C
om o rosto para fora da janela do quarto que eu havia conseguido, eu observava a pequena cidade lentamente expandir-se no horizonte. Os meus cabelos balançavam conforme o vento violento batia contra meu rosto, era um pouco desconfortável, mas eu estava empolgado demais para simplesmente não aproveitar tudo que dessa viagem. O barco que eu havia pegado uma carona era bem pequeno, possuía alguns quartos para os poucos viajantes e com poucos trocados eu consegui uma passagem de última hora, acreditava que eu havia pego uma boa quantia em dinheiro para viver os primeiros dias na minha nova vida. Em uma das minhas mãos, uma Pokébola e na outra, um aparelho avermelhado que fora apresentado para mim como Pokédex. Tecnologia era algo bem escasso dentro da nossa casa, então tinha receio em não saber como manusear aquilo.Quando embarquei, não fazia a mínima ideia de que horas eram. Apenas sabia que a lua estava linda naquele dia, em seu auge, brilhando naquele tom prateado pálido, era uma noite estrelada e perfeita para uma nova página na vida. Grande parte dos tripulantes já encontravam-se em seus devidos quartos e enquanto eu esperava o retorno de um dos funcionários com futura notícia que ele teria arranjado um quarto para mim, esperei paciente debruçando-me no convés e observando o céu. Talvez se eu tivesse notado a aproximação daquela mulher, eu não teria tido aquela conversa problemática.
"Você não vai sentir falta de casa?" Aquela pergunta ecoava na minha cabeça. A jovem mulher era uma simples cientista, dizia que era uma das ajudantes de um certo professor. Como ela sabia que eu havia saído de casa? Mantive-me quieto, apenas ouvindo atentamente o que ela tinha para falar. Eu apenas queria sair dali, mas a curiosidade para saber como ela sabia daquilo me mantinha enraizado ali. "Fugir nem sempre será a solução de tudo, Nathan." Naquele momento apenas senti um calafrio. Assim que olhei para o lado, a mulher já não estava mais lá. Invés disso, no chão do convés encontrava-se uma pequena caixa ornamentada com uma fita avermelhada, na qual guardava a misteriosa Pokébola, a Pokédex e um bilhete assinado por um tal de Birch. O bilhete dizia claramente para eu libertar meu Pokémon apenas quando eu estivesse em terra firme, então prossegui o resto da viagem curioso. Volta e meia e eu me pegava ponderando sobre se aquela mulher era realmente real ou havia sido apenas uma ilusão feita pela minha mente conturbada. Vai saber.
Pelo resto da viagem, eu nunca mais vi aquela mulher a bordo.
Era por volta do meio dia quando o barco chegou a cidade de Slateport. A maresia enchia os meus pulmões com uma sensação de alegria, liberdade e extrema confusão, era realmente empolgante estar ali. As pessoas saíam com presa do barco, enquanto eu só observava a belíssima paisagem. Era realmente... indescritível.
Estava longe de casa e sem nenhum plano de retorno, afinal, mesmo se quisesse voltar eu não poderia retornar. O cais da cidade estava superlotado, me lembrava das grandes festas que aconteciam no salão da mansão da família. Com passos lentos e reservados, caminhei dentre as pessoas e tentava não ser notado. Sem planos, sem nenhum contato e sem nenhuma perspectiva de vida, embarquei nessa louca viagem para cá sem ao menos saber para onde viria. Hoenn, era o que o meu mapa constava. Acho que depois de tantos anos, eu pela primeira vez consegui esboçar um leve sorriso em meu rosto.