[004] Ready To Start

Two boys, a grotto

Granite Cave

Com o que aparentava ser algo semelhante às rondas finais do treino, Lief, Noah e seus monstrinhos continuaram com todos os seus afazeres. Bem, apesar de improvisado, ele estava dando frutos. Já era possível notar uma bela diferença na atitude do jovem treinador, que começara as coisas um tanto quanto desnorteado, apesar de agora já estar conseguindo bolar ótimas estratégias e comunicar-se com eficiência junto aos seus monstrinhos.

Era interessante, também, ver a interação do moreno para com seu amigo loiro. Noah parecia ter alguns poucos traços narcisistas, mas Lief sabia lidar bem com isso. O treinador de Amelia não pôde deixar de corar ao ouvir o outro. — A-ah! Não é como se eu estivesse desvalorizando seu esforço ou algo do tipo! Você apenas me pegou de surpresa. Não vai acontecer de novo! — disse, um pouco atrapalhado.

O moreno parecia ter aprendido a lição, então. Nada mais de Yatta sair carregando os outros por aí. Quando ele virasse um belo Swellow, a ideia até que poderia ser cogitável, mas não antes disso. Um bom treinador precisava ter o trabalho de adequar-se às circunstâncias e terrenos. Por falar em terreno, o que estavam era bom para tal prática. O espaço era aberto, então os monstrinhos tinham uma área grande para utilizar em seu treinamento.

O sol, contudo, era um ponto a ser levado em consideração. A entrada para a caverna não era cercada por uma mata ou coisa do tipo, e apenas algumas grandes rochas podiam servir como sombra. A insolação poderia vir a ser um problema, caso continuassem ali por muito tempo, sem tomar as providências necessárias. Bem, mas imagino que isso não venha ao caso no momento, correto? Voltemos à agitação usual do persiga a fantasma.

De fato, a Misdreavus já estava bastante cansada mesmo. Estivera fugindo dos outros pokémon há um bom tempo, sendo alvo de golpes e efeitos de status. Não conseguiria aguentar muito mais na brincadeira. E bem, Lief parecia, para o pesar dela, mais animado que nunca. Parecia até mesmo que tinha apostado com Noah: o perdedor faz algo para o vencedor. Clichê, além de ser uma mentira, mas era o que lembrava.

Bem, o aprendiz do professor gostava de dar aos seus pokémon um toque de liberdade, então deixou-os por conta própria até então, vendo como agiriam. Caso precisasse, interferiria. Dito isso, é possível inferir que o Taillow trabalhou junto da Hoothoot para "pastorear" sua confusa companheira sobrenatural. Com chiados e grasnidos, eles faziam com que Yomi diminuísse a altura, em tentativa de deixar os pequeninos elétricos agirem também.

Tesla, por sua vez, estava bastante animado. Ele não conseguira fazer tanta diferença nas últimas vezes, então esperava que pudesse mostrar um melhor desempenho agora. Antes que pudessem pensar melhor, Yomi estava em uma altura baixa, e Raiden podia agir. Ele saltou com força, impulsionando-se na direção do espectro, as bochechas prontas para agir. A Misdreavus, cansada, mal teve tempo de pensar em desviar, e logo estava paralisada.

Com isso, ela caiu no chão, ainda que suavemente. Essa foi a hora de Noah manifestar-se. — Certo, vocês já sabem como é! Cotton Spore com Confusion! — disse, de maneira enfática. Era como se fosse um combo que vinha treinando com seus pokémon, uma junção inteligente dos movimentos para torná-los mais eficientes. E os pokémon pareciam saber bem como executar tais instruções.

Bem, Lief dissera para que seus monstrinhos fossem até Yomi assim que ela estivesse vulnerável, não? E Noah viu isso como uma brecha. A ovelhinha jogou ao ar vários chumaços de lã, que flutuavam preguiçosamente pelo ar, cada qual para um lado. Isto é, até que Amelia chegasse por trás deles e os impulsionasse com uma onda de energia psíquica, dirigindo-os para onde estava a fantasminha. Lã grudenta e incapacitante com orientação guiada, é?

E com isso, todos os pokémon de Lief ficavam cobertos pela camada pegajosa, que os retardava e deixava-os mais lentos. Com isso, Amelia e Tesla puderam alcançar Yomi também. Mas bem, Raiden e Yatta estavam mais próximos. No fim? Todos estavam juntos e embolados em uma massa de cinco monstrinhos, todos os quatro encostados na fantasminha. Não era possível dizer quem fora o primeiro ou o segundo. Todos pareciam ter chegado ao mesmo tempo.

— É... Confesso que não era isso que eu estava esperando. — disse Noah por fim, um pouco confuso. Era uma cena inesperada, de fato: não havia um vencedor. Estavam tão competitivos e, no final, nem oito e nem oitenta. Contudo, o loiro parecia esperar pelo aval do amigo para continuar a dar seus pitacos.

Two boys, a grotto

Granite Cave

Empate parecia ser uma boa ideia, de fato. Nenhum dos lados tinha seu dado orgulho muito ferido, e todos sentiam que seu esforço havia dado frutos. Noah sorriu ao ouvir a sugestão do amigo. — É, parece ser uma boa. Foi um bom treino, Lief. Devo dizer que me surpreendi em alguns pontos. — ele, um pouco hesitante.

Apesar de estarem agora cansados, os monstrinhos todos pareciam ter conseguido um bom aprendizado. A vitalidade de todos, em especial de Yomi, havia caído, mas nada que pudesse influenciar muito na progressão das coisas. De qualquer forma, o treinador da fantasminha logo deu mais uma ótima sugestão. — Realmente, está bastante quente. Não tinha percebido com toda a agitação do treino, mas parece-me uma boa ideia.

Então, o sorriso debochado de Noah voltou a surgir em seu rosto, e ele não pôde deixar de fazer um outro comentário ácido, mas ainda assim, de coração. — Está dando muitas boas sugestões, Lief. Está tudo bem com você? Por um acaso foi abduzido por um bando de Clefairys que mexeram com sua cabeça? — perguntou, antes de cair na risada.

Tão ocupado rindo, o loiro não conseguiu notar o aparente embaraço de seu amigo, que sentia um estranho ardor a subir-lhe as bochechas. De fato, o treinador de Amelia e Tesla era bastante bonito, mas ei, Lief também poderia ser considerado atraente por vários olhos! E com sua personalidade doce e gentil, vejo apenas vantagens.

Noah aproximou-se de seus pokémon também, acariciando a cabeça deles e parabenizando-os pelo trabalho que fizeram. De todos ali, o Mareep era o que parecia ter aproveitado melhor o tal treinamento, sentia-se mais forte e enérgico. Era quase como se ele pudesse explodir em luz a qualquer momento. Talvez mais literalmente do que o recomendado, mas não que isso fosse algo ruim.

— Essa caverna está rodeada por águas salinas. Com certeza é muito mais fresca mesmo. Talvez até possamos encontrar alguns riacho subterrâneo  de água salgada, não sei. Ouvi dizer que são bonitos. — disse o loiro subitamente, compartilhando alguns fatos interessantes sobre o lugar. Era impressionante como ele tinha feito uma análise rápida do lugar que o cercava, afirmando coisas tão precisas.

Então ele olhou para o amigo. Parecia que iria dizer algo, mas mudou de ideia rapidamente. Apenas deu um fraco tapa na nuca de Lief e seguiu em frente, tomando a liberdade de ir primeiro. — Bem, não acho que poderia ser tão perigoso assim. Foi a Joy que recomendou, não? Além disso, você tem a mim. Sem minha presença, aí sim você estaria lascado.

Two boys, a grotto

Granite Cave

Evolução. Um fenômeno incrível, sinônimo de amadurecimento e bons cuidados para com os monstrinhos. Tesla, ao terminar o treinamento, parecia de fato sentir-se diferente. Poderoso. Ouso dizer, até mesmo invencível. Tudo bem, talvez não seja assim, mas ei, deixemos com que ele sonhe. Não é todo dia que isso acontece, certo?

A confiança e os ensinamentos de seu treinador o levaram até ali. O pequeno Mareep começou a brilhar intensamente, forçando todos a desviarem o olhar. Faíscas esbranquiçadas flutuavam e giravam ao entorno do lugar, uma metamorfose não apenas corporal, mas também ambiental. Era quase como se a ovelhinha puxasse para si a eletricidade estática do chão, utilizando-na em benefício próprio.

Por fim, o brilho cessou. No lugar do conhecido Tesla de sempre, agora estava um mamífero muito maior, com menor quantidade de lã sobre seu corpo, e uma pele que definitivamente não lembrava nem um pouco Mareep. Contudo, tal como Lief fizera questão de ressaltar, juntamente de sua sempre confiável Pokédex, era o mesmo Tesla de sempre, apenas... Diferente.

— Ei... Ei amiguinho! — disse Noah, a princípio hesitante, mas aos poucos, animando-se com a ideia. — Veja só como você ficou bonito! Diferente, mas bonito. — continuou a falar, acariciando a pele rosada do monstrinho. — Mas afinal, quem disse que o diferente é ruim?

E com essa pergunta retórica, o loiro abraçava seu pequeno companheiro, ignorando completamente as bobagens de seu amigo humano. Parecia feliz de verdade por ter chegado àquela circunstância. Quando finalmente soltou a ovelha de seu aperto, voltou-se para Lief, um pouco mais vermelho que o normal. Estranho... Por que será?

— O-Obrigado. Sem o treino eu... Tesla não... Ah, deixe para lá! — proclamou por fim, travando bastante, até chegar ao ponto de desistir de continuar com sua sentença. Aquele não era um feitio comum ao loiro. Será que Lief entenderia o que se passava? — De qualquer forma, venha. Já estamos quase lá.

Ele aproximou sua mão do braço do moreno, como se quisesse tomá-lo para que pudessem seguir o caminho juntos, mas pareceu mudar de ideia antes de concluir a ação. Fingiu que não aconteceu nada e foi em frente, reclamando algo com Amelia, fazendo questão de verificar se não estavam mesmo sendo ouvidos por pessoas desatentas.

Talvez não sentissem a mudança de imediato, mas o interior da caverna de fato era mais fresco. Em pouco tempo, o túnel pelo qual entraram era apenas uma luz distante, e as redondezas ficavam cada mais mais escuras. Poderia vir a ser um problema, mas bem, não com o todo inteligente Noah ali. Após pensar um pouco, pediu para que todos esperassem, e então dirigiu-se para Tesla.

— Ei, amiguinho. O que acha de vermos como estão seus poderes nessa nova forma? — perguntou gentilmente. Apesar de ter sempre uma frase irônica na ponta da língua, o loiro cuidava muito bem dos pokémon. A ovelha baliu, concordando contentemente. — Certo, quero que use o Cotton Spore mais uma vez. Mas agora, quero apenas um pedaço de lã, pequenino.

Então o rapaz olhou para o Plusle do amigo, exibindo um sorriso travesso. — Vou precisar de sua ajuda também. Tesla, quero que tente conjurar um Charge e canalizá-lo para dentro da lã, para que ela fique eletricamente carregada. Raiden, vou precisar da energia explosiva de seu Electro Ball. A lã deve ser capaz de absorver a energia e começar a brilhar com toda a potência.

Dito e feito. Assim que o pequeno roedor jogou sua esfera de energia contra o chumaço carregado pelo Charge, esta foi sugada para dentro da lã. Ela começou a crepitar com toda a eletricidade, e então, a brilhar com o excesso de energia, dissipando-a em forma de luz. — Provavelmente vamos precisar fazer isso novamente. — comentou.

— Mas bem, não posso fazer tudo sozinho, certo? Sua vez. Para onde vamos? — essa pergunta poderia parecer confusa para quem não estava prestando atenção ao terreno. Agora tendo uma fonte luminosa (questionável, mas existente), os caminhos separavam-se. Um ia para baixo, e o outro, seguia em frente. Bem dizem que o quão mais fundo, mais minérios existem, não? Vai saber.

Two boys, a grotto

Granite Cave

Talvez seja um engano meu, mas parecia haver uma pequena tenção entre os dois rapazes. Sobre o quê, exatamente, eu não sei, mas ela estava ali, presente em pequenas ações e revelada nas entrelinhas das falas. Bem, inoremos este fato por enquanto. Provavelmente não era nada importante, se os próprios pareciam não ligar muito.

Lief pareceu gostar da ideia de Noah para fazer luz, apesar de ter consigo uma resposta muito mais simples. E é claro, não poderia deixar de provocar o loiro. — Olha só, será que alguém aprendeu a usar a ironia? — respondeu ele, provocativo também. — Provavelmente, sem mim, você já teria tropeçado e batido a cabeça em uma dessas pedras.

— Mas talvez você possa encontrar uma forma de recompensar seu tão grande herói. Afinal, haja paciência para ele conseguir tirar essa princesa preguiçosa de tantas enrascadas! — ele continuou, entrando na brincadeira e rindo bastante. Parou quando percebeu o que havia dito, e virou o rosto para o lado. Provavelmente estava corado, mas não queria deixar ninguém ver.

Finalmente, com a bifurcação do caminho, Lief resolveu deixar Yomi agir. Ela já tinha ajudado o rapaz antes, em situações semelhantes. E ela resolveu descer. Por que não, afinal? Para baixo eles seguiram. E seguiram. Andaram em frente por um tempo razoavelmente longo, sem encontrar nada. Noah suspirou. — Afinal, o que nós viem...

Contudo, não conseguiu completar sua frase. Um grito cortou o ar pesado da caverna. Parecia próximo. Talvez até mesmo próximo demais, o que era um pouco preocupante. Começaram a ouvir passos, desesperados, como que fugindo de algo. Então viram. Um rapaz de cabelos castanhos aproximava-se, correndo. Ao seu lado, um coelhinho cinza e um monstrinho quadrúpede com uma folha na cabeça.

Antes que pudessem falar ou reparar qualquer outra coisa, o jovem tropeçou em uma pedra e caiu no chão. Ai. Deve ter doído. Ao que tudo indicava, era ele quem havia gritado (afinal, não havia mais ninguém por ali, e o rapaz aparecera correndo logo depois do som ser emitido). — A luz... A saída... — conseguiu gemer do chão.

Garoto:

Two boys, a grotto

Granite Cave

Certo, isso era... Estranho? Talvez. Mas Lief pareceu não se importar tanto assim, e logo entrou na tal brincadeira, conseguindo arrancar de Noah um belo sorriso. — Eu ficaria honrado, minha princesa. Mas... Isso significaria que você seria minha esposa submissa? — perguntou então, com certo sadismo. Ah, como era bom, provocar o moreno. Bem, talvez nem todo mundo se sentisse assim, mas Noah definitivamente gostava do sentimento.

Sentimentos. Aí está uma coisa difícil de interpretar. Quem pode saber o que as pessoas realmente sentem, lá no fundo do coração delas? Vai saber. O fato era que o conto de fadas ainda não havia acabado. Ah, pois não. Como bem dissera o jovem Oturan, haviam acabado de encontrar um dragão, um problema a ser solucionado. Se bem que aquele atrapalhado garoto parecia tudo, menos um dragão furioso.

O loiro ignorou a última menção à brincadeira feita por Lief, focando completamente no desconhecido à sua frente. Ele havia conseguido levantar-se, e parecia confuso. — Eu... Uma luz... Achei que tinha encontrado a saída... — murmurou ele, notoriamente perdido. Bem, este era um ponto a se levar em consideração ao explorar uma caverna: é uma péssima ideia pra quem não tem senso de localização.

— Certo, mantenha a calma. A luz é uma lanterna improvisada que fizemos. O que aconteceu com você? — disse Noah, tentando trazer o rapaz de volta à razão. Lief não era muito bom com isso, apesar de gostar de interagir com as pessoas. — Oh, me desculpe... Meu nome é Sousuke. Eu estava procurando por um lugar junto de Chikorita e Bunnelby, mas fomos atacados por alguns Zubats selvagens.

Sousuke então pareceu lembrar-se de algo subitamente. Tomou a mão de Noah, olhando bem no fundo dos olhos do loiro, antes de abrir a boca e enfim voltar a falar. — Eu preciso de ajuda. Vocês acham que poderiam me dar alguma assistência? — certo, isso era bastante vago. Aliás, não revelava basicamente nada. E aí havia o fato de o moreno segurar as mãos do amigo de Lief sem pudor algum.