II - Out of my way!

Entre a floresta e o mar

Mesmo com seu jeito de durona, Rin não conseguiu ficar sentimentalmente ausente desta confusão e acabou se sentindo tocada pelas palavras de Samson, o estivador. A menina então prometeu não apenas para ele, mas para os demais presentes, que reaveria os pertences roubados e realmente parecia haver uma chama de obstinação em seu olhar. Surya certamente ficaria impressionada com a atitude de sua treinadora! Com a aceitação por parte de Rin, o senhor assaltado confirmou onde aguardaria por mais informações, apontando uma rua que descia na forma de ladeira até bem próximo do mar, terminando no portão principal do Porto de Petalburg, a sudoeste. — Muito obrigado! Você é mesmo um anjo! — Concluiu Samson, antes da jovem treinadora partir.

Rin e Surya deixaram a multidão e deram alguns passos até uma encruzilhada. Apesar de toda a motivação das duas ficava difícil rastrear um mágico ilusionista, ainda mais quando não se estava olhando para ele quando desapareceu. A menina tinha quatro possibilidades principais, seguir até a região mais ao Sul onde ficava o Porto e uma costa pedregosa e não muito visitada, seguir para o Oeste pela estrada que levaria aos arredores da Floresta de Petalburg, onde as grandes árvores encontravam os prédios da cidade, pelo Norte que abrigava as principais lojas e os maiores prédios, sendo o "coração" de Petalburg ou pelo Leste, pela parte mais pobre e simples da cidade, que inclusive foi de onde ela já havia vindo antes de se envolver em problemas com as autoridades locais.

Enquanto a treinadora ficava pensativa, olhando para as quatro possíveis rotas a seguir, um dos garotos mais jovens envolvidos na confusão anterior, um de óculos e com um livro nos braços, se aproximou dela e lhe chamou a atenção com cuidado enquanto ajeitava suas lentes — Erm... Desculpe! Mas vi que você tem uma Houndour! Apesar de não serem tão boas em rastrear como os Growlithes, ela ainda é uma ótima farejadora! Eu li sobre isso lá na Escola Pokémon, mas... mas... Você precisa de alguma coisa do Mágico para ela farejar... Bem... É isso... — Terminou de dizer o menino, finalmente se retirando sem esperar uma resposta. Restava a menina escolher o que fazer, seguir um dos caminhos ou ficar e investigar melhor o local em busca de pistas?

O que Rin faria a respeito? ◄

Entre a floresta e o mar

Rin solicitou que aqueles treinadores sedentos por vingança fizessem sua busca pelo mágico nas redondezas da Floresta de Petalburg, pois ela já havia escolhido seguir até o Norte para encontrá-lo. Surya e a menina então seguiram nesta direção escolhida por uma rua íngreme, majoritariamente residencial. Ao chegar no topo ela pôde observar que o Centro Urbano, onde se encontrava o Ginásio de Petalburg e outros pontos de referência, ficaria distante uns bons quilômetros a frente, seguindo pela mesma estrada. Andando até lá a menina deveria levar pouco mais de uma hora para alcançar seu objetivo e de transporte público possivelmente faria o mesmo trajeto em menos tempo, talvez de vinte a trinta minutos.

— Hoje eu vou enfrentar o Norman de novo, espero que ele não me enrole como da última vez! — O silêncio era então surpreendido por uma voz que surgira sem aviso. Ela pertencia a um rapaz que caminhava ao lado de uma garota loira trajando um vestido coral. O garoto parecia obstinado e mal olhava para a companheira enquanto segurava e observava uma Pokébola em suas mãos. A menina, que não deveria ser mais velha do que o treinador, por sua vez, achava graça da atitude dele e apenas o seguia com um sorriso no rosto. Os dois haviam saído de uma rua transversal e sentaram-se em uma estrutura que parecia um ponto de ônibus bem simples. Passada esta distração inicial, Rin pôde observar com mais cautela o horizonte e notou que uma pesada chuva começava a surgir por cima da copa das árvores da Floresta além da cidade. Em pouco tempo a tempestade passaria por Petalburg...

Foi então que um raio passou rasgando os céus acinzentados e um forte trovão fez com que todos se estremecessem, arrancando um risinho da menina loira no ponto de ônibus pela reação abrupta do rapaz. Já Surya, ao lado de Rin, parecia triste com o barulho e a proximidade da tempestade, abaixando suas orelhas sobre o rosto, encurvando o dorso e murmurando baixinho ao se aproximar da treinadora. Restava a Rin decidir se valeria a pena pegar um ônibus desconhecido para chegar logo no Centro Urbano Norte ou se valeria ir a pena caminhando para tentar achar o mágico ladrão pelo caminho. O que Rin faria a respeito? ◄

Entre a floresta e o mar

A treinadora ficou pensando por algum tempo sobre a decisão de pegar um ônibus ou ir a pé, tempo suficiente para um coletivo com destino ao Ginásio de Petalburg fazer uma parada por ali. O casal sentado no banco do ponto de ônibus rapidamente se levantou e entrou no transporte público, que ficou ainda um tempo aguardando caso Rin resolvesse tomá-lo. Contudo, a menina já havia se decidido e caminharia até o Centro Urbano para facilitar a sua busca pelo ladrão. A cidade era grande como a treinadora podia observar, então era bem provável que o ilusionista não tenha abandonado Petalburg, apenas trocado sua área de atuação criminosa. De todo modo, a esperança é a última que morre...

Confiante na sua missão, Rin começou esta longa caminhada aproveitando que o Sol estava quase todo encoberto por nuvens escuras de chuva. O vento soprava cada vez mais forte e conforme a menina e Surya se aproximavam da região mais badalada da cidade, chuviscos começavam a surgir fazendo alguns transeuntes apressarem o passo ou deixarem seus guarda-chuvas em mãos para quando aquela tempestade chegasse. Outra coisa interessante era que o número de prédios com mais de três andares naquela região ficava cada vez maior, assim como o lixo que infelizmente se espalhava pelas sarjetas. Depois de mais ou menos vinte minutos de caminhada, o Ginásio de Petalburg parecia bem mais próximo, mesmo com sua vista encoberta pelos edifícios vizinhos.

Ao se aproximar de uma esquina engarrafada, a treinadora e sua Houndour, enquanto esperavam para atravessar a rua, ouviram um som familiar vindo do outro lado daquela via. Era um som de carrilhão soando contra o vento, que vinha de um Pokémon conhecido. Ao seu lado estava o ilusionista criminoso, fazendo mais um de seus shows de distração para uma dupla de meninas que deviam ter por volta dos dezessete anos e vestiam roupa de colegiais. O rapaz usava todo o seu charme para envolvê-las enquanto o Pokémon aproximava-se das mochilas das garotas, pronto para vasculhar com sua cauda sorrateira. Nem o mágico e nem a criatura que o acompanhava pareciam ter notado a presença de Rin, mas todo o cuidado é pouco na aproximação. Como Rin abordaria o sujeito, se é que faria isso?  ◄

Entre a floresta e o mar

Rin não perderia tempo desta vez e nem daria aberturas para o mágico escapar. Antes mesmo de chegar ao outro lado da rua ela já ordenou que Surya entrasse em ação lançando uma camada de Smog ao redor do Pokémon do Mágico, seguido de um golpe Ember que incendiasse o fumo venenoso, gerando uma explosão mais potente do que os golpes separados. Na teoria, a estratégia da menina era ótima se bem executada. Contudo, novamente os efeitos climáticos deixavam as coisas mais difíceis para o lado da treinadora. O forte vento que soprava contra o corpo do Pokémon adversário fazia com que a nuvem venenosa voasse mais rápido do que se esperava, espalhando-se um pouco mais para a direção em que o vento soprava.

Poucos segundos depois de lançar o golpe venenoso, as duas meninas notaram o cheiro desagradável e envergonhadas entreolharam-se. Porém, antes mesmo de comentarem algo ou do mágico virar-se para ver a fonte desse odor, uma chuva de brasas havia chegado, incendiando o fumo em uma bola de fogo perigosamente dispersa. A explosão gerada só não foi mais forte por causa da chuva que se potencializava com a passagem do tempo, mas foi poderosa o suficiente para fazer as duas colegiais caírem no chão abraçadas, uma delas com a ponta do cabelo em chamas — Sua louca! Você quer nos matar? — Gritava para Rin a que estava em um estado melhor, enquanto tentava apagar o fogo do cabelo da amiga. A roupa do mágico também havia queimado na altura da manga de seu casaco de couro quando protegeu o rosto das brasas. Já o Pokémon foi golpeado em cheio, mas não parecia ter sido tão afetado — Chimmy, Light Screen! Foi um prazer senhoritas, mas parece que meu povo me chama! — Comentou o rapaz para as duas meninas, enquanto corria para um beco próximo.

— Chiiiim... Cho! — Bradou o Pokémon Psíquico, fazendo uma tela semi-transparente surgir entre Surya e ele, dando tempo suficiente para que o treinador e seu companheiro desaparecessem no beco da próxima esquina, ainda ressonando um barulho de carrilhão bem característico. O chuvisco agora deixava de ser chuvisco e se tornava chuva de fato, deixando o asfalto e a calçada cada vez mais molhadas, assim como o cabelo das garotas e o pelo negro de Surya. O que Rin faria agora? Ficaria para ajudar as colegiais, buscaria algum tipo de ajuda, correria atrás do mágico no beco ou qualquer outra coisa? ◄

Entre a floresta e o mar

A resposta de Rin fez com que as duas meninas afetadas pela explosão se levantassem e se afastassem correndo e gritando, enquanto afirmavam que chamariam a polícia. Já o Mágico e seu Pokémon haviam virado a curva rapidamente dentro do beco, o que fez a treinadora enviar Surya na frente para interceptá-los. A Houndour apressou-se na frente de Rin, contornando a tela semi-transparente gerada pelo Pokémon psíquico e também sumindo no beco, enquanto latia em um tom grave — Houn! Houn! Houn! — A menina vinha logo atrás de sua Pokémon, preparada para ordenar um ataque contra os infratores. Contudo, o que viu foi apenas um beco vazio, sem saída, que terminava em um muro bem alto. Para os dois lados haviam portas de aço que possivelmente eram a saída de emergência das lojas do térreo daqueles edifícios, além de escadas de emergência para os andares superiores, que não pareciam haver qualquer sinal do ilusionista.

— Houn! Houn! Houn! Houn!— Alguma coisa havia chamado a atenção de Surya, porque a Houndour latia incessantemente olhando para uma posição. Era a tampa do esgoto, que estava levemente deslocada e mais, possuía uma carta de batalho presa na sua lateral. Era um forte indício que o mágico havia passado por ali, além de ser uma pista importante para a Houndour farejar. A forte chuva que havia iniciado segundos atrás, tornava-se realmente uma tempestade. Trovões soavam e raios cruzavam o céu, assustando Surya que estremecia com os sons e luzes. Para onde Rin iria agora na sua perseguição ao ilusionista ladrão? ◄