#001 — O garoto que dança com fantasmas

O garoto que dança com fantasmas

9:03am.

Um silêncio se fez necessário.

Após as palavras enunciadas de Camila, Joe fora pego de surpresa, bem como o restante dos Pokémon em campo. A cena do ambiente era devastadora, a pequena garota se abraçou e seus olhos começaram a lacrimejar, principalmente após ver o estado de Sorvete. Independente disso, nosso herói decidiu mandar Staravia diretamente para o Centro Pokémon mais próximo, lidando com a pergunta da garota depois.

O pássaro de Hailee obedeceu às ordens do rapaz, alçando vôo e desaparecendo em questão de segundos dentre as árvores. Camila continuava estática, assim como a jovem de cabelos cor-de-rosa, que aos poucos se levantava e caminhava com dificuldade na direção de sua irmã. Seu transe parecia estar passando aos poucos, talvez o instinto de irmã mais velha vira à tona e seu cérebro começou a funcionar normalmente em questão de segundos.

Hailee abraçou sua irmã, caindo novamente de joelhos, agora sem chorar.

— Está tudo bem, Camila... Joe me ajudou muito. — deu sorriso falso, tentando transparecer tranquilidade para a pequena chocada com toda aquela cena mórbida — Staravia vai cuidar do Sorvete, pode ficar tranquila.

A garota respirava fundo, sua expressão era de quem aos poucos se acostumava com todo aquele sangue que nunca havia visto na vida. Correu rapidamente na direção de Yokosuka, dando-lhe um abraço apertado. Camila realmente estava agradecida pela ajuda do rapaz.  

— Tio, vocês tem que sair rápido daqui, eles estão chegando. — disse baixinho, como quem contasse um segredo — Rápido!

A exclamação da garota era repreendida por diversos passos que vinham diretamente da floresta. Aos poucos, o som dava lugar a diversos homens e mulheres vestidos com uma farda azul, acompanhados de alguns Growlithes e Arcanines.

— Parado! Polícia de Littleroot! — um dos rapazes gritava, enquanto seu Pokémon de fogo evoluído corria na direção de nossos heróis, rosnando e impedindo-os de darem sequer um passo — Não se mexam ou ele atacará!

O que Joe faria diante dessa situação? E, além disso, onde diabos Gastly se meteu?

O garoto que dança com fantasmas

9:05am.

Após a chegada dos diversos policiais e seus cães-de-guarda, Joe se assustava e logo tratava de colocar suas mãos para o alto, deixando claro que era inofensivo e que colaboraria com as autoridades. A cena do ambiente era terrível, com sangue espalhado por todo o lado, recobrindo até mesmo as plantas do local; sem falar nas poças rúbeas formadas pelo sangue de Poochyena e Ed. Parecia um matadouro.

Os tiras nada faziam, talvez esperando as ordens de um superior. Um dos Arcanine continuava na frente de nosso herói, rosnando e impedindo-o de se mover, bem como dois Growlithes faziam com Hailee e Camila. A situação não parecia nada favorável.

Alguns segundos depois, um homem de forte porte saía de dentro da floresta; caucasiano, cerca de 1,90cm, com a cabeça raspada e olhos verdes que poderiam ser visto à quilômetros de distância. Em seus pulsos um relógio famoso na região de Kalos, avaliado como um dos mais caros em todos os continentes. Estampava sua farda com diversas abotoaduras e medalhas, claramente se tratando de um superior no departamento de polícia.

— Parece que mataram alguém aqui, que porra é essa? — avaliou o local, olhando ao redor, reconhecendo imediatamente Ed e Aron, ambos caídos no chão — Karma é foda. — se agachou perto do rapaz que sangrava — Levem esses merdas daqui pro hospital mais próximo e fiquem de olho neles. — respirou fundo enquanto assistia três de seus subordinados obedecerem suas ordens.

Parou por alguns segundos, reavaliando a cena novamente. Olhou para Joe e Camila e em seguida para Hailee: a garota estava estática, se tremendo muito e com os olhos lacrimejando. Experiente, sabia que era nela que obteria uma confissão... Mas, talvez esse não fosse seu objetivo final.

— Se juntem aqui na minha frente — caminhou até passar por trás de nosso herói, dando um forte tapa estalado em suas costas — Vambora, porra! Não tenho o dia todo — reclamou da demora de Hailee em se juntar aos outros dois.

Sinalizou para que Arcanine e Growlithe relaxassem e assim os monstrinhos o fizeram, recuando um pouco para trás de seu comandante. O forte homem olhou para seus companheiros e deu uma risada, a qual fora retribuída com outras. Estranho. Agachou na frente dos três, colocando a mão no queixo.

— Julgando pela cara de vocês, não vão conseguir sair tão cedo da cadeia... — apontou para a poça de sangue — Isso aqui é tentativa de homicídio... Seja lá quem fez, os outros são cúmplices. — respirou fundo, fingindo uma lamentação — Seria uma pena.

Agora mais próximo de nossos heróis, os mesmos conseguiriam ler embaixo de tantas medalhas o nome estampado no uniforme do homem: "Cel. Jeffords". O policial retirou um maço de cigarro de seu bolso de trás e imediatamente acendeu um com um isqueiro dourado, aparentemente de ouro, fazendo questão de jogar a fumaça na cara de Joe.

— Mas podemos conversar. Já estou atrás daqueles merdinhas há muito tempo. — abaixou o tom de voz — Com o que aconteceu aqui, posso falar que um atacou o outro e deu essa merda toda... — estendeu a mão — Para isso só precisam pagar um café pra mim e pros meus companheiros aqui. — piscou — Pk$250 de cada um e todo mundo sai no lucro.

E nada de Gastly aparecer...

O garoto que dança com fantasmas

9:07am.

Concordando com a proposta do policial, Joe retirava a exata quantia de sua mochila e entregava nas mãos do imponente homem. Jeffords recolhia o dinheiro e guardava em seu bolso, não sem antes dar uma outra tragada em seu forte cigarro de filtro amarelo. Estendeu a mão imediatamente na direção de Hailee, aguardando por uns bons segundos antes de se manifestar.

— Não vi. — respondeu seco, sem sequer olhar na direção de nosso herói, aguardando a jovem de olhos cor-de-rosa fazer algo — Como é, não vai querer contribuir? — riu — Quero vocês no chão e com os braços atrás da cabeça.

A feição da garota continuava como antes, tentando processar tudo que tinha acontecido ao mesmo tempo. Ela olhava para o vazio como quem passasse um filme em sua cabeça — talvez da cena em que perfurara o pescoço do malfeitor. Sua postura era desleixada, seus cabelos já estavam embaraçados, sem falar no suor que escorria de nervoso de sua testa. Camila estava agarrada em Joe, escondendo sua cabeça no peito do rapaz, um tanto quanto intimidada pela proximidade e tom de voz de Jeffords.

— Não. — Hailee respondeu, mudando completamente de semblante — Pk$250 é mais do que temos para passar o mês.

O Coronel olhou diretamente nos olhos da garota agora de joelhos no chão, não sem antes dar uma leve risada e pensar por alguns segundos. Se agachou, olhou para trás e sinalizou para os outros três que o acompanhavam se retirarem, o que fizeram sem titubear: agora os policiais davam suas costas e sumiam dentre a floresta, junto com seus Pokémons. Restavam ali apenas nossos heróis, junto com o homem.

Jeffords se aproximou da jovem, apoiando seu braço direito que segurava o cigarro no chão. Com a mão esquerda, vagarosamente a posicionou em cima da coxa de Hailee, que gelava, sem reação. Era possível ver nojo e horror misturados em uma única expressão, seus olhos arroseados encheram d'água, sem contar nos pelos do corpo que, na hora, arrepiaram.

— Então, me pague de uma forma diferente. — o homem mordeu o maxilar sorrindo, claramente confortável em ofertar aquilo, como se já tivesse feito isso antes — Faça isso e eu deixo eles dois irem embora.

O garoto que dança com fantasmas

9:08am.

A proposta absurda de Jeffords para Hailee deixava Joe irritado ao ponto de fazê-lo se levantar e ir na direção do saco que Ed e Aron carregavam quando fugiam da rota. O policial tomava um susto com a atitude do rapaz, imediatamente recuando de cima de Hailee e se levantando para ir atrás de nosso herói, apenas para ser surpreendido pela trouxa roubada pelos malfeitores. Abriu um sorriso enorme.

— Agora sim estamos conversando... — puxou a sacola das mãos de Joe, segurando-a com a mão esquerda — Mas você moleque... Quem manda nessa porra sou eu e vocês tem que me obedecer. — com a mão direita empurrou nosso herói.

Com o empurrão que levou do Coronel, Yokosuka caía de costas no chão, bem cima de um das poças de sangue presentes no ambiente. Jeffords continuava caminhando para cima do nosso herói, até agachar e segurar bem forte em seu pescoço, apertando com força e sentindo o ar não entrar mais no corpo do magro rapaz.

— Agora tu vai rodar e ninguém tá aqui pra ver isso, porque logo depois eu vou dar um jeito nas duas ali. — olhou para Camila e Hailee, ambas encolhidas e amedrontadas, praticamente paralisadas de medo — Que-

Os olhos do forte homem se arregalaram, que tentou continuar sua sentença mas parecia não conseguir: abria a boca e tudo que saía era um barulho semelhante à ânsia de vômito. Seu corpo começou a ser envolto por uma áurea enegrecida, o que fez com que se desesperasse e soltasse do pescoço de Joe. Jeffords tombou para o lado e logo atrás do mesmo estava Gastly. O fantasma tinha um enorme prego atravessado pelo seu gasoso corpo, que flutuava com certa dificuldade. Após ver seu treinador em segurança, sorriu, emitindo um fraco cry em sua direção e caindo imediatamente no chão, desmaiado.

Camila se levantou, enquanto Hailee continuava estática e enojada pela situação que ocorrera um minuto atrás. A menina caminhou até a bolsa de sua irmã e retirou um Potion, correndo imediatamente na direção de Joe.

— Tio, dá isso pro Gastlyzinho que ele vai ficar melhor. — entregou a poção e correu, agora até o fantasma desmaiado, fazendo carinho em sua cabeça — Você foi muito bravo!

O garoto que dança com fantasmas

9:10am.

Graças a Gastly, o policial se contorcia aos prantos no chão, sentindo uma dor talvez nunca antes sentida em sua vida. Joe se aproximou e recuperou seu dinheiro, bem como o saco que os malfeitores já não presentes haviam roubado, jogando na direção de Hailee. A garota se aproximou por alguns segundos, pensando momentaneamente.

— Não vou pegar pra mim. — disse, ajeitando a trouxa em suas costas — Vou devolver pros donos sem a ajuda deles.

Os efeitos de Curse não durariam para sempre, então, nossos heróis deveriam sair de lá o mais rápido possível. Gastly, agora recuperado, começava a ficar extremamente ansioso e hiperativo, o que não era característico de seu temperamento. Flutuava em círculos, fazendo sinal com a cabeça para que os mesmos o seguissem na direção da floresta...

Será que tinha encontrado alguma coisa?