004 — Doll Fanfest

Não tinha como esperar menos de um mega, os golpes eram fortes mas como a ideia era causar danos, eles iriam investir nisso. Sabendo os próximos movimentos do adversário, ele precisava continuar.

- Bulbasaur use Growth enquanto ele se protege, depois prossiga com Grass Pledge!

A derrota era certa, mas o objetivo daquela tenda era simplesmente causar danos. O garoto não abriria mão de fazê-lo e Bulbasaur parecia estar um tanto mais motivado a levar aquilo até o fim com a ativação de sua habilidade.

- Bulbasaur use Grass Pledge enquanto puder, retire o máximo de vida que puder!

O nocaute de Bulbasaur finalizava aquele combate por prêmios, mas a vida retirada não era tão pouca considerando que Charlie obteve com êxito duas premiações. Ignorando os comentário finais do homem que cuidava daquela tenda, o ruivo apenas se focou no sapo que mesmo derrotado, parecia ter se divertido com tudo aquilo.

Finalmente livres daquele ambiente bizarro, a dupla seguia a viagem rumo a fatídica roda gigante. O coração do mais novo ficava na boca quando ele notou um suave brilho nos olhos do amigo ao fitar a atração. Quase passando mal só de imaginar a visão lá de cima, o ruivo tentava puxar Ethan para o outro lado.

- Olha! Talvez aquilo seja uma barraca de... alguma coisa... interessante...
- Não se preocupe, ela não vai sair dali. Precisamos ir no que está mais perto, e, qual é! - completou apontando para o brinquedo. - Uma roda gigante?! Não está animado pela adrenalina?
- Não... mas... você pode ir. Eu fico sentado naquele banco e te espero

Com a frase, o criador seguia rumo ao banco indicado, sentando-se nele e alisando o corpo do inicial. No entanto, o mais velho se sentava ao seu lado, talvez decepcionado ou triste, mas com certeza não era a animação anterior.

- O que foi?
- Não será a mesma coisa sem você e... não quero te forçar a nada

O garoto respirava fundo naquele momento, "o que fazer?" se questionava. Para sua sorte, uma criatura que sempre esteve a seu lado continuaria por perto, mas também se abrir a novas conexões era necessário e bom. Bulbasaur enrolava as vinhas na mão do amigo e o conduzia até as de Ethan. Confuso, ele apenas encarava o contato.

- Nesse caso, vamos lá. Você fez muito por mim, é o mínimo que posso fazer
- Prometo que não cairá... e que vai gostar! - exclamou abrindo um dos sorrisos mais bonitos que o outro já viu.

Se acomodando nas cabines, elas pareciam firmes e grandes o suficiente para que Clamperl pudesse dividir espaço. Seu peso poderia ser um problema, até fez um barulho, mas como não houve reclamação do funcionário, talvez ficaria tudo bem. A medida que a cabine subia, o ar do ruivo parecia diminuir. Sem olhar pra baixo, ele buscou segurança no abraço de Bulbasaur, mas também recebia um apoio das mãos do amigo que se solidarizava com o medo.

A subida parecia infinita para o garoto que não queria abrir os olhos, mas após se manterem numa mesma altitude por um tempo, resolveu espiar entre os dedos. Charlie não sabia a quanto tempo o amigo estava o encarando, mas o que mais lhe chamava a atenção era como o brilho da Lua reluzia em seus olhos. A brisa era fraca, mas suficiente para criar aqueles efeitos no cabelo de um personagem para expressar toda a sua beleza.

Com o rosto corado, ele abaixava as mãos lentamente e mantinha o contato visual. Ethan parecia também estar numa espécie de devaneio pois encarava os cabelos ruivo do garoto se harmonizarem na noite escura. Os corações acelerados só poderiam ser sentidos por eles mesmos, mas com o inicio da descida da cabine, o criador retornava a sua posição defensiva enquanto o mais velho se recompusera.

A situação era um tanto estranha, Charlie estava a tanto tempo com Ethan que não podia imaginar perde-lo, mas isso era uma possibilidade se ele tentasse dar um passo maior que a perna. No entanto, ele não podia mentir para a própria mente: aquela não era a primeira vez que sentiu isso, mas fora a primeira vez que viu um fio de reciprocidade.

Ambos respiravam fundo naquele momento, talvez buscando forças para dizer algo, no entanto um fenômeno sobrenatural os tiraria de tal foco. Brenda havia se materializado na cabine, um fantasma os perseguia de fato, mas aparentemente ela queria se explicar. Mais curioso que com medo, o ruivo retirou a mão dos olhos para conversar com a entidade.

- Brenda? Como... é possível
- Já ouvimos um pouco sobre você... mas sinta-se livre para falar

Após Brenda contar sobre a própria morte, ambos os garotos retornavam a ter uma sensação estranha mas apenas o ruivo realmente liberava lágrimas. Charlie sabia da existência da fatalidade em Kanto e Johto, mas ver uma vítima dele era a pior experiência que poderia ter. Naquele brinquedo em que ele se divertia hoje, a tempos atrás pessoas gritavam, mas não de felicidade.

- Lamento que tudo tenha ocorrido - disse Ethan com os olhos molhados. - Mas, se isso ajudar, apenas olhe ao seu redor. Você conseguiu Brenda! O medo não venceu... mesmo agora
- Eu fico feliz por ter ajudado, ainda que não soubesse - iniciou secando os olhos. - Mas eu também quero dizer obrigado por nos receber nesse evento, apresentar a barraca com um doce incrível... por mostrar que atos pequenos podem mudar o dia de alguém
- E se me permite acrescentar, é incrível ver que mesmo no outro plano, você ainda está cuidando de sua família. Pois, no final, o que realmente importa é aqueles que amamos

Após o final da frase, o mais velho desviou o olhar para o amigo, mas esse não notou. Continuando a observar Brenda, eles imaginavam se ela diria mais alguma coisa ou apenas desaparecia novamente. De qualquer forma, os garotos estariam lá para ela.