Centro Pokémon - Lavaridge

Saí de Dewford e da minha primeira vitória em um ginásio muito, muito feliz. O sorriso de orelha a orelha demorava a desaparecer enquanto minha cabeça devaneava feito uma adolescente... Qualquer um que me conhece sabe que uma mera insígnia jamais me deixaria assim. O dinheiro? Talvez, mas não nessa quantia pequena. Aquela mensagem, aquela pergunta que me distraiu em meio à batalha contra Brawly, aquilo sim havia me deixado abobalhada. Agora... Vai entender o porquê. Daisuke só me irrita, debocha de mim e já até mesmo brigamos feio uma vez no grupo da Virtuum. E pior! Ele morria de medo de mim. Além disso, agora é capaz dele me prender por ser Rocket, né? Aaaaargh, talvez os dentes da arqueóloga nas ruínas não somente tiraram baldes de sangue de mim, como também todo o discernimento que eu tinha.

... Devo estar ficando maluca.

Despertando-me do transe, recebi diversas mensagens no Pokézap, com mais uma vez o grupo da sociedade enviando duzentas e mais uma seguida da outra. Lembrei, então, que havia combinado de encontrar Tyrant para dar o presente que eu e Natalie pegamos para ele em Shimmer Ruins. Droga, já estava montada em Teriyaki para seguir para outro lugar, mas não ia desmarcar em cima da hora: busquei o celular na bolsa com certa dificuldade, já que a mão esquerda ainda estava enfaixada, enviando uma mensagem de confirmação para o treinador e dizendo que estava a caminho.

...

Não demorou muito e cheguei em Lavaridge; nunca tinha vindo aqui, mas as coordenadas do GPS diziam que estava no lugar certo. Uma cidadezinha... Er, aconchegante? Tá, mentira, que lugar terrível. Quente demais pro meu gosto. Bufei, descendo do psíquico voador em frente ao Centro Pokémon, adentrando o edifício junto com Teriyaki para aproveitar do ar-condicionado o mais rápido possível. Meus olhos vasculharam o ambiente por alguns segundos e, apesar de existir alguns treinadores da mesma estatura e cor-de-cabelo de Tyrant, conseguia encontrar o Ranger bem rápido. Sorri, graças ao meu humor estar borbulhante igual de uma adolescente imbecil, escondendo-me de forma que o rapaz não me visse e indo em sua direção em passinhos bem rápidos. Ao chegar bem próxima, tapei seus olhos por trás com as mãos; mesmo sentindo dor em fazer esforço com a esquerda. Por algum motivo queria surpreendê-lo, talvez por não vê-lo há bastante tempo.

— Tyrantzinhoooo, adivinha quem é? — era bem capaz que ele demorasse um pouco para saber quem é, né? onde que outra pessoa no mundo além de Natalie já me viu simpática e feliz andando por aí? — Tá... Não tenho muita paciência pra essas brincadeiras e minha mão tá doendo já. — abaixei as mãos, sorrindo e abraçando-o logo em seguida — Quanto tempo! A gente só se fala pelo Pokézap. Como foi a batalha? — fitei Sigilyph por alguns segundos, apontando com a cabeça na direção de Tyrant — Esse é o Ty, Teriyaki! Diga oi! — o Pokémon, simpático, balançou seus bracinhos para o treinador — Antes de te dar seu presente... Quero saber! Já chamou a Karen pra ir no festival?

Sabia que só essa pergunta já deixaria o Ranger desconfortável, mas não conseguia me segurar para saber...

Oras, não sou dona da fan base Tyren à toa.

— Gunvolt, você é um rapaz muito forte! — após cansar da brincadeira e dar uma risada da adivinhação de Tyrant, cumprimentei o elétrico, fazendo uma voz um tanto infantil; curiosa, passei a mão direita sobre os pelos do braço do Pokémon, muito bem cuidados por sinal — Parabéns pela vitória!

A primeira surpresa, honestamente, veio com a reação do Ranger ao perceber a ferida na minha mão; um pouco receosa, quando ele a segurou, puxei-a de volta levemente, mas logo deixei que observasse. Ainda não tinha tido tempo de trocar o curativo: o medo de descobrir como minha mão esquerda estava de fato por debaixo daquelas diversas camadas de gaze me dava calafrios. Sabia que uma hora teria que enfrentar e ver a situação, mas pelo menos por enquanto não era tão necessário. Com a segunda brincadeira de Tyrant, dei uma gargalhada... Ah, se ao menos ele soubesse que essa ideia de me tornar um zumbi realmente passou pela minha cabeça enquanto sangrava até a quase-morte. Águas passadas, enfim.

— ... Se eu fosse comer o seu não acho que me alimentaria bem, né? — com a mão direita livre, dei duas leves batidinhas na testa do Ranger, abrindo um sorriso logo em seguida — Ah... Tô bem. Feliz por ver que finalmente arrumou coragem de convidar a Karen pra sair de verdade. — não esperando o último comentário, corei sem graça, revirando os olhos logo em seguida — A-Ah... Só se eu estiver feliz porque vou dar muitos socos nele! — fechei a cara, inchando as bochechas; era óbvio que não queria demonstrar que estava sim feliz com o convite de Daisuke, mas Tyrant não é nenhum idiota — D-Deixa eu te dar logo o nosso presente! — batendo os pés, caminhei até o PC, buscando uma das esferas dos Pokémon-letra que eu e Chase encontramos nas ruínas; diminuí a Pokéball de tamanho, entregando na mão do Ranger — É nosso presentinho pra você! Meu e da Natalie! Eu não acho que esse Pokémon seja muito forte, mas é bem engraçadinho como ele flutua. — estiquei os braços para receber o ovinho da girafa — Obrigada, Ty! Será que a gente se esbarra lá no festival? Quero ver se tiro uma foto igual o Ruby tirou de você beijando a Karen lá em Kanto. — abri um sorriso travesso, ameaçando fazer cosquinhas nas costelas caso o moreno ficasse envergonhado — Agora só falta pedir em namoro, né? — brinquei, buscando meu celular ao senti-lo vibrar mais uma vez — Já vou, Ty! Tenho uma outra troca marcada, agora com o Blake, lembra dele? — comecei a organizar as coisas, indicando para Teriyaki dar adeus e seguir para a porta — Nos vemos depois!