[Faixa 01] A vista de tarde.

Depois de vagar por mais um tempo, desistiu da sua busca naquela cidade. Talvez ninguém ali nem tivesse ouvido falar de Arctic Mankeys. Mas isso era muito estranho, como nunca tinham escutando uma banda tão boa? Aquela musicalidade bem trabalhada, com os arranjos de bateria mais legais que alguém pode criar, sem falar na voz hiper-sexy do Alex Turner. "Hm, o Alex Turner..." Infelizmente, a mente da mina não tricotava outro assunto. Estava viciada na banda, e admitia isso; mas esses devaneios poderiam lhe custar algo mais cedo ou mais tarde.

Nem viu quando chegou na saída da cidade que levava à Cherrygrove, a Rota 29. Checou o horário, eram 16 horas e 34 minutos, e ela gostava desse tempo. Olhou para o céu da tarde, com um sol não tão forte cujos raios não tardariam a desenhar cores espetaculares naquele manto azul. Isso, é claro, se não chovesse. Zoey não tinha controle sobre essas coisas, então pra ela só restava curtir a viagem que suas pernas lhe proporcionavam. Deu um leve bocejo, expressando o quão cansada ela estava. Repassou algumas informações mentalmente, e lembrou-se do acontecimento estranho na casa daquele esquisito. Pegou a pokébola ocupada no bolso da sua saia, a atirou pra cima, e após um raio rubro de luz, um jacaré azul surgiu em sua frente. Franziu o cenho pro bicho e raciocinou que, provavelmente, ele agora a seguiria pelo resto da vida. Bem, isso não era ruim, já que não tinha mais dinheiro pra pagar transporte pra cruzar rotas, e certamente não estaria segura sozinha, sujeita a ataques de humanos e pokémon. Sorriu pro monstrinho tentando demonstrar positividade, mas não fazia ideia da espécie daquela criatura. Deu de ombros e cobriu seus olhos castanhos com os óculos escuros.

[Zoey] - Parça, eu não faço ideia de quem cê é, mas a gente vai ficar junto por um tempo, então, to contando contigo! Acho que vou te chamar de... Mas, pera lá... Num sei se cê é macho ou fêmea, como faz?

Uma expressão questionadora surgiu em sua face. Será que aquele nerd tinha lhe falado se o/a jacaré era fêmea ou macho? Devia ter prestado atenção no discurso do cara, saberia que todas as informações que necessitava estavam na pokédex. Pokédex que, por sinal, cruzou sua mente naquele exato momento. Não sabia o que aquele troço era, mas começou a fuçá-lo, tentando entender como a bagaça funcionava. Se tinha algum manual de instruções, certamente Zoey o perdeu. E, enquanto apertava todos aqueles botões (como quando a gente faz quando não sabe jogar um jogo), olhava pro monstrinho, tentando entender tudo aquilo.

[Zoey] - Mas que merda.

A jovem suspirou. Ela certamente devia prestar mais atenção no que os outros falam.

[Zoey] - Finalmente entendi como esse troço funciona.

Com uma vaga e desnecessária sensação de orgulho próprio, a mina vasculhou todas as informações a respeito do crocodilo, que, por sinal, era macho. Legal, já poderia ter uma noção de nome pra ele, mas não queria algo forçado. Tinha que ser uma parada fluida, no calor do momento. Sim, Zoey é uma pessoa que gosta de viver o romance, a fantasia, os prazeres que o mundo proporciona.  Claro que não seria diferente ali. Como a pokédex lhe alertou, tomaria o devido cuidado com o bicho, mas ele não parecia perigoso de um todo; não saltitando e gargalhando daquele jeito.

[Zoey] - Cê é bem alegrinho né, Totodile? - Deixou o nome ser pronunciado com calma e firmeza. Aquela era a espécie de seu parceiro, e não poderia se esquecer disso. - Espero que esse entusiasmo dure até que-

A barriga dela roncou. Não conseguiu escutar se a do Totodile também tinha se expressado, mas gostaria de assumir que o bicho de água estava com fome também. Deu uma olhada em volta, tentando absorver tudo o que a paisagem tinha a lhe oferecer e sorriu. Natureza sempre deixava a jovem Mavor mais calma, era como se a irritabilidade que as pessoas lhe causassem nunca existiu. O meio selvagem lhe dava a impressão de liberdade eterna, e essa era, sem dúvida, uma das sensações que a moçoila mais gostava. Quase não lembrava daquele povinho ignorante que não sabia quem eram os Arctic Mankeys.

[Zoey] - Primeiramente, bora caçar alguma coisa pra comer.

Falou para ninguém em especial, mas esperava que o jacaré lhe seguisse depois de ouvir essas palavras. E em sua cabeça, tocava uma música que parecia descrever bem aquela situação.

O lagarto azul fazia acrobacias enquanto gargalhava de forma frenética, e, no fundo de seu coração, a menina sentia-se confortável perante tanta animação. Aquele pokémon certamente seria um ótimo companheiro de viagem, esse tanto ela já sabia. Que estranho, ela mal conhecia aquele monstrinho e já tinha pego uma afeição suspeita pelo mesmo. Claro que não admitiria isso tão fácil, mal conhecia aquele réptil! Mas confiança dali pra frente seria essencial, e isso não tinha como ela negar. Bem, deixaria essas questões cabulosas prum outro momento, agora eles precisavam comer! Ela precisava, pelo menos. E com fome, Zoey não prestava. Ficava uma carrasca que só.

O caminho que ela seguia parecia ser bem demarcado, como se fosse uma trilha que indicasse maior probabilidade de chegar na próxima cidade com vida. Olhava em volta, curiosa, sentindo-se desafiada pela própria natureza. Obviamente que ela queria explorar toda aquela extensão vegetal! Nesses momentos, seu lado groupie ficava em espera com certeza. Arctic Mankeys é sua paixão, mas a moça simplesmente não conseguia negar um pouquinho de aventura! E, pela primeira vez desde que saiu de casa, Mavor sentiu como se estivesse viva de fato. Até queria que Felix estivesse ali com ela. Será que voltaria a vê-lo logo? Ele, que sempre lhe apoiou durante todas as situações críticas, e sempre se ajudavam quando estavam numa enrascada. Ela confiava plenamente nesse guri, um irmão que ela nunca teve.

[Zoey] - Ei Fang, o que acha da gente checar aquelas árvores ali? Sim, to falando contigo mesmo.

Sorriu pro pequeno e aguardou por uma resposta positiva. Pensar num nome mais óbvio era impossível, mas não tinha como negar que aquele Totodile tinha cara de Fang. Pelo menos na cabeça de Zoey, ele tinha e era assim que seria. A menos que o bicho não gostasse do nome, daí ela pensaria em outra coisa. Ela sempre foi assim. Não tem muito apreço por coisas muito profundas, sente orgulho e felicidade nas coisas mais óbvias da vida. Apesar de gostar de caçar poréns e todavias nas situações do mundo, valoriza muito o que é simplório. Colocando tudo isso de lado, apenas seguiu na direção daquelas plantas frutíferas. Deixaria a retaguarda pro bichinho, caso alguma coisa viesse lhe atacar.

Caminhava distraidamente, sem ligar muito pro que acontecia em seus arredores. Estava tudo calmo, e ela não tinha nada com o que se preocupar. Talvez a fome não deixasse ela pensar em outra coisa, a não ser nas árvores frutíferas logo à sua frente. Sorriu pro jacaré, rindo internamente das gargalhadas que aquele monstrinho dava constantemente, sem ligar muito pra sua parceira. Zoey também era assim, gostava de ter sua liberdade, e queria que o pokémon também se sentisse assim. Aquele mundo seria muito pequeno pra duas figuras tão espaçosas.

[Zoey] - Ei Fang, é impressão minha ou tem alguém ali em cima?

Ela questionou o réptil, e este emitiu uma onomatopeia em resposta. Parece que ela não estava errada, tinha alguém no topo daquela árvore. Suspirou e virou-se, já pronta pra seguir pra uma outra árvore, quando, de supetão, um bicho enorme pulou da grama e veio em sua direção. Gritou seu Totodile e ambos desviaram da investida mortal, que acertou a planta. Tentou checar dali mesmo se a pessoa no topo estava bem, e ao que tudo indicava, parecia que sim. Será que tinham invadido o território da criatura? Sacou logo a pokédex, querendo mais informações. Nem notou um Gastly descendo sorrateiramente. Caçou uma pedrinha perto de si pra jogar na coisa e chamar a atenção dela.

[Zoey] - Fang, comece com Leer, e prepare um desvio seguido de Scratch, caso esse bicho resolva te atacar.

Ficou um pouco apreensiva, sentia aquele friozinho gostoso na barriga. Fazia tanto tempo que ela não batalhava, e não esperava que uma fosse acontecer tão cedo! O Totodile bateu o pé no chão duas vezes e gritou, imponente. Estava pronto pra batalha, e ria do monstro que estava em sua frente. Ela sentiu-se aliviada por dentro, sabendo que poderia contar com seu parceirinho, e sua cabeça já matutava alguns planos de ataque. Só então lembrou-se da pessoa no topo da árvore.

[Zoey] - TÁ TUDO BEM AÍ EM CIMA?

Gritou.

Sua cabeça já tava a mil quando as informações do monstrão chegou: Era um tal de Rhyhorn, bicho grande e fortão, parecido com um tanque. Destrói tudo que tem no caminho, e ainda era muito mais poderoso que seu parceirinho. "Merda." O que ela poderia fazer numa situação como essa? Aquele cascudo quando pegava um embalo, só pararia quando acertasse alguma coisa, e então viraria e faria o processo de novo! Máquina mortífera, esse pokémon. E pera, outra coisa? Agora era um gás ambulante? Não, pera. Aquele ela conhecia. Já tinha visto uma guria desafiar Roxie com um bicho daquele. Mas apontou a pokédex pro fantasminha do mesmo jeito.

[Zoey] - Beleza, o bicho tá dormindo. Agora é tacar o pau.

Todavia, antes de comandar a próxima ação, lembrou-se da reação que Fang teve ao arranhar o tal rinoceronte de terra. A carapaça daquela coisa era dura, de fato. O dano que ele conseguisse causar ali seria mínimo. A mente de Zoey raciocinava fervorosamente, e ela olhou em volta, vasculhando o terreno em busca de alguma coisa que pudesse lhe ajudar naquela briga. Qualquer coisa poderia significar a vitória ou a derrota dela, e, é claro, do rapaz que agora já havia descido da árvore. Apertou os lábios em linha reta enquanto verificava qual a probabilidade dela conseguir fazer o que estava pensando. Sabia que algo poderia acabar dando errado, mas já não ligava. Queria aquelas frutas porque queria.

[Zoey] - Carinha, me ajuda aí. Eu realmente quero aquelas frutas ali. - Dirigiu a palavra à Giovanni, apontando pras árvores. Olhou para um Fang saltitante e finalmente deu a próxima ordem. - Mano, senta na cabeça do Rhyhorn e usa Scratch no mesmo ponto!

Após dizer tais palavras, disparou em direção às árvores, com o intuito de escalá-las. Queria não só pegar as frutas que faltavam, como também ter uma visão melhor daquela área, afinal, porque aquele pokémon de pedra estava tão irado?