01-Decolagem

Bico e Plumas

Luke podia sentir os novos ares de uma aventura chegando. Era tudo bem novo para o rapaz, exceto seu amor pelos pokémon voadores. E por falar neles, o Monotreinador contava com a companhia de seu mais novo amigo Oricorio, o pássaro roxo altamente adaptável, que ouviu toda a primeira conversa de Luke interagindo como treinador: sobre ter sido o último presente de sua falecida avó, sobre serem uma dupla, terem que trabalhar juntos e tudo mais. O Pokémon não entendia muito bem estes conceitos, mas acabou aceitando Luke como seu treinador e voou até o ombro do garoto, que agora era a pessoa mais próxima dele, e se aplumou. Os dois juntos, esbanjando confiança, deram seu primeiro passo na Rota 120, preparados para tudo. Ou quase tudo...

Não foram necessários mais do que dez minutos andando pela nova rota úmida e recheada de vida selvagem mais ao sudeste da cidade para a dupla sentir uma mudança brusca de temperatura. O Sol ameno se tornou inexistente e rápidas nuvens passaram pelo céu, em seu engraçado desfile rodopiante. Com elas veio uma veloz chuva de gotas finíssimas e geladas, que pareciam agulhas tocando contra a pele. Talvez essa sensação não fosse tão incômoda para Luke, mas certamente Oricorio não estava acostumado com algo tão gélido. O Pokémon Fantasma então abriu seu bico em um berro escandaloso, batendo suas asas de modo desajeitado até chegar em um galho, onde abraçou o corpo e ficou tremendo, protegido pela frondosa copa da árvore. Talvez o rapaz precisasse se aproximar e tentar resolver com calma essa situação.

Além da chuva inesperada, a Rota 120 guardava muitas outras surpresas para Luke e seu Oricorio. Era incrível o fluxo de treinadores que passavam pela rota voando em seus respectivos Pokémon. Essa era a principal forma de entrada e saída da cidade que ficava no alto das árvores mais elevadas. Entretanto, o Monotreinador ainda não podia se dar ao luxo do voo e precisaria ir andando aonde quer que fosse. A estrada era bastante deserta, com exceção dos Pokémon que espreitavam de moitas e galhos. Sabendo disso, Luke deveria decidir seguir pela trilha das pradarias ou se arriscaria a adentrar a mata mais densa. Isso é claro, depois de ajudar seu Pokémon ali na árvore próxima...   ◄

Bico e Plumas

Oricorio sentia muitas coisas novas nesse início de aventura, mas com certeza a melhor delas era o carinho todo especial de seu treinador. Sem se incomodar com a atitude estabanada e desesperada do Pokémon Pássaro, o rapaz se aproximou e ofereceu sua própria jaqueta como abrigo contra o frio e a chuva para seu companheiro. A empatia de Luke mostrava-se como um toque de heroísmo aos olhos de Oricorio, que agora certamente se empenharia mais e mais em dar o melhor de si na companhia de seu treinador. O Pokémon retribuiu o gesto de afeição com um abraço de suas quentes penas, enquanto fazia um som de satisfação — Corrrrriiiiii — E assim, os dois seguiram em meio a uma mata mais fechada, distanciando-se da trilha principal, buscando novas emoções e novos Pokémon.

A cobertura vegetal natural servia de um bom abrigo contra a chuva, com exceção de gotas bem eventuais que escorriam por largas folhas da mata e caiam pesadas sobre o corpo de cada um deles. O ponto onde Luke escolheu para entrar na floresta não era um dos mais abertos, o que dificultava a passagem, mas nada que fosse impossível, apenas bem desconfortável. Oricorio usava seu bico para tentar cortar cipós e galhos mais finos que surgiam pela frente, enquanto se empoleirava no ombro do treinador. Aos poucos a densidade das árvores ia sendo vencida e mais espaço eles tinham para se locomover. Em certo momento, a dupla alcançou uma clareira, com nenhuma árvore, mas uma grama razoavelmente alta, na altura da cintura de Luke.

Haviam três caminhos possíveis de se seguir, um deles descendo uma ladeira baixa e que não demonstrava ter nada de emocionante. Uma segunda mais à direita de onde um som de assobios e pios ecoava de forma muito intensa, algo como uma mistura de sons de várias espécies de pássaros. E por fim, uma última trilha de onde um zumbido baixinho vinha, alternado entre estalos característicos de um choro de Pokémon. Eram graves e de certa forma aterrorizantes. Por qual dos caminhos Luke resolveria seguir? ◄

Bico e Plumas

Luke e Oricorio apressaram-se em direção ao desconhecido, na opção da trifurcação que mais soava estranha aos ouvidos da dupla, afinal sons estranhos significavam geralmente Pokémon diferentes e raros. Na empolgação pela aventura, os dois não se importaram inicialmente em estar entrando na parte mais fechada e irregular da mata, mas logo notavam que haviam escolhido a direção mais difícil. A floresta era um emaranhado de diferentes tonalidades de verde, com pouca contribuição do marrom de vez em quando. Esperava-se que com o surgimento de qualquer Pokémon um pouco mais brilhante, sua presença fosse notada a uma distância considerável, mas não era o caso. Ou os Pokémon eram excelentes camufladores nesta rota ou simplesmente haviam sumido. De qualquer modo parecia valer a pena investigar.

— Cori! — Apontou mais ao alto o Pokémon pássaro com suas plumas diferenciadas para um canto da floresta entre um tronco velho, carcomido e desfolhado e uma árvore de larga espessura. Luke olhou para o local, mas não viu nada... Ao notar que seu treinador não havia conseguido enxergar a tal coisa, o Oricorio se desesperou em piar alto, agitando suas penas, enquanto ainda estava empoleirado no ombro do rapaz, como se dissesse "não estou louco!". Durante esse pequeno surto, foi o próprio Mono-treinador que avistara alguma coisa estranha, algo como um olhar penetrante vindo da copa de uma das árvores. Com um movimento veloz, o tal vulto observador desapareceu, sacudindo as folhas ao sumir. Era difícil dizer para onde ele foi, pois tudo aconteceu de repente. Seria este vulto o mesmo que Oricorio viu?

Enquanto Luke refletia sobre o que fazer, a dupla pode notar que o som exótico de outrora já havia sumido, mas não se sabe desde quanto. Possivelmente desde o escândalo feito por Oricorio. Por outro lado, o zumbido diferente havia dado lugar a um emaranhado de vozes abafadas pela densidade da floresta. Era possível saber da direção da qual elas vinham, inclusive saber que os donos delas estavam se movimentando. Contudo, as falas eram indescritíveis e nem ao menos era possível definir a quantidade ou gênero das pessoas que estavam ali. Luke novamente tinha três opções nas mãos. Investigar o local apontado por Oricorio, investigar o vulto visto por ele mesmo ou seguir na direção das vozes. O que o Mono-treinador faria?◄

Bico e Plumas

Apesar de ser um treinador que embrenhou-se na mata fechada com seu Oricorio pouco treinado, Luke até era um rapaz sensato e precavido em certos momentos. Assim que o Mono-treinador sentiu uma aproximação estranha de pessoas, resolveu movimentar-se adiante para evitar surpresas desagradáveis. Pessoas desconhecidas poderiam ser um sinal de perigo, já que nunca sabemos quem estará no meio de uma floresta tão densa com você, muito menos suas intenções. Pensando nisso, Luke aproveitou para seguir na direção que acreditava ter visto o vulto partir, assim tirava dois Bunnelby de combate com um Bonemerang só!

Oricorio e Luke caminharam mais alguns metros mata a dentro, até não conseguirem mais ouvir voz nenhuma. Felizmente essa parte da floresta era menos fechada e dava para caminhar com muito mais tranquilidade. Entretanto, a escuridão era mais intensa nessa parte da mata, pois as copas das árvores bastante carregadas, fechavam-se como um único telhado verde que praticamente era impermeável à chuva. E por falar em chuva, a tempestade parecia estar apertando lá fora, conforme trovões podiam ser ouvidos ecoando entre as árvores. Luke manteve-se atento, pois nessa pouca iluminação seria mais complicado ainda encontrar o tal vulto. Olhar para cima parecia uma boa ideia, pois a figura misteriosa estava escondida entre as folhagens e foi isso que Oricorio começou a fazer, às vezes apontando para qualquer coisa móvel, até mesmo uma folha solta e soando seu característico som de alerta.

As distrações eram diversas desde um som de trovão, passando pela pouca iluminação e pelas constantes interrupções do companheiro voador que o Mono-treinador acabou não vendo que esbarraria de frente com um garoto um pouco mais baixo que ele. O outro menino portava um chapéu de palha e carregava em mãos uma rede de pegar insetos. Logo que os dois sentiram o encontrão já era tarde demais para tomar alguma medida e simplesmente caíram no chão, cada um para um lado. O baixinho, indignado, começou a falar com bastante raiva — Não acredito! Ei! Até na floresta sou atropelado? Olha por onde anda! — E enquanto dizia, limpava a própria roupa, além de conferir a integridade de seus pertences. O rapaz parecia bastante irritado, talvez com algo que aconteceu antes mesmo do encontrão. Como Luke reagiria? ◄

Bico e Plumas

Mesmo com a atitude mal-educada do rapazinho e sabendo que o erro foi compartilhado pelos dois, Luke manteve a compostura e pediu desculpas por ter esbarrado no treinador. Isso fez com que o rapaz vestindo chapéu de palha aquebrantasse um pouco sua raiva, olhando por alguns segundos para o Mono-treinador com admiração e um pouco de vergonha. Entretanto, ao ver Oricorio sobrevoando os dois e entender que o pássaro pertencia a Luke, o garoto voltou a fechar a cara e recolher suas coisas espalhadas pelo chão, apoiando a rede no ombro

— Desculpas? Desculpas pelo que? Por roubar os insetos dos outros? Por atacar os meus amigos Pokémon por aí por pura diversão e só porque pode? — E pela primeira vez desde que se esbarraram, Luke podia notar que ele não parecia apenas raivoso, mas também magoado — Se você fosse um Mono-treinador inseto você certamente entenderia o quão ruim é morar uma cidade de pássaros — Completou o rapaz, começando a se afastar em direção ao meio da floresta... Oricorio parecia ter sentido pena do treinador, porque pousou no chão entre Luke e ele, fazendo um som triste, como se tentasse consolá-lo — Coriiii...iii...i — Entretanto, sem olhar para trás, o baixinho simplesmente começou a andar em passos mais pesados.

Enquanto os treinadores conversavam e interagiam, mesmo que de forma não tão agradável, um vulto percorria a copa das árvores sobre eles de forma rápida. Nem Oricorio, muito menos os treinadores notavam a sua aproximação, o que era perfeito para a figura misteriosa. Sua presença foi apenas notada quando ele resolveu parar para analisar o desfecho da situação entre Luke e o treinador. Ao mesmo tempo que o garoto baixinho saía de perto da dupla, Luke escutou algo se movimentando bem acima da sua cabeça. Possivelmente era a oportunidade perfeita para desmascarar o vulto. O que Luke faria? Deixaria o rapaz partir para revelar a identidade do vulto misterioso ou esperaria mais até desvendar os mistérios da floresta, tentando amenizar primeiro a situação com o garoto? ◄