[Rota] Capítulo 1 — A Primeira Captura É A Que Conta

A viagem de barco até Dewford tinha sido calma o suficiente para me permitir tirar um bom descanso. Apenas acessível por barco, comprei um ticket pela internet. Precavido, chequei a disponibilidade antes mesmo de sair de Jubilife e me certifiquei de preparar meu horário para não precisar ficar esperando muito. O barco no fim acabou se mostrando uma balsa. Os mais bem afortunados poderiam alugar quartos para utilizar durante a viagem. Eu me contentei em apenas cochilar em uma das redes disponíveis para os passageiros. O tilintar de um sino carregado por um dos responsáveis pelo barco foi quem me acordou. Aquilo significava que tínhamos chegado ao nosso destino finalmente.

Minha primeira impressão assim que coloquei os pés na areia de Dewford Town? Pequena. Era a minha primeira vez indo para um dos extremos de Hoenn. Exceto por algumas reportagens sobre o ginásio do lugar, eu nunca tinha pesquisado muito sobre Dewford. A sensação de estar conhecendo um novo lugar era boa, então me permiti respirar fundo e captar de uma vez por todas o clima da cidade. Cogitei dar uma volta para conhecer o lugar e logo decidi que seria mesmo o melhor a se fazer.

Movi uma mão na direção do meu cinto onde apenas uma pokebola estava presa. Segurei a pequena esfera entre os dedos antes de apertar o seu botão e retornando-a para o seu tamanho real. Sorri animado olhando para a pequena bola vermelho e branco antes de apertar seu botão novamente. Ela se abriu ao meio e um raio de energia vermelha saiu de dentro dela, atingindo o chão e então se moldando na forma da Azurill que decidiu me acompanhar naquela viagem. Me agachei numa tentativa de ficar da sua altura, mas ainda assim eu era bem mais alto.

— Como foi a viagem? — perguntei com um sorriso ainda maior no rosto. A pequena Azurill começou a saltar em cima da própria cauda, como sempre fazia, e respondeu com seu som característico também sorrindo. Realmente tinha sido um momento de descanso agradável, então não tínhamos do que reclamar. Pensei em pegar minha parceira no colo, mas sua empolgação olhando aquele lugar novo não me permitiu impedi-la de explorar. Observei os arredores junto dela, até que percebi que não tinha a menor ideia de onde ficava a Granite Cave exceto que era possível acessá-la a partir de Dewford. Talvez eu devesse ter me planejado melhor, pensei, mas pelo menos estava mais perto do que longe. Nada que pedir informação não resolvesse.

Perdido nesses pensamentos, quase não percebi a Azurill se afastando de mim entretida com alguma coisa. Saí correndo atrás dela, mesmo sem entender o que exatamente tinha chamado a sua atenção. Bem, não seria ruim deixá-la se divertir um pouco depois de tanto tempo naquela pokebola... Eu acho.

considerações:

Para ser sincero, eu esperava que Azurill tivesse encontrando algum outro Pokémon e tivesse se empolgado por isso. Apesar de ser ciumenta se tratando de Hana e eu, a pequena azulada era bem sociável com as outras criaturinhas que dividiam o espaço com ela no criadouro. Assim sendo, pra mim fazia total sentido ela correr para fazer amizade com algum serzinho que ela considerasse ter alguma afinidade. Conforme voltamos a nos aproximar da praia foi que eu percebi não ter sido exatamente alguém chamando sua atenção. Estava mais para algo.

Sua vontade de se aproximar da água era compreensível, ou assim entendi. Quando estivesse mais forte, Azurill se tornaria um pokémon do tipo Água. Talvez algo no seu instinto a fizesse querer estar naquele espaço, então não tentei impedi-la. Meu olhar estava tão focado em acompanhar a pequena animada que não percebi quando eu já estava correndo sobre a areia. De repente, Azurill pareceu ter algum tipo de lapso e virou-se para trás, me procurando. Eu não estava tão próximo quando ela deu essa pequena pausa, mas acabou servindo para que eu pudesse enfim chegar ao seu lado para acompanhar o seu ritmo.

— Então quer dizer que você gosta da praia? — perguntei tirando a camisa, uma vez que agora estava bem mais exposto ao sol e aquelas minhas roupas um tanto pesadas estavam começando a contribuir para me encharcar de suor. Me agachei pegando minha mochila com as mãos. Aproveitei a pausa para diminuir a quantidade de tecido sobre meu corpo, ficando apenas com um short mais folgado que eu tinha colocado por debaixo de toda roupa. Como eu sabia que Dewford seria rodeada de água, acabei me antecipando a uma possível rota aquática. Ainda não era o caso ali, mas pelo menos daquela forma eu estaria mais confortável.

Estiquei uma mão sobre a minha testa para barrar um pouco da luminosidade do sol enquanto tentava dar uma boa observada nos arredores. Talvez conseguisse avistar a entrada da caverna, quem sabe? Com o dedo indicador da mão livre eu fiquei rodeando meu umbigo enquanto tentava pensar no próximo passo. Existiam muitas pessoas, então pensei que o mais sensato seria parar e pedir informação. O pior que podia acontecer era eu acabar perguntando para um turista que sabe tanto do lugar quanto eu.

— Com licença! — me aproximei da pessoa mais próxima, Azurill me acompanhou saltitando ao meu lado — Poderia me ajudar?

considerações:

Estar em um ambiente como aquele era novidade para mim. Não só comecei minha jornada de forma tardia — quer dizer, talvez eu esteja uns oito anos atrasado —, como também não fui um grande interessado em Pokémons durante quase toda a minha vida. Sendo assim, foi inevitável não sentir certo frio na barriga ao estar rodeado de outros treinadores e seus parceiros. Alguns até mesmo mais novos que eu e no entanto provavelmente mais experientes naquilo tudo. Eu sabia que logo poderia me considerar um bom treinador, mas pelo menos naquele momento eu me senti um pouco inferior aos outros ali. Ainda nessa vibe, peguei minha Pokédex e apontei de forma discreta para aqueles Pokémons desconhecidos ao meu redor. Me senti pessoalmente mais interessado na Azumarill. Aquele era meu objetivo para a minha Azurill: treiná-la para que ela cresça forte e saudável.

Mas também não demorei para me animar de novo. Não é do meu feitio deixar qualquer coisa que seja afetar minha autoestima. Dei tapinhas de leve no meu rosto como se tentasse me fazer acordar. Saído do transe temporário pelo choque de realidade, me aproximei de uma garota loira que parecia ser alguma local. Quer dizer, mesmo que não fosse aparentava saber muito mais sobre a região do que eu, então deveria servir. Um pensamento sobre ela ser bonita rapidamente passou pela minha mente, mas também não faz diferença para mim. Não é como se eu quisesse namorar ela ou algo do tipo. Meu jogo é outro.

— Por um acaso você... — comecei a fazer minha pergunta assim que me foi dado o sinal de que poderia falar. Acabei me distraindo por um breve segundo enquanto observava a Azurill se afastar. Ela estava realmente muito animada, então eu não poderia tirar o olho de onde ela estava indo. Ainda focado na pequena azulada correndo, continuei a pergunta — ... sabe me informar pra que lado fica a Granite Cave?

Enquanto esperava a resposta, me senti um pouco apressado. Ainda que pudesse ver onde Azurill estava, a pequena estava começando a ficar longe demais para até distinguir com o que ela estava interagindo. Era minha obrigação cuidar dela e talvez eu estivesse deixando-a livre demais sem estar por perto para intervir. Comecei a estalar os dedos de nervosismo pedindo mentalmente para a moça responder de forma sucinta. Mantive o sorriso no rosto para parecer simpático, contudo.

considerações:

Se eu me senti inseguro naquele local nem que por um breve segundo, eu já não me lembrava mais. A informação sobre o Azumarill brincando na água com certeza já tinha valido a ida até a praia de Dewford. Me peguei imaginando como seria a interação dele com a Azurill que estava sob meus cuidados e me empolguei com a cena. Com um sorriso ainda maior no rosto, voltei meu olhar para a moça que aceitou me dar informações de bom grado. Enquanto ela me explicava a localização da dita Granite Cave, eu acompanhei suas indicações e me virei quando ela apontou para trás de mim. Realmente, dava para ver a rocha que fazia parte da estrutura da caverna bem daquele ponto. Cocei a cabeça um pouco sem graça porque se eu tivesse prestado mais atenção teria encontrado o meu objetivo por mim mesmo, mas também não pude evitar ser um pouco mais descuidado nesse início de jornada.

Abri um pouco os olhos quando a moça foi além e me cedeu dicas sobre como funcionam as coisas na caverna. Bem, eu pretendia, sim, ir somente com a Azurill, mas aparentemente não era uma boa ideia. Minha inexperiência aparentemente ficou meio óbvia a partir daquele ponto, já que realmente eu não estava necessariamente muito equipado para seguir naquela aventura. Talvez eu estivesse subestimando o que os Pokémons podem fazer, já que eu realmente esperava apenas chegar na caverna, dar uma volta, capturar uma Mawile e voltar. A garota loira, por outro lado, parecia conhecer bem os perigos daquele lugar. Respirei fundo e inclinei um pouco a cabeça expressando minha decepção. Se seria tão perigoso assim, eu não pretendia colocar a Azurill em perigo, tampouco arriscar me colocar em uma situação complicada. Pelo visto, eu teria que investir algum tempo me fortalecendo antes de conseguir seguir com meu plano.

— Muito obrigado pelo seu tempo. — agradeci inclinando o corpo para frente. Ainda com a cabeça abaixada, aproveitei para dar uma averiguada no que Azurill estava fazendo e foi justamente quando ela empurrou o outro Pokémon na água — Ai meu deus! Digo, obrigado pelas dicas, moça, eu... Eu preciso...

Tropeçando na areia e quase caindo por cima da uma outra pessoa que estava tranquilamente pegando sol, eu me desesperei e sequer consegui me despedir adequadamente quando fui correndo na direção da Azurill que parecia estar arrumando encrenca (ainda que mesmo de longe não parecia ser a sua intenção). Percebi o treinador da vítima da azuladinha logo na frente. Ai, será que já vou levar bronca?

considerações:

Conforme eu me aproximava daquela potencial confusão, meus olhos iam conseguindo distinguir os detalhes daquele Pokémon que Azurill tinha empurrado em direção à água. Arregalei os olhos quando percebi aquela forma tão característica que lembrava uma planta carnívora na cabeça da amareladinha. O ritmo da minha corrida diminuiu na mesma medida que minha boca foi abrindo e eu não consegui falar nada nos primeiros momentos.

Eu sei que eu tinha ido até Dewford com o objetivo principal de capturar uma Mawile para fazer parte do meu time, mas eu nunca tinha visto uma pessoalmente. O mais próximo que cheguei de uma foi um vídeo que Hana me mostrou de uma Mawile que tinha sido liberada na natureza antes dela começar a trabalhar no criadouro. Aliás, foi ali que me apaixonei por aquela espécie e decidi que, se um dia me tornasse um treinador, eu teria uma comigo. Agora eu estava de de frente para o meu Pokémon favorito e não sabia exatamente como reagir. Eu não esperava que eu fosse ficar desse jeito, afinal já tenho quase dezenove anos. Quando na vida eu imaginei que ficaria tão maravilhado com um serzinho inocente desses? Eu respondo: nunca.

A voz do pequeno treinador me arrancou do meu transe... Parcialmente. Eu ainda estava encantado vendo a Mawile limpar os olhinhos quando a voz da criança alcançou meus ouvidos e eu percebi que ele estava agradecendo Azurill pela sua travessura. Balancei a cabeça para me forçar a concentrar na situação e me agachei o lado da azulada saltitante. Afim de não quebrar o clima de descontração, eu resolvi chamar a atenção da pequena quando estivéssemos sozinhos. Naquele momento, eu apenas acariciei sua cabeça antes de pegá-la no colo. Era minha forma de me certificar de que ela não aprontaria mais nada por algum tempo.

— Eu sei que você não perguntou, mas... — falei de repente olhando para a criança. Eu não me importo de ser aleatório com desconhecidos, afinal de contas foi como fiz boa parte das minhas amizades. Claro que eu estava um pouco nervoso. Tudo cortesia da Mawile na minha frente — Sua Mawile é incrível. Eu vim pra Dewford em busca de uma. Na Granite Cave, no caso. Espero conseguir. — contei, confessando uma preocupação ao final. A chamada de atenção da loira não foi esquecida por mim, até porque nem deu tempo. Eu ainda precisaria traçar um bom plano para não acabar me dando mal na caverna.

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