Shimmer

Para minha felicidade, havia achado alguém mais instável do que eu. O garoto começara a respirar fundo sem nenhum motivo aparente, apenas em resposta a minha fala. Fiquei minutos esperando a resposta e só depois de muito silêncio fui receber.
O menino então se chamava Barry, e sem sombra de dúvidas, nunca tinha ouvido falar dele. Eu lembraria desse nome. Levantei do banco em um pulo, confirmando o pedido e falando "Vamos lá!", agora o desanimo e a frustração já haviam dado lugar a curiosidade. Descansar eu tenho a vida toda, não é mesmo? To muito nova para ficar resmungando, pensei.

Estalei os dedos, chamando os seis monstrinhos para perto. Alertando de que íamos começar a nos movimentar de novo:
- Deculpem meninos, mas vou ter que voltar vocês - Peguei cinco de seis esferas na mão - Obrigada por entenderem!
E ao fim da fala voltei Vili, Freya, Quagsire, Hati e Skoll, nessa exata ordem, deixando só mesmo Loki para fora e o erguendo até meus ombros. Teddiursa ficaria ali, agarrado em meu pescoço, andando comigo todo o percurso. Dizia para ele "cuide de mim!", porém meu intuito era apenas criar um laço de confiança com o ursinho. Sem contar que, depois de tanto trauma na vida dele, seria legal manter ele por perto.

Já pronta, olhei para Vicent, sinalizando para que fosse comigo ver o fan clube, me lembro bem de um episódio que passei pós primeira fase da Copa União e, se tem algo que eu não quero, é repetir a história toda. Por estar sozinha, procurando meu irmão, me perdi entre um bando de nerds e fiquei presa por lá. Definitivamente aquele fora o pior dia desde que eu começara minha aventura com pokemons. Arrepiei só de lembrar, eu definitivamente havia ganhado algum trauma com aquilo, mas pelo visto, eu seria bem acolhida no fan clube, não sei se deveria me preocupar tanto com isso. Dei de ombros, jogando o pensamento pessimista no lixo e voltando ao ambiente normal:
- É muito longe? - perguntei, me referindo a Barry - Não há problema se for, é só para saber se mantenho Teddiursa comigo ou volto, para não ter que caminhar muito com ele no ombro. Dói depois de um tempo - Ri, reparando o quanto me esforcei para explicar algo que não havia necessidade alguma.

Ignoraria qualquer comentário que Vicente poderia ter feito naquela situação, certamente sairia alguma piada sem graça de sua boca, porém, o que não consegui ignorar fora a reação do menino. Ok, isso foi bizarro, por um segundo minha existência foi esquecida e o garoto gritava eufórico para meu irmão. Talvez seja uma má ideia ir nesse fan club.

Não consegui esconder minha estranheza em relação a ação do garoto, e logo ele repaparara o quão esquisito parecia aquilo tudo, então, quase como som aos meus ouvidos, o menino pronunciou que o grupo se encontrava em um museu, o que significava que, por sorte, era em local público e bastante frequentado.

Outra coisa que me acalmava em relação a decisão de ir era que estávamos em Astlan, o que significa estar na cidade perfeita, nada de ruim acontece aqui. Sendo assim, olhei para o garoto e disse:
- Pode ser, vamos lá- confirmando e mantendo Loki em meus ombros. Estávamos na pracinha central, nenhum museu ficava muito longe dali.

Off: post de celular, to sem internet hj por causa da chuva, desculpa qalquer coisa.

Enquanto a temperatura se mantinha alta o vento batia com todo o sereno possível, refrescando e diminuindo o efeito abafado do local. Isso definitivamente compensava o sol quente que tomou conta da tarde. Andei dez minutos em silêncio, na noite um pouco agradável, mas com os ouvidos bem abertos para captar e confirmar com a cabeça tudo que o fan falava, porém sem responder com sons nem sequer um A, apenas segui o menino concordando com suas falas, marchando em frente.

Chegando lá nada me impressionou, a entrada era comum e o museu não parecia ser dos mais ricos da cidade, mas ainda assim era um museu, e grátis por sinal. Passei pela bilheteria e a catraca, dando mais um número para o contador. Ok, estou dentro. Continuei andando, o tal Barry não parou até me levar no estande rotativo dali, até queria ver as outras exposições, mas não tive chance, ele me guiara até um específico, que aparentemente estava montado a pouquíssimo tempo. O meu. Entrei devagar no meio da multidão, sem ser percebida e, quando dei de cara com o exposto, ruborizei e, sem palavras, dei meia volta e tentei sair. Preferia não ser vista, preferia não estar ali, preferia que aquele quadro esquisito nunca tivesse sido colocado e, melhor ainda, preferia não ter sido reconhecida outrora. Meu rosto estava quente, eu devia estar mais rosada que minhas madeixas.

Quando diabos tanta gente me conheceu? Eu esperava por dois ou três nerds em volta de um Meganium e não muitos rodeando um maldito retrato meu de biquíni. Simplesmente me calei, não abri a boca pois a única coisa que conseguiria falar, se tentasse, seria "mas que porra é essa?" e bem, além de eu não gostar de xingar, isso só chamaria atenção. Cutuquei Vicent e sinalizei a saída, por favor meu irmão, me tira daqui. Concentrava-me em não parecer eu, o rosto vermelho talvez ajudasse e o cabelo preso também. Abaixei a cabeça; não me reconheçam por favor.

OFF: MASOQ É IÇU

Nunca fiquei tão contente em ver alguém engasgando na vida, Barry não tinha como falar, então apenas continuei andando. Por sorte, ninguém ali tinha o o melhor físico do mundo, então dificilmente iriam conseguir me alcançar se precisássemos correr. Vicent entendeu o recado e foi comigo em direção a porta, discretamente, o plano ia dando certo, tirava Loki do ombro para não ser avistado e o levava aos braços, andava como turista pelo museu até que algo totalmente obsceno foi dito: Kawaii Musculo-chan. Lembrar daquele Machamp me fez parar por segundos e tremer, eu iria cair no chão em posição fetal se não fosse por Vicent, que pegou minha mãe e me puxou, sai dali a força.

Ainda tremendo, com a pressão baixíssima, andei toda torta a saída. Se aquele guia falara algo terrível, ao mesmo tempo me salvou, eu tinha tempo para sair de lá, e quando fosse seguro, eu iria voltar Teddiursa para a pokebola e começar uma corrida sem fim, com o intuito de me perder na cidade mesmo, de um jeito que nem mesmo os moradores nerds daqui me achem. Enchi o pulmão de ar e fui.

Off: AAAAAAAAAAAAAAAH EU TO RINDO MUITO AS908DUY98QWYCIXHIUWQHDIUHSUHQW

Passei por aquele inconveniente grupo e consegui sair do museu, por sorte Barry fora mais incompetente que a encomenda e não conseguira nem alertar os outros, por hora. Corri mais um pouco e cheguei a uma área bastante clichê, desacelerei um pouco e vi aos poucos o cenário passando, colocando de volta Loki nos ombros e reparando, bem surpreendida, um Meganium magnífico em campo. Era a primeira vez que via outro da mesma espécie de Tyr, mil e uma perguntas vieram a minha cabeça e uma crise existencial, que tanto gritava os aspectos únicos de Tyr, me fizera decidir não parar para ver aquela luta. Não ligo para a espécie desse pokemon, eu deveria levar meu encanto por ele como qualquer de outra espécie, não é porque é um Meganium que ele será tão perfeito quanto o meu, não é? Tyr cuida de mim muito melhor que eu dele e, o que tanto me encantava no meu primogênito era, sem dúvida nenhuma, sua confiança em mim, que eu com certeza nunca terei.

Enquanto todas essas informações eram, devagar, mastigadas no meu cérebro, uma segunda área, quase que inconsciente, me levava a andar para cada vez mais longe daquelas arenas, era óbvio o motivo: Não aguentava mais ficar só lutando! Por favor, deem-me folga! Olhei em volta e nem precisei falar para que Vicent entendesse, pedi descanso disso, ficar ali seria o mesmo que ir pra praia querendo não se sujar de areia. Marchei semi-rápida até outro caminho e de lá voltei a correr, não porque achava que os nerds me alcansariam alguma hora, mas porque correr fazia com que eu me sentisse viva e saudável.
- Vamos achar algo mais interessante pra fazer - Disse para meu irmão, gritando e olhando para trás.

Meu plano era achar algo interessante, fugir do clichê e que, ao mesmo tempo, seja divertido. A primeira tentativa dera bem errado? Sim, mas então tentaria mais uma vez.