O Recomeço

     Com a vitória confirmada Timothy e Marianne somente aproveitaram as comemorações e prêmios. Foram cumprimentados pelos lutadores após o instante de pura alegria, Yudi estava um pouco cabisbaixo por ter perdido, mas nem isso o impedia de parabenizar seu adversário. Marianne retornava Pichu para a Pokéball prometendo um bom tempo de descanso pelo grande esforço feito naquela batalha. Os quatro iam para a entrada do dojo, onde passavam pela recepção.

     Lá estava o garotinho novamente, mas dessa vez estava chorando ao ponto de criar bolhas de meleca no nariz. Sua cara estava enrugada e vermelha por causa do berreiro, as lágrimas pareciam ficar presas no olho do menino. O velhote ia acudi-lo e Yudi somente levava Timmy e Mary para fora do dojo. Ficaram na frente deste, e perceberam que o Sol já estava baixo, quase se pondo. Diretamente ao Sul, se olhassem, veriam que num nível de altura mais baixo estava a grande carapaça de metal do naufrágio... Era tão tentador para qualquer garoto com espírito de explorador.

     — Goku está chorando de novo. Provavelmente é que ele quer um Pokémon diferente. — Resmungou Yudi. Ele respirou fundo, parecia desabafar. — Vou pegar alguns itens para expedição e vou lá pegar alguns Pokémon pra ele. Vocês vão para lá também?

     — Com certeza! — A loira afirmou. Olhou para os garotos e encolheu os ombros enquanto corava. — Quer dizer, vamos sim.

     — Vou esperar vocês na costa então. Me encontrem lá!

     E assim o garoto entrou, estava mais animado por ter combinado uma grande aventura com os novos amigos. Timothy e sua colega iam para o Centro Pokémon local, onde eram devidamente atendidos pela enfermeira Joy — cuja aparência era igual às demais —, que cuidava dos monstrinhos sem muita demora. Estavam todos saudáveis e prontos para uma nova aventura. Bastava Timmy decidir a hora de sair e ir em busca de Yudi.

     Com Wander e Pichu restaurados, a dupla de amigos de Kanto voltaram para as ruas, onde o movimento agora era maior. Os civis voltavam para suas casas após trabalharem bastante nas lojas e vendinhas. O setor terciário era realmente algo cansativo, e o fim do dia prometia bastante festança e bastante comilança em restaurantes e bares. Timothy andava ao lado de sua colega até a costa da ilha, andavam encarando o horizonte, esquivando dos mais apressados e dos desligados. A planície fora palco da caminhada, que sem muita demora levava os treinadores para o destino.

     Sentado numa mureta de pouco mais de setenta centímetros — esta que separava a calçada do mar — estava Yudi. Ele agora estava com uma jaqueta vermelha, bermuda jeans e tênis. Entre suas pernas estava uma mochila da cor da jaqueta, e estava bastante cheia. Ao seu lado estava Tyrogue, debruçado no muro olhando o horizonte. Algo era mais chamativo que o garoto naquele local, e sem dúvidas era o gigantesco navio cargueiro, derrubado e encostado na pequena montanha que se erguia na rota ao leste. Era tão grande que sua ponta estava perto dos meninos, mas alta demais para ser alcançada.

     — Vocês vieram! — Falou Yudi saltando da mureta e parando diante dos colegas. — Trouxe duas lanternas, algumas Pokéball e suprimentos. — Apontou para a mochila sorridente. — O único problema vai ser passar da barreira de policiais que protege a entrada do cargueiro.

     E era verdade. Numa doca feita de pedras frias, assim como as calçadas e a mureta, estava uma parte do navio. Estava bastante na diagonal, o que era para ser plaino estava bastante íngreme. Bloqueando a entrada na doca estava uma faixa verde e amarela com as grafias: "Proibido passar! DPCL". Dois policiais estavam lá, um em cada canto da faixa, e não deixariam ninguém passar por lá. Ainda estavam fazendo as explorações la dentro em busca de cadáveres.

     Alguns homens atravessavam a faixa para o lado de fora, seguravam algumas roupas especiais, chapéus de obras, mochilas e tudo mais. Talvez o expediente deles tivesse acabado, mas isso não era o caso dos policiais-segurança, que provavelmente ficariam lá durante toda a noite. Como fariam para entrar?

     O céu avermelhado parecia um manto macio a cobrir a cidade inteira. As nuvens se afastavam, e a certeza de que não choveria vinha à tona. Isso seria algo bom, ou não tão ruim para a missão que Timothy estava prestes a executar. Yudi, Mary e Timmy pensavam numa maneira de entrar no navio sem serem notados pelos policiais, mas esta não seria uma tarefa fácil, já que estavam conversando, e seus olhos pegavam de ponta a ponta a entrada da doca. Andrew dava uma sugestão, e era respondido com olhares confusos.

     — Como você pretende fazer isso? — Perguntou Marianne, erguendo as mãos questionando o plano. — Eles estão olhando todo o perímetro. Só há passagem pelo fundo do mar, as pedras devem ter feito algum buraco na proa.

     — Vocês não são bom com planos, não é? — O lutador ironizou. Apontou para os guardas, e mostrou que estavam se levantando. — Eles vão trocar de turno. Em poucos instantes os outros dois guardas estarão aqui, temos que aproveitar esse tempo!

     E era verdade. Os guardas recolhiam suas garrafas, suas pastas, suas Pokéball e batiam as calças. O que estava na ponta mais próxima aos garotos ia para perto do outro, dando um grande espaço para infiltrarem. Como aproveitariam?

     Finalmente decidiram o que fariam para entrar no naufrágio. O grande navio protegido pelos guardas agora tinha sua entrada focada por três jovens treinadores, que somente esperavam a hora certa para poder invadir. Marianne engolia à seco com medo de não conseguir acompanhar seus amigos na corrida por conta da prótese. Yudi via por cima da mureta a hora "H" de invadir, e em poucos instantes ele começou a contagem regressiva:

     — Ok... Em três... — Todos se prepararam. — Dois... E... Vai, vai!

     Yudi foi o primeiro a avançar com passos furtivos. Marianne foi logo atrás de Timothy. O cone que prendia a fita foi movido alguns centímetros, e a abertura foi feita. Ainda havia mais ou menos dez metros para correr e entrar no navio, era uma doca curta, mas fora bem lá onde uma parte da proa parou. Na doca, perto das rochas, onde os meninos estavam, os dois guardas se distanciavam sem olhar para trás. Era algo bom, pois a fenda de entrada estava logo afrente.

     Yudi foi o primeiro a entrar pela estreita fenda. Andrew passou agachado e foi para o outro lado da fenda, e ambos auxiliaram a entrada da menina. Tyrogue por sorte fora guardado na Pokéball antes da ação ser tomada, por isso não foram pegos, já que os olhos de Timmy alcançaram os de um dos guardas, que olhava para a doca checando para ver se tudo estava bem. Ajuda de Deus? Talvez. Agora era explorar o interior do cargueiro.

     O cheiro de mofo estava em toda parte. Também estava bastante fedorento ali, e se fossem checar, veriam que estavam no banheiro do navio, no convés interior superior. Paredes de azulejos brancos e azul com mijadores nas paredes à esquerda, e a continuação eram com privadas. Do outro lado, na outra parede estavam as pias e espelhos, todos quebrados. Tudo estava alguns graus na diagonal, não era tão íngreme quanto de fora parecia. Encostado na parede de onde entraram estava bastante terra lamacenta, e alguma coisa estava se mexendo lá. Era nojento!

     — Timmy socorro! A lama está se mexendo! — Marianne gritou se agarrando aos braços do menino, apontando de olhos fechados para o monte de lama no canto da parede.

     Reagindo ao susto no banheiro Timmy liberava seu Pokémon de grama para auxiliá-los. O Pokémon não tinha uma boa reação ao sentir o cheiro local, mas como todo monstrinho bem treinado, ajudou seu treinador o obedecendo. Seus passos curtos e bonitinhos o levavam para perto da lama. O medo de Marianne só aumentava, e sua face já estava escondida no pescoço do garoto. Hora ou outra a menina colocava os olhos para fora em prol de ver como Maokai se saía.

     Assim que encostou sua pata na parte móvel da lama, foi respondido com mais um chacoalho. Um corpo se erguia, e a lama escorria para baixo, era estranho pois a terra molhada tendia a ficar no corpo. Isso significava que aquela estrutura era mais gosmenta que a própria lama, e isso era bastante nojento. O corpo rosado foi exposto pela metade, a parte de baixo estava bem suja. O monstrinho dava mais um chacoalho para se livrar da sujeira, e esta ia para a blusa de Timmy.

     — Que nojo! Que nojo! Que nojo! — Marianne se soltava para dar o chilique. O monstrinho fazia uma cara triste ao ver que não fora bem aceito.


     — Qual é!? Ele é bonitinho.

     O monstrinho então chorava, e num movimento de espanto acabava lançando lama por todos os lados com seu Mud Sport, e deixava grande parte do banheiro bastante sujo, assim como os treinadores. O gosmento estava pronto para batalhar, e estava magoado com Marianne por ter sido ofendido. O que fariam?