Helping and Chilling Out

Senkyo Cabaret

Lilith era como um anjo caído do céu. E parecia lidar com o mundo não-celestial até bem demais. Ela fora super paciente o tempo todo, gentil e empática. E ainda estava dando-lhe alguns mimos pré-apresentação. Ele supunha que tinha se saído bem na coletiva. Fora rápido, mas aparentemente, eficiente. A gerente parecia cansadíssima, mas teve tempo ainda para preocupar-se com a pequena estrela da noite.

Ren agradeceu a moça, sorrindo, e disse para ela tentar divertir-se e relaxar também. Provavelmente, não era muito fácil para ela. Encabeçando todas as coisas do restaurante, e ainda assim, permanecendo sempre por detrás das cortinas. De qualquer forma, o coordenador aproveitou esse último tempo livre que tinha para refrescar um pouco a cabeça e repassar últimas instruções aos monstrinhos.

Decidiu que faria uma coisa diferente desta vez. Ou tentaria, pelo menos. Assim que desse a hora, ele sairia do camarim e dirigiria-se até o palco. Esperaria o holofote surgir sobre as cortinas fechas, cessando com os burburinhos lentamente. Liberaria todos os seus pokémon. E então, daquelas mesmas cortinas, finalmente sairia uma figura que faria os murmúrios começarem mais uma vez.

Mas não vinham de ninguém da plateia. Era Oni. Em seus cochichos seduzentes, ele clamava pela atenção do público, sussurrando doces palavras. Palavras estas que puderam ser ouvidas por todo o salão assim que Ísis e Arallya saíram de trás das cortinas também, voando e conjurando seus ventos róseos. A voz no noturno ecoava pelo salão, tornando-a impossível de não ouvir, de não se deixar ser cativado.

Ren entrou no palco com um piscar dos holofotes, acompanhado por Kheiloe e Laylah. Carregava o pequeno Kyaan no colo. Curvou-se à plateia, sem dizer uma única palavra, deixando-os ouvir apenas a voz do Impidimp. Não por muito tempo. Os sussurros foram perdendo a intensidade, na mesma medida na qual os ventos tornavam-se mais lentos, em rumo à parada dos mesmos.

O treinador colocou o pequeno Togepi no chão, dando-lhe a deixa para começar a puxar sua melodia cantada, em conjunto com seus parceiros de canto. Enquanto isso, Ren aproximou-se de Oni, e começou a dançar ao redor dele, marcando seus passos com base na cantoria dos pokémon. As fadinhas flutuantes, mantiveram-se voando ao redor de ambos, soltando alguns resquícios de pó rosado sobre treinador e diabrete.

Uma apresentação na qual o coordenador não falava. Apenas ouvia. Mas afinal, não fora isso o que ele fizera o dia todo? Ouvira sugestões, críticas, perguntas, pessoas falando sobre si. Não custava nada ouvir um pouco mais, e fazê-los ouvir também. De certa forma, o fato de apenas os pokémon estarem produzindo sons deixava a apresentação ainda mais... enigmática?

Não sei. Com o trio de monstrinhos tendo terminado o breve improvisado canto aos gritos melódicos, foi a vez de mudar novamente. Kyaan e Oni foram até o centro do palco, Arallya e Ísis voaram alto novamente, Kheiloe ficara em meio aos dois machos, deixando apenas Laylah próxima do coordenador. A gatinha rosada então começou a cantar uma canção muito mais complexa e rítmica, agitada, que refletiu também na performance de seu treinador.

Ren começara a correr, tendo a pequena Eevee a saltar ao seu redor. Ele dava saltos e piruetas no ar, discorrendo um círculo sobre o palco. E por quê? Simples. Oni e Kyaan lançavam seus golpes contra o jovem, uma onda de energia completamente negra, junta de uma força psíquica impulsionada com tanta força que tornava-se fisicamente palpável.

Os golpes misturavam-se, alvejando o lugar em que o rapaz estivera há pouco tempo, mas não havia perigo real. A energia oposta dos dois golpes fazia com que um anulasse o outro no meio do caminho, explodindo em brilhantes róseos e negros. Floette e Cutiefly repetiam o truque de antes, fazendo a voz da gatinha ressoar por todo o salão.

E quando começava a parecer que ficariam apenas assim, Ren parou, pegando impulso e dando um último salto. Laylah foi jogada ao ar nesse salto, para fora do palco. Foi a vez de as ninfas dos ventos agirem mais uma vez, suavizando a queda da raposinha. O especialista em feéricos fez um sinal para os monstrinhos em palco, chamando-os para irem com ele.

E então, ele mesmo saiu do palco. Acariciou o pelo fofo da Eevee, pegou Arallya na mão, como se fosse tirar uma daquelas fotos clichês com borboletas, girando em torno de si mesmo antes de deixá-la voar novamente. Ia abrindo espaço em meio ao público, agora tendo Oni sobre seu ombro. O diabrete sussurrava no ouvido das pessoas, fazendo-as ouvir, e também ouvindo seus desejos profundos.

Ren tomava a mão de uma senhorita ou cavalheiro, convidando-os para uma breve dança valsada, que não durava mais que um minuto. Kheiloe cantava, sendo interrompida vez ou outra por um grito ritmado e programado de Laylah ou Kyaan. Eles abriram espaço entre as pessoas, esperando que elas se aglomerassem em torno deles, em um círculo.

O treinador amante dos feéricos parou, no centro do círculo. Seus pokémon sentaram-se ao seu redor, fazendo um outro círculo menor. Todos menos a pequena Ísis e o atrevido Oni. Não, eles o ajudariam a encerrar a apresentação. O diabrete saltou sobre seu treinador habilidosamente, e puxou de debaixo do laço das roupas do garoto uma pedra brilhante.

Ah, ele não estava brincando com os laços mais cedo por apenas nervosismo. Impidimp tomou a pedra em suas mãos, ficando de joelhos diante de seu treinador. Ren aceitou o presente de seu monstrinho, segurando-o com a mão esquerda. Enquanto isso, utilizava a direita para pedir a aproximação de Ísis, que voava em torno dele. Enquanto ela descia, estrelas constelações surgiam no teto do salão, parecendo querer aproximar-se também. Desejos cósmicos, união.

Os que cantam, sussurram, perguntam, sugerem e criticam. Todos sonham, desejam algo. Todos olham para o brilho estrelado com expectativa. E personificando tais desejos, Ísis tocou a mão de seu treinador. E da mesma forma que as estrelas brilham, ela também começou a brilhar. Começou fraco, uma luminosidade prateada que reluzia.

Mas conforme Ren aproximava sua mão esquerda da direita, da Floette, o brilho começou a aumentar, tornar-se mais intenso. Até que não podia nem mesmo ser fitado. Os cantos, sussurros e tudo mais pararam conforme nada mais pôde ser visto. Quando a luz finalmente cessou, não se via mais aquela pequena fada florida em lugar nenhum.

Não.

No lugar dela, uma bela, esguia e formosa forma humanoide. Seu corpo era envolto por folhas, fibras e claro, flores. O próprio ar parecia estar mais aromático. Ren sorriu, tomou a mão da flor, e então fez uma outra reverência, assim encerrando sua apresentação. Recolheria seus monstrinhos o mais rapidamente possível, deixando apenas Florges fora.

Nada mais adequado que tê-la ali, na La Casa de las Florges, certo? De qualquer forma, Ren tentaria aproveitar o restante da noite, orientando-se com base nas orientações que imaginava que Lilith daria. Acho que era isso, então. O dia tinha sido corrido, mas ao que tudo indicava, as coisas deram certo. O que aconteceria agora? Poderia ir embora no dia seguinte, com um belíssimo time skip?