[Blake McBride] Capítulo 32 - Farmando EXP e literalmente farmando na farm

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Quando se acordou, depois de comer um bocado e levantar tarde, já não estava tão surpresa. Acontece que, na noite anterior, tinha passado um tempo conversando no celular com Timothy, algo que talvez não tivesse feito... Nunca? Ele era jovem demais pra essas coisas... Mas era legal perceber que ele parecia ter algum apreço por Madeline, por mais que provavelmente tivesse o intermédio de Yuri. Isso era certo.

Uma coisa era certa: Madeline tinha muitos presentes depois daquele evento na Rota 10. Arranjou diversos Pokémon selvagens, uns mais amigáveis do que outros, além de uns presentes de Natal! Para uma treinadora iniciante, a garota já tinha uns bons Pokémon para carregar consigo, sem contar a sua querida Lulu, claro. Essa sim tinha um deleite com tantos amigos novos para brincar!

A real surpresa foi perceber uma mensagem quando acordou de Blake McBride, a quem Timothy se referiu no dia anterior. Era curioso, pois ele estava na capa daqueles eventos em Slateport que tinha visto antes... Ele andava se metendo em umas fitas meio revolucionárias, hein? Eles crescem tão rápido... Bem, Blake era um criador, o que não era lá muita novidade para Madeline. Afinal, era filha de criadores, e entendia bastante da maioria dos trâmites da profissão, apesar de só fazê-los para auxiliar os pais na sua própria fazenda. Recebeu um convite para visitá-lo e fazer um treinamento! Talvez fosse bom para melhorar os seus Pokémon, e sendo indicação de Timothy - Uma criança de 13 anos super inocente - não tinha como ser uma furada, né?

Bem, pegou o seu novo Rotomphone - um aparelho deveras simpático - nas mãos para digitar direito e responder o rapaz. Não tinha lá muitos planos para o dia e Connor não precia muito interessado na sua companhia desde que partiram da Rota 12, talvez frustrado com os seus encontros naquela aventura, então parecia uma boa ideia para continuar cultivando o seu novo hobby. Não tinha lá muito costume de mandar mensagens escrevendo direitinho, mas não tinha intimidade com o rapaz, então tentou parecer formal, tipo quando a gente conversa com um colega de profissão, sabe? Os polegares tilintaram na parte inferior da tela para tecer a mensagem:

Olá, Blake! Isso mesmo.
Fico surpresa pelo convite. Parece uma ótima ideia!
Eu encontrei uns Pokémon exóticos perto de Sienna, talvez você possa me ajudar a entender melhor sobre eles...
Onde você fica? Consigo voar.

Quer dizer... Ainda estava aprendendo a voar com o seu Noctowl, mas já andava confiando o suficiente nele para fazer viagens que não fossem muito longas. Segundo Timothy, ele ficava em Johto, então talvez não fosse um grande problema pairar por uns vinte ou trinta minutos com Peter. Liberou o seu voador e começou a dar uma olhada se a jaqueta de voo que tinha comprado estava nos conformes. Vestia umas roupas grandes, escuras e confortáveis, normais do seu dia a dia, um moletom preto, jeans e sapatos simples. Era casual!

Esperaria um retorno de Blake antes de tomar voo para a cidade onde estava. Deixava os seus monstrinhos livres para tomar um ar e curtir a manhã enquanto comia alguma coisa na cozinha de casa.

Estava tomando o café de sempre quando o Rotomphone avisou de uma nova mensagem enviada por Blake. Era um dispositivo certamente responsivo; avisava de forma bem direta as suas mensagens, voando na direção da garota e emitindo toda sorte de som eletrônico. Tinha que ver se ele tinha modo silencioso assim que possível. Bem, continuava com a sua bebida, fitando a mensagem do rapaz.

Ele estava em Sienna, mas não chegou a capturar Pokémon... Será que tinha tantos assim para não se interessar pelos estrangeiros? Eram criaturas raras e interessantes, disso tinha certeza, além das personalidades. Rikuo era um bichinho bem diferente, sempre andando por aí com a sua bolha na cabeça. Talvez estivesse do lado mais exótico da balança. Já Karin, esta tinha um visual bem mais familiar, mas a sua personalidade sempre tomava conta dos espaços com o orgulho que sentia de si mesma.

- Se preparem, hein? Vamos sair daqui a pouco - Anunciava para os seus bichinhos, colocando a louça utilizada sobre a pia e a lavando rapidamente. Lulu estava tentando convencer Karin pela milésima vez a brincar de casinha acompanhada de Pandora, enquanto Rikuo ficava assistindo o jardim na entrada da casa e regando as plantas. Peter petiscava no seu canto, meio inquieto, e Vivianne, a Elgyem, olhava para o televisor próximo com curiosidade. Talvez tivesse familiaridade com aquele tipo de equipamento?

Veja bem; apesar de ser a única Pokémon da região natal de Madeline, Unova, a psíquica era a Pokémon que ela menos conhecia, por ter sido um presente de Natal, trazido através de doações. Quer dizer, não era a única! Também tinha adotado uma pequena Fomantis, essa realmente muito nova, talvez um Pokémon recém-nascido. Vanessa não parecia ser de falar muito e não conhecia muitas coisas, então era bom ter paciência com a gramínea. Se tornar uma treinadora é ter de lidar com muitas personalidades diferentes!

Enfim, Madeline secou as mãos com um pano de prato próximo e tomou o celular em mãos para responder Blake de forma apropriada. Já tinha aprontado as coisas para partir de casa, então era questão de avisar e ir.

Pode mandar sim! Estou em Goldenrod, devo chegar em uns vinte minutos.

Quer dizer, dependia do humor de Peter. Se ele estivesse bem para voar ou não inventasse alguma brincadeirinha boba, não haveriam muitos problemas. A garota avisou para os seus Pokémon da pequena viagem e guardou todos em suas esferas, exceto pela coruja que continuava observando a cozinha, com um olhar discreto. A expressão da garota tomou um tom sereno enquanto se aproximava da ave, tentando desarmar o semblante meio arisco do Pokémon.

- Ei, Peter... Vamos voar? Não é muito longe daqui, eu te mostro o caminho. - Colocou uma das mãos sobre a cabeça do emplumado, que recuava um pouco, mas acabava usando o braço da menina como colo. Ele ainda não parecia muito confortável de voar para longe de Goldenrod, mas gostava de ter aprendido a voar por longas distâncias e precisava do acompanhamento de Madeline para isso. Em troca, recebeu um sorriso da sua treinadora, que começava a andar na direção dos seus pais, que estavam cuidando de outras coisas na parte interna da casa. - Estarei te esperando, ok? É só sair quando estiver pronto.

Se despediu dos seus pais mais uma vez, algo que já se tornava rotineiro, eles gostavam de ver que a sua filha saía bem mais de casa do que antes para fazer algo produtivo. Bem, assim que Peter criou coragem para sair da casa, vestiram a jaqueta de voo e partiram, juntos, para Ecruteak. Até que foi um voo tranquilo.

Bem, tomaram jeito e partiram, voando, para Ecruteak. Blake ainda não tinha enviado nenhuma localização específica, então parariam por perto do centro da cidade para aguardar alguma instrução do garoto. Mas Madeline estranhou, pois enquanto voavam, não chegou a receber nenhuma notificação pelo seu celular, o que indicava que o criador não tinha lhe respondido ainda.

Apesar do voo com a jaqueta exigir atenção e coordenação entre o Pokémon e o treinador, a garota já era capaz de pilotar meio que no automático com a sua coruja, e voava pensando nos últimos dias. Tinha feito progresso pra caramba para uma treinadora iniciante, imaginava se as coisas funcionavam assim... Quer dizer, tinha pouco mais de uma semana que tinha iniciado essa ideia e já tinha sete Pokémon consigo, uns bem fortes... Não conseguia desenhar a linha onde aquilo era devido a mérito e até onde era simplesmente sorte de principiante. E claro, o instinto de sabotagem do seu cérebro deixava bem claro que era pura ação do destino, no maior grau possível.

Quando aterrisou, desceu atrás do Centro Pokémon, em uma área vazia, onde podia se soltar do Noctowl e retirar a jaqueta que estava vestindo por cima do moletom sem maiores fobias sociais. Guardou a peça de roupa na bolsa e ofereceu um último afago para o seu Pokémon voador como agradecimento pela viagem, antes de retorná-lo para a sua esfera. Não era uma boa ideia deixá-lo andando por aí, ele podia tentar atazanar algum dono de loja a qualquer momento.

- Ah, aqui. - Pegou o Rotomphone e percebeu que talvez estivesse imersa demais na própria cabeça durante a viagem, pois não percebeu que o Rotomphone tinha recebido uma notificação da localização de Blake, sem nenhuma mensagem de texto junto. Talvez estivesse sendo sucinto, apenas? Enfim, tratou de caminhar na trilha imaginária feita pelo aparelho eletrônico em direção ao ponto marcado. Era bastante próximo da UCE, indicando que se tratava de uma fazenda, como ele tinha mencionado antes.

Depois de andar alguns minutos, topou com o ponto final do trajeto demarcado pelo GPS do celular, que dava em uma fachada simples, um cercadinho de madeira com um portão singelo... Parecia a fazenda dos seus próprios pais, bem quando se mudaram para Goldenrod. Isso indicava que, talvez, ele estivesse morando no lugar não fazia muito tempo. Bem, não parecia ter uma campainha ou dispositivo parecido, então pegou o celular e mandou um toque para Blake pelo celular, antes de guardá-lo no bolso outra vez. Depois disso, começou a bater palmas, o que servia como uma espécie de campainha natural, era um som meio distinto. Quer dizer, ficou receosa de chamar atenção de alguma outra fazenda próxima ou coisa assim, mas era o jeito que tinha. Depois disso, esperou um pouquinho para ver se o criador atendia, antes de voltar ao movimento de chamada.

Madeline bateu palmas umas quatro ou cinco vezes antes de parar o movimento, talvez com receio de chamar mais atenção do que deveria. Repetiu aquilo depois de uns quinze segundos, mas não precisaria de mais do que isso, uma vez que uma figura aparecia meio longe, saindo de dentro de uma das casinhas que compunham a fazenda, se movimentando na direção da entrada do local.

De fato, era o Blake que tinha visto nas redes sociais algum tempo atrás; os olhos verdes e o cabelo castanho não deixavam dúvida, e ele era bastante alto, além de ter um porte físico acima do normal, o que era justificável, já que aquele tipo de trabalho demandava essas características. Em termos mais jovens, o criador era um armarinho! Ele se aproximava com roupas características do trabalho na roça, também.

Quando chegou mais perto, dava para perceber que ele tinha um semblante meio... Nervoso? Não condizia nada com aquela figura confiante de influencer que se levantara contra a desigualdade dos sorvetes em Slateport. O seu rosto estava claramente encabulado, tomado por um profundo tom escarlate, como se o sangue lhe pulsasse para fora das bochechas; a sua fala era errante, e ele parecia ter dificuldades para processar direito a situação.

Ora... Tinha topado e andado um bocado com um garoto bem assim já não fazia muito tempo. Connor era claramente atraído por Madeline, e apesar das boas intenções e de, aparentemente, ter retido um bocado os seus impulsos, acabou se despedindo com um ciclo ruim, e a menina nem sabia se o veria de novo. As palavras que se materializaram no interior foram 'De novo não', de imediato.

Era difícil não ficar meio receosa, uma vez que já tinha gasto o seu passe livre em uma situação de desconforto por pura força do destino, quando encontrou Yuri em Sienna. Nesse ponto, ela já estava em Hoenn novamente, bem longe dali. Além disso, de certa forma, foi esse encontro com Yuri que acabou levando Madeline até Ecruteak. Fechou os olhos por um momento e respirou fundo, antes de responder qualquer coisa.

Timothy, Yuri, por favor... Não façam eu me arrepender.

- Oi! Sim, sou a Madeline. É bom te conhecer - Ofereceu a mão direita para cumprimentar o rapaz, de forma até cordial. Esperaria uma reação dele antes de fazer qualquer outra coisa, já que algum fator externo parecia ter lhe causado um estresse danado antes de atendê-la. Era bom tentar ver o lado cheio do copo as vezes, né? - Tá tudo bem? - Perguntou em um tom ameno, mas gostaria de tê-lo feito de forma mais incisiva. Não sabia o quê, mas podia perceber que tinha algo errado.

Respondeu ao convite do criador com um menear positivo da cabeça, usando as duas mãos para envolver a alça da bolsa que pendia do ombro direito enquanto o seguia depois de passar pelo portão, quase que um gesto pacificador para si mesma. Apesar do mal pressentimento, imaginou que os seus queridos parentes não lhe meteriam em uma roubada. Torceu, também.

Blake parecia bastante tenso naquela situação, então pareceu lógico para Madeline acalmar os ânimos com um cumprimento impessoal, talvez uma conversa fácil para deixar aquela recepção mais tranquila, até mesmo ignorar a primeira impressão do criador envergonhado que lhe atendera... Mas tamanha foi a surpresa quando ele respondeu a mão estendida se curvando e dando um beijo nas costas da mão...? Apesar de uma leve vermelhidão nas bochechas pelo caráter que era ao mesmo tempo cordial demais e altamente intimista do ato do rapaz, a sua expressão ficou meio pálida e vazia.

Um imenso 'Puta merda' se materializou na sua cabeça, seguido pelos olhos quase arregalados, a cabeça se retraindo defensivamente com um profundo expelir do nariz, já um pouco encolerizada por aquela ação. Tipo... Sério...? A mão alvejada pelo garoto se retraiu, correndo na direção do bolso correspondente, e ela quase resolveu dar meia volta, não fosse a voz de Blake se projetando mais uma vez, o que a fez ficar imóvel, exceto por um passo pra trás que deu inconscientemente depois daquele momento.

- ... É. - Sua expressão parecia um pouco angustiada, os lábios cerrados em determinada frustração, o olhar tentando escanear alguma rota de fuga ou desculpa, a respiração profunda que mantinha o compasso emocional antes que falasse alguma bobagem. Não estava muito afim de jogar aquele jogo de novo, observando a expressão encabulada no rosto de Blake, que mais lembrava uma Pokébola humana naquele ponto.

Vai, fé na humanidade. Escuta ele.

O criador explicava a sua situação, alegando ter um relacionamento a distância e se envolvendo em um mal entendido com a sua namorada. Ele precisou furar o encontro dos dois em Sienna, perdeu ela de vista e piorou as coisas depois. Tema recorrente...? Quer dizer, não era lá muito empático para Madeline, tirando a parte de ser um relacionamento. Nunca foi adepta do webnamoro, sequer viveu relacionamentos que durassem mais de um ano, porém, apesar de tudo, entendia a situação do garoto. Isso explicava o nervosismo e o estresse, mas não a sua surpresa ao ter lhe visto. Apesar disso, ele parecia bem mais tranquilo depois de contar a história.

- Entendi... É, namoro é complicado, mesmo - A expressão de Madeline findou por tomar um tom mais relaxado, depois do desabafo de Blake. Falou aquilo com um levantar dos ombros, a cabeça levemente inclinada para o lado, os lábios se apertando no canto da boca levemente, aquele 'faz parte' visual. Ficava mais tranquila de saber que ele era um homem comprometido, então (com alguma sorte) não tinha intenções como as que imaginara antes. Se livrou de uma bronca, Timothy.

- Tudo bem, essa vida de criador sozinho deve ser meio estressante, né? Os meus pais trabalham juntos todos os dias e mesmo assim estão sempre doidinhos - Aos poucos, ia tomando um semblante mais amigável, o olhar agora despreocupado e um sorriso ameno, ilustrativo da tranquilidade que retornava ao âmago. - Claro! Um café resolve quase tudo - Comentava agora com uma expressão mais aberta, não era lá de recusar esse tipo de convite, ainda mais porque Blake agora parecia bem intencionado, sem ambiguidade. Seguiu os seus passos até a casa principal que ele indicava, enquanto o seu fluxo respiratório finalmente alcançava plena normalidade.