(004) - This Is Why We Can't Have Nice Things

Meu coração acalentava um pouco após ver que a iminente melhora no estado de saúde da aquática. Sorri brevemente, até perceber que os passos ficavam cada vez mais próximos. Agradeci Mochi por sua ajuda, levantando imediatamente para ver quem se espreitava e me observava há um tempo. Se tratava de um homem, um pouco velho, magro e com algumas cartas de baralho na mão. Sinalizei para que Kirlia voltasse a tomar conta dos dois ovos, enquanto vestia novamente meu moletom que usaria para ajudar a buscar água para Starmie.

— Agora não mais... Ela parece estar melhorando. — apontei para a psíquica, que cambaleava um pouco na direção da água — Fiz o que pude.

Parei um pouco para analisá-lo... O que será que estava fazendo ali sozinho? Ainda mais com essas roupas sociais no calor característico de Hoenn. Além disso, certamente onde estávamos não é uma área de muito acesso, tendo em vista que não avistei ninguém durante minha caminhada até aqui. Não parecia ser o dono da Pokémon também, já que não se preocupou com seu bem-estar. Na real, ignorou-a completamente.

— E você? — meu tom não era dos mais simpáticos, mas também não seria rude à toa. — Posso te ajudar com alguma coisa?

Aparentemente, então, estávamos atrás da mesma coisa: a treinadora de Starmie. A Pokémon ainda se movia com dificuldades, mas graças às habilidades de cura de Kirlia, já se sentia bem melhor que anteriormente. Abaixei um pouco a guarda, não tinha porquê ficar tão tensa diante de uma pessoa com objetivo semelhante ao meu.

— A treinadora não sei, mas a Pokémon estava caída aqui quando cheguei. — apontei na direção que a psíquica foi — Mochi ajudou-a melhorar com seu Heal Pulse e ela já está se sentindo bem.

Parei por alguns segundos, enquanto terminava de ajeitar minha bolsa em meu ombro. Olhei ao redor, talvez procurando a misteriosa treinadora, somente para perceber o homem mexendo em suas cartas... Quem diabos anda com um baralho por aí?

— Espera! — exclamei, ao vê-lo quase desaparecer em meio ao vento — Talvez possa te ajudar à procurá-la... Posso ir na direção do mar e você vai em direção à floresta... O que acha? Starmie precisa de sua treinadora o mais rápido possível. — apontei na direção do mar, levando a mão direita ao queixo, em dúvida — Se fosse outra pessoa com más intenções no meu lugar, ela talvez nunca mais veria sua Pokémon. — respirei fundo — Qual o nome dela?

Hm.

Pensei por alguns segundos... O conselho do estranho homem realmente não era dos piores. O que estava acontecendo comigo que decidi oferecer ajuda, assim, tão espontaneamente? Será que esses últimos dois dias apenas conhecendo pessoas boas e gentis me deixou lesada? Cresci e vivi nas ruas desde pequena, sempre soube me virar e umas das coisas que mais tive sempre em mente era não confiar em desconhecidos; principalmente em um local tão deserto quanto esse. Claro, tinha meus dois psíquicos para me ajudar, mas e depois? Apesar de magro, ele ainda era homem. Mais forte. Mais rápido. Mais esperto.

Respirei fundo.

— Procurarei, então. — disse, tentando acompanhar Starmie que cambaleava uma vez ou outra — Aproveito que vamos na direção do mar e ajudo a estrela-do-mar também.

Consenti sobre a ajuda do pássaro e logo me virei para continuar meu caminho. As palavras do homem tinham de certa forma me feito pensar um pouco em como não posso abaixar a guarda nunca. Mulher, sozinha e com apenas dois Pokémon poderia ser um alvo fácil para qualquer um... Claro que tenho minhas artimanhas de me livrar de situações ruins, mas, sei lá, né? Esse mundo é maluco, principalmente em Hoenn. A plenitude que cercava meu corpo agora era rapidamente substituída pela desconfiança. Pela atenção. Por deixar minha guarda alta como sempre estive acostumada.

Era tal como uma aura verde e feliz que me envolvia momentaneamente se tornasse aos poucos em um tom púrpura.

Pensei em gritar o nome da garota aos quatro ventos, mas visto que agora voltei ao meu estado são de consciência, não o faria. Decidi caminhar em passos largos na direção do mar, com meus psíquicos ao meu lado, ambos tão atentos quanto eu: se teve uma coisa que eu soube fazer, foi ensinar aos meus pequenos como se virarem. Afinal, eles são a única família que tenho.

Caminhei por alguns bons segundos na direção do mar, rindo respeitosamente da condição de Starmie; era engraçadinho vê-la andando toda torta, quando poderia simplesmente flutuar. Um brisa marítima passava por mim e jogava meus longos cabelos loiros para trás. Aproveitei para fechar os olhos por um único segundo e apreciar a imensidão do mar me abraçando à distância: a água sempre fora algo especial para mim. Apesar de ter perdido minha família em uma noite de tempestade e maré alta, meu coração sempre será do mar.

Abri os olhos novamente apenas para perceber alguns metros em minha frente uma mulher loira com características semelhantes à que o homem havia descrito. Mas, algo estava estranho... A garota tinha uma postura estranha, quase que de uma morta-viva. Será que era seguro ir até lá?

— Oi! — tentei ser simpática, dando poucos passos para frente — Encontrei essa Starmie perdida e meu Kirlia ajudou a curá-la! — exclamei, ainda mantendo minha distância — STAR-

Me interrompi ao assistir a estrela-do-mar avançar na direção da garota. Talvez realmente fosse sua treinadora, no final das contas. Mas algo ainda estava muito, muito estranho. Não acenei para o pássaro do homem pois queria mais informações sobre ela e sei que quando ele chegasse eu seria dispensada, no mínimo. De qualquer maneira, a postura da mulher me deixou ligada nos duzentos e vinte volts: não parecia simpática e eu não poderia chegar mais perto sem me comprometer caso ela fosse algo de ruim.

— Que é isso, Arceus do céu? — pensei para mim mesma ao assistir a garota agir feito um animal.

Os pelos do meu corpo arrepiaram na hora. Starmie não parecia ter medo do que estava acontecendo, mas eu sim... O que será que tinha dado na garota? Respirei fundo e dei alguns alguns passos na direção dela. A outra loira me encarava muito estranho, como se a qualquer momento fosse me atacar. Virei meu olhar brevemente para Sushi e Mochi, que também não pareciam entender muito bem o que estava acontecendo. Kirlia parecia ter dores de cabeça e não era para menos — sua cadeia evolucionária era conhecida por sentir as emoções das pessoas ao seu redor. Algo estava estranho e eu tinha que intervir. Que merda. Por que eu não ignorei a estrela e segui viagem? Eu tinha que amar psíquicos.

Tsc.

— Atenção nela! — exclamei para meus Pokémons — Se ela ou Starmie vierem para cima, Kadabra, você para com seu Thunder Wave! Kirlia, vamos tentar pará-la e ver o que está acontecendo. — respírei, prestando bastante atenção nos movimentos da garota — Utilize seu Confusion para mantê-la no ar e para que eu possa me aproximar sem medo de levar um ataque.