Creche

A rota considerada mais básica de Johto é a situada próxima a New Bark Town, onde muitos treinadores recebem seu primeiro Pokémon, e é logicamente conhecida como rota número... dezoito.

O importante é que é um lugar seguro para eu lidar com minha creche. Tenho dois ovos que estão balançando bastante na bag of holding em minhas costas, mais três Pokémons que não hesito chamar de bebês., portanto meu objetivo é óbvio: Colocar eles num estado no qual possam lidar com as futuras missões de Mina.

Em todo caso dei meus primeiros passos na rota agora, procurei um lugar mais aberto e coloquei os dois ovos no chão, difícil ignorar que eles estão próximos pra nascer, então fiquei de olho por... acho que dez minutos? Estava prestes a desistir de esperar quando o da esquerda começou a rachar, em sequência foi o da direita, então abri as incubadoras para que não tivessem obstáculos a mais.

O primeiro a chocar foi o mais velho: bracinhos pretos - formados por algum tipo de energia fantasmagórica, creio - foram os responsáveis por quebrar o ovo pouco a pouco, e revelar o pedaço de pano que por alguma razão já tinha consigo desde nascença, rapidamente ajustou tal pano para que ficasse mais claro seu objetivo: Imitar um Pikachu. Se é assim por inveja ou fanboyismo eu não sei, fato é que esse carinha é uma das fadas mais legais que arranjei, um legítimo Mimikyu. Ele me encarou por sólidos dois segundos antes de perder o interesse.

A esse ponto o Pokémon no outro ovo finalmente penetrou a casca. É mais difícil descrever aqui o que eu acho desse Pokémon. A primeira parte que vi foi seu "cabelo", cujas pontas foram usadas como braços para socar a casca, principalmente onde Mimikyu acertou, até que fez um buraco, daí simplesmente pulou pra fora. É basicamente uma carinha com pés, um cabelo mágico e um chapéu de festa. Uma Hatenna, nativa de Galar e de tipagem idêntica à de uma Gardevoir.

Aí eu me perdi de vez.

Eu AMO como esses dois são fofos. Por isso que eu peguei os dois em meus braços e comecei a apertar um bocado, até que tomei um tapa em cada lado do rosto. Pensei que fosse Mimikyu, por razões óbvias para quem já leu sobre esse pokémon, mas não, foi a Hatenna. Ela simplesmente usou seu cabelo (tentáculos?) para me golpear. Recém-nascida ou não, alguma coisa a deixou puta, embora rapidamente relaxou quando a encarei confuso. Talvez ela só não goste de abraços? Vou olhar na Pokédex depois se tem algo sobre. Me aproximei lentamente e tentei pegá-la em meus braços novamente, dessa vez com hesitação, e não notei resistência. Deixei Mimikyu subir em meu ombro e se segurar no meu cabelo, pois dos dois até agora pareceu ser o mais tranquilo.

Ok. Acho que dessa vez eu estou seguro. Mimikyu alternou entre meu ombro e cabeça algumas vezes, antes de preferir ficar na cabeça segurando os cabelos para se apoiar. Parecia um chapéu. Já Hatenna cochilou em meus braços, foi só então que decidi caminhar. Um pouco de sol vai fazer bem pra eles e preciso encontrar alguma coisa para prosseguir com meu real objetivo nesse lugar.

Até porque agora terei mais trabalho.

Como esperado a rota dezoito é topada com novatos, então tem todo um cardápio para escolher e decidir qual deles sofrerá bullying em seu (provável) primeiro dia de jornada. Como os dois bebês estão quietos, por enquanto, caminhei com calma, parando apenas para observar a ocasional batalha. Não sei se é acaso, mas posso jurar que só vi Cyndaquil e Totodile nas mãos dos moleques, nenhuma Chikorita.

Daí minha observação foi interrompida quando pisei em algo duro. Nem olhei pra baixo, apertei um pouco mais e passei o pé tentando adivinhar o que é sem precisar olhar pra baixo, até porque com Hatenna em meus braços fica difícil, até escutar o som de dor alheia.

Um pirralho brincando de capim. Não a toa notei ser mais duro que o solo fofo dessa rota. Quer que o som ou o fato de que quase caí quando ele escapou de meu Stomp, os dois bebês ficaram em alerta. Hatenna em especial levantou um de seus tentáculos, talvez pretendia dar um golpe no rapaz, mas a apertei um pouco mais para evitar constrangimento... por enquanto. Até porque parece que eu já acabei com a coluna do jovem.

- Oh, perdão, estava brincando de pisar na grama e não pensei que ia pisar em alguém. - Expliquei num tom de deboche. Bem de leve, só pra que fique claro que coisa idiota é ficar camuflado no meio do caminho e sem prestar atenção com tanta gente indo e vindo. - Sou só um treinador fazendo coisas de treinador, jovem... ninja? - Acho que é isso que ele pensa ser, a julgar pela camuflagem e a maneira como fala. Tem jeito de ser um roleplayer maluco que assistiu muito Naruto, normal em sua idade eu suponho.

- Mas sério, foi mal, realmente não te vi. Meu nome é Gabriel. - Meus olhos buscaram por pokéballs visíveis nas vestimentas do garoto. - Estou só cuidando de meus bebês aqui.

Eu estava certo, ele realmente assistiu muito Naruto e acabou desse jeito aí. Tudo bem, eu não julgo, importante ter gente esquisita por aí. O mais bizarro foi ele acreditar que eu também sou um, mas infelizmente para o garoto... eu não gosto de Naruto.

Eu sei, é crime pra alguns não gostar de certas coisas.

- Hã? Não... - Até cogitei dizer sim só pela brincadeira, mas tive outra ideia. - Sou um... err... um... encantador de fadas? - Falei meio na dúvida de que isso sequer existe. Daí pensei numa meia verdade pra complementar. - É isso, eu falo com fadas.

A mentira é ter usado o plural ou considerar esse caso algo que só eu posso fazer, mas detalhes, detalhes. Importante é que esse moleque tem uma Pokéball à mostra, embora eu não saiba o que tem dentro.

- E minhas fadinhas mágicas me disseram para buscar um incrível treinador para me desafiar por aqui, então cá estou. - Deixei escapar um sorriso risonho com essas palavras. Ele não vai engolir essa, vai?

Claro. Claro que o Ninja-wannabe tem um Froakie. Claro que até o Pokémon é puxado ao dono e tem essa cara de edgelord que faz jus ao nome dado e que só falta moldar as bolhas a ponto de ter uma franjinha. Estou fazendo o possível pra não cair na gargalhada, por mais difícil que seja numa situação como essa. Não sei se nem qual é pior: O sapo ou a ingenuidade do garoto-ninja, que comprou meu nonsense sobre fadas.

É muita vergonha alheia.

- Erm... - Atrasei um pouco a escolha para colocar Hatenna no chão. Dei dois doces pra ela comer e fiz o mesmo com Mimikyu. A escolha aqui é meio óbvia, Mimikyu tem Wood Hammer, que mesmo contra um Protean da vida será fortíssimo. - Vou escolher o Mimi... - Fui cortado quando Hatenna disparou em frente. O fantasminha não terminou nem de comer o primeiro doce, coitado, enquanto a psíquica foi lá aos saltos e tentou dar uma porrada no Froakie, embora sem sucesso, pois ela é lenta pra caralho.

No fim das contas meus planos foram por água abaixo, então não vou remar contra a maré. Deixa o Mimikyu comer os docinhos dele, vamos de imitação de Megumin, ela é o suficiente.

Espero.

- Esquece, vou usar essa aí, ela tá louca pra brigar. - Apontei pra Hatenna um pouco sem jeito. Daí me dirigi diretamente à bruxinha. - Me faz um favor e começa com uma sequência de duplo Dazzling Gleam.

A performance da Hatenna foi melhor do que eu imaginei, é visível que depois desses dois primeiros ataques o sapinho mal consegue ficar de pé e logo essa luta chegará à sua conclusão, supondo que nenhum absurdo aconteça. O rapaz parece não se incomodar com o rumo da batalha, embora ter decidido repetir os movimentos deixa claro que não há nenhum truque que possa tentar além de rezar para minha Pokémon ficar confusa e começar a se bater violentamente.

Torço que não aconteça.

- Vamos fazer igual e repetir os movimentos. - Acredito que mais um ataque e esse Froakie vai de berço, resta eu não dar muito azar.