uma leve pontada de militância – que não deixa de representar a realidade – no meio do pacote das reclamações. – Rose eu tô coringando.

Chamar de ladeira abaixo a essa altura já era eufemismo. Estávamos sentados no colinho de Giratina e dançando em seu colo caprichosamente, por uns trocados a mais. Quem sabe ele não nos ajudava a eliminar a sua outra versão apara retomar aos dias em que a concorrência estava menor. Segui o caminho sem dar muita importância para as pichações. Eram medonhas. Lógico. Porém, olha pro nosso estado: fudido era pouco.

- Owwn... Obrigado. Que querido. – Respondi ao cumprimento de boas-vindas pichado na parede. Caixão ou hospital psiquiátrico de internação? As opções eram tentadoras. – Bora de arrasta pra baixo, amiga. – Comentei, já descendo para o calabouço.

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Aos poucos as piadas ficavam de lado e a momentânea leveza, ou o disfarce do desespero, chame como preferir, ficava para trás. Bem lá pra trás. Durou apenas o tempo de eu responder a minha amiga e companheira de tormento, nem mesmo Yume conseguiu nos infernizar tanto em tão pouco tempo. Por falar nisso, o que será que aquela rapariga estava fazendo?

- Nah. O palhaço aqui combina mais com um circo. – O palhaço faz todo mundo rir, mas quem faria esse pobre palhacinho fudido sorrir? – Preciso voltar no discurso do gay e da lésbica ou você já entendeu? – Ironizei. A mesma resposta para uma pergunta diferente, para a alegria dos homofóbicos. – Eu juro por Arceus que esse Rotom vai pular fora desse celular e me colocar na justiça.

Fiz a última piada, antes da sequência de desastre que estava por vir. O meu Rotom Phone já deveria estar até com sobrancelhas juntas para esboçar raiva e insatisfação, o pobrezinho não tinha um segundo de paz. O que será que ele poderia aceitar de recompensa? Não fazia ideia do que Pokémon elétrico fantasmas que assombram telefones gostariam de ganhar como presente.

Antes que eu retirasse o aparelho do bolso da minha calça, caímos com tudo. Onde? EU NÃO FAZIA IDEIA PORRA. O meu único reflexo foi proteger a minha mochila, mais especificamente o ovo de Vanillite. E lógico que isso trouxe consequências nadas agradáveis pra mim. Por causa da manobra, bati com a parte inferior das costas e boa parte dos glúteos contra a mesa. Uma sentadona. Com direito a duas quicadas. Arfei com o impacto e lamentei pela dor que sentiria amanhã. Aí lembrei que talvez não haveria um próximo dia... Pois é.

- Eu odeio esse lugar. Odeio, odeio, odeio, odeio. – Limites não continham mais a minha aversão ao esconderijo, muito menos os traços da minha personalidade. – MEIAS MOLHADAS!!! – Surtei. Ao perceber que estava sofrendo de uma das maiores torturas já inventadas pela humanidade. – Caímos nesse inferno do caralho mesmo. A porra da pichação não mentiu. – Tentei sair da frustração, observando os detalhes que não me dariam mais gatilhos para surtar. – Três celas de cada lado... Eu sei que é muito clichê e sempre dá merda quando as pessoas se separam... Mas... É a alternativa mais rápida de encontrarmos algo. Você sabe... Pra sair daqui... Pra depois tomar um banho... colocar roupas secas... marcar terapia.

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Ainda bem que as minhas vacinas estavam em dia. Eu não tinha estrutura emocional para pensar em quais tipos de doença estariam espreitando naquele lugar, esperando um corpo sem imunidade nenhuma para atacar. Tipo os dos cultistas. Mais um motivo para não entrar em brigas corporais com eles sem necessidade, a essa altura eles já deveriam estar carregando todo o catálogo daquele calabouço.

- Tenta chamar a minha atenção de algum jeito se precisar de ajuda. Farei o mesmo. – Tomei a precaução de reforçar esse aviso, considerando o perigo iminente. – Até daqui há pouco. Tome cuidado.

Então fomos para caminhos diferentes, uma vez que as celas do lado direito ficaram para mim. Tive um mal pressentimento. Coisa boa não sairia dali. Minhas pernas doíam. Toda a parte inferior do meu corpo estava dolorida, na verdade. Continuei andando, mesmo assim, um pouco mais lento do que o meu habitual, assim eu conservaria mais energia e, em primeiro lugar, sentiria menos dor.

Assim que cheguei na primeira cela, reparei na parede esquisita cheia de marcações, mas o que me assombrou foi o estado daquele lugar. Meus próximos destinos teriam que ser em algum lavandário, uma campina de flores, uma oficina de um perfumista ou algo do tipo para compensar toda essa nojeira. Suspirei. O cheiro fresco das agulhas dos pinheiros de Snowpoint eram um sonho distante.

- Foco, Reese. – Disse a mim mesmo, de forma quase inaudível.

Graças ao estímulo verbal consegui perceber os nomes ao lado dos riscos. Uma competição entre os cultistas? Será que disputavam quem dava mais oferendas à entidade deles?

Ah...

O choque de realidade me deu um murro na cara. Esse provavelmente era o lugar onde as vítimas sequestradas ficavam... Fiquei calado por alguns segundos e, milagrosamente, a minha mente também, em sinal de respeito às vidas... Após isso, avistei uma caixinha dentro de um vaso sanitário... Por favor, que a última pessoa tivesse dado descarga antes desse objeto ir parar lá dentro.

Com cuidado puxei o item para fora. E me recusei a encostar na parte molhada sem antes usar um pouco dos meus neurônios para tentar decifrar qual era o maldito código.

- C-a-p-e-t... não dá oito... D-e-m-o-n-i... também não. – Contei as letras das palavras. – I-m-u-n-d-i-c-e. Erh, até entraria. Mas não deve ser isso... – Então o macaquinho batendo os pratos para gerar os potenciais de ação responsáveis para fazer os neurônios funcionarem voltou à atividade. – Que tal... G-i-l-a-t-i-n-a? – Inseri as letras, torcendo para dar certo.

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