Colour of Moonlight (Antiochus)

CERULEAN CITY

Colour Of Moonlight

Deixe-me começar por dizer que, ha, Luke, não há nada de errado em agir como um jovem inconsequente. Uma pausa entre batalhas e treinos é mais do que querida para alguém de sua idade; beber, beijar, fazer sexo, tudo isso faz parte da vida da maioria das pessoas da sua idade, ainda mais em um universo onde a maioria usa monstrinhos de bolso para sentir algum tipo de emoção em suas jornadas. Então, comecemos novamente: agradeça por ter se divertido e vivido a normal vida jovial de alguém com dezenove anos, ao menos nessa noite, já que não era algo de praxe para si há muitas estações desde que deixou Unova. Agarre-se a esse sentimento — sabe-se lá quando você se permitirá essa liberdade irresponsável novamente.

Principalmente após a noite de hoje.

Cerulean City, 9:22 PM — 12C

Gelada era a garoa que vinha do leste de Cerulean, cortando os céus com tamanha rapidez que levava até mesmo o toldo de uma barraquinha de ramen ao norte, no limite de visão de Luke. Power Plant já não funcionava há anos, então, era comum que o prédio destruído já não parasse mais as grandes cadeias de vento que corriam do oceano que a envolvia. A temperatura, baixa mas não ao ponto de incomodar os mais resistentes ao frio, setava o clima da cidade detentora da insígnia da cascata: gélido e úmido.

A noite não estava muito diferente da anterior onde o jovem explorou os becos da cidade, a não ser pela frente (ainda mais!) fria que se estagnou por completo durante a tarde. A mudança brusca de temperatura se refletia nos transeuntes locais, que ou saíam um pouco mais agasalhados ou ficavam em suas casas, com menos pessoas se aventurando a pegar um resfriado. Sabe como são essas mudanças climáticas, né?

O cheiro da rua do Cortiço era dominado pela gastronomia diversa de Cerulean: desde barraquinhas-de-rua-de-ramen-que-perdem-toldos até restaurantes finíssimos que formavam filas e mais filas do lado de fora. Arrisco dizer que um deles, o mais famoso, possuía até mesmo a mídia local do lado do fora -- algo a ver com a líder de ginásio jantando por ali. Vai saber.

Caminhando pelas ruelas, independente de passos lentos ou rápidos, Luke se depararia com uma bifurcação. Para a direita, seguiria para a região onde estivera no dia anterior: mais calma, sem muito comércio a noite a não ser pelos bares underground de público já fixo. Para a esquerda, o especialista perceberia a diferença já na conformação da rua: era mais bonita, com arquitetura certamente mais refinada para um público com melhor poder de aquisição monetária. Sim, eu sei... Por quê diabos estilos de vida tão diferentes estariam tão próximos?

Mal planejamento urbano, quiçá?

CERULEAN CITY

Colour Of Moonlight

Apesar da lamúria de não encontrar seu prometido estar ecoando no subconsciente do especialista, não fazia frio — interna e externamente — o suficiente para decidir restringir-se ao lamento de um cobertor e um filme triste no Pokéflix. Agasalhado, Luke caminhou pelas serenas ruas de Cerulean, aproveitando o aroma gastronômico somado a leve garoa que decidiu cair sobre a cidade em um último minuto.

O caminho escolhido era nada mais do que vira naquela bifurcação: uma parte mais bonita, com arquitetura moderna, casas e mais casas de grandes quintais e famílias que jantavam tranquilamente à mesa de suas enormes salas de jantar. Entre uma casa e um prédio residencial haviam alguns bares, restaurantes, mas nada que chamava muita atenção, a não ser pelo preço abusivo que o especialista conseguia espiar nos modernos quadros-negros que funcionavam como menus. Certamente a nata da sociedade de Cerulean.

Foi somente após cinco minutos caminhando pelas ruelas que um desses estabelecimentos chamou a atenção de Horan. Seu estilo era exatamente da maneira que gostava: um pouco mais gótico, mas ainda assim sem perder a essência de um local bem cuidado, porém caro - diferente do que encontrara no dia anterior. Com um barzinho funcionando na frente e uma porta enorme misteriosa que levava aos fundos, certamente era um daqueles espaços que serviam tanto como bar como boate, talvez.

Parando para observá-lo ou não, Luke se depararia com alguém acenando na sua direção — dependendo do quanto devaneava, talvez tardasse um pouco para vê-lo, o que ocasionaria um "Ei!" desconhecido. Ao voltar seu olhar para o ser humano em questão, veria um grupo de jovens reunidos em uma mesa do lado de fora do estabelecimento. Quatro jovens, três mulheres e um único homem, com uma delas ainda acenando para que Luke se aproximasse.

— Você veio!

Agora mais próximo, acredita-se que pela personalidade do especialista, que reparasse em cada detalhe de cada um dos ali presentes, mesmo que isso evocasse uma expressão um tanto quanto desconfiada, afinal, de onde diabos conhecia aquela gente?

A primeira, a que o chamava, possuía longos cabelos negros como a noite, vestindo uma roupa simples mas com acessórios pontudos e de couro, bem exagerados. As outras, asiáticas e gêmeas, se diferenciavam pelo corte de cabelo: a sentada mais a direita utilizava um coque, enquanto a outra desfilava cachos feitos com babyliss, ambas vestindo um conjunto preto e branco semelhante, mas com blusa e saia invertidos. Já o garoto, misterioso, possuía janelas rubras cortantes que escondiam-se atrás da franja de mesma cor, acenando de leve para Luke enquanto tragava seu cigarro.

— Calma. Não tá lembrado de mim, né? Menino! — a menina dava uma gargalhada, batendo de leve na mesa e quase derrubando o chopp dos demais — Eu fui mijar em um beco ontem e você ajudou na cabaninha, sei lá que horas que era, mas eu tava doidona. Aí te chamei pra aparecer aqui hoje! — escondeu os lábios com a mão direita — Não achei que você tinha escutado, tava ocupado demais, se é que me entende... — ainda sem tirar a mão, deu uma risada — Pelo visto você tá interessado no nosso Game Night, né?

Vish, Luke.

E aí?

CERULEAN CITY

Colour Of Moonlight

Ah...

O que o álcool não faz na vida das pessoas, né?

Exagerar na droga lícita mais popular de qualquer lugar do mundo é mais do que normal e, bom, não havia nada de esquisito por ali — pelo menos a princípio. Luke provavelmente estava preocupado demais com sua bebida ou com seu tesão que o consciente decidiu deletar partes da noite anterior de sua memória, o que acontece com qualquer um que decide fazer o mesmo e coloca o fígado pra fazer hora extra. A menina, entusiasmada, sinalizou para que um dos garçons trouxesse um banco alto para o especialista, tornando a olhar para Horan.

— Ah... Normal. Todos nós. — gargalhou, pegando o cigarro da mão do ruivo e dando um trago; ele revirava os olhos e balançava a cabeça negativamente, dando uma leve risada — Mas assim que eu te vi... Eu sabia que você não era ralé que nem a galera de lá. — deu um leve empurrãozinho no braço de Luke, ajeitando a cadeira que o garçom havia acabado de trazer para o recém-chegado sentar — Quer dizer... Não ralé, mas cê entendeu. Seu estilo e tal.

As gêmeas pareciam rir do mal jeito com palavras da amiga, com a da esquerda pegando o maço de cigarro e oferecendo um para o garoto e outro para Horan. O ruivo começava a mexer em sua jaqueta de couro com retalhos de couro, como se procurasse algo que caiu. Então, entrou em uma micro conversa com as gêmeas, falando do isqueiro que deixou no banheiro. A da direita pediu licença e, junto com ele, foi procurar o bendito acendedor.

— Ai, ai, vocês fumantes. — a morena deu outra tragada, rindo ao ponto de deixar a fumaça escapar pela boca antes de tragá-la — Mas enfim... Nunca fiquei sabendo seu nome! — apontou para a gêmea de babyliss que ficou na mesa e no momento mexia no celular — Essa é a Julie e a irmã dela é a Gwen. O bonitão é o Darius e, bom, acho que não se lembra, mas me chamo Ashley. — sinalizou para o garçom vir até a mesa — Vai querer algo?

Pedidos feitos (ou não), os dois voltavam do banheiro, cada um com um cigarro já aceso que levaram para a viagem. Nisso que se sentavam e comentavam sobre a saga que foi procurar o isqueiro, a grande porta que aparentemente levava para a boate se abria e uma recepcionista mascarada com o que parecia um bico de corvo recebia um grupo de seis pessoas. Rapidamente a porta se fechava, mas não sem antes chamar atenção dos que estavam com Luke: todos paravam de conversar, com Ashley tomando as rédeas da conversa novamente.

— Então, daqui a pouco temos que entrar pra Game Night. — as gêmeas começaram a retocar o batom e, bom, Darius parecia prestar atenção na conversa de Horan com Ashley — Como comentei ontem, é PK$500 a membership, mas acho que você não se importaria muito com isso, né? Paga ali na hora.

Vai ficar de fora dessa?

CERULEAN CITY

Colour Of Moonlight

Mistério, Luke? Para quê? A vida já é tão difícil sabendo das coisas, que dirá ficar no escuro sobre onde está se metendo. Apesar de que, huh, dá para ver que você é do tipo de pessoa que gosta de uma aventura, de explorar coisas que não conhece ou...

Não estaria aqui.

— Nossa, mas em todo lugar te-

Ashley riu da pergunta do especialista, aproveitando para dar um gole em seu chopp antes de terminar de responder. A resposta tardou ainda mais por conta do garçom que chegava com os pedidos e, bom, Julie parecia ter um problema com sua caipirinha de maranga berry, o que claramente não deixou passar — ao menos a capivodka de oran berry de Horan parecia boa, docinha. Darius balançava sua cabeça negativamente para toda situação e Gwen direcionou a palavra para Luke enquanto a morena ajudava a outra gêmea a fazer a reclamação pro garçom.

— É um jogo de apostas. Você paga só a entrada, que no caso é uma membership e pronto. — soltou o coque, quase queimando o cabelo no processo, o que fez com que desse uma risada sem graça antes de continuar — Chegando lá escolhe em quem apostar e, se sua intuição for boa, no final ganha o melhor prêmio de todos. — ergueu a mão livre, fazendo sinal negativo com o indicador — Mas não vou spoilar que aí perde a graça, mas difícil ganhar assim, de primeira. Pelo menos você assiste o vencedor ganhar o prêmio. — tornou a prender o cabelo logo após apagar o cigarro — Achei que já tivesse participado. Você tem o... Perfil.

E, bom, por perfil a jovem queria dizer com dinheiro, obviamente. Não só o bar onde estavam parecia bem exclusivo, como Luke também percebia que se juntasse a carteira de todo mundo ali dava a receita mensal de alguma cidade pequena da região. Ora, o especialista não era de qualquer lugar: Unova é conhecida justamente por todo o dinheiro que esbanja (quiçá somente atrás de Kalos), principalmente Castelia City. As roupas de quem frequentava por ali não eram baratas em lugar nenhum do mundo.

Gwen dizia algo como "Você vai adorar!" e começava a brigar com a irmã por estar dando tanta importância pra uma bebida. Coisa de irmãs, normal. No processo, Darius voltou seu olhar para Luke, semi cerrando suas rubras janelas: parecia avaliá-lo de alguma maneira, mas não sexualmente ou com algum intuito maldoso. Somente o fitou, abrindo os lábios como quem fosse dizer algo, mas desistindo quando Ashley revirou os olhos para as gêmeas e voltou sua atenção para Horan. O ruivo respirou fundo, ajeitando a franja e estalando a boca enquanto apagava seu cigarro e em seguida bebia um shot de alguma bebida desconhecida.

— Vamos beber logo que já já entramos. Lá dentro tem bebida também, só não pode levar daqui de fora. — Ashley revirou os olhos — Vai entender, né.

Uma fila começava a se formar na entrada, o que causava a porta dupla para "Game Night" ficar aberta por mais tempo, com Luke conseguindo observar melhor o que acontecia: não dava para ver muita coisa além da recepcionista de máscara e uma escada com led vermelho para baixo que levava a algum lugar incógnito. Talvez seja um clube de apostas de pornô? Ganha quem ***** mais rápido ou mais devagar? Quer dizer...

Tem doido pra tudo, né?

Algumas pessoas que passavam pela mulher começavam a tirar suas bolsas e cintos de utilidade, pelo que parecia existe algum tipo de chapelaria para guardar os pertences, mas sem problemas, né? Só gente com grana entra ali, então, ao menos é sabido que não serão roubados.

— Bora virar pra entrar logo? — Julie perguntou agora com seu drink em mãos que fez tanta questão de trocar; todos pareciam aceitar e aguardavam o consentimento de Luke para brindar — Hoje tô animada!

E então, Luke

...

Bora virar?

CERULEAN CITY

Colour Of Moonlight

A curiosidade é algo tão intrínseco ao ser humano que chega ser engraçado, né? Muitas das vezes seguimos atrás de um objetivo ou um caminho desconhecido somente para ver onde vai dar. Com Luke não era diferente: talvez ser aceito por aquelas pessoas não era exatamente o que seu coração desejava, mas se estava ali, por que não aproveitar a oportunidade e segui-los até onde der? Quer dizer, todos já estivemos naquela situação onde cansamos de ficar sozinhos e qualquer afeto, mesmo amistoso, é necessário para o âmago.

Sem julgamentos, então.

Após bebidas viradas, tosses e ânsias de vômitos por conta do álcool, todo o grupo dava uma gargalhada conjunta de quem se sujava com o drink ou não conseguia beber tudo de uma vez — o que era o caso das gêmeas, respectivamente. Ashley sinalizava para o garçom se aproximar outra vez, somente para dizer que pendurasse a conta em sua ficha, seja lá o que isso quer dizer. Uma cordialidade que parecia ser comum entre eles, já que ninguém estranhava a gentileza.

— Pode ficar tranquilo... — brincou, cutucando Horan — Semana que vem você que paga.

O grupo se levantava aos poucos, com as meninas correndo na frente para pegar o lugar na fila, o que deixava Darius para trás com Luke. A distância entre o trio e a dupla não era grande, mas era a primeira vez que os meninos pareciam obrigados a interagir. O ruivo abriu um sorriso simpático, mas nada além disso, fitando Horan fixamente até as seguintes palavras deixavam sua boca: "Sem overreact", repetiu duas vezes entre os dentes, até que repentinamente colocou a mão no bolso interno da jaqueta do especialista, supostamente tirando seu isqueiro.

— Ah, sabia que cê tinha pegado. — brincou, piscando para Luke; as meninas olhavam meio estranho, mas acabavam caindo no riso — Acontece!

Talvez o objetivo dessa brincadeira tenha sido para disfarçar o que disse antes, talvez tenha sido só uma palhaçada mesmo, mas... Vai entender. Quiçá Darius só não tenha jeito com os outros mesmo. Ambos juntaram-se às meninas e esperaram sua vez enquanto Ashley listava o nome dos homens e mulheres que "pegou" no dia anterior — inclusive citando fatos da festa que certamente Horan não lembraria de tão alucinado que ficou. A morena parecia bastante orgulhosa de si mesma.

— Entradas, por favor. — uma voz grossa ecoou da máscara da mulher recepcionista, cortando a brincadeira do grupo na hora; todos coçaram a garganta, mostrando o que pareciam ser seus cartões de membership — Você, PK$500. — todos os outros passavam, mas aguardavam por Luke na descida da escada — Em notas inteiras, de preferência.

Trocado ou não, assim que entregava o dinheiro, o especialista recebia um cartão completamente preto de volta, sem nada muito especial. Ashley sinalizava para que o mantivesse em mãos e, então, o grupo descia as misteriosas escadas de led vermelho. Não eram muitos os degraus, mas o suficiente para saber que estavam indo profundamente para o subsolo. Passavam, inclusive, pela chapelaria, mas Julie dizia para não se preocupar com isso, que mais para frente teria outro lugar para guardar seus pertences.

E haja chão, viu? Pelo menos cinco minutos caminhando por um enorme e largo corredor que não parecia dar em lugar algum. Enquanto caminhava e o grupo conversava entre si, Luke percebia que a decoração era uma mistura grudge com futurista, o que agradaria seus olhos. O chão, de veludo preto, oferecia um extra conforto e espalhado pelas paredes estavam alguns pôsteres de filmes que o especialista certamente nunca havia visto antes. Eram dezenas e mais dezenas de títulos diferentes, afinal, o caminho fora longo desde a entrada — os pôsteres possuíam datas embaixo dos mesmos, espaçadas apenas por alguns dias, datadas a partir de alguns meses atrás. Ashley até comentava com os demais sobre um com data de três semanas, dizendo ter sido o melhor que já assistiu. Talvez seja um clube de filmes underground? Gente rica tem dinheiro sobrando, então, não surpreenderia um investimento desses em algo tão trivial.

... Né?

Revezando com os pôsteres estavam algumas máquinas de venda de snacks, pinballs e videogames. Alguns grupos que brincavam por ali já se ajeitavam para seguir na direção do fluxo -- parecia que Game Night estava para começar. Depois de pararem alguns momentos por conta de outra discussão de Gwen e Julie sobre ir ao banheiro ou não, Luke conseguia enxergar à distância outra enorme porta dupla, dessa vez com um letreiro em led com os seguintes dizeres em cima:

"Enjoy at Maxima!"

Então, era ali que começava a brincadeira, huh?

— Ali, vamos aproveitar que a chapelaria não está lotada!

Julie corria até um pequeno espaço próximo a uma máquina de doces, guardando sua bolsa; todas faziam o mesmo, até que sobrava só Luke e Darius novamente enquanto as garotas corriam para entrar na fila. O ruivo fazia sinal com as mãos para que Horan fosse na frente, consentindo de leve com a cabeça e abrindo um meio sorriso. Talvez fosse para tranquilizar o especialista, já que deixar sua fortuna e seus pequenos com um desconhecido era esquisito para qualquer um em um lugar que não conhece ninguém direito.

— Tá tranquilo, Luquinhas. — brincou, colocando sua carteira e cinto de utilidade com seis pokéballs que ficava escondido dentro da jaqueta na bancada — Martha é minha parceira. — a garota da chapelaria, de cabelo moicano cor-de-rosa dava uma risada e balançava a cabeça negativamente — Tá comigo, tá com Arceus.

Ashley, Gwen e Julie acenavam para Luke e Darius apressarem o passo já que eram os próximos da fila.

Finalmente vai matar a curiosidade, hein, Horan.