Procedimentos iniciais tomados com Sra. Milaje, fui conduzido até onde seria a palestra inicial, juntamente com o grupo que estava comigo na sala de espera. Era um anfiteatro enorme, com grandes quadros e telões para acesso de todos os ângulos. Na frente destes estava um homem loiro conversando com outras pessoas. Seriam eles recrutas também? Observei que o trio que estava comigo decidiu ficar nas cadeiras um pouco mais afastadas na sala, talvez por medo, timidez, ou um pouco dos dois. Também estava bem aflito e ansioso com tudo aquilo, mas havia um certo sentimento de trabalho em equipe desde já, mesmo que houvesse um tipo de processo seletivo rolando. Como disse, não encarava aquilo como uma competição. Procurei uma cadeira vaga próximo dos três e me sentei. - E ai pessoal, nervosos? Eu tô uma pilha! - tentei puxar papo com eles enquanto a palestra não começava. Aos poucos iam entrando mais e mais pessoas, e o espaço ia ficando cada vez mais cheio. Por fim, um sinal no telão indicava o surgimento do primeiro slide, com o título e o nome do palestrante: Richard Morkevdiski.
Eu não o conhecia, definitivamente. Nem ouvi falar. Mas supus que fosse um tipo de oficial de alta patente, ao menos uma intermediária, já que era dado sobre si a responsabilidade de ser a “primeira peneira” na seleção de novos recrutas. Ele começou a falar, introduzindo-se e fazendo piadas com algumas pessoas da sala, onde constatei que eram veteranas. Será uma espécie de banca avaliadora? Muitas perguntas se formavam na minha mente devido basicamente a ansiedade, então busquei controlar minha respiração para não deixar esses sentimentos me distrair. Já nas primeiras palavras, sobre essa coisa de “ser um Ranger”, já encontrei algumas identificações comigo mesmo. Mesmo sendo jovem e inexperiente como treinador, me joguei colina abaixo para resgatar Kinney, quando ainda era uma Sneasel selvagem, ferida, desacordada e com febre. Foi esse mesmo ímpeto que me fez insistir em cuidar dela mesmo tendo quase perdido um olho por suas garras. Foi esse mesmo sentimento que me atirou na frente do caçador ilegal, logo nas minhas primeiras horas de jornada. Essa “coisa” que me faz tomar à frente e ajudar quem precisa, mesmo colocando minha integridade em risco. Será isso que Henry queria me dizer quando mencionou que eu deveria me tornar um Ranger?
Aos poucos a parte introdutória foi dando espaço a algo com mais cara de conteúdo de aula. Tratei de anotar algumas coisas, principalmente o três pilares da instituição, elencados com ênfase por Richard. Desenhei um pequeno tripé no bloco de notas, como se uma leve falha em qualquer um destes aspectos fizesse todo o conjunto despencar e não funcionar. A lealdade era um ponto bem interessante. Não tenho problemas para seguir ordens ou procedimentos, muitos até me consideram um jovem “metódico demais”. Mas não é como se seguisse tudo de forma cega. Como Richard disse, seguir ordens mesmo discordando significa obedecer a uma cadeia de comando que é estruturada para funcionar de uma maneira… bem, metódica. Porém consigo me recordar de algumas situações que no próprio Corpo de Resgate questionei algumas ordens. Não em tom de rebeldia, mas em tom de interesse em entender mais sobre como a situação fora planejada, a fim de “amolar” as pontas soltas. Consigo me lembrar, também, que em todas essas vezes as orden foram eficazes e me guiaram para o sucesso da minha missão, e mesmo não estando em risco é como se minha tivesse sido salva por elas. Parte da lealdade é a confiança em sua cadeia de comando, mesmo que essa seja uma coisa conquistada com o tempo. Sobre a honra, digamos que leve essa até a sério demais, já que fui alertado diversas vezes sobre correr riscos em missões. É o que meu velho sempre diz: “Esteja seguro para salvar alguém!”. Quanto à força de vontade e garra… cá pra nós, garanto que sou o recruta mais teimoso nessa sala, no sentido de sempre buscar a melhor forma para alcançar meus objetivos!
Em seguida, Richard foi apontando as subdivisões dentro da organização, as ditas classes e suas respectivas atribuições. Aos Patrulheiros é dada a responsabilidade por zelar pela segurança dos ambientes urbanos, interioranos e adjacências. São encarregados pela manutenção da paz e neutralização de agentes que a perturbem, como bandidos, traficantes, gangues ou arruaceiros, bem como auxiliar a população em demandas que não possam solucionar sozinhos. Aos Guardas Ambientais é dado o encargo de monitoras e guardas rotas comuns, marítimas e florestas, de modo geral. Devem proteger o equilíbrio dos ecossistemas, neutralizando agentes que possam perturbá-los de alguma coisa, bem como auxiliar pessoas que optam pelo isolamento da sociedade e vivem em reclusão nesses ambientes. Aos Guardas Nacionais é incumbida a responsabilidade de explorar áreas mais isoladas a fim de conter agentes criminosos atuando ilegalmente nessas áreas, bem como agir quando Pokémons descontrolados ameaçam a conjuntura do bioma em qualquer nível. Devido ao difícil acesso, estes agentes são instruídos a não entrarem em confrontos desnecessários pelo caminho, para garantir que estejam lá em tempo hábil e com o máximo de recursos à disposição.
Por fim, o palestrante apontou os principais equipamentos usados pelos Rangers. Confesso, fiquei empolgado com alguns dos apetrechos, em especial a PokeNav exclusiva! Há desde equipamentos de segurança para as diversas finalidades e localidades para onde um Ranger deve ir como itens imprescindíveis, como a Ranger Ball, a mesma que Henry usou para capturar o Magneton descontrolado em Mauville. Me recordo dele comentar sobre enviar o metálico até a base para que fosse tratado de seu descontrole. Além disso, Richard também falou sobre os principais inimigos da instituição, sendo estes organizações criminosas, caçadores, contrabandistas, traficantes… todas uma leva pútrida de pessoas sem o menor escrúpulo para tirar vantagem sobre as pessoas. Ao final da palestra, ele agradeceu a todos os presentes e convocou todos os aspirantes a recrutas para fazer uma fila próximo a uma porta. Troquei olhares um tanto apavorado para o trio que me acompanhava, e o sentimento era o mesmo. Seguimos o comandado e formados a fila.
Richard então soltou a primeira bomba do dia: a prova já havia começado! O que respondessemos naquele momento definiria quantos (ou se!) pontos extras ganharíamos! A pergunta nem era tão complexa, mas era profunda: Por que escolhemos ser da classe que queríamos? Engoli em seco quando ele apontou o dedo para o primeiro da fila, e agradeci muito por não ter sido eu! Porém eu era o próximo! Meus sentidos estavam à mil, minha boca ressecou, não conseguia sequer raciocinar direito. Estava convicto na minha escolha para Guarda Nacional, mas ainda assim… essas coisas são muito complexas! Uma frase, que o próprio palestrante disse, no entanto, ressoava dentro de mim: o que está em meu coração. Fechei os olhos e respirei fundo, tentei trazer à tona tudo que havia experimentado, vivido e sentido até ali. Lembrei de todas as pessoas que passaram pela minha curta jornada. As histórias, confianças depositadas em mim, novos companheiros de viagem dados aos meus cuidados. Companheiros de viagem… minha equipe! Àqueles a quem confio e que confiam em mim em totalidade. Abri um sorriso discreto, sem querer, ao mesmo tempo que senti o toque em meu peito. Era minha vez de falar! - Senhor, me chamo Galvanis Vitale, e sou da cidade de Lavaridge! Minha escolha são os Guardas Nacionais! - comecei a dizer com a voz firme e decidida, até que soltei os ombros e me permiti um momento de relaxamento - No momento que botei os pés para fora de Lavaridge junto com minha parceira Pokémon, só havia um objetivo em minha mente: me tornar o melhor treinador de Pokémons para resgate, formando a maior e mais eficiente equipe de resgate Pokémon que esse mundo já viu! - fechei os punhos, controlei o fluxo de ar - Cresci em meio à pessoas que dedicam sua vida para salvar outras. Meu pai é sargento do Corpo de Resgate de Lavaridge, onde sou um recruta honorário. Minha mãe também era resgatista… - inconscientemente levei a mão ao meu colar de conchas sobre o peito, antes de encarar o superior com determinação - Quero me juntar aos Guardas Nacionais para isso, resgatar pessoas e Pokémons! Há muitas pessoas para serem salvas nas cidades pelos Patrulheiros, outras tantas nas rotas e áreas abertas pelos Guardas Ambientais. Mas nas encostas rochosas, em alto mar, no meio de um deserto, no alto de uma geleira… é de lá que vem as vozes mais difíceis de serem ouvidas. E pode ter certeza que eu as ouvirei e irei resgatá-las, cada uma delas, senhor! - senti meu coração palpitando mais forte, e tive a leve impressão de também sentir minhas seis pokébolas vibrarem na cintura. Parece que não abri só o meu coração naquela sala. Talvez tenha sido porta-voz de toda a minha equipe. Continuei encarando o superior, até que caí em mim e percebi que tinha… chamado atenção demais, talvez?