FIM DO ATO 2
Com um sorriso bobo pela vitória, o jovem corria em alta velocidade para a porta, era uma puta chance para escapar e não poderia se dar o luxo de perder essa chance. Ao chegar em seu destino, ficava olhando de rabo de olho para dentro da porta, buscando pistas ou outros vestígios qualquer do que os aguarda. Afinal, estava curioso com o que poderia acontecer depois de passar por tantas dificuldades no atual ato. Sem encontrar nada sobre o que os aguardava, Tuco mudava suas atenções para seu parceiro que estava escolhendo qual dançaria iria os acompanhar, escolhendo a que tinha dado careta anteriormente. Com tudo pronto -ou quase tudo-, o rapaz que estava acompanhando nossos heróis voltava a apressar tudo e todos.
— Calma mermão, vou te dar um bagulho que tu vai ficar calminho. — Disse dando uns tapinhas no ombro do rapaz. Antes de todos adentrarem na porta, era possível se ouvir alguns desaforos por parte do falso apresentador.
— VAI PRO CARALHO VOCÊ TAMBÉM! — Gritou, dando o fim do segundo ato.
BASTIDORES
Aquela porta dava acesso a nada mais e nada menos que aos bastidores. Após um segundo ato conturbado e uma caminhada por aquele corredor, o grupo poderia finalmente desfrutar de uma pausa momentânea e aproveitar para relaxarem, podendo associar tudo que tinha acontecido até então.
Joe a primeira coisa que fazia era retirar sua peruca, deixando em uma mesinha próxima do mesmo. Era possível notar seus cabelos dreadlocks -que estavam presos- totalmente molhados, talvez pelo nervosismo de uma batalha acirrada e o medo de ficar preso para sempre no programa do Caldeirão do Huck, em um tanque cheio de Carvanhas. Mesmo sendo uma peça, o jovem estava realmente entrando no clima e no personagem; Achava aquilo tudo tão real, será que ainda era efeito daquele pó de procedência duvidosa que inalou anteriormente? Ou era esse sentimento que todos os melhores atores sentiam? Ficava se perguntando essas e outras perguntas a mais.
Seus pensamentos eram interrompidos por um rapaz com uma jarra de água, que estava servindo a todos. Sem titubear, Joe pegava um copo e aceitava a água oferecida. Antes de tomar a água, fazia um gesto de "número um" com as mãos, era seu jeito peculiar de pedir para que aquele cara esperasse um minuto e não fosse embora. Então com um longo gole, terminava de beber todo aquele copo e já estendia seu braço para pegar mais água. Afinal, precisava se hidratar depois de suar bastante durante a cena.
— Obrigado, jovem. — Agradeceu o bom trabalho do rapaz e saiu caminhando em direção de seu parceiro, Dominic.
— Maaaano... Que peça é essa? Se eu soubesse que era tão bom assim, tinha tentado a carreira de ator. — Disse, deixando o Tuco de lado e voltando a ser ele mesmo. Deu mais um gole em seu copo de agua e retornou a falar.
— Ou será que isso é exclusivo dessa pe...? — Era interrompido pela a voz do narrador, isso significava que o novo ato estava prestes a começar.
— Opa, deixa eu vestir minha peruca e já volto. — Nem esperou Dominic terminar de responder a nova pergunta e saiu correndo para pegar sua peruca de antes. Vestiu a mesma com auxilio de alguns profissionais dos bastidores e recebeu alguns retoques pontuais no figurino também, inclusive um pó de maquiagem.
O sinal tocava, era hora de voltar para as posições. O treinador retornava fazendo alguns alongamentos e espreguiçando partes do seu corpo, em alguns momentos também balançava sua cabeça para se certificar que sua peruca estava presa corretamente. Outro sinal tocava e as cortinas começavam a se reerguer lentamente, o ato três iria finalmente começar.
— Bora, Dominic! Bora, pessoal! Vamos fazer um bom trabalho aqui, sabemos que esse ato não será fácil. — Tentou passar uma confiança maior para seu parceiro e colegas de trabalho, no final de sua frase batia algumas palmas para "despertar" todos presente.
ATO 3
Por fim, o ultimo sinal e as cortinas subiam totalmente. Deu origem ao novo cenário, que era a entrada para uma casa. Uma casa bem luxuosa se vendo de fora, com tudo arrumado e decoração de bom gosto. Tuco só poderia está na Barra da Tijuca do Rio de Janeiro, uma área nobre com casas luxuosas e de gente poderosa envolvida. Por ser do subúrbio, aquela riqueza já começava a incomodar.
— Caralho, não tenho nem roupa para esse lugar. — Esbravejou.
Então a dançarina que acompanhava o grupo batia na porta e chamava a dona da casa. Era possível ouvir uma gritaria vindo de dentro da casa, alguns dizeres agressivos e outras ruins a mais; já dava para ter uma idéia do que os aguardavam.
A porta se abria e só era permitida a entrada de Tuco e Agostinho, talvez uma escolha a dedo. No topo da escada era possível notar a figura de uma mulher mais velha. A moça demonstrava que tinha classe, inclusive na sua fala. Tuco sabia que qualquer fala errada poderia significar o fracasso da missão e tentava logo de cara impressionar aquela mulher.
— Ora, ora... Que bela dama temos aqui. — Disse fazendo uma cara de galanteador e reparando na mulher da cabeça aos pés. Claramente usando as táticas de sedução de Agostinho no primeiro ato.
— Ralé? — Deu uma risada de deboche.
— Me chamo Artur Silva. Somos sócios de frotas de táxi, o subúrbio do Rio de Janeiro é todo dominado pelos nossos taxis. — Disse contando uma leve mentirinha, Tuco não era nada sócio da frota, apenas trabalhador comum. Porém precisava impressionar de algum jeito aquela mulher.
— Permita que meu sócio majoritário se apresente e te explique melhor sobre o nosso negócio. — Disse com um vocabulário rebuscado, devido a várias profissões e faculdades que passou na vida acabou desenvolvendo tal fala quando fosse necessária, sendo elas em apresentações ou entrevistas de emprego ou qualquer coisa de exímia importância.