Pequenos Grandes Guerreiros!

Will correu o melhor que pode por entre a vegetação até chegar a fonte dos gritos. Quando chegou no limite da clareira sem ainda ser percebido, estagnou. Muitos pesquisadores diriam que não se deve intervir nos cursos traçados pela mãe natureza, o mundo selvagem só deve ser observado, não se pode intervir. Mas testemunhar aquela cena era demais para ele. Era seguindo os princípios da ciência que ele sempre tentava passar o mais despercebido o possível em ambientes como aquele. Tudo para não interferir. No entanto, o simples fato de estar ali caçando Pokémon já era uma intervenção, não é? Pois então, sabia que se visse um indefeso sendo acuado, não conseguiria virar os olhos para o outro lado.

Rapidamente o Carateca liberou Deino de sua Pokébola, acreditando que um Pokémon como aquele seria demais para a dupla de fogo. Pegou o Power Belt de seu dragãozinho e entregou o seu Wide Lens.

- Ei! – Chamou a atenção da criatura que sua Pokédex identificou como Mightyenna. – Sinto muito, mas você vai precisar encontrar outro almoço! Kron, use Thunder Wave e depois ataque com Headbutt!

Enquanto observava o seu Deino avançar em defesa do Shroomish, imaginava se aquele Pokémon era o mesmo que vira anteriormente.

“Será que esse Pokémon já enfrentou um dragão antes?” – Will pensou surpreso ao ver o Ice Fang em ação. Aquele Pokémon era bem experiente ou um baita de um sortudo em atacar justamente a fraqueza de seu Deino. Mas felizmente, ele não testou um golpe fada. – Kron, não vamos dar espaço para ele, ataque com duplo Dragon Rage!

A paralisia sobre o Mightyena deixava o Deino sendo o mais rápido entre os dois, no entanto, essa ligeira vantagem não era garantia de nada, a luta estava bem acirrada o que tornava a situação perigosa. Scorbunny deve ter percebido a dificuldade de seu companheiro, pois assim que o dragãozinho se levantou, o coelhinho saltou para se colocar ao lado de Kron. Will ainda tentou impedi-lo, mas o pestinha era ligeiro.

- Muito bem, Bolt. Já que você quer ajudar, ataque o Mightyena com duplo Low Kick! – Era melhor orientá-lo na luta do que deixá-lo indeciso sobre o que fazer.

Deino não rejeitou a ajuda, assim que viu Scorbunny se colocar ao seu lado, pareceu que ele deu as boas-vindas ao parceiro, sorrindo enquanto lutava, mesmo na dificuldade. A dupla, agora com uma grata vantagem, não teve problemas em espantar o Mightyena que mesmo no dois contra um se provou bem corajoso, não correndo da briga.

- Ufa! – Suspirou aliviado, secando o suor frio da testa com as costas da mão. Se Kron levasse outro golpe daquele, Will não queria nem pensar... O dragãozinho se virou para o coelhinho agradecendo a ajuda, isso era notório pela maneira que ele falava com seu companheiro. Então algo surpreendente aconteceu, seu corpo começou a brilhar. A luz era forte o suficiente para ofuscar a visão. Pouco a pouco a forma do filhote de dragão foi mudando até aumentar de tamanho e aparecer duas cabeças. Deino havia evoluído para Zweilous.

O Carateca não teve cerimonia, correu para perto de seu Pokémon e o abraçou. – Parabéns, garoto. Quem diria, você ficou ótimo! – A cabeça esquerda retribuiu o abraço colocando seu pescoço sobre o ombro do treinador, mas a direita virou o rosto incomodada, até que mordiscou o braço do jovem. – Aí! – Saltou para trás sentindo o músculo latejar. A criatura não tinha dado uma mordida forte, fora mais como um aviso de que não gostava de contato. – Ei, não precisava disso. – Resmungou massageando o local e testemunhando a cabeça da esquerda recriminar a da direita. Will entendeu de imediato que a esquerda se tratava de Kron, mas a direita era conduzida por uma personalidade completamente diferente. Mas que confusão.

Scorbunny estava com os olhos brilhando, maravilhado com o que tinha visto. Sendo um filhote ele era facilmente impressionado. Will ao perceber tratou de explicar do que se tratava aquilo – O Kron evoluiu, Bolt. Quando os Pokémon chegam a um certo nível de maturidade, seus corpos sentem a necessidade de mudar. Alguns casos são físicos, já outros são psicológicos...

Ao ouvir o que Will dizia, Bolt coçou o nariz e bateu no próprio peito com um sorriso confiante como se dissesse “Se ele consegue, eu também consigo”. Ele fechou os olhos, apertou as patinhas e contraiu os músculos de todo corpo dobrando os joelhos, parecia até que ele ia usar o troninho. Torchic vendo aquilo começou a se remexer nos braços de Will até que sem poder mais segurar o pintinho, ele o soltou. Ace, assim como seu irmão, fechou os olhos e pediu a alguma entidade superior, e eis que ela atendeu. O corpo do Torchic começou a brilhar e mudar de forma, até que ele se tornou um Combusken.

Scorbunny dessa vez não pareceu admirado, estava mais com ar de revoltado, gritando impropérios, provavelmente. Apontava o dedo e fazia acusações ao seu companheiro, afinal, Torchic havia roubado seu show.

Mas ao contrário do que era esperado, ele não se deixou abalar, voltou a tentar, dessa vez com mais força, fez tanta força que chegou a ficar vermelho. E eis que aconteceu. Seu corpo também começou a brilhar e mudar de forma, até que se tornou um Raboot.

Espantado e com cara de paisagem, Will ficou sem reação. Era a primeira vez que isso acontecia na sua curta carreira de Treinador Pokémon. Fora Shroomish que o fez acordar da hipnose. – Oi, sementinha, você quer que a gente o siga? Bem, mostre o caminho. – Will chamou pelos seus Pokémon e seguiu o pequeno gramíneo enquanto era acompanhado por seu trio recém evoluído.

Acompanhar a criaturinha não fora difícil, ela estava alarmada, com pressa, mas suas patinhas a impediam de se mover muito rápido. Enquanto a observava, Will imaginou como ela poderia mudar tanto ao evoluir para Breloom. Olhou para os lados e viu Combusken e Raboot o acompanhando destemidos, ambos haviam mudado bastante, mas suas novas formas ainda carregavam um pouco da essência de suas pré-evoluções.

- Na pressa acabei não dando os parabéns a vocês dois. Só quero dizer que ambos estão incríveis. Vamos continuar dando o nosso melhor juntos!

Logo atrás vinha Zweilous, despreocupado com suas passadas firmes, ele parecia uma versão mais velha do Deino com duas cabeças e já mostrava sinais da imponência que teria em sua última evolução. O jovem observou Kron e não conseguiu conter um pequeno sorriso, ele finalmente havia “recuperado” seu irmão, enquanto andava não parava de falar, mesmo que a outra cabeça não parecesse tão interessada. – “Vou precisar pensar em um nome para aquele ali” – Afinal, como funcionava aquele corpo? Quem controlava as patas? Pensar nisso fazia a cabeça do treinador doer.

Finalmente alcançaram o local que Shroomish queria levá-lo, parecia o lar da criaturinha e outras duas que Will identificou de imediato como Breloom – já que era um entusiasta dos Fighting Type. Will se curvou e acariciou a cabeça do Pokémon agitado, tentando acalmá-lo. – Eles são seus pais? Fico feliz que tenha confiado em mim para ajudá-los. Deixe-me ver qual é o problema.

O Carateca avançou já tirando a mochila das costas e ajoelhou ao lado dos dois lutadores feridos. Ele não era um especialista como uma Enfermeira Joy, mas como treinador já tinha visto diversos tipos de sintomas. – Calma, calma, eu estou aqui para ajudá-los – Disse com gentileza e tentando os confortar com toques de ternura. – Eu me chamo Will Allstar e sou um grande fã de vocês, sabiam? Sempre me imaginei vindo a Hoenn um dia para fazer amizade com um Breloom. – Enquanto falava em uma tentativa de mostrar que era um amigo, Will concluía sua “consulta”. Um deles tinha sido paralisado e o outro envenenado. Condições que podiam ser facilmente revertidas se tivesse o remédio certo. Felizmente Will tinha a solução para o problema. Tirou de sua mochila um Paralyz Heal e um Antidote e aplicou em cada um conforme sintomas apresentados. – Pronto, pronto. Não deve demorar agora. – Deu um pouco de espaço a eles e aguardou pelo resultado. – Você sabe quem fez isso a eles? – Perguntou ao Shroomish enquanto esperava.

Will observou a cena com uma expressão feliz no rosto, era reconfortante ver o pequeno se reunir com a “família”. Shroomish parecia em paz com sua mãe e outro Breloom que o artista marcial identificou como um irmão adotivo mais velho. Este se aproximou do treinador e lhe ofereceu 3 Oran Berries que o jovem estendeu as mãos abertas para segurá-las.

- Pra mim!? Muito obrigado, vou aceitar uma, mas acho melhor vocês comerem as outras para recuperarem suas forças. – Will guardou uma das frutinhas e tentou devolver as outras duas para que eles comessem. Insistiria, mas se eles se mostrassem inflexíveis em aceitar, guardaria as outras duas para não os ofender.

- A selva pode ser um lugar bem difícil, não consigo imaginar a dificuldade que vocês passam por aqui... Vocês gostariam de vir comigo? – O Carateca alargou os ombros, inflou o peito e tentou parecer confiante. – Como disse antes, sempre quis ter um amigo Breloom, seria uma honra ter a companhia de vocês. Futuramente pretendo montar uma fazenda e plantar Berries, se quiserem me ajudar a cuidar da plantação! – Disse empolgado, como se aquilo fosse uma tarefa digna de heróis gregos - Será um lugar seguro, confortável e que não faltará comida. Além disso, poderão conhecer outros locais pelo mundo, como um treinador andarilho, estou sempre viajando, descobrindo coisas novas. O que me dizem? Vocês estariam interessados?