#005 - Alvorecendo

Alarmado, e um tanto preocupado com o que causaria esse tipo de situação, o jovem acompanhou os passos do outro pesquisador para fora daquele recinto, e ao dar de cara com o ser que provocava a confusão no laboratório, não soube se ficava admirado com a aparência da criatura ou espantando devido à força com que ela destruía as coisas ao seu redor. Provavelmente, as chances de a última opção ser a predominante eram altas. Certamente, nunca havia visto um ser como aquele.

Dado a isso, em nenhum momento passou por sua mente uma forma de reagir contra aquela criatura, na verdade, não seria algo necessário, já que dentro de instantes o homem estranho surgia acompanhado por seu parceiro e outra criatura gramínea que lhe recorava um girassol. Dessa forma, a dupla de pesquisador e criatura-flor acalmava o arranjador de confusões através de uma cantiga, fazendo-o adormecer enquanto Raiko olhava para toda aquela cena sem saber o que fazer ou dizer.

Entretanto, seu transe logo foi desfeito diante aos grunhidos de seu parceiro, que o olhava com uma feição assustada sobre a face, fazendo-o imaginar se não estaria com a mesma sobre a sua. Deixou que um suspiro de alivio escapasse de seus lábios e tentou fazer com seus ombros tensos relaxassem, algo que não obtivera sucesso. Retornou o olhar para Kiko , abaixou-se ao lado e deixou que sua mão cedesse levemente sobre a cabeça dele.

- Acho que tomamos um baita susto, não é? Mas tá tudo bem agora, eu espero... - Disse ao seu parceiro com um sorriso sem graça. Em seguida, erguendo-se para falar com o pesquisador. – Isso, tipo, não ocorre frequentemente, né? Mas...

De imediato se interrompeu, por instante pensara em falar que já tinham visto o que procuravam por ali diante a confusão, concluindo que estavam para partir. Porém, sua curiosidade falara mais alto naquele momento. Ainda queria saber o resultado do estudo, assim como se aquele local teria algo mais a oferecer sua mente curiosa, do contrario, teriam ido embora naquele instante.

- Bom, mas mudando de assunto... Como foi o estudo? – Indagara ao homem estranho. - O resultado foi o esperado? Ou não deu tempo concluir algo por causa do que aconteceu aqui?

Diante as suas perguntas, o garoto acabou por saber que o experimento ainda não havia terminado. Assim, dessa vez para a felicidade do jovem, a dupla seguiu o pesquisador para dentro da mesma sala de outrora.

Seus olhos e ouvidos prestavam atenção em cada ação e palavra daquele homem, concentrando-se totalmente no experimento que tanto ansiara em presenciar. E quando os brilhantes esporos saltaram do botão de seu parceiro paras as flores ao redor, fazendo-as florescer com beleza e suavidade, um simples sorriso envolvido por uma expressão mista de admiração e encanto surgiu sobre a face do garoto. Com certeza essa era uma cena bonita de se ver.

- Não sabia que você fosse capaz de fazer algo bonito assim. – Anunciou para seu parceiro ao passo que ele respondia com um grunhido animado. Por fim, finalizava com uma expressão de felicidade. – Sabe, me faz ter mais orgulho ainda de ter escolhido você naquele dia. Com certeza foi uma das melhores decisões que já tomei até hoje.

O garoto se abaixou e levou novamente a mão à cabeça de Kiko, passando a acaricia-lo levemente, e dali descendo para o pescoço da criaturinha. Seus olhos correram novamente para o pesquisador e se pôs a dizer o que achava do trabalho dele naquele laboratório.

- Vocês tem um trabalho realmente interessante por aqui... Toda a pesquisa envolvendo a influência dessas criaturas sobre a natureza é algo realmente importante, pois a meu ver mostra o quanto elas são essenciais para o funcionamento das coisas. Além de que é bonito de se ver, é claro. – Começou Raiko. – Bom... Eu não saberia muito o falar sobre o trabalho de vocês, mas agradeço por me darem a chance de conhecer um pouco do meu parceiro aqui.

Com um simples impulso o natural de Kanto se ergueu esticando as costas.

- Muito obrigado mais uma vez, foi ótimo poder conhecer o que fazem por aqui... Mas agora temos que ir. – Anunciou enquanto estendia a mão ao homem. – Está pronto, Kiko?

Terminada as saudações, a dupla se dirigiria mais uma vez as ruas de Rishin Town.

off:

Tendo conhecido um dos laboratórios da cidade de Rishin, assim como descoberto características muito interessantes a cerca de seu parceiro gramíneo, o garoto tornava a andar de maneira descompromissada através das ruas visando mais uma vez alcançar o Centro Pokémon.

- Eu disse que seria uma boa ideia conhecer aquele local, não? Tirando a parte do Torterra louco, foi divertido conhecer o lugar e a pesquisa deles além de ver o que você pode fazer... - Começou Raiko enquanto tornava a enfiar suas mãos nos bolsos e o gramíneo respondia através de seus grunhidos orgulhosos. - Ah, tenho novidades. Sabe aquela compra que estava tentando fazer mais cedo pelo GTS? Deu certo.

Diante a menção do sucesso da compra da criaturinha, o Ivysaur grunhiu em desaprovação e empurrou a perna de seu treinador, fazendo-o se desequilibrar e por pouco não cair, já que logo em seguida o gramíneo se colocava a segurá-lo através de suas vinhas. A seu ver não era nenhum um pouco certo comprar e vender Pokémon como se fossem simples mercadorias.

- Ei!Por mais que não seja ilegal, eu sei que não parece ser ético e nem nada do tipo realizar esse tipo de negócio, mas também não precisa reagir assim. Tente entender meu ponto de vista. – Reclamou o garoto. – Ela me pareceu ser uma Pokémon interessante e legal. E de qualquer forma todo mundo sai ganhando. A gente ganha uma nova parceira e ela um grupo que vai acolhê-la bem, não? Não acho que fiz algo errado...

Apesar das palavras do garoto, Kiko apenas bufava como resposta, dando o assunto por encerrado. Dessa forma, o jovem mudava de assunto, passando agora a comentar sobre suas expectativas quanto ao torneio do qual participariam e o quanto teriam de treinar até lá para que pudessem ficar mais fortes. Logo, dentro de poucos minutos, a duplas estava de volta ao Centro Pokémon, entrando apressados, um pouco ansiosos para conhecer a criatura que causara opiniões divergentes entre a dupla.

Sem demora, Raiko se dirigiu ao sistema de transferência. Contudo, lembrara-se de um fator muito importante quando estava prestes a tentar requisitar a esfera da preguiça, não poderia estar com mais do que seis parceiros. Nesse caso, precisaria enviar um dos quais estava consigo para poder receber a outra, o que lhe parecia algo um tanto infeliz, já que estava apegado ao seu grupo atual. Pensou por alguns minutos e como não havia muito que fazer numa situação como aquela, decidiu que enviaria o pequeno roedor lilás, mas não sem antes retira-lo de sua esfera e lhe explicar a situação. Assim ele terminava a transferência.

Antes de retornar as ruas de Rishin, o jovem decidiu levar a preguiça à enfermeira para que pudesse averiguar se sua saúde estava em dias. Após isso, a dupla se lançava as ruas novamente.

- Kiko, o que acha de procurarmos por um parque ou algo do tipo? – Indagou ao gramíneo. – Assim a gente respira um ar puro, relaxa e aproveita para que todos possam conhecer de uma vez a Slakoth.

Sem muito a pensar, a criatura concordara um grunhido ansioso enquanto o jovem colocava-se a pensar se os outros reagiriam da mesma maneira. Sabia que Cameron e Nina seriam mais receptivas com a vinda da nova parceira, quanto a Sue , agiria de maneira indiferente, só lhe restava... Bells, não sabia de que maneira ela reagiria diante a preguiça, talvez receosa no início, da mesma forma que se mostrar diante a todos os outros antes. Talvez, fosse uma boa ideia ir deixando-a mais a vontade desde agora. Assim, Raiko parava por instante para libertar a rochosa de uma das capsulas, abrindo um enorme sorriso ao vê-la.

- Ei Bells, tudo bom? Estamos procurando por um parque na cidade, então quer andar um pouco conosco ou prefere voltar para a Pokéball?

Diante as reações da rochosa, o jovem faria o que ela achasse melhor, depois seguiriam a procura de um local parecido com o que desejavam.

Um tanto quanto aliviado pelo fato da rochosa ter aceitado andar ao lado deles, assim como esperançoso em conseguir acertar as coisas com ela, o jovem seguia com olhares atentos a procura de um lugar calmo no qual pudesse interagir com seus parceiros. Assim, dentro de alguns minutos, encontrava um local pacifico e simples, perfeito para o que desejava.

- Esse lugar me parece uma boa. – Comentara enquanto se dirigia ao campo com os seus dois parceiros. – Acho que vamos ficar por aqui mesmo, pelo menos por enquanto, já que é bem calmo... E se quisermos treinar, será um bom local para isso também.

Dessa forma, o trio se dirigiu a uma das extremidades do terreno e, naquele mesmo espaço, o jovem começava a libertar o restante das criaturinhas de suas capsulas. Em instantes era possível se ver uma Nidorina, uma Caterpie e uma Pikachu em companhia do Ivysaur e da Sudowoodo. Por fim, a criatura preguiça dava as caras demonstrando a todos o quanto a sua natureza relaxada se mostrava aparente, fazendo o jovem se agachar diante a ela enquanto o restante permanecia atrás dele.

- Olá Slakoth... Eu me chamo Raiko e esses atrás de mim são alguns dos meus parceiros, ou melhor... Agora são seus também. – Começava com calma, tentando não assusta-la ou ser apressado demais em lhe contar o que ocorria ali. – Bom, a partir de hoje eu serei o seu novo treinador. Sei que parece meio estranho isso ocorrer de uma hora para a outra, mas quero que se sinta bem-vinda ao nosso grupo... É isso, não sei muito bem o que falar em situações como essa, mas espero que nós possamos ser bons amigos daqui pra frente. – Finalizava com um sorriso nervoso em sua face.

Afagou a cabeça da criatura preguiça e se ergueu, dando passagem aos demais que queriam conhecê-la. Entretanto, assim como esperava que fosse acontecer, notara o distanciamento que a roedora elétrica apresentava para com a situação, o que até certo ponto lhe parecia compreensível, já que conhecia um pouco de sua forma reservada e preferência solitária. Nada que aos olhos do jovem fosse lhe parecer preocupante, afinal, era somente o jeito dela de agir. Por outro lado, sentia-se preocupado com a rochosa.

Apesar de ter dado inicio a uma relação amigável com a Sudowoodo, ainda permanecia incomodado sobre como isso estava se desenvolvendo, já que não continha ideia alguma se estava seguindo pelo caminho certo. No começo errara de maneira brusca, aprendendo na pior das situações o temor que sua parceira apresentava diante a batalha, algo por qual ainda se sentia culpado, depois disso, apenas tentou recomeçar do zero com ela, o que até aquele momento parecia ocorrer bem apesar de um empecilho ou outro. Dessa forma, sentia que o quer que tenha acontecido com ela anteriormente ao encontro deles não estava resolvido, para o jovem isso soava como se Bells não estivesse ali inteiramente junto dos outros, e isso é algo que gostaria de resolver.

Aproximou-se de sua parceira rochosa e pôs sua mão de forma carinhosa sobre a protuberância na cabeça dela, chamando sua atenção enquanto tentava observa-la com uma face tranquilizadora.

- Bells, está curtindo bem um pouco desse ar livre? Aliás... A gente poderia ali conversar só um pouquinho? Tem algumas coisas que gostaria de saber sobre você... – Começa o jovem enquanto se afastava com ela dos restantes. Apesar de estar decido a fazer isso, se sentia temeroso quanto à possibilidade de piorar a situação. – Sei que é errado eu estar tentando fazer com que você se lembre dessas coisas ruins, mas... Eu não posso deixar isso de lado. Então, eu queria saber como você se sente em relação ao seu antigo treinador, sabe?

À medida que falava, seus olhos viajavam dos olhos negros daquela criatura para as cicatrizes que se faziam presentes por todo o seu peculiar corpo, e visão dessas coisas não poderia causar outra reação a Raiko senão uma fagulha do mesmo sentimento que sentira do homem que outrora se denominara treinador dela.

Diante a cena que provocara, seria impossível não passar pela sua mente que mais uma vez havia cometido uma burrada contra a sua parceira, o que se mostrava bastante desanimador e só tendia a piorar, já que a venenosa intervia naquela conversa, se é que poderia chamar isso assim, de maneira um tanto brusca.

O garoto fitava suas parceiras com um sentimento misto de espanto e desalento pelo o que havia acabado de fazer, tentando adivinhar o que a Nidorina tinha a lhe dizer com aqueles gestos, o que não parecia uma das tarefas mais fáceis. Para eles, os gestos poderiam significar desde um aviso para não retornar a tocar naquele assunto com a rochosa, até um aviso para se manter distante, para não se aproximar dela novamente. Nesse momento, era complicado ler com precisão os gestos de Nina. Realmente seria bom se essas criaturinhas pudessem falar. Só lhe restaria agir da maneira como sempre fizera

Estendeu as mãos em direção as duas como se pedisse por calma e tentou uma aproximação lentamente, procurando fazer nenhuma ação que evidenciasse algo parecido a uma ofensa ou ameaça.

- Desculpa, eu não queria que ela ficasse assim... Sério Nina. Eu só estava tentando... Saber se ela estava bem sobre o passado dela, entende? E pelo visto... – Começou com a voz pesada enquanto se agachava de frente para as duas e tentava focar os olhos da rochosa. - Bells, me desculpa por ter que fazer você se recordar disso, okay? Tente olhar para mim... Aquele cara não está mais aqui, não é mais seu treinador e não pode fazer mais nada contra você. E assim como a Nina, eu não deixaria que ninguém fizesse algum mal a você, entende? Me esforçaria com todas as forças para lhe proteger.
“Sei que é doloroso lembrar esses momentos, mas você precisa enfrentá-los, não pode simplesmente continuar a ser submissa a eles. Uma hora ou outra essas lembranças viriam à tona, não há como escapar disso. E eu só quero lhe ajudar a vencer eles, certo? Quero que você possa viver bem ao nosso lado sem ter que estar presa a essas coisas ruins, entende o que quero dizer?”

De forma alguma sabia se estava agindo da maneira correta com a sua companheira, mas precisava fazê-la tentar superar seus fantasmas da melhor maneira que podia. No fundo, acreditava que seria o melhor a se fazer, só temia que as coisas não terminassem da maneira como esperava e acabasse estragando tudo.