Miss Americana & The Heartbreak Prince

A beleza estonteante do cervo continuava a ser objeto de minha admiração, mesmo após alguns minutos de cena. Não só o animal, como também os efeitos especiais eram de outro mundo, extremamente bem feitos e de bom gosto; nada muito exagerado, tampouco muito simplório. Meus olhos continuavam a brilhar, algo que era ainda mais evidenciado quando comecei a lacrimejar e as lágrimas refletiram as luzes dos holofotes.

— Verdade... — disse limpando as gotículas em meus olhos — Talvez não seja, mas... — fitei "Jetto", agora com uma expressão curiosa, já sabendo que o rapaz não saberia a resposta mas ainda assim buscando compreender o que estava acontecendo — O que será que ele quer?

Aproveitei e dei uma olhada de relance para o público enquanto me virava mais uma vez para observar o cervo. Pude perceber mesmo que rapidamente algumas pessoas já torcendo para que o casal terminasse junto, além de alguns que pareciam admirar não somente os personagens, mas também eu e Lysander juntos, como um casal. Sorri internamente para mim mesma, afinal, não via a hora das pessoas esquecerem o que aconteceu durante a Wallace Cup... Engraçado o que uma brincadeira de poucos minutos pode fazer com sua reputação, principalmente quando se é mulher. Lysander era gentil, engraçado e nos conhecíamos devidamente, confidenciando coisas um com o outro que jamais havíamos feito com ninguém: algo que alguns meses atrás jamais me veria fazendo. Se ao menos fosse para existir um "shipp", que existisse com o mono-treinador noturno.

Meus pensamentos foram rapidamente devaneados pelo cervo, que começava a se movimentar majestosamente. A esfera de energia começou a emanar mais calor ainda, criando um efeito digno de contest. Aos poucos, um caminho começara a ser traçado pelo mesmo, que seguia sabe-se lá para onde. Como mágica, Sawsbuck desaparecia, deixando para trás somente o rastro iluminado.

— Melhor seguirmos esse caminho... — comentei curiosa, agachando e brincando com o efeito brilhoso que flutuava sobre o chão — Certo? — fitei The Heartbreak Prince — Talvez assim dê tempo de nos entendermos. — agarrei com a palma da mão o efeito alaranjado e joguei-o para o alto, diretamente no rosto do rapaz, dando uma risada logo em seguida — Acho que temos muito o que explicar um para o outro.

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

Ouvir o coro da platéia gritando para que nos beijássemos me deixava extremamente nervosa. Digo, mais nervosa do que já estou. Queria poder corar até me tornar da cor de um tomate bem madurinho, mas não podia sair da personagem de jeito nenhum. Engoli seco, tentando segurar uma risada e evitando olhar para Lysander, já que o menor dos relances já seria o suficiente para me envergonhar e quebrar minha fachada. Afinal, fora dos palcos ainda não sabíamos o que éramos: simplesmente amigos, mesmo com tudo que sinto por ele? não sei. Não parecíamos dispostos a conversar sobre isso, apesar de já ter dito uma ou duas vezes para o mesmo o quanto ele é especial pra mim. Tomara que após a peça eu tenha coragem suficiente para ser honesta.

Tomara.

Minha linha de pensamento era mais uma vez quebrada pelo enredo do teatro. Caminhávamos aos poucos, eu com a cabeça baixa e Lysander do jeito despojado de Jetto; era engraçadinho ver como o moreno interpretava bem o rapaz, o oposto de sua personalidade. Miss Americana era mais inerente a mim mesma, já que estressada fico igualzinha a ela. O palco mais uma vez girava e éramos surpreendidos por mais um belíssimo trabalho do crew do evento: a floresta se tornava colorida e a luz diminuía aos poucos, criando um ambiente um tanto quanto fantasioso. De repente, eram reveladas duas crianças, que interagiam entre si. A jovem garota se parecia muito comigo, tanto fisicamente quanto nos trejeitos; fiquei curiosa em saber como encontraram uma infante tão parecida comigo em tão pouco tempo, mas esse não era o foco no momento. O garoto possuía um pingente de Copas pendurado em seu pescoço, enquanto a garota um de Espadas.

Abri um sorriso e a menina veio imediatamente conversar comigo quando percebeu a minha presença. Caminhando com seus passos fofinhos e infantis, a mesma parou em minha frente, dizendo já me conhecer. Já sabia que tudo aconteceria pelo script, mas quem diria que uma criança seria tão boa atriz assim?

— Sou eu, sim. — abri um sorriso simpático, me abaixando e ficando de joelhos no chão, de modo que ficasse mais baixa que a menina — E você, qual seu nome, meu amor? — observei o menininho também vindo em minha direção e sinalizei para Lysander que o ajudasse — Vocês estão perdidos? — ajeitei as madeixas loiras da menina, colocando algumas mechas atrás de sua orelha — E de onde me conhece? De alguns dos povoados de Espadas?

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

O script da peça de teatro era tão bom e tão bem produzido, que a revelação da jovem garota ser minha irmã recentemente falecida me arrancou arrepios, mesmo já sabendo tudo que aconteceria. O público suspirou, como se tomassem um susto com o que se desenrolava no palco: era possível ver algumas senhoras já com lágrimas nos olhos, enquanto outros pareciam fixados para saber o que ocorreria depois.

Arregalei meus olhos, que imediatamente encheram d'água. Fitei Lysander por alguns segundos, como quem pedisse ajuda e amparo em um momento como esse, mas também tentando entender o que poderia estar acontecendo. Puxei a criança para um abraço apertado, me debulhando em lágrimas logo em seguida, sem conseguir falar uma única palavra durante todo esse tempo.

Me recompus, afastando-me um pouco de Claire, para que pudesse olha-lá bem nos olhos enquanto a segurava gentilmente nos ombros:

— Cla-Claire... — as lágrimas caíam de meus olhos como cataratas — Minha irmãzinha... Como isso é possível? — abaixei a cabeça — Eu lhe segurei em meus braços quando... quando... — minhas mãos deixavam de segurar os ombros da criança, caindo diretamente do chão, como se me faltasse força — Quando eu te perdi para sempre.

Voltei meu olhar para The Heartbreak Prince, ainda mais triste do que anteriormente. Percebi que ele e o jovem rapazinho também possuíam uma conexão especial; mas, para mim, Jetto parecia mais assustado que emocionado. Sem forças, tentei levantar para abraçar o rapaz, mas minhas pernas falharam, o que fez com que caísse sobre um abraço de Lysander, que me segurou para que não caísse de rosto no chão. Acolhida por sua ajuda, aí sim que comecei a chorar ainda mais, chegando ao ponto de soluçar. Encostei minha cabeça no peito do rapaz, agarrando suas vestes com força, me apoiando naqueles tecidos como se minha vida dependesse disso.

— Co-como vocês estão aqui? — olhei para Claire — E isso mesmo, vocês são muito novinhos, isso que aconteceu faz algum tempo. — dei um sorriso simpático enquanto limpava os olhos e respirava fundo — Quem é essa senhora que está cuidando de vocês?

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

Minha expressão continuava perdida, já que mesmo chorando sobre os braços de Lysander, precisava mostrar tanto a emoção quanto a confusão que toda aquela cena estava causando para a personagem. Peguei Claire nos braços e a trouxe para mim, dando-lhe um breve beijinho na testa. De certa forma, precisava também mostrar que estava me acostumando com a ideia, que mesmo absurda, estava trazendo a pequenina de volta para mim.

— Fico feliz que ela esteja cuidando de você aqui, irmãzinha. — minha expressão mudou, agora de felicidade — Gostaria de conhecê-la!

Dei um sorriso para a pequenina coadjuvante enquanto limpava as lágrimas e ajeitava minhas madeixas. Aproveitei para tentar arrancar algumas risadas da plateia, assoando o nariz nas vestes do rapaz e dando um sorriso travesso para o mesmo, me libertando de seus braços logo em seguida. Me levantei com certa rapidez e comecei a seguir o pequenino de Copas, somente para perceber que o clima começava a ficar cada vez mais estranho...

— Hm... — pigarreei — Jetto, tem alguma coisa errada aqui, certo? — disse com a voz bem baixinha para que somente o protagonista escutasse — Esse gato é estranho, sem falar nesse barulho... Parece até um gigante.

Fitei as esferas metálicas que ficam presas em meu cinto e sinalizei com a cabeça para Lysander, para que ficasse atento a qualquer movimentação estranha. A essa altura, era de se esperar que tanto a plateia quanto ele percebessem os sinais que dávamos um ao outro, como códigos onde não precisávamos nos comunicar verbalmente; mostrava, um pouco, o quanto Miss Americana & The Heartbreak Prince estavam se dando bem em tão pouco tempo.

— Claire... — chamei minha irmã com a voz também baixinha — Como é essa Mama de que vocês tanto falam? Ela parece com nossa mãe? — engoli seco — O que eu quero dizer é... Ela é humana?

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