[EVENTO] Música do Pardal da Noite ~ Pássaro Noturno

Era o fim.

Foram longos minutos de uma luta que envolvia não somente o mundo físico, como a psique do louro; em lapsos, lembranças que não lhe eram palatáveis e vislumbres de algo que, por mais intrínseco que fosse, buscava soterrar nos confins de seu âmago para nunca mais emergir. Fora necessário um acontecimento atroz para que volvesse à sua faceta costumeira tingida por melancolia, seguindo a enfrentar a cópia do deus fantasma e mesmo que não fosse necessário, ordenou alguns ataques ao ígneo alado.

Com os dois derradeiros ataques vindos ordenados de Lariel, o monstro titubeava, e todas aquelas sombras que o envolviam começavam a se dissipar. As pernas que o sustentavam já estavam trôpegas após inúmeros golpes poderosos, e não delongou em ceder toda a estrutura titânica, desfazendo seu corpo em gosma rosa como indicava o rosto abobalhado de um Ditto; aquela coisa, cujo Nicholas não sabia se era um robô ou um erro na matrix finalmente anunciava a sua queda.

Toda a pressão era desfeita conforme o monstro se liquefazia, e no meio daquela cor contrastante, um cintilo dourado era revelado onde, quiçá, acreditava que eram as entranhas da criatura. Lariel tomara um daqueles broches amarelados para si, e o restante entregou ao louro. Nicholas encarou aquela... moeda? Em uma de suas faces, o cervo etéreo estava presente. Seria aquilo algum tipo de ironia? Argh, merda, eram muitas coisas que permeavam a já confusa mente do kantoniano, e, portanto, resolvera se abster de mais questionamentos como aqueles — isso se tivesse alguma resposta mais óbvia, huh? Tamanho era o poder da criatura que até mesmo as percepções de realidade foram mudadas.

— Nicholas — respondeu sem muitas delongas enquanto os orbes cerúleos buscavam o cintilante satélite natural, ainda soberano na noite de Lilycove. O vento sibilava mais frio devido à altura em que se encontravam, fazendo suas vestes bailarem por um singelo momento. — É melhor ficar de fora dessas coisas.

Passaram-se mais alguns segundos para que a loura anunciasse que, então, iria se retirar daquele terraço em um lugar aleatório da cidade de Lilycove, recolhendo-se para um possível centro pokémon; e, não obstante, de que iria hospedar alguns vídeos no pokétube. Claro, Nicholas não ficou tão feliz ao ouvir isso.

— Só me corta de qualquer aparição. Eu odeio exposições.

Não era lá a despedida dos sonhos, mas foi com isso que a garota se retirou. Naquele teto, estavam apenas os dois combatentes restantes; Nicholas ainda estava a fitar o céu, enquanto Balerdroch fixava as suas vistas sobre seu mestre. As pálpebras eram semicerradas e com certa ingenuidade, indagava em seu idioma ininteligível se estava tudo — claro, Charizard sabia, contudo queria ouvir do próprio kantoniano o que realmente sentia.

— Sim — curto e grosso, Nicholas respondia. O lagarto alado suspirou, sorumbático, quase largando a toalha de que o louro sempre iria passar a imagem de que estava tudo certo. — Você gastou muita energia por hoje, é melhor descansar.

Mesmo que não quisesse, o lagarto assentiu. O brilho vermelho-sangue contornava a sua silhueta, tremeluzindo o corpulento réptil e se esvaindo em energia de volta para a sua cápsula.

Enfim sozinho, o louro se dirigiu até uma das bordas, sentando-se; os pés mexiam-se livremente e os olhos confusos eram fixados no manto celeste. E assim ficaria por uns bons minutos, junto de um silêncio sepulcral com os seus pensamentos; claro que depois, teria de retornar a um centro pokémon na própria cidade de Lilycove para recuperar seus pequeninos e rever alguns planos seus.

Mas, isso se pode deixar pra depois, não é?