Pokémon Mythology RPG 13
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Ato 03 — Libertação.

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Ato 03 — Libertação. - Página 8 Empty Re: Ato 03 — Libertação.

Mensagem por Nico' Ter Out 27 2020, 17:31

off.:

E como já estava anunciado há pouco, os monstrinhos foram recolhidos pelos apetrechos esféricos por vontade própria. Estavam, sim, cientes, de que a partir daquele momento, cruzariam com seu mestre por veredas em que as trevas se esgueiram e assaltam a todo instante. Deveriam estar preparados, maduros; o mundo é vil e selvagem com todo e qualquer ser. Se estariam à mercê dos ventos do destino, deveriam ter isso em mente.

Assim como o vento já não sibilava como outrora, a pequena Sofya esfriara-se em sua euforia. Achegou-se do treinador com uma expressão mais serena e sorumbática. No momento em que as primeiras palavras foram sopradas pela garota, Nicholas tivera alguns lampejos daquela lamúria incessante em que a encontrara sob a sombra da suntuosa árvore. Um agradecimento, e logo depois, a especificação: ele a havia encontrado.

Naquele tão ínfimo lapso de tempo, foi o tempo necessário não apenas para que ela se sentasse ao lado do louro, como este se virava para ela. Estava confuso, claro; todavia, não transparecia isso em seu semblante. Muito pelo contrário. Respirou fundo, observando o horizonte após piscar as pálpebras e umedecer seu lábio inferior com o músculo responsável pela fala. Os orbes cerúleos jaziam estáticos sobre a figura do sol, aparecendo pouco a pouco, depois das nuvens negras de tempestade e lamúrias se dissipavam. Quiçá, as criaturas celestes buscavam passar a mensagem de que cessara os confrontos contra a Entidade que assolou por longos minutos a dupla de desbravadores.

Mesmo sem a presença física da fada que tanto lhe era terna, desabafou: pôde ouvi-la, mesmo que esta estivesse em outro plano, sentiu. Aquela sensação tão aprazível comparada até mesmo quando a criança e sua companheira corriam em volta daquela praia, palco de acontecimentos tão misteriosos. Em pranto tão singelo, tentou limpar todos aqueles sentimentos em forma aquosa que escorriam por seu alvo cenho; os olhos, marejados, transpareciam um emaranhado entre tristeza e alegria.

Sorriu.

Uma única lágrima se prendeu em seu rosto, servindo como um espelho para a radiação solar que agora já volvia a banhar toda a paisagem com o seu esplendor. Mesmo triste, insistia em sorrir; ousada, como todas as crianças no geral. A energia do astro era o adorno natural para aquele cenário de despedidas, afinal, Sofya pôde dizer adeus à Clefable. Tudo era muito enigmático, e Nicholas não conseguia compreender por entre as palavras murmuradas pela menina ao seu lado.

Mesmo assim, manteve-se taciturno, não transparecendo em momento algum a confusão. Agora, fitava-a. Um sorriso faceiro passou a adornar o semblante tão manso de Sofya. Súbita, avançou contra o corpo do louro, envolvendo-o com força nunca dantes vista. E não era apenas a força que enlaçava o seu corpo: a aura que ela transmitia para ele era tão branda. Mesmo que no mundo dos sentimentos pouco se aplique as leis físicas, a lei das trocas de calor seguia o que fora enunciado há muito tempo atrás: o calor corre do corpo mais quente para o mais frio, para que o sistema atinja o equilíbrio térmico.

Em silêncio, pressionava-a contra o seu peito. Foi com alívio que um suspiro saiu de suas narinas acompanhado de um faceiro sorriso. Garantira a segurança das duas, e mesmo não compreendendo como cumprira a sua promessa, aceitou as meigas palavras proferidas pela jovem. E tão súbito quanto aquele avanço, um soído onomatopaico vindo detrás daquela singela união de corpos em terno abraço que fez Nico se desprender gentilmente do corpo de Sofya.

De imediato, erguia a sua sobrancelha. Atônito, os lábios róseos se descolaram no ensaio de dizer qualquer código. Sem sucesso.

Todo o corpo da garota era envolto em luz alva gradualmente, chegando a incomodar os olhos do treinador próximo. Semicerrou as suas pálpebras até que a sua retina se ajustasse à luz emanada pelo corpo de Sofya. As exíguas mãos passaram por detrás de suas longas madeixas castanhas, desprendendo de seu pescoço uma corrente rosê com um símbolo em sua ponta. Posicionava-a, airosa, sobre as palmas da mão do louro como um presente. Caso Nicholas se sentisse encoberto pelas trevas, que através daquele adorno tão singelo, ainda pudesse enxergar a luz.

Sofya depositava a sua essência sobre aquele colar. Possivelmente, ouvira a conversa que o treinador tivera com os seus monstrinhos antes de absorvê-los. Não queria que ele se perdesse em seu caminho, e dessa maneira, entregava um farol para guiar aquele barco tão indeciso, navegando pelos meandres de um mar deveras caudaloso.

O brilho tornou a aumentar. Em último agradecimento, os seres celestes evocavam uma sucinta lufada marítima para que levasse o corpo da garota, que desvanecia em luz. Pequeninos focos se espalhavam pela ilha. Nicholas interpôs sua mão em uma dessas ínfimas partículas como uma barreira de carne. Levou-a até próximo de seus olhos, encarando-a uma derradeira vez, até que a mesma se desfizesse. Súbito, os orbes cerúleos de desviavam na direção da corrente deixava por Sofya em seu outro membro. Era o seu legado, sua essência. E claro: deveria protegê-lo com todas as forças.

Pressionou gentilmente aquela corrente. Um longo suspiro se desvencilhava de suas narinas enquanto volvia o seu rosto na direção do firmamento. Um silêncio sepulcral dominou o seu ser, enquanto mais atrás, ouviu o corpo da treinadora sendo jogado contra a areia em choro incessante. A mão livre de Nicholas passava por suas desgrenhadas madeixas jogando-a para trás com força, apenas para que escorresse sobre seu semblante novamente. Suspirava novamente.

Tão misterioso. Enigmático. Sofya de fato existiu? Seria mais alguma manifestação do poder de alguma entidade que se materializou diante daqueles dois? Alguma ilusão? De qualquer maneira, não importava. O fato é de que estava gravado na memória dos dois: aqueles momentos tão únicos e aquele combate tão melindroso que quase ceifara a vida do louro. Mesmo partindo, as memórias daqueles acontecimentos não abandonariam a dupla tão cedo.

Mightyena aproximava-se de Emma em grunhido sorumbático. Como se tentasse consolá-la, passou suas patas airosamente contra o braço esquerdo da garota, apenas para em seguida lamber sua face em afeto. O lupino, contrariando o senso comum, era tão aprazível e tinha um carinho especial pela treinadora. Pelo fato de a mesma fazer tão bem ao seu mestre, o canídeo cinzento acreditava piamente que ao auxiliá-la, estaria agradando aquele em que creditava ainda estar vivo.

Não tardou para que a hiena se afastasse vagarosamente com uma expressão levemente jocosa: Nicholas estava se aproximando. O louro agachava-se, posicionando suas mãos sobre as bochechas da namorada e jogando uma de suas mechas douradas para atrás de sua orelha. Aprazível, passou suas mãos pelas bochechas rosadas da treinadora para limpar as lágrimas que insistiam em rolar em seu angelical rosto.

— Tá tudo bem — murmurou, colando a sua testa com a dela. Arqueando a corrente com a qual Sofya o presenteara, passou seu membro por sobre o ombro de Emma, colocando, gentilmente o adorno sobre o seu pescoço. O símbolo Ankh agora tinha um lar adequado. — Ela me entregou isso, falando para que sempre que eu me sentir em trevas, consiga ver a luz. Você é como um farol, que ilumina todos ao seu redor com amor e esperança. Antes de derramar qualquer lágrima, olhe pro seu peito e se lembre de cada momento bom que passou com ela — pressionou seus lábios contra a testa da loura sutilmente, antes de afagar suas bochechas uma derradeira vez. Ergueu-se. — Agora, vamos indo. É um longo caminho daqui até Johto.

Suas palavras, apesar de doces, poderiam não fazer efeito diante de um coração lancinado pela sensação de perder alguém considerada próxima — mesmo tendo a conhecida em poucas horas. Ao se levantar, bateu suas mãos sobre as suas roupas para limpar os resquícios de areia grudadas sobre as mesmas. Por fim, se voltou para trás para chamar Natu.

E o que aconteceu a seguir, fê-lo franzir o cenho.

O pássaro psíquico estava terminando de saborear o segundo doce em velocidade exímia. Os planos de Nicholas eram guardá-los para que presenteasse alguém ou utilizasse em situações mais oportunas. Ligeiro e faceiro, a ave bicava os doces e terminava de digerir a segunda bala. Mightyena não ficou muito feliz com aquilo, grunhindo uma única vez, desgostoso. O lupino era — depois de Charmeleon — aquele que mais entendia os sentimentos de seu mestre, e vendo a reação de Emma com a partida de Sofya, salientava ainda mais seu sentimento aborrecido.

— Porra, Natu — exprimiu o treinador, balançando a cabeça negativamente. — Esses doces eram os que Sofya deixou pra mim, e você comeu os dois sem mais nem menos? Por que não me pediu antes? — inquiriu, aborrecido. — Pelo amor de Arceus. E agora, o que é que eu faço?

O psíquico agia como se não tivesse feito nada demais. Ao terminar o último doce, um suspiro aliviado por ter feito uma refeição inesperada. De repente, o próprio monstrinho esbugalhou o seu olho, e piou, deveras alto. Jubiloso, passou a dar alguns pulinhos no mesmo lugar em que estava. Isso arrancou olhares confusos não apenas de seu treinador, como também do cinzento que estava sentado ao lado de Emma.

Quiçá, nem mesmo o próprio Nicholas, aquele quem fora presenteado pela mensageira celeste compreendera o porquê daqueles doces. Imediatamente depois de degluti-los, o corpo do psíquico foi envolvo por um brilho anormal, lembrando aquele que Kirlia cintilou antes de completar sua evolução.

Se tem alguém que devemos dar crédito a esse processo único, é à Sofya. Mesmo partindo, deixou o necessário para que Natu pudesse evoluir para o seu estágio final.

Ainda dentro daquela casca luminosa, o rechonchudo passarinho começava a se alongar, e as suas dimensões eram multiplicadas por muito. De um exíguo psíquico, Natu ganhava corpo e altura para chegar na altura dos ombros de Emma. Suas pequenas asas se expandiam por muito também: se outrora não conseguia voar por muito tempo, agora, não seria um desafio para o monstrinho. Seu bico também delongava, e aquela única penugem se deslocava para a sua nuca.

Envolto naquele casulo luminoso, abriu suas suntuosas asas, irrompendo daquela luz. De um pequeno Natu, daquele que ajudara o seu mestre na rota cento e um, não tardou para que ele evoluísse em um Xatu.

Nicholas ergueu sua mão na altura da sua testa, apoiando a mesma sobre o seu membro levantando. Em um riso desajeitado, moveu sua cabeça horizontalmente para lá e para cá. Sentiu que os deuses estavam a galhofar de sua fala de outrora: por dar uma bronca em seu psíquico, logo após ele deglutir aqueles rare candy, era o gatilho para que se tornasse um Xatu.

— Francamente... — riu, encarando seu monstrinho agora já evoluído. Xatu volveu a fitá-lo cerrando as suas pálpebras em expressão jocosa. Seria difícil Nico saber se o seu psíquico sentira que foi para aquilo que a garota, antes de desvanecer por completo, deixava o preferido de sua fada; quiçá o pressentindo, o pássaro não pestanejou a avançar sobre os doces. O treinador repousou suas mãos sobre sua cintura, suspirando fundo, fitando o sol com os olhos semicerrados. — Obrigado por tudo, pequena.

Encarou o seu bolso. Ali, estava aquela primeira concha que Sofya o entregara antes de avançaram sobre a ilhota em que combateram a Coisa. Mesmo longe, a criança tratou de abençoar os dois não apenas com a evolução de Ralts, como também a de Natu.

Presente divino, sorte, predestinação. São várias as hipóteses que perpetuavam na confusa mente do rapaz. Por fim, preferiu apenas aproveitar aqueles momentos junto da garota que tanto lhe era terna e seus monstrinhos.

Jubiloso, fitava o céu, sorrindo faceiramente. Agradecia, em mente, a Sofya.
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Mensagem por Renzinho Qua Out 28 2020, 16:56



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Era inesperado, pois sim. Mas afinal, o que em nossa vida não é? Por mais que façamos planos, arquitetemos milimetricamente todos os detalhes com os quais queremos prosseguir, às vezes as coisas simplesmente... querem funcionar de maneira totalmente diferente. Tenho quase certeza de que já disse anteriormente: existem coisas que não podem ser controladas apenas por meio do querer.

Por mais que eles não quisessem que Sofya "acabasse" assim.

...

Mas bem, quem garantiria que de fato havia um fim, para acabar? Talvez a menina ainda estivesse ali, a assisti-los. Talvez fosse o ar que respiravam. Ralvez, tivesse ido habitar uma pequena plantinha que germinava, próxima dali. E mesmo que todas estas possibilidades acabassem por mostrar-se incorretas, uma certeza eles tinham: ela estaria sempre viva dentro de suas memórias.

Ainda assim, algumas vontades conseguiam ser cumpridas. Como as da própria menina, que havia tido a oportunidade de rever, por assim dizer, sua grande amiga. Eles não precisavam entender o que estava por trás daquilo tudo, como acontecera. O que realmente importava era que havia acontecido. Sim, isso bastava.

Curioso citar que, enquanto Emma secava as lágrimas, olhando e ouvindo seu namorado, uma brisa passou pela ilha novamente, sacudindo as madeixas de trigo da jovem. Brisa esta que parecia quase que cantar e rir, assobiando aos ouvidos dos presentes. Sentir isso — além de escutar Nicholas — pareceu dar forças para a treinadora, que se levantou.

E a brisa...? Percorreu toda aquela pequena ilha, traçando o mesmo caminho que — apesar de provavelmente não serem capazes de se recordarem — viram Gengar traçar enquanto ria e espalhava clones, em sua batalha. Até que o vento calou-se. E quem por fim disse algo foi Emma.

Não — proferiu, em voz dura e determinada, olhando diretamente para os olhos do louro. — Este é um presente para você, e ninguém mais. Ela poderia ter dado para mim, mas foi até você. Gosto de pensar que... que ela queria garantir que, pelo menos uma vez, você também sentisse que alguém está tomando conta de si — disse por fim, enquanto balançava a cabeça; recusando a corrente que o treinador entregava a ela.

Voltou a tocar o cabelo de Nicholas, como fizera ainda deitada na orla, antes do relâmpago, do acontecimento de tudo. Enquanto Sofya ainda brincava diante de seus olhos. — Além disso... Não quero você caminhando por sobre as trevas — afirmou, decidida nisso também. Talvez, Emma tivesse lido histórias o bastante para saber que nem sempre um anti-herói se dava bem.

Ela aproximou-se para um beijo, mas foi interrompida por Natu e toda a sua cena. Acho que não preciso demorar-me muito aqui, certo? Afinal de contas, toda a situação foi muito bem descrita por um alguém detentor do bom uso de palavras — além de uma enorme beleza. Foquemos na jovem. A loira reprimiu uma risada, ainda melancólica demais para expressar felicidade com tamanha facilidade, mas exibindo um sorriso triste para demonstrar que ainda se divertia com a cena.

"O que os olhos não vêem, o coração não sente". Então por que é que Emma, cujo coração sempre foi tão sensível, sentia tanto assim a falta daquela que seus olhos não conseguiam mais enxergar, mas cuja presença ainda era esmagadora; dentro de si...?

Talvez fosse melhor deixar isso para lá. Não importavam os motivos, as coisas haviam acontecido. E querendo ou não, eles haviam dado o melhor de si para tal. A treinadora ajeitou suas madeixas sobre os ombros, aproximando-se do amante e seu recém-evoluído monstrinho. Elogiou a nova aparência da ave, mas foi para Nicholas que dirigira suas principais palavras. — Vamos, então...?

De fato, não adiantava muito permanecerem ali, remoendo ideias e arrependimentos. Não tinham nada a fazer, senão prosseguir. Os espíritos podiam ter encontrado seu caminho juntos — unindo-se por meio da combinação tênue e incomum de luz e trevas — mas os vivos ainda estavam perdidos na névoa da existência, lutando para enxergar algo.

Eu tenho certeza de que bastariam apenas uma única ordem, e então Ralts e Xatu — agraciado agora com dons ainda mais fortes e notórios — conseguiriam teleportá-los para longe dali. Mas talvez...

...Talvez Nico desejasse também, dar seu último adeus.





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Mensagem por Nico' Qua Out 28 2020, 22:17

A brisa, ao menos no mar, é um fenômeno normal. Durante o dia, como o calor específico da areia é menor que a água, os grãos de sílica esquentam com mais facilidade; o ar da zona costeira se aquece, tornando-se menos denso, e dessa maneira, sobe aos céus, criando uma zona de baixa pressão. Dessa maneira, o vento marítimo sopra da massa colossal de águas à terra. De noite, ocorre o oposto: esfria-se, e assim, o titânico corpo arenoso arrefece com mais facilidade, criando, agora, um centro de alta pressão — enquanto o mar se torna um centro de baixa pressão. E, então, o ar sibila da terra ao mar.

E era engraçado como esse evento tão corriqueiro ocorria no tempo exato. Quiçá ainda como aquela lembrança da garota que desvanecera, somou-se aquele assobio tão brando às palavras do treinador para que a loura se erguesse. Suspirou uma única vez, rapidamente negando aquilo que o enamorado oferecia. Nicholas fitou-a, apenas assentindo em silêncio; deixou um sorriso raso tomar conta do canto de seus lábios até sentir as mãos de Emma afagar suas madeixas douradas.

De alguém que, outrora, mostrara uma personalidade tão frágil, aquelas palavras de antes ressoaram pela mente da loura. Decidida, inferiu que não queria seu companheiro andando em um caminho de trevas. Talvez o destino fosse misericordioso com o treinador e ela não soubesse das reais sombras que residiam nos confins do âmago daquele que, por um acaso, escolhera como parceiro. Para afastar toda aquela névoa que se emaranhou no ser de Nicholas, avançou para um beijo, e fora interrompida por Natu e suas traquinagens.

Bastou algumas horas para que Emma se enlaçasse emocionalmente à Sofya; assim como fora suficiente um único sopro e um cintilar ímpar para que toda aquela alegria, sempre tão característica à treinadora, esvaísse de sua alma. A cena da evolução, por si só, era única. Todavia, os holofotes estavam naquela cena cômica entre o seu mestre de queixo caído e a criatura já evoluída.

Indagou se iriam naquele momento. Mesmo sendo uma pergunta tão singela, Nico permaneceu taciturno por alguns segundos. Mirou o sol de relance, suspirando, enquanto um sorriso perfilava o seu semblante. Levou suas mãos à cintura, arqueando as demais esferas bicolores de seus monstrinhos guardados. Materializou todos: Seedot, Shellos, Charmeleon e Ninjask. Percebendo a reunião, o agora Xatu e Mightyena açodavam na direção da aglomeração frente ao seu mestre. Um por um encaravam-no, olhando de um lado para o outro, com uma harmonia ímpar, contrastando com aquele cenário melindroso que notaram na praia.

Continuaram a olhar ao redor, e não encontraram Sofya — menos Mightyena e Xatu, que viram a cena. Confusos, entreolharam-se; tanto o noturno quanto o canídeo mantiveram-se em silêncio. Depois de um suspiro longo, olhou de relance para o firmamento depois de um sorriso tão sucinto; apesar de estar em outro plano agora, aquela alegria tão singela preencheu — ao menos, naquele momento — o âmago do louro.

— Cada um de vocês, estão vendo aquela árvore? — inquiriu, apontando para o corpo lenhoso ao centro da ilhota. — A Sofya teve de ir embora, mas ela não vai demorar pra chegar aqui. E como temos coisas a fazer, não temos tempo para fazermos uma despedida como ela merece. Então vamos até aquela árvore e deixar uma mensagem pra ela.

Cada um dos monstrinhos, à sua maneira, assentiram com os ditos do rapaz. E seguiram em ritmo acelerado até a árvore. Como uma equipe, cada um se ajudava a deixarem as suas marcas no caule da já morta árvore. O primeiro foi o canídeo: posicionou sua pata esquerda por sobre o lenho, e com as unhas do membro livre, fazia o contorno daquela que já estava posicionada; Charmeleon utilizava de suas garras para fazer um desenho espalhafatoso de Sofya ao seu lado — eram traços quase que irreconhecíveis, afinal, o réptil não tinha o dom artístico —; Seedot lançava sua casca oca até fazer um pequeno buraco — aquilo causou o furor de todos os outros pokémons, que, no ato, repreenderam-no —; Shellos juntava-se ao inicial de Nicholas e pedia para fazer um retrato de sua face no tronco — era cômico a maneira cujo o monstrinho desenhista fazia sua arte, e melhor ainda, a lesma satisfeita com o resultado que era mais excêntrico ainda —; Ninjask usava de suas lâminas para fazer um desenho cubista da concha que ela entregara ao louro; Xatu utilizara de seu bico para desenhar dois quadrados: eram os doces deixados por ela para que o psíquico evoluísse.

Deixaram, assim, a última mensagem a um espírito que, possivelmente, jamais retornaria; contudo, era de valor simbólico sem par. Os monstrinhos encerravam os símbolos espalhafatosos sobre o lenho, e rapidamente, o treinador os recolhia para suas respectivas esferas bicolores. Satisfeito, sorriu, e arrancou um pedaço de madeira pontudo o suficiente para riscar o rígido lenho. Era a vez de Nicholas deixar a sua mensagem.

Foi necessário fazer um pouco de força para fazer e se delongou um pouco em deixar uma mensagem póstuma à mensageira celeste.

“Obrigado, Sofya. Nos veremos de novo”

Por fim, cravou o utensílio improvisado ao lado do tronco que ousava em manter-se em pé naquela pequena ilha mesmo depois de morto. Mais um sorriso jocoso adornava o semblante do treinador enquanto olhava cada um dos símbolos que seus monstrinhos cravaram sobre o corpo lenhoso; tal Emma, em uma interação singela, única e breve, puderam mostrar ao espírito vagante o quanto era especial.

Se Sofya e Clefable estivessem vendo isso de outro plano, o louro desejava que aqueles rabiscos acalentassem seu tão inocente coração.

Volveu-se na direção da companheira. Invasivo, mergulhou sua mão direita nas coisas da garota, sacando a esfera bicolor responsável por aprisionar Kirlia. Deu uma piscadela à psíquica e um faceiro riso no canto dos lábios, evocando o feixe de luz vermelho-sangue para recolhê-la; e assim o fez. Colocou-a novamente na mochila de Emma, e súbito, envolveu-a em seus braços segurando-a pela cintura. Com um movimento brusco, aproximou o corpo da loura do seu, colando, mais uma vez, testa com testa.

— Foi mal, é que eu não gosto de plateia — murmurou, antes de seus lábios se abrirem em um beijo em sua semideusa.

E devo dizer que não era um beijo qualquer. Não era apenas um gesto que saciava ao corpo físico que, agora, tanto sentia atração por cada delicada curva cujo o corpo da loura era feito. Seu cabelo, suas roupas, sua voz sempre tão mansa; era única, venusta, sedutora. Mas, a cada vez em que os músculos se roçagavam, era o seu espírito que se alimentava de cada gesto aprazível que Emma trazia ao ego sempre tão confuso de Nicholas; acalentava toda a tormenta que lancinava o consciente do louro apenas com a mais ínfima vibração de suas cordas vocais, somente com sua presença.

E, mais uma vez, as águas caudalosas daquele rio se amansavam daquele oceano terno e manso. As mãos passeavam por cada uma das curvas, e sua alma regozijava aquele momento tão único que tinham ao centro daquela ilha deserta. Assim como em “Os Lusíadas”, Vênus presenteava aquele casal que ardia como o fogo do Olimpo com a Ilha dos Amores. A mão adentrando as longas madeixas douradas da treinadora, a restante caminhava por cada curva tão sedutora, ímpar, e se perdia no labirinto abrasante da paixão.

Segundos, logo depois minutos. Dentro do mundo físico, não significava nada diante das vinte e quatro horas que o relógio marca. Contudo, no universo sensitivo, assimilava-se a uma eternidade; uma outra realidade, em que Nicholas desejava ser preso pelo resto de sua existência. Encontrou um lar nos braços e nos beijos do presente enviado pela deusa do amor a ele.

Após um longo tempo é que seu lábio descolou de Emma. Um sorriso satisfeito e convencido surgia em seus lábios.

— Agora sim podemos ir — murmurou, antes de roubar mais um selinho de sua enamorada. — Vamos dar um pulinho em Rustboro pra você pegar sua pokénav, depois vamos em Mauville dar olhada naquela base. E, então, estamos liberados para irmos até Johto, tudo bem? — deu dois passos à frente. Súbito, estalou os dedos, volvendo palavras à Emma. — Ah, se quiser, Xatu e Kirlia podem nos teleportar pra lá de volta.
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Mensagem por Renzinho Qui Out 29 2020, 18:47

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Uma despedida, sim. Para ser sincero, estava esperando por apenas mais alguns dizeres carregados de sentimentalismo, mas... Aquilo foi simplesmente adorável. Não tenho como afirmar se a cena estava realmente sendo assistida para suas destinatárias — afinal de contas, eu já não tinha mais controle, e muito menos visão sobre onde poderiam estar no momento —, mas tenho certeza de que aquilo as deixaria felizes.

Desenhos, muitas vezes, são vistos negativamente. Sinônimos de infantilidade, de um caminho a não ser seguido; por não trazer prosperidade. Mas, ainda assim, é um caminho bastante ambicionado. Na inocência de nossos viveres, não pensamos muito, apenas sentimos. E além disso, talvez ser infantil fosse exatamente o que Nicholas tivesse em mente.

Podiam não ter permanecido muito tempo unidos à garota, mas naquele ínfimo intervalo que passaram juntos, um laço já conseguiu ser criado. Na companhia um do outro, riram, brincaram, até mesmo choraram e batalharam.

...Mas o adeus não precisa ser — necessariamente —  triste, não é? O louro, ao assistir seus pokémon desenharem, viu também uma despedida relativamente alegre; dadas as proporções. Certamente, a pequena Sofya não iria querer vê-los chorando, tal qual ela outrora fizera. Ela gostaria de ser a luz que iluminava, assim como aprendera a ser — aprendera com o próprio grupo, que trouxe luz ao seu ser.

Cada um dos monstrinhos tomava parte na homenagem, tornando o que deveria ser apenas uma pequena árvore retorcida, queimada e quebrada em um verdadeiro monumento à memória. Emma apenas assistiu, tornando a esboçar aquele sorriso um tanto quanto triste. Em certo momento, fechou os olhos, como se estivesse fazendo sua própria prece à criança.

Fosse Rá, Apolo, Hélio ou até mesmo o Deus maiúsculo, a loira parecia acreditar que fora levada até Sofya por um propósito maior. O de tirar das sombras, apenas para deslumbrar-se com a natureza divina e iluminada, logo em seguida. O brilho da inocência, que havia perdido sua fé quando assombrado pelos terrores mundanos e sobrenaturais.

Um anjo, mensageiro, que se perdeu no Caos.

Que não houvessem mais destes por aí.

Para assegurar que isso fosse uma verdade, Emma tornou a olhar para seu namorado. Ele parecia... em paz. A treinadora sorriu quando o jovem aproximou-se, galanteador, "tapando os olhos" de Kirlia de uma maneira mais conveniente para si. Ela retribuiu o beijo, envolvendo o pescoço do louro com ambos os braços, rendendo-se aos avanços deste.

Em seguida, concordou com os dizeres de Nicholas, balançando a cabeça. Parecia um pouco quieta; até demais. Até que liberou Kirlia novamente, tomou a mão do namorado, e enquanto olhava para o mesmo, sussurrou em voz doce e delicada; como se pudesse ser afagada. — Eu te amo. Nunca se esqueça disso — e então pediu para os pokémon seguirem em frente.

O ar ao redor deles tremeluziu, quase que como entrando dentro de si mesmo; criando um vácuo. Xatu e Kirlia, ambos com sua força agora aumentada, apenas cerraram os olhos depois de um breve momento de concentração. O vácuo tornou-se cor-de-rosa, depois preto. O próprio espaço pareceu piscar, com um nem um pouco sonoro pop.

"Nos veremos de novo."

Uma afirmação definitiva, ainda que não muito agradável. Afinal de contas, enquanto perseguiam o futuro, o futuro também os perseguia. Uma sombra, que estaria sempre a espreitar. Que uma hora vai chegar. O que não poderia ser permitido era que esta mesma sombra...

Impedisse de sorrir; de brilhar.





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