Trainwreck

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Ok, essa definitivamente não foi a melhor ideia que eu tive hoje. Quase que instantaneamente ao meu pouso, surgiram seguranças armados de todos os lados, com armas que certamente feririam bastante a mim e meus Pokémon, e com um chefe de poucas palavras. Ele me dava medo, devo admitir, mas ninguém precisava saber disso. Tentei pigarrear para recuperar o ar depois de engolir em seco, e busquei dentro de mim a maneira correta de abordar a situação; talvez falar a verdade fosse a melhor opção? Não costumava mentir em momentos que não era obrigado a tal, com acontecera no Soneto.

Todavia, eu seria obrigado a não contar a verdade.

Quer dizer, quem garantia que eles acreditariam em mim de qualquer forma? Não havia garantia alguma de que eu era quem dizia ser, a menos que... A menos que eu mostrasse o cartão da Requiem? Ta, não era a ideia mais criativa do mundo, mas poderia funcionar bem, né? Se eu contasse que estava ali em vias de pesquisas, representando a minha sociedade, certamente seria ponderada uma permissão para eu ficar naquela ilha, não? Na minha cabeça funcionaria bem, mas já vimos que hoje não estou refletindo muito bem sobre as consequências de meus atos.

- Ahn... Olá! Eu me chamo Luke. Lukas Horan. Sou membro da Requiem, a sociedade que tem base em Cerulean e tem uma ótima relação com a cidade. Eu tinha que captar alguns dados para pesquisas sobre as espécies invasoras do Pacific Reef, e como não consegui encontrar nada muito próximo, achei que vir a essa ilhota fosse uma boa ideia, já que parecia pertencer a Cerulean. - Expliquei-me, coçando a nuca. Fiz um "ah" com a boca e tirei de bolso a carteirinha de membro, esticando o braço para o chefe. - Aqui está minha identificação. - Completei, esperando que fosse suficiente.

O máximo que poderia acontecer era tomar um tiro, né?

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Para minha surpresa, a primeira reação não veio do lado de lá... Wimber e Amor agiram, sem nem precisarem de fato agir, se colocando a minha frente. A Roserade foi a primeira, apontando seus espinhos para o grupo, formando uma cena engraçada, visto seu metro de altura perto daqueles marmanjões de quase dois, e com o triplo de seu peso. Eu me segurei de verdade para não rir e estragar a cena, queria que ela se sentisse bem enquanto tentava me defender e não constrange-la na frente de vários estranhos. Sendo assim, engoli em seco para nem mesmo sorrir, e esperei que toda a movimentação terminasse.

O Crobat não demorou a se juntar, mesmo com os policiais dando sinal de que iriam atacar, e eu provavelmente teria de intervir o mais rápido possível. A ventania que o morcego criou foi o suficiente para me fazer colocar também o braço acima dos olhos, tentando enxergar se ele havia ferido eles ou coisa parecida, mas aparentemente, só espalhou areia. Quando terminou, o chefe me abordou novamente, pedindo que eu me livrasse dos dois; não era um pedido drástico, e eu já estava realmente prestes a fazer a isso. Acenei com a cabeça em resposta, sacando as esferas dos dois monstrinhos, mas ainda não os retornando.

- Queridos, não precisa de tudo isso, podem descansar. - O primeiro pedido era que simplesmente desfizessem a posição de ataque, mas claramente não funcionou. Quando eles viram que todos mudaram de posição para algo ainda mais tendencioso, eles quase atacaram sem minha ordem, me fazendo retorna-los de supetão, num reflexo maior do que eu imaginava que tinha. - Me desculpem por isso. - Eu falei para meus monstrinhos, mas também servia para todos presentes ali. - Então, como eu estava dizendo antes de ser interrompido... - E expliquei toda a situação de novo, usando quase as mesmas palavras, da maneira que eu lembrava das frases. Esperava que agora não tivesse outras surpresas.

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A reação de todos foi a melhor possível, baixaram suas armas e se fizeram ouvintes, por tempo suficiente para que me faltasse palavras á preencher o vazio e o silêncio que perduraram antes do capitão pegar meu cartão e passar a examina-lo. Eu sabia que poderia identificado, e que se estivesse mentindo, eles com certeza descobririam, mas era por isso que eu não estava. De certa forma, isso tudo interessava a Requiem também, afinal, nós também apoiamos Cerulean, ao mesmo tempo que buscamos descobrir os segredos de desastres ambientais, como o que aconteceu em Tohjo anos atrás, não é?

Pois então, o que mais nós gostaríamos de saber que não uma invasão de espécies exóticas que estava destruindo a fauna nativa de um dos maiores Landmarks de Kanto? Super nos interessava, e eu tenho certeza que se ele ligasse para qualquer outro membro de minha sociedade perguntando sobre essa missão, todos eles confirmariam e diriam que realmente buscávamos ajudar a cidade. Mas então, veio a pergunta que sintetiza todos os pensamentos que eu estava tendo. Responder aquilo depois de analisar tudo isso seria fácil, e eu nem precisei me esforçar para mentir. - A causa ambiental é uma das mais importantes para nós. - Respondi, calmamente.

- Desde nossa fundação, coisas como o que aconteceu aqui anos atrás, e situações de bioterrorismo como essa certamente estavam em nossas pautas principais. Afinal, nós temos nossa única base em Kanto, estabelecemos grande parte de nosso poderio em Cerulean, e saber que um Landmark importante como esse está sendo ameaçado, é... perturbador. Não poderíamos ficar de braços cruzados enquanto as Corsola morrem para as Mareanie. - Completei, finalizando com um suspiro.

Por fim, todos os seus outros soldados começaram a sair, e a postura do general já não era mais tão agressiva comigo, o que era certamente um bom sinal. - Só estou pedindo um pouco de espaço para ajudar nas pesquisas, Senhor. Tenho certeza que nem vai me notar por aqui. - Foi meu pedido sincero. Eu realmente só queria poder caçar alguma coisa ali em paz, sem ninguém me encher o saco, mas... Algo me dizia que nem tudo seriam flores hoje.

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Dali em diante, tudo aconteceu depressa demais pra mim. Primeiro, o capitão falou com alguém que eu sequer fazia ideia da identidade, e provavelmente não descobriria tão cedo; depois, a gente esperou. Veja bem, não foi um depressa literal, algumas coisas demoraram, mas aconteceram tantas que pareceu passar rápido demais. Afinal, tempo é uma construção, não é? Pois bem, depois de alguns minutos, a pessoa com que ele conversava apareceu, trazendo novamente o carro em que o homem estava anteriormente. Ele pareceu ter compado a minha ideia, mas agora estava indo embora?

Para minha sorte, estava, mas me levaria junto.

Eu sorri quando ele me pediu que fosse com ele, e pareceu acreditar cem por cento em tudo que disse. Era ótimo não ter de sustentar outra mentira, e conseguir recontar aquela caso precisasse também era uma vantagem; eu estava pronto para embarcar na viagem, mais do que nunca, queria aprender mais sobre o lugar e descobrir os maiores segredos do porquê tudo aquilo estava acontecendo. O laboratório parecia de longe a melhor opção para isso, e Rider fez questão de me levar para meu objetivo principal. Devo agradecer ele antes de me despedir.

Andamos por alguma fração de tempo, e logo encontramos o laboratório de tamanho médio, que me chamava a atenção apenas por nunca ter entrado em um. Era baixo, mas claramente grande por dentro, coisa que eu provavelmente descobriria num futuro próximo; segui com Rider por uma catraca e passando por alguns portões antes de ver o ambiente com piscina. Parecia ser ainda maior do que eu imaginava, e provavelmente era usado para testes com espécimes vivos? Não sabia ao certo, mas imaginava que fosse. De qualquer forma, seguimos, andamos por um corredor-quase-infinito, até encontrarmos vários pesquisadores (ao menos eu pensei que fossem, pela maneira que se vestiam).

O principal deles me abordou, questionando se eu era Lukas, e recebendo uma assertiva com a cabeça, num movimento de cima a baixo. O segui para sua sala, voltando pelo caminho que acabamos de fazer, e entrando numa salinha pequena o bastante para quase não caber a mim ali dentro; era um lugar bastante normal, nada inusitado como eu sonhava. Não tinha nenhum bugiganga de cientista nem nada do tipo, era só uma escritório comum, o que decepcionou minha criança interior, devo admitir. Mas não tive tanto tempo para pensar, ele logo começou a me bombardear de perguntas, e o máximo que consegui fazer fora coçar a nuca e manter uma expressão de "eu não tenho nada disso".

Para minha sorte, ele sabia onde conseguir e já me dissera de antemão. Eu provavelmente teria de voltar para Acapulco agora, ou até ir para Cerulean, já que envolvia a Requiem. No entanto, deixei que ele completasse a informação e o direcionamento, falando algo apenas no final. - Eu consigo tudo isso com facilidade? - Questionei, sem saber de fato se teria tempo para trazer tudo isso ainda hoje. Quer dizer, cartório são tão burocráticos quanto parecem ser, e não tinham garantias que eu iria conseguir ser atendido hoje, quem dirá conseguir todos os documentos. Esperava que a resposta dele fosse positiva, contudo, para me deixar mais calmo, e assim, já trataria de sair voando. O destino? Cerulean, de fato. A resposta dele confirmaria minhas ideias, tenho certeza.

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A viagem, apesar de rápida, na minha cabeça, demorou anos. O tempo que eu levei para ir até Cerulean, ser atendido e voltar, pro meu corpo, foi imenso; eu estava um pouco mais cansado do que antes de ir, exausto de não fazer nada mesmo, entediado por ter que resolver coisas burocráticas. Eu sabia que era importante, mas eu só queria ir logo encontrar as Mareanie, e estudar elas. Esperava que ao menos quando voltasse, tudo fosse mais depressa e eu logo estivesse indo atrás de meus alvos.

Quando pousei de novo na ilha artificial de Cerulean, tratei logo de retornar Wimber, não queria que ele causasse confusão como da outra vez, e menos ainda que ele acabasse atacando alguém sem querer; quer dizer, ele não era disso, mas vai saber? Wimbie estava meio estranho hoje, e eu não sabia bem o que esperar de sua atitude rebelde. Por outro lado, Scolipede deveria estar normal, e eu não estava tão afim de andar, então seguir em suas costas parecia uma boa ideia. Liberei o monstrinho e seguimos andando, de volta para o laboratório.

Só fui traze-lo de volta para a esfera quando paramos na porta do lugar, e eu pude entrar novamente, dessa vez, com a segurança do local me guiando. Quando voltei para a sala do Professor, esperei que ele aparecesse, para poder entregar os documentos. - Aqui estão. Tudo que você me pediu. - Sorri, passando a pasta para ele e esperando que estivesse realmente tudo certo. Me sentia numa admissão de emprego, que precisava estar com os documentos todos cem por cento para poder ser aceito. - E desculpe a demora. - Cocei a nuca, ainda sorrindo.