— Essa é a Critias. Uma ótima combatente, por sinal — apresentou a serpente oceânica para a hoenniana, inebriada com a presença suntuosa de Gyarados.
— Ela, às vezes, é bem protetora também. E como ela não te olhou feio, gostou de você — uma singela pausa onde o loiro chegava um pouco mais perto, antes de colocar os pés sobre a cauda de seu monstrinho aquático.
— Assim como o treinador dela — sibilou, audível somente para Mísia, jamais cortando o contato visual; os orbes mantinham-se fixos na treinadora, como se contemplasse cada traço de seu rosto.
A atuação ruim de Nicholas acabou por render alguns frutos melhores do que pensara. Com sutileza, utilizando a ponta do dedo, Artemísia jogou uma mecha por detrás de sua orelha, soprando elogios emaranhados em misto de súbita afeição com o interesse de outrora. Com a leveza que aquele momento trazia consigo, permitiu que os lábios relaxassem em riso manso, reservando-se a não dizer nada, tal como a própria hoenniana.
E, pouco tempo depois, galgaram até a cabeça de Critias.
Gyarados começava a nadar em lugares não tão fundos desviando de todo e qualquer banhista que visse, na direção oposta de onde foram os demais atrás de comida. A vista era agradável e a própria treinadora reconhecia, e como outrora, permitira o braço do kantoniano envolvê-la. Em gesto afável e singelo, Mísia recostou sua cabeça sobre o ombro de Nicholas. Com o calmo balanço da aquática em seu habitat natural, começou a divagar sobre as experiências no continente de Sinnoh.
Por coincidência, viveu eventos semelhantes, mas nos domínios de Hoenn.
— Deve ter sido torturante — ergueu as sobrancelhas em espanto com o relato de Artemísia.
— Eu enfrentei uma coisa parecida com isso, mas foi em Lilycove. Tinha uma menina que, simplesmente do nada, se juntou comigo pra ir enfrentar aquela coisa. O nome dela é Lariel. Ela é bem... autêntica — resumiu tudo aquilo em uma serena e sucinta risada. Mísia não tardou em indagar qual era o motivo de o loiro estar ali, já que Karinna a havia dito de que estava nos domínios de Hoenn combatendo alguns ginásios.
— Resolvi desconectar um pouquinho da rotina. Tava sempre viajando pra lá e pra cá, treinando, estudando táticas diferentes com meus pokémons. Quando menos percebi, tava cansado, e eles também. Certo, garota? — inquiriu à Gyarados, que assentia, mansa.
— Então nada melhor do que dar um pulinho com eles pra cá. Viver só batalhando também submete eles a um nível absurdo de estresse, assim como a gente. Assim que voltar, tenho planos de ir próximo ao monte Chimney e depois ir até as ruínas de Shimmer. Se você gosta de se aventurar, pode ir comigo, se quiser.Uma pausa simples e Mísia então sugeriu alguma sugestão para o loiro para onde pudessem ir. Volveu o pescoço para poder fitar a imensidão castanha que a treinadora carregava em sua íris, deixando escapar um quase inaudível riso.
— Sendo assim — achegou um pouco a face no ouvido da garota.
—, eu tenho uma ideia — por fim, sibilou, volvendo do modo como estavam arranjados até pouco tempo, com Artemísia encostada sobre seu ombro na posição mais confortável possível.
Pressionou suavemente a escama do topo da cabeça de Critias. A serpente oceânica entendera o pedido de Nicholas, e virando quase numa perpendicular — sem movimentos bruscos —, começou a rumar na direção do mar aberto. Ao lado do titã aquático, duas antenas tímidas submergiam, e fizeram o loiro semicerrar as pálpebras para fitá-lo por um certo período de tempo, até constatar de que era seu Gastrodon.
— Você deve gostar muito de aquáticos. Aquele ali embaixo é o Nalu, meu Gastrodon — indicou a direção do gastrópode para a treinadora hoenniana para que pudesse observá-lo também. Agora, os dois aquáticos e os humanos seguiam na direção do mar aberto, onde claramente, estava mais plácido com relação à margem.
— Eu sou de Pallet, e lá é uma cidade minúscula que não tem nada para fazer — iniciou.
— Então, sobra o mar como diversão ou até mesmo profissão para os moradores de lá, com exceção do laboratório do velho Oak. Foi por isso que sei o básico de surfe, aprendi a nadar bem e por aí vai. Ah, antes que me esqueça, lá os moradores aprendem essas coisas assim que dão o primeiro choro — um leve gracejo, evidência da levidade que aquele momento que tinham a sós.
— Nada melhor que dar um mergulhinho aqui, longe de todo o barulho da praia, só sentindo o vento, não? Não delongou muito para que Critias enfim chegasse em determinado ponto do mar onde não haviam ondas para quebrar. O vento sibilava tranquilamente, balançando as águas, serenas. O oceano era o reflexo do céu de tão límpido que era o seu azul, e naquele determinado ponto, podia constatar somente a presença de Nalu, Critias, Nicholas e Artemísia. Gyarados jazeu estática em determinado ponto. Mansa, a mão direita do loiro que outrora repousava próximo ao ombro de Mísia foi na direção do rosto da treinadora, e com seu polegar afagava na bochecha; os demais dedos, repousavam em seu pescoço, e em moroso avanço, encostou o seu nariz no dela.
— Vejo você no mar, vai ser divertido — recuou morosamente após sibilar essa singela provocação, e seguiu com uma piscadela.
Soltou Artemísia, ficando em pé sobre a cabeça da aquática. Vagarosa, o titã oceânico abaixava sua cabeça para não ficar tão alto, em uma altura confortável onde os humanos pudessem pular. E lépido, Nicholas se lançou ao mar com os braços tesos e mãos sobrepostas, mergulhando eximiamente na água. Manteve um curto tempo submerso, volvendo a superfície ao bater as suas pernas. Agora encharcado, jogou as alvas madeixas para trás, balançando a cabeça de um lado para o outro, como se quisesse utilizar daquela ínfima força centrífuga para se livrar da água em seus cabelos.
— Vem, Mísia, tô te esperando — chamava a loira em tom de voz não tão alto, contudo, também não tão baixo. Estavam isolados, somente eles e os aquáticos que o loiro trouxe com ele, então qual mal faria se berrassem ou não.
Parece ser um convite irrecusável, certo?
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"take me to the magic of the moment on a glory night."