001 — Na floresta

Contrariando a expectativa de Charlie aquele Wurmple em particular parecia ser mais amigável que os demais, além de solitário e curioso, já que vinha acompanhando o trio há alguns minutos, sempre escondido nas folhagens.

Quando o ruivo esticou a mão na direção do inseto, o pequeno inicialmente recuou um pouco, mas a curiosidade falou mais alto e então ele esticou o próprio focinho até mais perto de Charlie. Num susto, Wurmple deu um espirro repentino e lançou no garoto um pouco de seda grudenta, que o atingiu apenas nas pontas dos dedos. Assustado pelo acidente que causou, o inseto tornou a se encolher e agora olhava nervosamente do treinador para Bulbasaur, talvez com medo de ser mal interpretado e, consequentemente, punido.

– Ah, realmente, tem muitos Wurmple por aqui. Se esse não é agressivo, você deu sorte! – comentou Layse com uma gargalhada, antes de seguir a pergunta de Ethan – Bem, nos piores dias, shards, nos melhores, pedras evolutivas! – contava com entusiasmo, sem se distrair com o ruivo e sua exploração nos arbustos – Essa floresta é muito antiga e eu particularmente acho que tanto mistério tem um fundo de verdade. Minha esperança é um dia, com mais sorte ainda, encontrar um fóssil. Quem sabe? Além disso eu recolho algumas amostras de vez em quando, pra estudos de colegas cientistas. E vocês? O que fazem por aqui? – devolvia a curiosidade enquanto tomava longos goles da sua própria garrafa.

Off:

Para a sorte do pequeno Wurmple, Charlie também não era o tipo de humano agressivo, por isso lidou bem com o acidente, limpando a mão em seguida. Ainda assim o inseto continuou um pouco desconfiado, e só depois de ver o menino sorrir é que tomou iniciativa de esticar novamente o corpo e se aproximar. Desta vez a lagartinha caminhou para fora do emaranhado de folhagens, pondo-se ao lado de Bulbasaur e comunicando alguma coisa em sua língua. Deveria ser algo engraçado, porque os dois Pokémon riam um para o outro.

– Sim! Amo caçar objetos raros desde... Desde sempre, eu acho. – a garota contava com empolgação recíproca à dos treinadores – Aventuras, eh? Acho que vieram ao lugar certo pra isso! E, posso dizer, talvez aqui também seja interessante pra novos Criadores, sabem? – levava um indicador ao queixo como se refletisse sobre alguma coisa, até que veio a oferta de Charlie e um sorriso tomou conta do rosto de Layse – Nossa! Parece que leu minha mente! Estava pensando exatamente em pedir ajuda de vocês, ha ha. Ah, não se preocupem, não vai ser nada muito pesado, mas tenho algumas coisas em que podem me ajudar, se quiserem. Que tal? De repente eu também posso ajudar vocês a encontrarem coisas interessantes por aqui. Venho à essa floresta há tempos, sei de coisas legais que podem ajudar novos Criadores, como disse... Frutas, ervas, essas coisas. Posso até dizer que tenho bons palpites pra achar Pokémon... Apesar de que vocês parecem estar bem com esse Wurmple aí, né?!

Layse olhava de esguelha para a relação que surgia entre os Pokémon aos pés de Charlie, enquanto parecia ela própria mais a vontade na presença dos garotos e empolgada com a expectativa de ter ajuda e companhia naquela manhã pela floresta.

As coisas convergiam para um propósito em comum, em que até o Wurmple curioso era convidado a participar da exploração, sendo que ele confirmou com seu novo amigo Bulbasaur se valeria a pena e, conforme a conversa que se sucedeu entre os dois, aceitou com um riso.

– Perfeito! Então se não se importam vamos começar saindo aqui desse pedaço e indo ali pra minha "clareira", ok? – Layse os convidou para a área onde ela estava martelando rocha.

Não era exatamente uma clareira, já que não era possível ver o céu, mas definitivamente estavam em um espaço mais aberto em que as árvores eram mais distantes, então não precisariam espremer-se demais. Layse tirou do bolso lateral da mochila uma caderneta e a abriu na página marcada por uma fita, antes de seguir:

– Tem algumas coisas que preciso coletar pra amigos que estudam a flora daqui, então acho que podemos começar nisso, que tal? São frutas e cogumelos, primeiro. Talvez não seja difícil de achar ou de alcançar com essas coisinhas fofas que vocês têm aí. – sorriu afetuosamente para a dupla de Pokémon soltos – Pra ajudar... Deixa eu ver... – procurou pela mochila durante alguns segundos até retirar dali um objeto arredondado, um canivete, uma eco bag bem enrolada e um novelo vermelho – Aqui, acho que isso deve ajudar. Uma bússola e uma linha, pra vocês marcarem por onde passam, não se perderem e voltarem pra cá, apesar de que não vai ser difícil me achar pelo barulho... Prevenir nunca é demais, heh! – entregou a bússola à Ethan e a linha à Charlie – Um canivete pra cortar os troços do pé ou do chão se preciso, e a sacolinha pra por tudo dentro. – novamente, deu o primeiro item ao mais alto e a bag ao ruivo.

Por fim a geóloga ficou de pé e deu um giro vagaroso de 360º em seus calcanhares, analisando o ambiente à sua volta antes de voltar-se à caderneta por mais alguns segundos.

– Bem, eu diria que vocês podem começar aqui pela direita, à Leste, ou seguindo em frente ao Norte... Tomem cuidado com partes de média altura nos troncos das árvores. Muitos Cascoon e Silcoon se colam neles e ao se sentirem ameaçados podem machucar vocês com os espinhos, ok? Se precisarem de algo podem me procurar, modéstia a parte eu vim bem preparada! E se não tiverem dúvidas, divirtam-se e aventurem-se! E... cuidem bem desse pequeno Wurmple, parece que ele gostou de estar entre vocês.

Deixando Layse para trás e rumando para o Leste os aventureiros aceitaram as funções indiretamente delegadas a cada um e traçaram objetivos bem claros também para os Pokémon. Bulbasaur ficou incumbido de procurar na altura do chão enquanto Wurmple foi requisitado para escalar árvores.

Estavam alguns metros distantes do ponto de encontro, o suficiente para escutarem de forma suave o tinir da marreta da geóloga contra a pedra que ela explorava. Naquela altura a busca dos treinadores começava a dar frutos - e cogumelos também! Enquanto a lagartinha subia aos poucos pelo tronco, Bulbasaur chamou atenção de todos pois seu faro e olhos haviam encontrado algo bem chamativo e discreto entre a vegetação: uma erva relativamente incomum com uma folha de um vermelho bem vivo, que apesar de não estar na lista enunciada por Layse, talvez pudesse ser interessante de amostrar.

Charlie e Ethan teriam pouquíssimo tempo de observar o achado, porque um grunhido vindo de cima lhes chamou ainda mais atenção, principalmente pelo tom de urgência e desespero. Quando olhassem para cima veriam Wurmple recuado na ponta de um galho, tremendo e apontando o longo espinho da cabeça para uma outra criatura na base do mesmo galho. O Pokémon crocitava na direção do inseto enquanto batia suas asas ameaçadoramente. Era uma ave, evidentemente, e o garoto do jardim de girassóis certamente entenderia o risco de Wurmple... Infelizmente, presa e predador estavam mais altos do que os braços de Ethan - o mais comprido deles - poderiam alcançar. Era uma situação delicada, que exigia uma resposta igualmente delicada e rápida, se possível.

As atenções logo se voltaram para Wurmple, é claro, e Charlie foi o primeiro a agir, instruindo a lagartinha a saltar do galho tendo sua própria seda como apoio. Mesmo dócil e sociável o inseto ainda era selvagem o suficiente para não reconhecer ordens, ainda que elas lhe custassem a vida. Mas a orientação não foi de todo negada, já que Wurmple cuspiu seus fios grudentos direcionando-os contra a ave, que rebateu com sua agilidade superior e desviou alçando voo.

No ar Taillow entrava em vantagem e avançava definitivamente contra sua presa, bicando-a sem dó pela parte de cima, ignorando a proteção natural de espinhos da lagarta. Com isso foi inevitável que Wurmple se desequilibrasse, desacordado, e caísse. Porém, a Clamperl de Ethan estava pronta para aparar o inseto com seu redemoinho líquido.

Num grito agudo da ave houve um farfalhar nos galhos superiores e então outro semelhante desceu em voo rasante. Juntos os pássaros sobrevoavam os treinadores e tinham os olhos vidrados no inseto. Eram caçadores e, como o ruivo previu, agiam com agressividade e insistência. Os Voadores estavam em seu habitat afinal e se esforçariam por aquele Wurmple... Será que Charlie tomaria a iniciativa de combater para proteger o novo amigo?