2 ~ De repente, Hoenn!

O ingênuo rapaz começava a aprender o que significava ser um treinador; contratempos e roteiros cancelados era apenas o primeiro item básico da profissão. Encontros e desencontros são as coisas mais comuns para estes; graças a rotina nômade, encontra alguém hoje, se relaciona, faz se juras de amor, mas amanhã, não há garantia alguma de a ver; nem amanhã nem nenhum outro dia! Marcar reencontros são possíveis - até comuns, agora que todo mundo se localiza em um continente amontoado chamado Hoenn -, porém isto não reverbera, graças a ocupação e rotina corrida dos tais mestres pokemons. Ok! Devemos admitir que em alguns momentos nos esbarramos com rostos conhecidos; em eventos principalmente. Alguns de nossos amigos e colegas acabam sendo este tipo de gente, aqueles que, ocasionalmente, nós encontramos e reencontramos. É incrível como estas faces repetidas nos salvam da insanidade; do infinito mar de gente.

Pois bem, já sem Zoey, Giovanni prosseguia seu caminho sozinho, a viagem não fora nada curta, mas por sorte, também não fora desagradável. Não sentira enjoo e passara por ela refletindo sua própria vida o que, convenhamos, era de fato importante naquele momento. Se a algumas horas atrás o garoto estava decidido em se manter em Johto, agora já estava desembarcando em Hoenn, num dos últimos navios de evacuação, pisando em um dos maiores portos de navegação do mundo! Porto este que, quando saísse, daria de cara para uma praia lotada, bem típico do verão em Slateport, desnecessariamente quente, lotado de gente, mar calmo e seguro, praia lotada com os mais variados tipos de gente e, por fim, repleto de vendedores ambulantes das mais diversas coisas; desde picolés e sorvetes, até acessórios artesanais e místicos.

Por ser uma das últimas embarcações, Giovanni não sofrera com o mal que os migrantes sofreram tanto; não precisou enfrentar filas e filas de imigração e alfandega, apenas passara rapidamente pelas cabines de checagem e estava livre para fazer o que bem quisesse, tendo como opção a tão badalada praia, e a cidade cinza que, sem dúvidas, poderia mudar de cor a qualquer momento.

OFF: Hey Yukits! Serei sua nova narradora e... bem... não sei se se lembra de mim, mas eu sou a Anny do Alice Game hehehe É legal ver você por aqui ♥ Ah sim! Só pra lembrar você, é importante colocar a hora, ou ao menos uma estimativa de horário, no início da página, isso pode alterar muito o plot. Eu esqueço sempre, é super comum esquecer, mas só comentando porque isso é bom pra ti, pra o narrador não te colocar em alguns lugares a noite sendo que você não quer.

Andar por toda a extensão daquela plataforma fizera Giovanni sair direto na área urbana; evitar a praia foi uma tarefa mais fácil que provavelmente pensara, ele só precisou, literalmente, seguir as placas.
Agora, já do lado de fora do enorme estabelecimento de imigração, o treinador se encontrava bem no fim de um bairro residencial de classe média, caracterizado pelos prédios medianos e casas previamente projetadas, uma raríssima exceção. Morar em frente a praia sempre fora um privilégio apenas dos ricos, mas porque não era a ocasião? Uma área tão próxima ao porto ganhava uma desvalorização especial; poluição diária - sonora e marinha -, vida marítima insustentável, trânsito contante e sossego inexistente eram problemas bastante decorrentes daquele litoral em específico. E problema bem delimitado! Porque, se olhasse mais para esquerda, já encontraria prédios muito mais altos e "chiques" que, como em toda região litorânea, extrapolava o limite de altura permitido pelo governo. Oh deus, mas isso realmente importa? Acho que para o momento, não, mas o homem ao lado de Giovanni parecia discordar veemente de mim:


- Isso é um absurdo - Resmungou o senhor que caminhava lado a lado com o treinador desde que saíra do barco - Agora com o finzinho da tarde, melhor horário para tomar sol, não se consegue! Esses prédios imensos ficam escurecendo a praia plena quatro horas da tarde - Finalizou, bastante frustrado.
E com essa deixa, o homem zangado bateu o pé, virou ao protagonista da história e, como quem já havia desistido da sociedade, lhe disse com tom mais brando:
- Quando crescer, não faça burrices como essas, ta bom, garoto? - Perguntou, de forma retórica - Infelizmente o futuro ta nas mãos só de vocês.

Não era muito possível identificar, com cem porcento de certeza, quais eram as verdadeiras intenções do homem ao falar isso; podia sim ter soado ofensivo, mas talvez ele não queria dizer desta forma; ainda assim, o senhor, já grisalho e corcunda, não parecia se importar tanto com o quão rabugento pareceu ser, ao invés disso, apenas olhou a frente novamente, como quem aguardava uma resposta, por mais que não necessitasse - e nem houvesse pedido - uma.

Com uma risada pausada e tossida, o velho respondeu o contato visual do rapaz, agora sim Giovanni podia reparar nos detalhes de sua face amoada. Suas rugas datavam de setenta anos ou mais, seu olho azul claro e pele branquíssima marcavam um estereótipo já passivos de pré-conceitos, sua baixa estatura somava-se a corcova e reclinavam ainda mais o homem, que agora, parecia mal ter um e sessenta. Por fim, os traços menos marcantes completavam o conjunto senil; boca carnuda, nariz já grande, porém não tão grande para a idade, boné de propaganda, blusa de botões amarrotadas e bermuda larga de brim xadrez. Este era o senhor esmiuçado que, com leve sobrepeso, botava o pé por aquela calçada acinzentada.
- Eu nasci aqui, meu rapaz - Informou - E a cinquenta anos não voltava. Minha juventude foi nessas praias, agora já não sei mais se consigo aproveitar mais.

Era agora que o velhavo tirava sua bengala das costas, guardada em um lugar estratégico que não permitia nem visualização de outros, como também a manipulação fácil do objeto, posicionou-a fortemente no degrau mais baixo, pressionou-a para conseguir atrito e, enfim, desceu o primeiro pé; levara uma pausa grande para repetir o ato e descer o segundo:
- Quer tomar uma breja? Tenho um velho conhecido por aqui - Convidou, como quem não tinha quem chamar - Se ele ainda estiver de pé, é claro - Comentou isto sem aparentar a tristeza e melancolia da frase presentes na frase, com um tom cômico e habitual, provavelmente para não assustar o rapaz.

De todo, o homem sem nome era bastante melancólico e carente, e estava na idade disso! Poucas pessoas procuram pensar nisso, mas a idade chega com perdas, balanços e regressões, e todos estes problemas causam um embate afetivo tremendo; uma carência ali, uma baixa-estima acolá, estes eram ingredientes primordiais para montar o astral de uma pessoa que, pela lei, já podia se auto-intitular idosa.

O homem então abre um belo sorriso ao meio da melancolia; não esperava que o jovem aceitasse o convite, e muito menos que teria alguém para conversar por algumas horas a partir dali. Quem diria que o puxar de assunto tímido resultaria em um dia inteiro com companhia. O homem então, meio nervoso, disse ao rapaz:
- Não sei o que fazer depois que as pessoas aceitam. Acho que nunca passei dessa parte - Informou, rindo da própria tristeza, retornando a melancolia a tona - Vamos lá então, o bar não é o melhor mas, se me lembro bem, é bem aconchegante.

Com a deixa dada, o homem caminhou trêmulo pela rua deserta, como quem sabia o lugar de cor; em sua velocidade prosseguiu reto, depois virou a esquerda e, então, atravessou a faixa de pedestres e entrou numa rua diagonal. Era ali que ficava o bar? Infelizmente não. Aquele lugar fora só o lugar onde o velho decidira parar de descansar um pouco da caminhada. Sentar num banco público, olhar a feição do rapaz e lhe perguntar, como quem achava ter caducado:
- Qual seu nome mesmo?

OFF: Perdão pela demora, a semana ta complexa ):

Ainda como um observador participante, o senil homem direcionava o olhar a Giovanni como quem se interessava por cada palavra dita pelo rapaz; fora com esse mesmo olhar que respondeu e menino:
- Prazer! O meu é Danilo - Se apresentou - O bar é logo ali, pode ficar tranquilo.

Como quem sofria de fraqueja constante, o recém nomeado Danilo apoiou as mãos no joelho e se ergueu, tentando ignorar a corcunda e ficar o mais reto possível, o que era uma missão bastante complicada. Depois de tanto se esticar, virou a primeira esquerda e encontrou uma rua de bares, todos lindos, bem decorados e, ao que parecia, caros; não o do homem senil. Nesta hora o senhor já apressava o passo para chegar, seja por ansiedade ou para se esconder do sol, logo chegou ao único estabelecimento aberto de tarde, um boteco bastante mixuruca; um bar de esquina, inclusive era este seu nome.
Mostrando querer ser notado, gritou assim que pisou na porta, sem muita etiqueta; querendo chamar o máximo de atenção que pudesse:
- Cheguei nessa parada - Tentou trazer a juventude a tona - Cadê Renan? Cadê esse meu menino.

Era óbvio que ninguém entenderia nada; um velho, beirando a caduquice, chegar em um bar berrando pelo dono, sem ninguém ao menos conhecê-lo, parecia uma cena bem pouco comum, ainda assim, o funcionário mais próximo da porta fora chamar o tal do Renan, que não parecia estar longe.

OFF: Agora meu horário normalizou