Love, hope and misery

O deserto de Shimmer era uma travessia obrigatória para quem quisesse ir até a Mirage Ruins. A única vista que o treinador tinha eram dunas de areia e mais dunas de areia. Vez ou outra, algumas rochas gigantescas surgiam no horizonte, mas nada vivo. Pokémon ou outros aventureiros. Nada.

Raikk caminhou até o anoitecer. Suas botas estavam entupidas de areia, assim como metade de sua roupa e mochila. Cansado, o rapaz decidiu relaxar um pouco, aproveitando o frio da noite. Montou um acampamento com seus pokémon, que ficaram curiosos com o local. Nunca haviam visto tanta areia assim em suas vidas.

O tempo foi passando e a comida acabando. Certamente, o rapaz calculara errado seus mantimentos para a viagem. Mas, não podia se preocupar com isso, talvez ele visasse apenas um passeio ali, apenas apresentar o local para seus parceiros. Quem sabe.

O sono foi chegando e Raikk dormiu. A noite foi curta, tanto que o treinador sequer percebeu que havia dormido. Acordou com o rosto encharcado. O calor agora predominava completamente a região. O rapaz teve a visão bem prejudicada, enxergando as imagens no horizonte meio onduladas. Todos seus pokémon, inclusive Charmeleon, mesmo que pouco, sofriam as consequências da alta temperatura.

Areia e dunas, calor e suor. Esta é a situação atual de Raikk logo no começo de seu dia.

Off: Oi Raikk! Serei seu narrador nessa aventura. Desculpe a demora para narrar. Que todo este tempo se torne em diversão uuhhhh ~~good vibes~~

Antes de sair de seu acampamento, Raikk tratou de se preparar. Amarrou uma camisa que não estava utilizando na cabeça e passou protetor solar em seu corpo, para evitar constrangimentos futuros. Também recolheu seus pokémon, sabia que ali não era um lugar seguro para ficar.

Sendo assim, continuou andando na areia do deserto. Seus pés afundavam nas enormes dunas, a luz do sol batia em sua face e ardia a pele, mesmo com uma proteção na cabeça, que por sinal, em poucos minutos, encharcou de suor. Em pouco tempo de caminhada, o garoto já ofegava. Ele realmente não estava acostumado com aquele ambiente.

Sem comida, Raikk se deparava com uma situação difícil, pois seu estoque de água também se esvaecia. Rapidamente, sua boca já estava seca novamente. E, para piorar, nada do Trapinch que procurava. O treinador não fazia ideia de quanto tempo se passou, e nem sentido de direção.

Para piorar, Raikk avistava uma tempestade de areia no horizonte, que se expandia cada vez mais. Mas, algo chamava sua atenção. Uma silhueta estranha no meio daquela tormenta de areia. Não sabia se era uma forma humana ou algum pokémon.

Determinado a procurar u Trapinch, o jovem arriscou até mesmo entrar em uma tempestade de areia. Não só por isso, algo que ele via ali chamava sua atenção.

Poucos segundos na zona caótica e Raikk já sentia os grãos de areia bater em seu corpo. Mesmo sendo pequenos, doíam como se cortassem seus braços. Enxergar era difícil e o garoto precisou baixar sua bandana para frente do rosto, se não respiraria areia, basicamente.

O jovem resistiu o máximo que pode, mas, com o tempo, sentia seu corpo ficar dormente. Pernas e braços não respondiam corretamente, era como se tivessem enferrujados. Raikk não conseguia se locomover direito, estava perdendo a consciência, desmaiando. Ele não sabia o que estava acontecendo, apenas sentiu seu corpo bater no chão.

Não sabendo quanto tempo passou, Raikk acordou. Estava em um local diferente. Deitado sobre um amontoado de palha, provavelmente uma cama improvisada. Estava sem camisa e com o corpo úmido, seus sapatos estavam do seu lado e a mochila também.

Quando reparou onde estava, viu que as paredes eram, na verdade, uma lona, uma delas parecia estar sendo empurrada para dentro pelo vento forte. Também viu uma pequena mesinha e um balde do lado, tudo de madeira. A saída era uma porta, ou uma cortina de pano.

O menino foi se erguendo aos poucos, com dificuldades. Ouvia vozes no lado de fora, e, uma delas, a mais feminina, ia se aproximando, até entrar na tenda e se revelar. Era uma menina alta, com uma aparência um pouco adulta, provavelmente entre seus vinte a vinte e cinco anos, vestindo uma roupa larga, um sobretudo, seu cabelo era azul e estava amarrado em forma de rabo de cavalo.

- Oh! - a moça se mostrou surpresa. - Vejo que acordou. Você realmente provou sua coragem.

A garota se aproximou de Raikk, com uma bandeja nas mãos, onde uma tigela, feita de algum material artesanal, estava sobre.

- Beba um pouco de água. Você deve estar com sede. - Disse, alcançando o pote para o menino.

Off: Referência pra garota: Link

Raikk apenas estendia sua mão, pegando a tigela com água, pois suas dores não deixaram o levantar direito. Contudo, bebeu o máximo que podia até matar a sede que sentia.

A garota, antes de começar a falar tudo o que acontecera, sentou perto das pernas do menino e abraçou os joelhos. Sua face mudava um pouco para uma expressão mais preocupada e, então, ela dizia.

- Você está em um pequeno vale dentro do deserto, em uma vila não nômade, por incrível que pareça. Meu nome é Daisha e eu sou irmã do líder da vila, Sinbad e neta do ancião, Ab. Nossa vila é protegida pela tempestade de areia por algum motivo que nem nós mesmos entendemos.

Com uma breve pausa, a moça passou a mão pelos seus cabelos, deixando uma parte dele atrás da orelha e retirando um colar de seu pescoço onde, na sua ponta, havia um pedra brilhante. Mas não era sobre isso que ela falaria.

- Estamos em um momento complicado, algo estranho nas ruínas Shimmer estão acabando com nosso abastecimento de água e, pela primeira vez em toda história milenar de nossa aldeia, estamos ficando sem água. Meu irmão foi investigar o que aconteceu há uma semana e ainda não voltou. - Ela voltou a olhar para Raikk, com uma face de preocupação. - Meu avô teve um sonho sobre um garoto chegando aqui, um garoto de fora. A descrição dele batia exatamente com a sua.

A menina serrou o punho que segurava o pingente em sua mão e virou a cara para a porta. Poucos segundos depois, voltou a falar, olhando para o treinador.

- Como meu irmão e eu somos os únicos que possuímos pokémon aqui, um de nós sempre fica para defender a vila caso algum selvagem venha a atacar. Mas eu estava tão preocupada com ele que acabei saindo, deixando todos desprotegidos. Foi então que encontrei você, desmaiado no chão, e voltei o mais rápido que pude. - Daisha pausou uns segundos para respirar. - Todos daqui estão curiosos para te conhecer, já que vovô sonhou com você como um salvador de fora. Nós não costumamos ser muito receptivos com forasteiros, mas seu caso é especial. - Encerrou, tentando esboçar um sorriso e dispersar a faceta triste.

Certamente, Raikk acabara se metendo em uma grande aventura. O que se passava por sua mente ao saber que era, tecnicamente, o salvador de uma vila no meio de um deserto?

A face triste da menina rapidamente se transformou em um sorriso feliz ao ouvir a resposta de Raikk. A crença na palavra de seu avô a fazia acreditar de que o rapaz era mesmo um escolhido para salvar sua aldeia.

- Essa notícia é ótima. Vou tratar de avisar a vila que você vai ficar e ajudar, eles vão ficar tão aliviados quanto eu. - Aliviou, dando um abraço no treinador.

A conversa continuou, até Raikk revelar seus objetivos no local, Daisha colocou a mão sob seu queixo e pensou por alguns segundos, até retornar o olhar para o rapaz e respondendo.

- Meu irmão costuma criar alguns pokémon, talvez ele tenha um. Eu não sei direito, a única coisa que faço é alimenta-los, já que ele é que sabe qual é melhor que qual. Mas bem... Sinbad gosta muito de batalhas, acho que ele pode te ajudar com algo se você vence-lo.. Quando trouxer ele de volta.. Claro.

Encerrando a conversa, a menina levantou e se despediu, dirigindo-se para a saída. Antes de sair, ela disse.

- Caso queira sair e ir até meu avô, ele mora na maior tenda daqui. Não é difícil de achar, acredite. Eu vou falar com o resto do pessoal e acalma-los, além de dar uma averiguada pra ver se ninguém de fora percebeu eu te trazendo pra cá.

E, sendo assim, Daisha saiu da tenda.