#Extra [Teatro] - A Guerra de Naipes

   Saíra do Poké Center apressado, já que estava meio que atrasado para o evento, de acordo com seu Pokénav. Tinha agora em suas mãos a Poké Ball de Flabébé, lembrança de seu recente encontro com Matthew, o simpático treinador loiro. Trocara temporariamente o pokémon flor pelo róseo cachecol que Nise lhe dera, já que o loiro precisava de um, e recebera a pequena como garantia.
 Ren via o grande teatro ao longe, e se direcionou até o lugar, com certa pressa, logo entrando no edifício, após percorrer todo o caminho. Finalmente, após tanta especulação, ansiosidade e expectativa, ele chegara lá. Falando com um dos exaustos atendentes, que pareciam trabalhar incessavelmente, ele se informou rapidamente sobre onde deveria ir, como faria. Aparentemente, para a tristeza do garoto, as vagas para o modelo de constest já haviam acabado, então o garoto resolveu tomar o caminho de um treinador normal mesmo.
 Guiado por algumas placas até os vestiários, onde haveriam os figurinos e distribuição de papéis, Ren logo estava perdido por entre um mar de tecidos. Liberando seus pokémon, pediu ajuda para escolher o que vestir, assim como as vestimentas dos próprios monstrinhos. Todos se afastaram, procurando algo interessante para usar, inclusive a pequena Isis, e logo, todos se reuniram para mostrar seus achados.
 Hokori tinha em mãos espada e escudo, além de uma grande máscara cor-de-rosa. Encontrara um traje mais medieval, que deixava seu corpo mais esguio e alto, inclusive utilizando uma cinta apertando a barriga, mas não forte o suficiente para atrapalhar. Marill optara por algo mais simples, mas igualmente carismático, uma bela bandana vermelha em sua cabeça, reforçando o ideal "Girl Power" da ratinha. Flabébé havia encontrado pequenas flores que ornavam completamente com o visual natural do pokémon, e Zigzagoon... Bem, a listradinha não parecia muito animada com o evento, e havia encontrado algo para comer.
 Com isso, enquanto riam da pequenina de tipo normal, Ren procurava por seu próprio traje. Conseguira um que lembrava de uma côrte real, extravagante e belo, com um tom escuro de roxo, marcante e notável. O rapaz gostava daquilo. Vestindo a roupa, ele logo foi incomodado por Zigzagoon, que, inquieta, corria para lá e para cá atrás de comida, inclusive tendo algo branco e peludo na boca. Será que ela havia comido um pokémon?!!! Nah, era apenas uma peruca, que Ren, após limpar muito bem, colocou também, transformando completamente sua pessoa.
 Parecia que estavam todos prontos, inclusive a pequena listrada, que não estava disposta a participar, sendo então devolvida à Poké Ball e deixada aos cuidados da equipe de trabalho do teatro. Com isso, o garoto foi aos bastidores, procurando alguém para conversar com e discutir, ou apenas algo para passar o tempo. Quem saberia o que poderia encontrar?

     Após vaguear por aí um pouco, tendo acabado de se separar de Zigzagoon, que, nesta altura, já devia estar sedenta por comida, dando muito trabalho aos seus cuidadores, Ren descobriu que talvez não seria tão fácil entrar em uma peça. Aparentemente, estando tudo já muito encima da hora, a maioria dos diretores não procurava por atores “amadores”, e também que não se encaixavam nos roteiros.
  Hokori já estava super nervoso, com medo de que as coisas dessem errado. O pokémon estava tão ansioso para a situação quanto o seu treinador, uma vez que ambos adoravam coisas do tipo. Ele falava com outros monstrinhos que estavam por lá, procurando alguém que pudesse ajudá-los, mas normalmente era ignorado ou recebia um lamentável não. Dandara estava se alongando um pouco, não tão preocupada, mas à espera de uma boa batalha. Quanto à Ísis... Esta se mostrava meio tímida, ainda se adaptando com o novo e temporário treinador. Voava atrás do garoto e os demais pokémon dele, demorando um pouco para processar as informações.
  Ren era muito paciente com todos seus companheiros, inclusive com a atualmente deslocada Ísis, e tentava ao máximo fazê-la sentir-se confortável, e acreditava que, em breve, estaria ela se dando muito bem com todos. O rapaz, assim como o pokémon mímico, recebia vários “não”, ou então, nem ao menos recebia alguma atenção. Talvez o teatro não era para eles, e deveriam ter chegado mais cedo. Pensando em Nise, a garota que conhecera na Route 104, ele imaginava em como ela estaria se saindo. Bem, provavelmente, em contraste com ele.
  Por fim, com a ajuda da pequena florzinha, que flutuava, atenta, atrás do rapaz, Hokori encontrou alguém que parecia disposto a aceitar novas águas em sua peça. Atravessando o agitado amontoado de pessoas, que corriam para lá e para cá, organizando os preparativos finais, e conversando com o tal diretor rapidamente, o roteiro fora adaptado levemente, apenas para encaixar Ren e um outro garoto que também pretendia atuar. Terminado isso, o mono treinador fora guiado até o camarim destinado aos que encenariam.
 Chegando lá, Ren vira um manequim que vestia um grande armadura, tendo alguns pokémon a cercando. O garoto pulara, assustado, quando o suposto manequim se mexera e falara com os monstrinhos em seu redor. Era um ator, em uma fantasia muito bem elaborada. Com mais um susto, um jovem chegara, anunciando a entrega do roteiro, para que pudesse ser lido, mesmo que superficialmente, apenas para terem uma básica ideia.
  Com a ida desse terceiro, Ren e o de armadura estavam sós no lugar, em um silêncio mortal. Ren não gostava disso, e começou a falar, tentando eliminar sua ansiedade.

   — O-Olá! Eu sou Ren, de Petalburg. Você é o garoto que vai atuar comigo, aquele que também estava procurando uma peça que lhe aceitasse? Está uma correria lá fora, não é mesmo?! — ia dizendo, nervoso e sorridente, procurando interagir com o outro. — Mas você parece um pouco... “Não Garoto”...? Quantos anos tem? Fiz dezesseis ainda esse ano...

 Ren esperava por uma resposta, olhando simpaticamente para os três pequeninos e seu treinador. Hokori já tentava interagir com a elétrica, feliz por conhecer mais pessoas e pokémon, enquanto Dandara avaliava detalhadamente cada um. Ísis continuava a voar, tímida, em volta do treinador temporário, que parecia já ter conquistado certa confiança da florzinha. Após o bombardeio de perguntas e interações, aguardava-se algo proveniente do treinador em armadura.

   Ren ouvia aquilo que o garoto, Ryousuke, como havia se apresentado, compreensivo, já que ele mesmo estava passando por tão situação há não tão pouco tempo atrás. O de armadura parecia nervoso com a presença do garoto de olhos violáceos, como se não soubesse exatamente como interagir socialmente. Não que Ren fosse um expert no assunto, também.
  O mono treinador sorria com a inocência daquele que compartilhava o lugar, achando-o adorável. Era, realmente, um garoto, como pôde-se ver claramente quando este retirou o elmo. Mas as feições não pareciam combinar exatamente como o porte que ele parecia ter. Dezesseis anos? Já fazia algum tempo que Ren não encontrava alguém de sua idade, e ele tinha a impressão de que seria agradável interagir com Ryousuke.

 — Humm... Talvez seja a armadura, que lhe deixa um pouco mais alto e encorpado...? Enfim, pareces ser uma boa pessoa, e tenho certeza que será ótimo atuar com contigo! — dizia Ren, pensando no quão baixinho era, fazendo como se estivesse irritado, quando na verdade segurava um sorriso travesso. — Parece que nossos pokémon também estão se dando bem, não é?!

  Enquanto conversava com Ryou, o apelido que Ren perguntara se poderia utilizar, os monstrinhos interagiam também, com exceção à Ísis, que se mantinha tímida, à volta do treinador, ainda um pouco embarassado para com os demais tipo fada, inclusive. Mas, aparentemente, todos naquela sala sentiam-se nervosos e ansiosos para com a peça que estava para acontecer. Será que tudo correria bem, como o planejado?

   Ren sorria com o adorável garoto que o acompanhava. Realmente, ele era extremamente doce, e parecia estar descobrindo o mundo, embora muito mais intensamente que o próprio Ren. Tudo parecia ser uma grande caixinha de surpresas, para o, na visão de Ren, não tão pequeno Ryou.

   — Sim, pretendo improvisar também... Afinal, ninguém pode decorar isso em tão pouco tempo! E aliás, parece que entraremos em cena juntos, e atuaremos em conjunto na maior parte do tempo. — disse o que trajava as vestes roxas, arrumando sua peruca branca. Eles entrariam em cena quase que no meio da peça, após a encenação de vários eventos, e fariam um papel de suma relevância. O roteiro era um tanto quanto diferenciado, mas deveras interessante, e parecia ser repleto de ação, para o azar do quieto Ryousuke.

  Mais uma vez, o nervosismo era notado com enorme facilidade, de todos os oito presentes no cômodo. Mas Ren acreditava que tudo daria certo, e tentava transmitir seu otimismo. Os pokémon continuavam a brincar, alguns tentando não pensar naquilo que estava por vir, enquanto outros se corroíam, também muito ansiosos. Aos dois treinadores, não restava muito a não ser esperar que alguém os chamasse para começar a peça.

  Após conversarem um pouco, trocarem algumas breves ideias, os garotos foram logo interrompidos por uma alta e tenebrosa sombra, que acabava por ser um segurança, que havia de guiá-los até o palco. Enfim havia chegado a tão esperada hora, na qual teriam que atuar.
 Ren preparou-se, entusiasmado. Guardou, com certo pesar, todos seus pokémon nas Pokéball, já que não gostava muito de deixar os monstrinhos presos, em especial, Hokori. Já começando a entrar no personagem, eles passaram pelas demais salas, agora, em sua maioria, já vazias. Fazia sentido, já que a peça já estava em andamento.
 Podia-se ouvir os sons provenientes do que se imaginava ser o espetáculo, e, em um certo momento, Ren pôde ver, por um brecha na parede, a gigantesca platéia que os aguardava. Nervoso, arrumou a gola de sua camisa, conferiu o posicionamento de sua peruca, lançou um sorriso tranquilizador para Ryousuke, para acalmar a ambos.
 Seu personagem era Wallace Lambgarden, um garoto aristocrático, que vivia na côrte da Rainha Branca. O garoto desejava viver aquilo que lia em seus livros de fantasia, uma aventura, mesmo que não soubesse ao certo as consequências daquilo. Era um rapaz frívolo e mimado, que dominava com eloquência as palavras, já que havia estudado com a elite.
 Ren dizia a si mesmo, o tempo todo, que deveria atuar, e que não mais era Ren Hughes. O personagem deveria tomar conta de sua pessoa, o imaginado superar o real. Não havia um grande conhecimento de atuação por parte do garoto, mas conseguiria dar um jeito. Acompanhado do agora Suitless Baneret e os guardas reais, Wallace se encontrou nos aposentos reais, com a senhora desses nele, aguardando os dois garotos.
 Uma missão era dada por Vossa Senhoria, requisitando o auxílio de Wallace e seus companheiros. O sumiço do Chapeleiro realmente fora um escândalo, levando o público à loucura, assim como o suposto Castelo Branco. Agora, dois rapazes teriam que investigar, e quem sabe, dar um fim à tudo.

   — Minha Rainha, será uma honra servi-la, se assim desejar. E claro, se for do agrado desse… Senhor. — disse Ren, já no personagem, torcendo o nariz aristocrata para o mercenário que haveria de guiar. Ele estava com medo de fazer algo de errado e estragar tudo, mas sentia que estava se saindo bem. Respondendo a rainha, faltava aguardar o que diria Ryousuke, ou melhor, Suitless, em resposta àquilo.