01 - Os Primeiros Passos

Os Primeiros Passos

Hoothoot começava a piar enquanto me encarava, não entendi muito bem o que ele queria com aquilo, mas logo minha atenção foi direcionada à outra coisa, ao fundo um carro passava e levantava poeira e com isso pude perceber a presença de alguém.

Era um rapaz, que vinha em nossa direção, seus passos pesados me indicavam que ele não estava tão afim de conversa ou um piquenique. Continuei a encarar a figura masculina que se aproximava cada vez mais, notei que seus punhos estavam cerrados e em uma de suas mãos algo que eu não sabia reconhecer muito bem, além de sua cor.

— Lá vem...  — bufei enquanto cruzava os braços.

Quem quer que seja aquele menino eu não estava com a mínima paciência, não ia deixar um moleque enfezado acabar com a minha alegria logo cedo. Eu estava aproveitando da minha vitória, de como me saí em batalha, se ele fosse mais um daqueles meninos mimados que moravam perto da estalagem eu ia dar com uma pedra na cabeça dele, e eu estava falando sério.

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— E EU TE TACO DUAS, SEU MOLEQUE! — respondi sem pensar duas vezes me agachando fingindo estar pegando pedras.

Era óbvio que eu não ia agredir uma criança, ele devia ter uns 9, 8 anos pela sua estatura, era rechonchudo e tinha cara de que se eu gritasse mais duas vezes correria pra mãe chorar e dizer que tinha uma louca ameaçando de cortar o mindinho dele...

Virei para a corujinha, ela estava agarrada nas minhas costas, parecia não querer ir com o menino, mas pela reação dela eu entendi que ela o conhecia e algo não estava certo.

— Hoothoot, é verdade? Você é o pokémon desse menino? — era quase como uma pergunta retórica — Ele te machuca? Por que você não quer voltar com ele?

Ignorei completamente a presença do garoto por um instante, eu estava mais preocupada com o bem estar do pokémon noturno, talvez ela quisesse passear e ele só pensasse em batalhas? Ou ele maltratava a corujinha, algo ele fazia de errado e eu descobriria.

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O menino parecia não temer uma possível agressão, eu na idade dele certamente não teria falado assim, muito menos ameaçar uma pessoa adulta de lhe jogar pedras, Hoothoot não me respondia diretamente.

Peguei a pokébola de Cleffa e liberei a pokémon fada entre mim e o menino, eu resolveria aquilo de uma vez por todas, talvez ele desse gargalhada ao ver minha pokémon, mas eu chutaria seu bunda numa batalha a qualquer momento.

— Parece que Hoothoot não quer voltar com você, então vamos resolver isso numa batalha!

Eu disse para o menino, na verdade uma batalha não seria necessária tudo que ele deveria fazer é apontar a pokébola da coruja e retorná-la e não teria nada com o que eu pudesse fazer, mas já que aquele moleque esquentadinho não estava pensando direito eu me defenderia de uma possível pedrada numa batalha pokémon.

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Minha tentativa de resolver numa batalha foram frustradas, talvez o menino só tivesse Hoothoot e nenhum outro pokémon e querendo manter uma pose, recusou a luta enquanto me xingava novamente, aquilo já estava ficando chato.

Para o meu horror o moleque tinha lançado a pedra na minha direção, não que ele tivesse força o suficiente para me ferir, mas ainda assim, a audácia daquele pivete era evidente. A coruja parecia ter se cansado dos berros do menino e começou a voar em sua direção.

— Tem certeza, Hoothoot? — perguntei à coruja, ela não parecia muito afim.

Me aproximei do menino, um pouco contrariada, não tinha coisa que eu mais detestava que criança infernal sem educação, onde estava a mãe daquela criança? Onde já se viu, criança mal educada!

— O que você fez é ridículo, ouviu? — a rispidez da minha voz era evidente, eu realmente estava sem saco — Se você continuar assim, nenhum pokémon seu vai querer continuar sendo seu pokémon.

Olhei o menino de cima a baixo, esperava que ele entedesse que eu estava falando sério e que a atitude dele era a responsável pela ave ter se afastado de seu treinador e procurado outra pessoa para brincar.

Cleffa estava comigo há dois anos inteiros, tudo bem que eu a vi nascer, cuidei e criei, mas sempre dei amor à ela, nossa amizade era verdadeira e eu sabia que Cherry nunca me abandonaria, pois o laço que eu criei com ela era forte demais. Nunca que eu a trataria como um objeto, nenhum pokémon meu seria tratado assim.

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— Se cuide, Hoothoot!

E com essa frase me afastei do menino. Eu não ia perder meu tempo com uma criança remelenta no meio do nada, minha aventura estava começando e eu não perderia mais nenhum segundo ouvindo choro de um moleque mimado.

Me senti mal por abandonar a coruja com uma criatura tão irritante, mas eu não poderia fazer nada quanto aquilo. Hoothoot era o pokémon do menino e eu não poderia me meter, fora que eu estaria correndo o risco de chamar atenção para mim mesma.

— Vem, Cherry, vamos nos divertir! — chamei minha pokémon rosada para perto, tínhamos um continente inteiro à nossa disposição.

Estar na natureza era reconfortante, logo eu já estava esquecendo dos gritos e esperneios daquela criança, o sol brilhava no topo da minha cabeça, a brisa do mar chegava lentamente, trazendo um aroma salgado familiar, tudo ali me deixava ainda mais relaxada.

— Cherry, vamos apostar corrida?

Antes mesmo de ouvir sua resposta eu dei a largada, não estava tão próxima do acostamento da estrada, mas era capaz de vê-la e me guiar por ela.