Pichação é crime?

Adônis mostrava ter muita maturidade. Acho que saber rir de si próprio não é tão fácil quanto parece. E eu não o teria culpado se tivesse recusado a minha ajuda e me xingado quando tirei sarro da sua situação. Naquela hora, Don não somente ganhou o meu respeito, mas também a minha curiosidade. E agora, a minha atenção.

– Valeu Don, mas não posso aceitar – respondi, quando este me ofereceu dois pedaços de pedra – Tou te ajudando por eu ter zombado da tua cara e por ter “afanado” o Slowpoke antes de você. Então, guarde bem essas pedras e do pokémon que sair dessa pescaria. Cê fez por merecer tudo isso.

Não demorei para voltar a minha atenção ao horizonte. Com isso esperava ver Slowpoke nadando atrás de pokémon aquático, mas não é que o danadinho ficou lá sentado na beira do rio. O sapeca tirava proveito do momento e me pareceu tão realizado que acabei deixando fazer o que lhe convém. Assim, Slowpoke ficou pescando com a cauda enquanto Don me contava como tinha conseguido capturar o seu primeiro pokemon. Falou também um pouco sobre sua ambição de desafiar um dos lideres de Ginasio e que por isso ele estava atrás de pokemon aquatico.

Eu tava me preparando e resolvido compartilhar o meu lado da história com Adônis. Ele seria a terceira pessoa a quem estaria contando sob os acontecimentos do meu passado. Por mim, Don ganhou esse direito, só faltava saber se ele estaria disposto a dar ouvidos ao que eu tinha para dizer. Isso é o que iriamos descobrir só mais tarde, porque a nossa atenção logo se voltou ao pescador e a pesca à nossa frente... Era dificil de distinguir um do outro. À primeira vista, saudei o Slowpoke por conseguir êxito na pescaria. Cá entre nóis, de bobo ele não tem nada, só reage um pouquinho atrasado. Além de sempre se meter em confusões.

– Guentaí, amigão! Segure-se na garra do seu predador, não deixe ele fugir! – Bem, a dor passa rapidinho e não volta tão cedo, assim como esse pokemon selvagem. Rapidamente, fui correndo para socorrer Slowpoke e agarrei a presa que prendia a cauda do meu parceiro. Puxei a garra do selvagem usando todas as minhas forças tentando traze-lo para fora d’agua. Se isso não fosse suficiente, teria continuado a insistir e procurar outras maneiras. Como essa; – Slowpoke, relaxe um pouco e use seu Yawn naquele aquático. E você Adônis, sai dessa e vem logo dar uma mãozinha aqui! Afinal esse vai ser SEU pokémon!

Pedir a ajuda do Adônis acabou sendo um desastre. Mas que porre, o pior de tudo é que não consegui fazer nada, apenas fiquei estupefato diante dessa cena lamentavelmente hilariante. E o que mais me chocou foi quando aparentemente Eniac conseguiu usar um ataque super dahora que por sinal seria super efetivo contra o nosso alvo em questão. Hm, talvez se eu soubesse disso de antemão poderíamos ter evitado toda essa tragedia.

Quando Don entrou no lago, fui de fininho pegar a minha vara e guardei-a rente a minha mochilha, jurando nunca mais usa-la na presença desse moleque. Este, após segundos de silêncio - quem dera - saiu do lago e finalmente conseguira pescar o selvagem aquático através do seu traseiro...! Aquilo foi patético, porém eficiente.

‒ Muito bem, Eniac fique perto do lago e certifique-se de que aquele pokemon selvagem não volte a entrar no habitat dele! – enfim, Edward falou, quem ainda permanecia vivo e presente ali no local – Agora Don, concentre-se na batalha e capture o aquático! Estaremos te apoiando e auxiliando em quaisquer circunstancia! ‒ clamei, enquanto esticava os braços, de costas pro lago. Eniac se posicionava ao meu lado direito, enquanto Slowpoke do lado oposto.

Attaboy Adônis! Esse menino driblou quaisquer expectativas e até mesmo as minhas dúvidas, conseguindo capturar o seu troféu! Ele foi recompensado com um pokemon no qual logo tratei de identificar com a minha pokedex - com a adição do Krabby, Don estava mais próximo de alcançar as suas metas. E isso me deixou muito contente, eu acho que tava mais entusiasmo agora do que quando fiz a minha captura. E eu queria dividir esse momento glorioso com o menino maroto, recebendo-o com um high-five. Porém, por algum motivo, ele me deixou no vacuo. Talvez ele não enxergava mais nada o que estivesse a sua frente, estando apreensivo demais em voltar à Viridian, pois assim poderia testar o seu novo parceiro numa batalha depois de recupera-lo no Centro pokemon. Isso foi o que pensei naquela hora.

Eu sabia mais ou menos como ele se sentia, porque eu também não via a hora de ver o Romeo em ação. Portanto, entreguei meu Pidgey para que eu pudesse desafiar Adônis numa batalha pokemon o quanto antes. Lolz, ele parecia tão ansioso naquele momento que chegava a gaguejar e suar frio só de pensar em levar uma surra do meu Voador! Hehe, vou ownar esse noob.

- Beleza, vamos nos encontrar daqui a uma hora, nesse exato lugar - combinamos, trocando os nossos pertences - E pode deixar que não vou tirar os olhos do seu Rattata e da sua mochila até você voltar. Então vai lá tranquilaço.

Na ausência do Adônis, uma quietude gritante tomou conta do local. Como era bom ter um momento de paz só pra mim... na verdade foi pra isso que tinha vindo até aqui - pescar enquanto procurava um nome pro Slowpoke, do qual parecia se enturmar bem com seu novo amiguinho. O Rattata, depois de se cansar da tentativa de entender a criatura cor de rosa, passou a vigiar os pertences do seu treinador. Notei que as pedrinhas foram salvas das garras do Krabby e estavam fora d’agua jogados no chão. Não fiz muita questão, peguei-as e coloquei de volta aonde elas pertenciam; num dos bolsos na mochila do Adônis. Feito isso, uma ideia brotou em mente.
- Ahhhh já sei! Vou te chamar de Adônis junior! - falei de súbito, e Slowpoke demorô pá reagir, como de costume - Ou podemos usar apenas o “Don” para ficar mais facil. Que tal amigão, posso te apelidar assim? - devagarinho, Slowpoke levantou o braço e fez joinha com a mão.

Ocupados demais, como pode perceber, deixamos de notar a presença de uma pessoa que se aproximava e iniciava uma conversa. Sim, do nada, ela veio falar comigo sem mais sem menos, e vinha com uma suspeita descrevendo as exatas características do jovem que nesse momento eu via não muito diferente do Eniac, Romeo ou Adônis jr. O menino que essa estranha tava procurando parecia muito com o nosso companheiro.

- Sim, acho que vi. Na verdade, vi milhares deles por aí. Se você realmente quiser a minha ajuda, tente ser mais especifica - falei, sem alterar o semblante ou a voz - Vamos começar pelo nome, meu é Edward - depois ouvir o nome da moça, continuei - É um prazer em conhece-la. Bem, agora me fale mais a respeito desse garoto que você tá procurando. O que ele fez pra chamar a sua atenção?

À cada palavra descrita pela Layla, mais e mais dúvidas se formavam em minha mente. E o mais importante delas; se Adônis realmente for esse ladrãozinho, o que seria do meu Romeo?

- Eu vi alguem muito parecido, mas não posso afirmar que seja esse mesmo ladrão que furtou a sua pokebola. Ele tava aqui comigo um momento atrás, e foi ao Centro Pokemon de Viridian. - cocei a nuca antes de continuar - ele levou um meus pokemons para recupera-lo e combinamos de nos encontrar aqui.

Depois do meu testemunho, trouxe a mochila do Don até os meus braços. Não sei o porquê, mas tinha algo de errado também nessa garota de cabelo cor-de-rosa.

Não retruquei diante da suposição da Lyla. É, pelo jeito, só me restava esperar e apenas acompanhar com os olhos a garota se afastar. Uma hora mais tarde, para sanar o meu receio, Don voltava todo contente, sem saber o que se passava pela minha cabeça. Ele me entregou de volta a pokebola de Romeo e, como se não bastasse, voltou a me oferecer os shards amarelos. Olhei o Adônis de cima pra baixo, com certa desconfiança, e era dificil de ver ali um ladrão como a Lyla sugeria.

- Okay, se é assim vou aceitar - agradeci e guardei os dois shards na minha mochila - Valeu mesmo, mano. E saiba que você pode contar comigo, pra tudo.

Logo em seguida, Adônis se preparava para partir até as montanhas. Falando no diabo, como ele conseguiu receber os shards do alpinista que estava pendurado lá no alto? Havia tanta coisa que eu não sabia sobre esse Adônis que a minha curiosidade me levou a segui-lo mais um pouco; - Ei, Don, se você for subir as montanhas, posso ir com você?