O insistente "tic-tac" do relógio era o único som que ecoava no quarto, anunciando sofregamente a passagem do tempo. Para Evelyn, nunca antes uma noite tinha sido tão longa. A menina rolava de um lado para o outro da cama, tentando inutilmente achar uma posição mais confortável, enquanto a pressão e a insegurança acerca do dia seguinte arrancavam-lhe todas as chances de ter uma boa noite de sono.
Seria mesmo aquela uma boa ideia? Nunca antes Evelyn tinha estado tão longe de casa. Por anos, todo o seu mundo resumira-se em um quarto. Agora, após tanto tempo, ter a chance de expandi-lo, torná-lo maior do que ela jamais pensaria ser possível... era tão assustador quanto desejável.
Por fim desistiu de dormir e levantou-se, decidindo dar uma volta pelo cômodo. Ao lado, seu melhor e único amigo, Cubone, dormia tranquilamente em cima de alguns travesseiros e cobertas que Evelyn ajeitara, formando uma cama improvisada. Ela não se importaria em dividir sua própria cama com o pequeno, havia espaço mais que suficiente para os dois. No entanto, o Pokémon ground sabia que não era uma alternativa segura: sua dona se mexia tanto durante o sono que acabava empurrando-o no chão por acidente.
Evelyn caminhou até a escrivaninha, onde estava cuidadosamente guardada a case do seu violino. Abriu-a e pegou o instrumento, deixando o arco intocado - não poderia usá-lo sem acordar Cubone - e voltando para a cama. Sentou-se no colchão e passou a "beliscar" as cordas do violino, técnica conhecida como pizzicato.
Seus dedos sabiam onde e quando deveriam estar, de forma que a escuridão não lhe atrapalhou em nada. Aos poucos, as notas doces de Greensleeves tomaram conta do ambiente, acalmando a mente e o coração da menina.
- Bone.... - Ouviu uma voz sonolenta pronunciar. Cubone subiu na cama da jovem Lancaster, esfregando seus olhinhos e bocejando audivelmente.
- Desculpe, Cubone... eu te acordei? - Perguntou enquanto estendia a mão para acariciar a cabeça do menor. Mesmo que esta fosse coberta por um duro crânio, o monstrinho sempre agia como se conseguisse sentir o toque.
Ele negou, embora essa obviamente fosse a verdade. O pequeno ser do tipo ground sabia que Evelyn dificilmente tocava no meio da madrugada, principalmente quando alguém estava dormindo por perto. Então, aquilo só poderia significar que ela estava nervosa demais para dormir, e a música era uma das únicas formas que tinha de se acalmar.
- Sabe... eu sei que foi escolha minha... que eu queria muito isso e pedi muito para ter essa chance, por anos e anos... - Começou a humana, guardando seu querido violino antes de abraçar seus próprios joelhos. - Mas, agora que estou tão perto de alcançar... por que o mundo começou a parecer tão grande e assustador? Eu tenho medo do que pode acontecer... os livros sempre acabam bem, mas... não estamos em um livro, não é? E os jornais mostram tantas coisas horríveis acontecendo todos os dias... eu não sei se posso lidar com tudo isso sozinha...
Naquele momento, a pequena Lancaster parecia ainda menor do que de costume, ainda mais frágil. Mais do que nunca, Cubone quis protegê-la. Ele abraçou a menina, sua mãozinha acariciando com gentileza cabelos loiros da humana.
- Cubone, bone! - Proclamou, em um tom de indignação fingida. Evelyn não estava sozinha. Ele iria cuidar dela, mesmo que custasse sua própria vida... afinal, fora aquela menina que o salvara de si mesmo, e Cubone nunca poderia agradecer o suficiente por isso.
- Obrigada... - Sussurrou, aconchegando o pequeno em seus braços e finalmente caindo no sono.
O sol já estava alto quando Evelyn acordou. A primeira coisa que a menina notou foi que o pobre Cubone estava dormindo no chão - provavelmente fora empurrado para lá durante a noite. Ela colocou-o de volta na cama, com cuidado para não acordá-lo, e saiu do quarto. Aquele seria um grande dia, e o monstrinho de bolso precisaria estar descansado e pronto para tudo.
A humana fez sua higiene pessoal e arrumou-se dentro de vinte minutos, um novo recorde que provavelmente era culpa da água gelada. Quando estava na sua casa em Johto, a água aquecida da banheira era tão agradável que Evelyn precisava de muita força de vontade para não passar o dia inteiro lá. Uma vez pronta, arrumou os poucos pertences que trouxera para Hoenn - o máximo que ela conseguiu fazer caber dentro de uma mochila, além do seu violino - e desceu as escadas, sabia que o café da manhã já devia estar frio.
- Boa tarde, senhorita Lancaster. - Sorriu Maria, a dona da casa onde Evelyn passara os últimos dias hospedada. Ela era uma antiga conhecida dos pais da menina e devia muitos favores aos mesmos, portanto não pôde se recusar a acolher a menina por alguns dias.
- Bom dia, Maria... já está tão tarde assim? - Perguntou, surpresa, enquanto brincava um pouco com Lina, a Delcatty de estimação da casa.
- Creio que já beirem as duas da tarde, senhorita. - A resposta fez a humana mais nova arregalar os olhos. Não esperava que já fosse tão tarde... ela teria que se apressar, ou então precisaria esperar outro torturante dia antes de enfim iniciar sua jornada pela região de Hoenn. E, honestamente, passar outra noite em claro pelas preocupações não estava nos seus planos... seria melhor sair rápido, enquanto ainda tinha coragem.
Maria rapidamente preparou uma refeição para Evelyn e levou uma tigela de ração para Cubone, que ainda estava no quarto. A menina comeu o mais rápido que pôde, seus olhos fixos no relógio de bolso que a mais velha deixara sobre a mesa. Entretanto, antes que ela chegasse sequer na metade do prato, Cubone desceu as escadas, já alimentado e pronto para partir. Ao ver que sua dona ainda não estava preparada, começou a bater seu osso no chão como forma de apressá-la, ele sabia o quanto a menina era lerda para comer e não queria ficar lá o dia todo.
- Antes que eu me esqueça, senhorita... seus pais lhe mandaram este pacote. - A mulher exibiu para a menina a encomenda em questão e, após receber um aceno de confirmação, abriu-o. Dentro dele, estavam cinco esferas bicolores, um frasco roxo, um evelope e uma máquina portátil cuja coloração apresentava tanto preto quanto rosa. - No bilhete, diz que esta máquina é uma Pokedex, e que é um aparelho indispensável para qualquer um que viaje na companhia de um Pokémon. Além dela, há cinco Pokébolas. Como você possui um Cubone, creio que saiba qual a funcionalidade delas. Por fim, também há uma Potion, que pode lhe ajudar caso seu Cubone se machuque na viagem, e um envelope com algum dinheiro. Devo lhe dizer que nunca segurei tanto dinheiro na vida quanto neste momento...
Aquela longa explicação levou tempo suficiente para que Evelyn terminasse de comer. Ela agradeceu a Maria por sua ajuda e hospitalidade, e, após escovar os dentes, enfim viu-se pronta para sair. Abraçou Delcatty e despediu-se da mulher mais velha.
- Ei, Cubone... - Quando já estavam na saída da casa, Evelyn parou de andar. O pequenino olhou para ela, preocupado e confuso, porém foi recebido com um sorriso confiante. - Hoje, o meu mundo cresceu de novo. Agora ele é grande demais para mim... mas com certeza não é grande demais para nós dois. Vamos dar o nosso melhor, como sempre, não é?
- Cubone! - Assentiu o menor, retribuindo o sorriso. Nunca antes as ruas da pequena Littleroot Town haviam parecido tão convidativas... quais descobertas e aventuras aquele vilarejo tinha a oferecer? Eles ainda não sabiam, mas iriam descobrir. Ah, e como iriam...
Seria mesmo aquela uma boa ideia? Nunca antes Evelyn tinha estado tão longe de casa. Por anos, todo o seu mundo resumira-se em um quarto. Agora, após tanto tempo, ter a chance de expandi-lo, torná-lo maior do que ela jamais pensaria ser possível... era tão assustador quanto desejável.
Por fim desistiu de dormir e levantou-se, decidindo dar uma volta pelo cômodo. Ao lado, seu melhor e único amigo, Cubone, dormia tranquilamente em cima de alguns travesseiros e cobertas que Evelyn ajeitara, formando uma cama improvisada. Ela não se importaria em dividir sua própria cama com o pequeno, havia espaço mais que suficiente para os dois. No entanto, o Pokémon ground sabia que não era uma alternativa segura: sua dona se mexia tanto durante o sono que acabava empurrando-o no chão por acidente.
Evelyn caminhou até a escrivaninha, onde estava cuidadosamente guardada a case do seu violino. Abriu-a e pegou o instrumento, deixando o arco intocado - não poderia usá-lo sem acordar Cubone - e voltando para a cama. Sentou-se no colchão e passou a "beliscar" as cordas do violino, técnica conhecida como pizzicato.
Seus dedos sabiam onde e quando deveriam estar, de forma que a escuridão não lhe atrapalhou em nada. Aos poucos, as notas doces de Greensleeves tomaram conta do ambiente, acalmando a mente e o coração da menina.
- Bone.... - Ouviu uma voz sonolenta pronunciar. Cubone subiu na cama da jovem Lancaster, esfregando seus olhinhos e bocejando audivelmente.
- Desculpe, Cubone... eu te acordei? - Perguntou enquanto estendia a mão para acariciar a cabeça do menor. Mesmo que esta fosse coberta por um duro crânio, o monstrinho sempre agia como se conseguisse sentir o toque.
Ele negou, embora essa obviamente fosse a verdade. O pequeno ser do tipo ground sabia que Evelyn dificilmente tocava no meio da madrugada, principalmente quando alguém estava dormindo por perto. Então, aquilo só poderia significar que ela estava nervosa demais para dormir, e a música era uma das únicas formas que tinha de se acalmar.
- Sabe... eu sei que foi escolha minha... que eu queria muito isso e pedi muito para ter essa chance, por anos e anos... - Começou a humana, guardando seu querido violino antes de abraçar seus próprios joelhos. - Mas, agora que estou tão perto de alcançar... por que o mundo começou a parecer tão grande e assustador? Eu tenho medo do que pode acontecer... os livros sempre acabam bem, mas... não estamos em um livro, não é? E os jornais mostram tantas coisas horríveis acontecendo todos os dias... eu não sei se posso lidar com tudo isso sozinha...
Naquele momento, a pequena Lancaster parecia ainda menor do que de costume, ainda mais frágil. Mais do que nunca, Cubone quis protegê-la. Ele abraçou a menina, sua mãozinha acariciando com gentileza cabelos loiros da humana.
- Cubone, bone! - Proclamou, em um tom de indignação fingida. Evelyn não estava sozinha. Ele iria cuidar dela, mesmo que custasse sua própria vida... afinal, fora aquela menina que o salvara de si mesmo, e Cubone nunca poderia agradecer o suficiente por isso.
- Obrigada... - Sussurrou, aconchegando o pequeno em seus braços e finalmente caindo no sono.
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O sol já estava alto quando Evelyn acordou. A primeira coisa que a menina notou foi que o pobre Cubone estava dormindo no chão - provavelmente fora empurrado para lá durante a noite. Ela colocou-o de volta na cama, com cuidado para não acordá-lo, e saiu do quarto. Aquele seria um grande dia, e o monstrinho de bolso precisaria estar descansado e pronto para tudo.
A humana fez sua higiene pessoal e arrumou-se dentro de vinte minutos, um novo recorde que provavelmente era culpa da água gelada. Quando estava na sua casa em Johto, a água aquecida da banheira era tão agradável que Evelyn precisava de muita força de vontade para não passar o dia inteiro lá. Uma vez pronta, arrumou os poucos pertences que trouxera para Hoenn - o máximo que ela conseguiu fazer caber dentro de uma mochila, além do seu violino - e desceu as escadas, sabia que o café da manhã já devia estar frio.
- Boa tarde, senhorita Lancaster. - Sorriu Maria, a dona da casa onde Evelyn passara os últimos dias hospedada. Ela era uma antiga conhecida dos pais da menina e devia muitos favores aos mesmos, portanto não pôde se recusar a acolher a menina por alguns dias.
- Bom dia, Maria... já está tão tarde assim? - Perguntou, surpresa, enquanto brincava um pouco com Lina, a Delcatty de estimação da casa.
- Creio que já beirem as duas da tarde, senhorita. - A resposta fez a humana mais nova arregalar os olhos. Não esperava que já fosse tão tarde... ela teria que se apressar, ou então precisaria esperar outro torturante dia antes de enfim iniciar sua jornada pela região de Hoenn. E, honestamente, passar outra noite em claro pelas preocupações não estava nos seus planos... seria melhor sair rápido, enquanto ainda tinha coragem.
Maria rapidamente preparou uma refeição para Evelyn e levou uma tigela de ração para Cubone, que ainda estava no quarto. A menina comeu o mais rápido que pôde, seus olhos fixos no relógio de bolso que a mais velha deixara sobre a mesa. Entretanto, antes que ela chegasse sequer na metade do prato, Cubone desceu as escadas, já alimentado e pronto para partir. Ao ver que sua dona ainda não estava preparada, começou a bater seu osso no chão como forma de apressá-la, ele sabia o quanto a menina era lerda para comer e não queria ficar lá o dia todo.
- Antes que eu me esqueça, senhorita... seus pais lhe mandaram este pacote. - A mulher exibiu para a menina a encomenda em questão e, após receber um aceno de confirmação, abriu-o. Dentro dele, estavam cinco esferas bicolores, um frasco roxo, um evelope e uma máquina portátil cuja coloração apresentava tanto preto quanto rosa. - No bilhete, diz que esta máquina é uma Pokedex, e que é um aparelho indispensável para qualquer um que viaje na companhia de um Pokémon. Além dela, há cinco Pokébolas. Como você possui um Cubone, creio que saiba qual a funcionalidade delas. Por fim, também há uma Potion, que pode lhe ajudar caso seu Cubone se machuque na viagem, e um envelope com algum dinheiro. Devo lhe dizer que nunca segurei tanto dinheiro na vida quanto neste momento...
Aquela longa explicação levou tempo suficiente para que Evelyn terminasse de comer. Ela agradeceu a Maria por sua ajuda e hospitalidade, e, após escovar os dentes, enfim viu-se pronta para sair. Abraçou Delcatty e despediu-se da mulher mais velha.
- Ei, Cubone... - Quando já estavam na saída da casa, Evelyn parou de andar. O pequenino olhou para ela, preocupado e confuso, porém foi recebido com um sorriso confiante. - Hoje, o meu mundo cresceu de novo. Agora ele é grande demais para mim... mas com certeza não é grande demais para nós dois. Vamos dar o nosso melhor, como sempre, não é?
- Cubone! - Assentiu o menor, retribuindo o sorriso. Nunca antes as ruas da pequena Littleroot Town haviam parecido tão convidativas... quais descobertas e aventuras aquele vilarejo tinha a oferecer? Eles ainda não sabiam, mas iriam descobrir. Ah, e como iriam...