Doente em uma jornada, sobre campos ressecados, sonhos vagam

Passado, Cidade de Sootopolis, Hoenn, durante a Manhã;

A memória é cristalina quanto as águas da baía, se lembra da cidade da cratera, rochas alvas. Ignace, o Cyndaquil nunca achou o ambiente favorecendo os molhados um lugar ótimo, mas dava para o gasto. No caso do humano, o pálido garoto de cabelos no mais escuro preto, não era do tipo de questionar onde o pássaro achava melhor fazer seu ninho em relação à sua família. Não havia tal escolha para ele. Só perguntava o interesse do aplicado Tim Flanagan de votar tal local para a mudança. Connor achava que não era o bioma mais verde que conhecera desde o nascimento, para que um botanista de carreira preferiria aquele lugar? Dava os ombros invés de pensar, lugares novos eram legais para o rapaz, só conhecera algumas rotas próximas de Ecruteak e Goldenrod em prática. Resto era livros, história, gravuras. Não era um mal lugar, ar turístico, sotaques diferentes.

Podia se lembrar do barulho da campainha à porta da Loja de Antiguidades Rochas, Glifos e Corais quando abria a porta logo a manhã. Não era tão irritante. O clichê de sair atrasado de casa, praticamente pela janela da casa aos fundos do Teatro Kabuki com um croissant na boca, trotando acompanhado de Ignace, o Cyndaquil. Seu avô, Isamu Okabe observando os vasos de bonsais bem decorados, prontos para o cuidado diário e paciente. O Pokémon em sua falta de tato, quase trombava a beira duma estrutura não muito exposta ao sol.

— M-Mas Ignace! — Gaguejou Isamu, olhando meio que num suspiro ao Cyndaquil soltando um grunhido desajeitado meio que desculpa. — Olhe por onde anda... você também, Connor! — Poderia ser clichê ele mandar aquele famoso "jovens..." agora? Provavelmente depois daquilo iria varrer, checar instrumentos, livros. Mas pararia aí, talvez indo jogar algum joguinho com os velhos do lugar, na tranquilidade. Já andava meio aposentado do teatro em sua área de atuação.

— Tentarei. — Disse tranquilamente Connor com a boca ocupada, esperando Ignace para voltar a andar rápido. Andando pela ruas naquela manhã tardia, se pensasse muito provavelmente lembraria que sempre era o último a abrir a loja de antiguidades. Ficaria com o depósito, como de costume. A população dali era tão tranquila... entediante. Ignace carregava uma pochetezinha nas costas já que não conseguia soltar suas chamas desde menor. Aí levava seus tira-gostos, amêndoas salgadas e tostadas. Adorava que Tim, pai de Connor, trazia sempre das expedições e tostavam numa fogueira improvisada no quintal, longe dos bonsais. O Cyndaquil e a mãe de Connor, Yukino amavam aqueles aperitivos. Enquanto isso, Connor assava de forma infantil, inocente, marshmallows nada saudáveis. Sempre sobrava amêndoas as quais o jovem colocava num velho pote em forma de Psyduck, qual Ignace não gostava do design. Mas durava e o Cyndaquil amava.

Voltando ao sino da loja, logo ele tocava com a entrada do jovem e seu parceiro Cyndaquil. O som do rádio velho tocando algumas músicas animadas, jovens contrastava com todo o ambiente. Caminhou com uma sacola na mão.

— Atrasado, atrasado. — Uma voz feminina vinha do balcão, Connor sorriu folgado mostrando os dentes, já com seu típico pocky de chocolate entre os dentes. Ignace correu a frente dele.  

— Não por mal... — Dizia Connor, malandro com o pocky ainda na boca, enquanto caminhava, já assumindo uma postura teatral.

— "Não por mal, Tina, eu passei na lojinha no caminho e veja só, oh, minha bela e sapiente dama, comprei nossos chás favoritos!" — Athina estava ao fundo, com os braços no balcão, encarando o jovem com um sorriso de canto dos lábios. Havia acabado de imitar Connor corretamente, frase igualzinha ele diria, trejeitos parecidos. E agora voltou a sua expressão normal? Connor levantou as sobrancelhas enquanto Cyndaquil cumprimentava com um grunhido um Lotad animado chamado de Manolo, parceiro de Tina. — Humanos são tão previsíveis, você diria, Conn. — Gesticulou, debochando.  — Seria eu uma humana?! — Olhou para Ignace. — Oi, oi, fogoso! — Acenou para o pequeno que respondeu com um grunhido. — Trouxe sua parte no trabalho teórico sobre analise de sítio? — Seus olhos fixaram em Connor, calma.

— Serve minha ilustre e charmosa presença? — Brincou, meio sem jeito. — Acompanhado de chá, petiscos e almoço?

Athina continuou encarando Connor, em silêncio, como se o analisasse, séria. Depois quebrou o clima, espreguiçando.

— Você ama fazer uma cena, se fingir de vagabundo, céus! — Ela riu, enquanto Connor passava por Manolo, o cumprimentando e deixando as coisas sobre o balcão, claro que a garota foi fuçar, curiosa. Então ele tirou de sua bolsa uma pasta intacta.

— Invadir a escola de madrugada dá um trabalho... — Havia terminado de mastigar e engolir o pocky, enquanto Athina tirava uma caixa de pocky de morango da sacola, sorrindo infantilmente, antes de ir à pasta. — Mas peguei os dados da simulação de escavação que nós três esquecemos semana passada. — Suspirou.

— Esse é meu trapaceiro favorito! — Sorriu e deu um tapinha nos ombros de Connor. — Quero ver a cara do Demetrios quando isso tiver perfeitinho entregue a noite na letrinha mais legível possível! — Ria genuinamente. Abriu a caixa de pocky de morango pegando um e colocando na boca, então olhou para Connor. — Te pago o pocky no fim de semana.

— Você sempre diz isso até o final do mês, desencana, Tina, você sabe que eu tô pouco me fodendo pra acumulação de dinheiro que não vou usar. — Dizia enquanto colocava as latinhas de chá e umas de café na geladeirinha quase vazia passando a porta para o estoque, que também era um tanto vazio.

— E-Ei, eu não sou caloteira! Estou... — Dizia, até Connor começar a imitar sua voz continuando "guardando dinheiro para o mochilão da jornada de investigação" — Engraçado isso! — Dizia um tanto mal humorada com o pocky de morango na boca.

O sino tocou mais uma vez, um cliente tão cedo assim? Na loja de antiguidades da pequena guilda dos arqueólogos insulares? Tina apertou os olhos fixa a porta. Respirou aliviada ao ver uma figura conhecida, enquanto Connor estava vendo se havia muita poeira acumulada nos estoques, documentos e afins. Ou se algo estava fora do lugar ou a diretora do curso iria mijar em cima da sua cabeça até o final de semana. E ele não era adepto do famigerado golden shower verbal e claro, muito menos do real. Não me pergunte o que é isso, presidente!

— E aí, Lamre, parabéns, tá mais em dia com os ponteiros que o Connor. — Brincou Athina, olhando para o jovem recém-chegado, mais alto que os dois ali presentes. Um Corphish caminhou em direção dos outros Pokémon, aparentemente confuso. Bem, era o jeito dele de sempre. Seu nome, Cascudo. Nem cumprimentou e passou por todos em direção aos estoques, fazendo com que Connor desviasse. — Cascudo tá agitado hein? E vejo que não só ele. — Ela apontou para o jovem, ofegante. — Er, você sabe que a loja não tem fregueses sempre né? Tipo, só quando o velho volta de algum lugar com pedidos né? Para que esse espanto todo, Lamre, tá tudo bem?

— V-Vive com esse rádio ligado e não sabe das novas? Er, bom dia, de qualquer forma. — O jovem passou por ela, cumprimentou os Pokémon e foi até a entrada dos estoques. — Dia, Conn. — Connor respondeu com um aceno e um sorriso de canto de lábios tranquilo. Abriu a geladeirinha e viu sua amada mistura com café gelado, sorriu para Connor, abrindo a lata. — O otário do Helion Munch tá vindo pra cidade pra alguma abertura e vai patrocinar um show de... idols. — Bebeu um pouco do líquido da lata, enquanto Athina olhava Lamre com uma careta de leve espanto.

— Tá ai algo que eu não esperava, não o burguês safado interessado em mineração, sim um show de idols em Sootopolis. — Disse Connor, em deboche. — Cê viu alguma coisa nos fóruns? Sinal de internet de casa tá falhando horrorosamente essa semana.

— Será que o nosso grupo, não as idols, vão fazer um debut aqui, em protesto? — Perguntou TIna, coçando o rosto, meio sem jeito, antes de pegar mais um pocky de morango. — Provavelmente vai ser uma conversinha desgraçada na Escola de Especializações hoje a noite...

— Provavelmente sobre como entrar, ou... — Dizia Connor, lá do fundo. — Como fazer contrabando de energético pra dentro do estádio e lucrar com isso para possíveis compras de equipamento. — Se escutava o barulho dele fuçando nos livros de balanço enquanto mexia em prateleiras. — Brincadeira, brincadeira! Mas falando sério... o grupo vir pra cá? O transporte tá foda ultimamente... última vez que eu e o Lamre fomos ver a Copa de planadores em outra Ilha, a balsa foi o mais caro.

— É, para você ficar dando em cima duma das competidoras e eu ficar de babá da irmã mais nova dela! — Riu Lamre, até ver o olhar feio de Athina. — V-Você acha que eu curto garotas novinhas? C-Cê tá brisando, Tina?! A garota era uma tábua! — Suava frio, enquanto Tina o fuzilava com o olhar.  

— Bom saber que você foi para se divertir, Lamre, bom saber. Seria uma pena se a sua tia soubesse que você pegou a balsa para ver saias curtas... — Um sorriso inocente surgiu no rosto de Tina, mas Lamre podia sentir a pressão. Era a pressão de ser reprovado por Athina. — Er... depois eu vejo os detalhes no fórum do ecoativismo. Connor trouxe nosso passaporte para a nota da semana, nunca duvidei das habilidades dele de pular muros.

— Arsene Lupin de Ecruteak, seu bom ladrão cavalheiro, madame! Sempre a serviço! — Exclamou Connor do fundo e Athina balançou a cabeça negativamente suspirando enquanto Lamre pegava os papéis da pasta para analisar. Seria um longo dia.




CONNOR veste uma simples camiseta da Campanha de Preservação da Liga dos Exploradores e Botânicos de cor verde limão,  calça jeans cinzenta escura e um tênis-bota escuro e discreto. Possui pulseiras de artesanato e alguns anéis de metal quase negro. Seu fone de ouvido com abafador, não muito grande, de cor preta com detalhes em verde neon repousa em volta do pescoço. Carrega consigo uma bolsa de alça um pouco longa de couro sintético escura.