[Violet] #002 The city of nostalgic scents

As metas estabelecidas realmente se provaram úteis, facilitando não só o trabalho de transportar tudo como também o tempo gasto no processo. A forma como a treinadora "orquestrou" as habilidades de todos os Pokémon para atenderem as necessidades da tarefa chegou até a chamar a atenção de outros voluntários, que paravam para admirar o trabalho da garota, pelo menos até serem dispersos por um dos supervisores que ali passava.

A surpresa dessa vez foi que, faltando pelo menos três viagens para concluir todo o trabalho, o carrinho que Nakeisha estivera usando a tarde inteira simplesmente quebrou, perdendo as duas rodas dianteiras. O problema lhe deixou levemente nervosa, por não saber exatamente como poderia resolvê-lo. Não chegou a ficar desesperada porque, no mínimo, tinha economizado tempo até ali, o que poderia ser útil agora para que pudesse achar uma solução.

"E agora..?!", se perguntava mentalmente. A primeira coisa que fez foi pedir ajuda de Machop e Claydol para erguer um pouco o carrinho, o suficiente para que ela pudesse analisar a situação das rodas. Se tivesse conserto rápido, ela iria atrás de ferramentas para fazer o reparo logo. Se o carrinho não tivesse jeito, teria que achar outra alternativa. Por isso, olhava ao redor para achar uma outra inspiração ou alguém. Talvez Carlos, Gugu, a mulher musculosa ou até mesmo Regina ou outro supervisor pudessem dar uma orientação. Na pior e última hipótese, Nakeisha teria que buscar o primeiro e menor carrinho, aquele que a chefe dos cozinheiros havia emprestado, mesmo que com capacidade inferior... "Justo agora no final... Que azar!", pensava.

Assim que os Pokémon ergueram a parte frontal do carrinho a mono treinadora pode ver que não tinha jeito de consertá-lo em tempo hábil. Não era preciso ser nenhum mecânico para concluir que aquele carrinho estava perdido por enquanto. A garota já estava pronta para ir atrás de ajuda quando foi encontrada por Regina, que não demorou a lhe consolar e solicitar ajuda.

Thiagão, um menino bastante musculoso e careca, veio assim que chamado e depois da breve conversa com sua superior, logo retornou com um outro carrinho, maior do que o anterior, porém quase totalmente aberto nas laterais, o que poderia ser um baita problema considerando os transtornos com os desníveis pelo caminho. Além disso, este equipamento também tinha as rodas travadas e que rangiam demais, comprovando que exigiria mais força para ser usado. Nakeisha teria um bom desafio até encerrar a tarefa.

– Bem, primeiro de tudo obrigada pelo apoio, isso realmente pegou a gente de surpresa e justo agora no finalzinho... – se lamentava para o rapaz, assumindo uma expressão pensativa – Agora, vejamos... Eu só tenho esses Pokémon aqui pra me ajudar... Acho que com esse carrinho conseguimos trazer tudo em duas viagens...

Até sua testa se enrugava pelo esforço em elaborar um plano mental que cobrisse pelo menos a maioria dos problemas que possuía em mãos. Suas opções eram limitadas até ali, e talvez o maior problema mesmo fosse a força necessária para empurrar o veículo, além do tempo para transporte que evidentemente aumentaria graças às rodas travadas.

– Sobre as rodas, não tenho muito o que fazer, a não ser que você nos consiga um pouco de óleo ou graxa, mas imagino que vocês já tentaram isso não é? – conversava com Thiagão – Meu plano por enquanto é o seguinte... – agora se virou para seu time de Pokémon, pois as informações importavam mais a eles que praticariam tudo – Taillow, Woobie, vamos usar a rede de transporte que está lá na área de descarga. Vocês vão estender a rede na parte da frente do carrinho e até onde der na parte lateral, pra proteger a carga de não correr pra frente. Claydol, vou precisar abusar um pouco mais de você, porque só seus poderes vão conseguir segurar as caixas e impedir que elas se desloquem pelas laterais do carrinho. Machop, eu e você vamos suar para empurrar essa velharia, mas vamos conseguir, ok?! – terminou a explicação de seu plano com otimismo, sorrindo para seus Pokémon e se voltando para o rapaz – O que você acha, Thiagão?

Terminou com uma questão de curiosidade, além de um pouco de apoio moral  e uma sutil esperança. Quem sabe Thiagão não seria mais uma das pessoas incríveis que tanto a ajudaram naquele dia e então tiraria mais uma carta da manga para apoiá-la. Talvez a questão de empurrar um carrinho mais velho com duas cargas mais e o dobro de cuidados fosse a questão mais crítica ali. Sobre as cargas, levaria 8 das 11 caixas de tomate primeiro, para testar seu plano. Dando certo, buscaria as 3 caixas restantes de tomate junto com as últimas 5 de cenoura. Enfim, se o garoto não tivesse mais nada a acrescentar, Nakeisha partiria depressa para por seu plano em prática e provar se funcionaria.

As últimas horas na tarefa se arrastaram assim como o carrinho velho e quebra-galho que Nakeisha precisou usar para terminar o transporte dos insumos. Com rodas rangendo e um esforço descomunal para empurrar o veículo, nem a ajuda do musculoso Thiagão e do Lutador Machop foram o suficiente para concluir tudo dentro do tempo previsto. Com sorte, pelo menos nenhum problema surgiu com os produtos, que foram transportados na segurança que a treinadora se esforçou para implementar em seu plano.

Exausta pelo esforço acumulado ao longo do dia, Kiki quase desmaiou quando terminaram de levar as últimas caixas para as tendas. Chegou a largar seu corpo no chão, mas manteve-se consciente a ponto de pedir para ser deixada ali uns instantes até recuperar parte das energias. Estava tão cansada que nem se deu conta do suor que lhe escorria pelo rosto e grudava a roupa no corpo. Foi quando Thiagão sugeriu que ela tomasse um banho antes do jantar que percebeu seu estado.

– Ai, obrigada Thiagão. Obrigada Claydol e Machop. Não sei o que seria de mim sem vocês! - agradeceu-os mesmo sem fôlego, estirada no chão - Prometo encontrar vocês hoje no jantar para agradecer adequadamente. Então, até mais!

Mesmo cansada a mono treinadora já vinha planejando reencontrar todas as pessoas que a ajudaram naquele dia para agradecê-los pessoalmente. Como sua situação atual e o horário a impediam de fazer isso agora, preferiu adiar os agradecimentos e despedidas, e acatar a sugestão do rapaz. Respirou fundo umas duas vezes, no chão, abraçada aos seus Pokémon igualmente cansados, admirando o céu da noite com a lua que aparecia para lhes agraciar.

Depois de seu breve momento relaxante, devolveu seus companheiros para as Pokébolas e seguiu para o vestiário. Tomou banho, escovou os dentes e os cabelos, vestiu roupas limpas e confortáveis, se perfumou. Não faltava muito para o horário do jantar ser servido quando voltou para a área do refeitório. Assim, aproveitou o tempo extra para reencontrar todos que lhe ofereceram ajuda: Camila, Mateus, Regina, Carlos, Gugu, Maria, Thiagão... Ninguém seria esquecido e ela estava convicta de que encontraria todos no refeitório (Thiagão e Regina na cozinha, claro), já que a rotina de trabalho da maioria estava encerrada ou teria uma pausa para as refeições.

Os sentimentos não poderiam ser melhores ao fim do dia: gratidão, nostalgia, dever cumprido. De volta à Violet, cidade onde nasceu e cresceu, Nakeisha sentiu como se uma página se encerrasse e outra iniciasse. O momento era o mais oportuno possível, logo após o início da sua jornada, injetando um fôlego renovado e novas perspectivas. Nesse mix de emoções ela não pode esquecer do lema da cidade de Violet: a cidade de aromas nostálgicos...