[Battle Tower] Quarta Fase Amadora: Luta B2

Engraçado como há poucos minutos queria gritar para os quatro ventos como estava plena. Feliz. Alegre. Que independente do resultado, sairia orgulhosa e de cabeça erguida. Dá vontade de rir só de imaginar que acreditei que fosse capaz de impedir a tristeza de atingir o âmago do meu ser mais uma vez.

Já estou cansada, definitivamente, de me sentir assim.

Sentir a vitória escapar pelos meus dedos como as lágrimas que escorriam espontaneamente dos meus olhos era tão triste. Tão... decepcionante. O pior de tudo era passar essa vergonha na frente de todas aquelas pessoas. Mas o que fazer? Desde ontem não conseguia mais controlar minhas emoções. Dessa vez a responsável não era Natalie e eu não podia culpar ninguém além de mim mesma. Despreparada, inepta, completamente incapaz. Todos quatro membros do meu time tentaram seu máximo, mas ainda sim consegui levá-los à derrota.

Talvez essa derrota tenha sido o estopim de tudo. A última gota d'água, como diz o ditado popular. Pelo menos uma vez por dia me pergunto o porquê de Arceus ter me deixado aqui. Aliás, queria encontrá-lo nem que fosse uma única vez para perguntá-lo tantas coisas: para que me salvar daquele acidente em Cianwood se não presto pra nada? Para me deixar sozinha? Sem um ombro pra chorar? Qual minha utilidade nesse universo se não conquisto nada? Se não faço diferença alguma estando viva ou morta? Por que não deixou Maxima me matar quando teve oportunidade? Por que diabos ainda me mantém presa nesse círculo vicioso de lamentação? Em certos dias fico tão triste que esqueço o que é se sentir feliz. Talvez o deus todo-poderoso que toda nação clama seja tão sádico quanto eu.

A verdade é que ninguém lamentaria a minha ida. Ninguém sequer saberia por meses a fio, até encontrarem meu corpo sendo comido por Mightyenas no fundo de um desfiladeiro qualquer. Que estou sozinha no mundo sei há muito tempo, mas não imaginei que seria agora, nesse instante, que todas emoções me impactariam como um caleidoscópio de tormentos. Sinto como se meu peito ardesse em dor e estivesse ao ponto de ter um mal súbito, porém tendo plena consciência que meu corpo está perfeitamente saudável... E essa é a pior parte. Respirei fundo para acalmar meu coração e cerrei os punhos tentando amenizar a angústia, apertando minhas unhas contra as palmas das mãos com tanta força, que acabei cortando-as o suficiente para algumas gotículas de sangue escorrerem pelos meu dedos. Exausta de cuidar desse corpo que não cuida de mim de volta.

Será que isso é a depressão que tanto falam sobre? Não ser capaz de ver a explosão mesmo segurando a bomba em mãos e a bomba na verdade ser você?

Hoje consigo entender. Pior, consigo senti-la. É como gritar, mas ninguém escutar absolutamente nada. Peço socorro em silêncio desde meus oito anos de idade e ninguém nunca ficou para me resgatar. Alguns vieram, tentaram, mas acabaram cansando e indo embora. E não os culpo.

Finalmente cansei também.

Soltei minhas madeixas do rabo-de-cavalo e escondi meu rosto dentre os dourados fios de cabelo. Chega dessa humilhação. Se não consigo conter o choro, ao menos impeço os demais de vê-lo. Se seres humanos possuíssem auras, estou certa de que a minha seria negra como a noite, quase como uma nuvem carregada de chuva que sozinha enubla todo céu. Retornei Raichu e mal conseguia segurar a esfera do roedor: minhas mãos tremiam e queria desabar no choro ali mesmo. Mas devia a Sushi ao menos ser derrubado lutando. O psíquico jamais me perdoaria se não o fizesse.

Busquei a esfera de Alakazam na bolsa e abri sem sequer tirá-la da minha mão. Mesmo fitando o chão conseguia sentir a preocupação dos meus pequenos. Tinha certeza absoluta que ambos psíquicos estavam olhando pra mim em profunda tristeza, mas não podia impedi-los de prosseguir, mesmo sabendo que o fim chegaria em poucos segundos. Em um ato de braveza e entre um soluço e outro, gritei:

— Não se importem comigo! É uma ordem! — bati o pé direito no chão em protesto — Gallade, Close Combat em Espeon. Repita no Snorlax. Alakazam, Dazzling Gleam e Psychic no Snorlax. — chamei-os pela espécie, tentando me distanciar emocionalmente, abaixando meu tom de voz logo em seguida — ... Sinto muito.

É triste sentir a vitória escapar pelos meus dedos, mas mais triste ainda é finalmente desistir de lutar. Jogar a toalha, como dizem. Não dessa batalha em campo, mas contra mim mesma.

Que o martírio tome conta da minha alma e faça o que bem entender.

Não me importo mais.

Battle Tower!

Bom, não havia muito o que fazer.

Torcer para a paralisia funcionar era uma utopia, mas era tudo que eu tinha. Não sei para que insistir nisso, mas desistir me deixaria em maus lençóis com Alakazam: sei que o psíquico prefere ser atingindo por um golpe absurdamente forte e ser derrubado que ser retornado em desistência. Besta. Esse orgulho bobo só prolonga o sofrimento que vai acontecer de um jeito ou de outro.

— Thunder Wave e Psychic. — respirei fundo — Aproveite a velocidade minúscula dele para tentar fugir dos golpes.

Já que sou obrigada a ficar aqui pela vontade de Sushi, que ao menos mande-o fazer o mínimo, que é se movimentar pelo campo.

Battle Tower!

Meus olhos pesaram em tristeza e as mãos doíam das feridas que agonizavam na pele assim que limpei o rosto das salgadas lágrimas. Os pés juntaram-se como se pudesse conjurar eu mesma um buraco e me enfiar pelo resto da eternidade: não pela derrota, mas pelo desgosto que finalmente sucumbiu minha alma. Dizem que algumas coisas servem de gatilho para outras e talvez esse tenha sido o estopim para o mau finalmente alcançar meu âmago e abraça-lo como um amigo de longa data que nunca deveria ter ido embora. Estou cansada. Sem forças até para continuar criando metáforas para tentar, sem sucesso, explicar a forma como me sinto...

Não é como se alguém estivesse escutando, não é, Arceus?

Retornei o psíquico e conseguia sentir Anabel se aproximar com um bom discurso de superação que meus ouvidos muito mal captavam. Só queria sumir. Dar um fim nisso tudo. Lembro-me de alguns dias ter ouvido falar sobre o deserto que assola parte de Hoenn e como muitos vão para lá desaparecer eternamente. Talvez fosse meu próximo destino: quem sabe encontro a paz que tanto busco?

Somente acenei com a cabeça, mas no fundo, queria respondê-la. Tentei abrir a boca, mas não consegui produzir som algum. Com o rosto ainda escondido dentre meus cabelos, consenti e acenei, girando meu corpo na ponta dos pés e seguindo meu rumo dentre soluços que ficavam cada vez mais altos conforme me aproximava da porta.

Lamentável.

Battle Tower!