Oldale City - I need a friend

A equipe do treinador logo era separada para fazer uma perseguição ao roedor, enquanto Houn e Heli voltavam para suas Poké Ball, na intenção de serem poupadas de esforço físico desnecessário, Tai guiava o seu treinador até o Pikachu, que se movia tão rápido quando a Flying Type.

Entretanto, para a surpresa de Ethan e sua Taillow, a decoração atual da cidade não colaborava nem um pouco nessa busca pelo Pikachu desaparecido. Abóboras entalhadas, bruxas e outras figuras monstrengas de enfeite, além de ter várias pinturas e objetos remetendo o cenário de filme de terror espalhados pelos quarteirões, como árvores sem folhas e de aparência duvidosa, pedras ensanguentadas e outras coisas do tipo.

Não havia escolha para a dupla a não ser continuar pelo solo, onde as pegadas do elétrico marcavam melhor a sua trajetória. Porém elas os levaram para uma casa toda destruída, havia musgo crescendo nas paredes, a tintura estava velha, algumas telhas faltavam e todas as plantas crescendo ao redor da construção estavam secas, apesar de tocarem o solo úmido, e havia sangue seco nos espinhos delas.

Na entrada da casa, a porta permanecia com um aviso, que precisava da aproximação de Ethan para ser lido, logo após duas roseiras secas, com duas pálidas flores manchadas em sangue seco. Qualquer um já teria metido o pé dali, mas Tai obrigava o seu treinador à chegar perto da placa, uma vez que ela estava curiosa e as pegadas do roedor acabavam exatamente ali.  

Com a aproximação de Ethan, as letras que estavam na placa começaram a ficar mais nítidas, talvez essa fosse a melhor opção no momento, ver o que estava escrito sem se envolver demais com a construção... Pelo menos era, antes do rapaz conseguir decifra-la.

Em sangue seco a seguinte frase estava escrita na madeira da porta: “Parabéns... Você foi amaldiçoado... Com amor,  Desgraçada...”. Aquilo podia ser só uma brincadeira de Halloween, certo? Mesmo que fosse de mal gosto... A casa inteira deveria ser apenas uma atração criada por adolescentes irritados com as próprias vidas ou pessoas com gostos duvidosos, verdadeiros apreciadores da aflição alheia...

Mas infelizmente o lado negro do Dia de Todos os Santos se revelava para Ethan e da maneira menos cristã possível... Com uma entidade lhe desejando, com o maior carinho possível, a sua desgraça eterna...

- Olá... Seja muito bem vindo ao seu fim... Serei a sua anfitriã nessa adorável passagem para o inferno... – Uma voz de mulher sussurrou no ouvido esquerdo do rapaz, manifestando as falas roucas em cada um de forma alternada. – Você também quer ver o espelho..?

Ethan olhou ao seu redor e percebeu que não estava mais na frente da casa, mas em um quarto escuro com uma mulher penteando os seus cabelos de costas para um espelho de parede. Como ele havia parado ali?

As perguntas de Ethan só deixaram a mulher com ainda mais angústia, o que se refletiu na velocidade em que ela penteava o cabelo, que aumentava cada vez mais. Era possível escutar o barulho que as cerdas da escova faziam ao passarem entre os fios pretos e longos da assombração.

- É sempre assim... Quem é você... Por que está fazendo isso... Cadê o Pikachu... – A voz da mulher estava carregada de ódio e desgosto marcando cada palavra pronunciada, ela incluiu um belo palavrão no meio da última sentença. – Vamos por partes... Queridinho...

Uma cadeira surgia atrás do jovem, o empurrando com força para o assento e o prendendo com uma força sobrenatural invisível. Taillow ficava encolhida no colo do rapaz, sem saber o que poderia fazer para ajudar.

- Eu sou A Desgraçada da Escuridão... Prazer em amaldiçoar você... – Ela tentou esboçar um sorriso, mas o resultado era tão medonho que acabou desistindo da ideia. – Fui condenada à dor e a solidão eterna, então eu trago algumas visitinhas ao meu mundo... Antes de manda-los para o próprio sofrimento infinito... Não me preocuparia com um roedorzinho na sua situação...

Bom, eu vou ficar esse final de semana fora de casa, então só voltarei na Segunda, caso você poste até lá e não receba o reply, já sabe o motivo.

Um brilho malicioso surgia no olhar da jovem, tapado pelos cabelos longos e negros, um sorriso menos medonho tomava forma nos seus lábios pálidos e sem vida.

- Por que as pessoas morrem por motivos não naturais? Por que umas são mais privilegiadas do que outras? – Começou usando uma voz sádica, divertindo-se com a agonia do rapaz. – Por que outras não conseguem nada além da miséria, mesmo se esforçando tanto? Por que você passou nessa calçada e leu a minha maldição? – O sorriso da criatura ficou maior, fazendo um filete de sangue escorrer pelo canto esquerdo do lábio. – Porque a desgraça existe... E ela chega para todos, só que você... Meu amiguinho... Ganhou na Roleta Russa da Miséria!!!

Um clarão cegava Tai e seu treinador momentaneamente e quando eles recuperavam o sentido viam uma drástica alteração do lugar, eles estavam no centro de um círculo e o desenho dele era feito por um fogo macabro e azul. A risada endiabrada da mulher podia ser ouvida por Ethan, e o seu rosto medonho aparecia no alto, apagando uma vela que ganhava vida própria, sugando a própria existência da criatura para isso.

A tentativa de consolar Tai fazia a assombração, que ainda se manifestava na sala, soltar uma risada grossa, claramente aquela mulher não estava sozinha, e endiabrada.

- Prazer, Nada!! – A voz saia da vela, identificada como um Litwick pela Poké Dex.  

Labaredas se formavam ao redor da fantasma, prontas para queimar tudo o que tocasse. Com um simples movimento, um sopro, elas eram lançadas na direção da Taillow e de seu treinador. A sorte da dupla era que a andorinha fazia penas surgirem na frente de ambos, que levavam o movimento em seu lugar, apesar de tornar as chamas do círculo ainda mais selvagens.

- Vocês querem tanto viver..., mas vão ter que apagar essa chama e fazer a troca... Uma desgraça por outra!!