Unbroken

Mesmo encurralado contra dois Pokémon, Electrode mostrou que não devia ser subestimando. Seus relâmpagos “doíam” até mesmo no Karateka que sempre que via a técnica atingir Shiva, se contraia por reflexo de modo quase imperceptível. Contudo, a vantagem numérica prevaleceu...

- Vocês foram ótimos – Parabenizou o trio avançando até eles com afeto, passando o braço pelo ombro de Medicham que percebendo o fim da luta, desfez a sua transformação antes de corresponder ao aperto do treinador. Zweilous ao lado observava o senhor imaginando se teria um novo oponente, até que Will bagunçou a cabeça de Kron anunciando o fim da luta. O gêmeo mais amistoso riu feito uma criança, por outro lado, Algol o austero, manteve o queixo erguido com orgulho.

- Foi uma boa batalha, Dimitri... – Conseguiu dizer antes que o senhor começasse o seu discurso. O elogio deixou o jovem radiante, mas o “você não é o tipo de pessoa que estou procurando” plantou uma semente incomoda em sua mente, Will se enquadra em que tipo de treinador? Ele quis perguntar, mas afastou a ideia ao notar a pressa do homem que tinha os seus próprios objetivos, assim como Will tinha os seus motivos para estar naquela cidade.

- Uma pena que não faremos a segunda batalha... Agradeço pelo seu tempo, Dimitri. Consegui tirar uma boa lição do nosso “treino”. Espero revê-lo por aí! – O treinador ficou ali observando o senhor ir embora quando percebeu que não perguntou nada a ele sobre o Mestre Chuck. Se bem que sendo um estrangeiro, Dimitri não devia saber muito. Bem, era chegado o momento de procurar por um morador que pudesse ajudá-lo com isso.

- Vamos entrar para a Enfermeira Joy dar uma olhada em vocês... – Ele se virou para os seus Pokémon só para ser pego de surpresa pelo brilho da evolução. Será que as palavras do senhor Dimitri incomodara o Zweilous? Pois acredite, o Dragão noturno estava evoluindo. Podia ser apenas impressão sua, mas o brilho da evolução do seu Pokémon pareceu mais forte do que qualquer outro que ele tenha visto até então. A luz estava tão forte que chegou a cegá-lo por um instante. Quando finalmente voltou a enxergar, uma criatura amedrontadora o encarava a apenas 30 cm de distância do seu rosto.

- K-kron? – Fora a primeira vez que Will sentiu medo. Sentiu as pernas fraquejarem e lutou para não recuar. Não sabia se o seu Pokémon havia mudado e precisava demonstrar quem era o Alpha no grupo. A própria Shiva ficou receosa, sem saber se agia para defender o seu treinador ou não. A tensão durou um instante, mesmo que tenha parecido horas, mas o Hydreigon se moveu lambendo o rosto do treinador com carinho e revelando que a essência do amável Kron ainda estava ali.

Will desatou a rir, abraçando a cabeça líder enquanto as outras também o envolviam. E agora? Os gêmeos viraram trigêmeos ou as cabeças menores estavam ligadas ao cérebro da principal, sendo apenas “mãos” com forma de cabeça? Pensar nisso deu dor de cabeça no treinador. E para onde fora Algol?

- Vamos entrar, vamos deixar a Enfermeira Joy tratar vocês... – Ele liderou a dupla até o interior do Centro Pokémon pedindo que a Joy curasse os dois Pokémon. Quando ela retornasse com eles, aproveitaria para tentar matar uma curiosidade. – Enfermeira Joy, você conhecia aquele homem que estava aqui no CP? Um senhor de bengala usando roupas luxuosas?

A resposta da Enfermeira Joy deixou Will ainda mais intrigado a respeito do homem. O que é que ele tanto fazia andando por Cianwood sozinho? Estaria colhendo informação sobre algo? Por mais que a curiosidade fosse um dos combustíveis do jovem, ele deu de ombros antes de voltar a falar, afinal, nem todo mundo é uma pessoa ruim ou está conspirando...

- Entendo. Ele é meio suspeito – comentou rindo – mas pode ser só um senhor solitário. Batalhei com ele agora a pouco e pelo menos os seus Pokémon, ele tratou com respeito. – O jovem recuperou suas Pokébolas agradecendo uma vez mais o atendimento, mas antes de ir embora, queria saber se a mulher poderia ajudá-lo. – Imagino que você conheça bem a cidade, Enfemeira Joy. Sabe me dizer quais Dojô tem por aqui? Ou mesmo nomes de grandes Mestres em artes marciais? Estou querendo fazer umas visitas... E o Mestre Chuck? Ele deve ser bem famoso na cidade, né? Ouvi muito sobre ele em Vermilion. Se puder me contar um pouco das façanhas dele... – Eram muitos questionamentos, Will parecia aquelas crianças curiosas que quer saber de tudo, mas apesar disso, uma mente afiada não teria problemas em organizar as informações. Restava saber se a Enfermeira Joy seria uma boa fonte.

A Enfermeira Joy parecia conspirar, como se soubesse de algo rolando na cidade, mas não querendo estragar a surpresa que a ilha pudesse oferecer ao jovem. Ele olhou para ela desconfiado, como um sorriso questionador no rosto. No entanto, sabia que a mulher era ocupada, mesmo com tão poucos treinadores pedindo ajuda, ela tinha seus afazeres na área privada do CP. Com isso em mente, ele se afastou do balcão de atendimento e brincou agradecendo com um gesto galanteador, um movimento cavalheiresco de uma corte antiga.

- Obrigado, Enfermeira Joy! Vou seguir o seu conselho e dar uma volta na cidade... Se Mestre Chuck fez a metade das coisas que ouvi falar, saberei que fiz a escolha certa. Até mais tarde!

Ele se despediu e saiu do Centro Pokémon com Gabite ao seu lado para fazer-lhe companhia. Seu destino seria a praia mais próxima. Talvez encontrasse banhistas ou pessoas praticando exercícios na orla. O Dragão estava tão animado quanto o Karateka, pois apesar do sol, o vento costeiro que trazia a maresia tornava o clima bem agradável, ainda mais para uma espécie natural do deserto.

Não demoraram para alcançar a praia e verem aquele cenário nostálgico, mas ainda com suas peculiaridades bem-vindas de cidade pequena. Só de lembrar das praias de Slateport e Vermilion, Will estremecia, tinham dias que era praticamente impossível você caminhar na areia. Mas ali não, apesar dos frequentadores, o número nem chegava perto da quantidade de pessoas que se aglomeravam nas cidades grandes.

- Veja, Maegor. Tem alguns pescadores ali... – Ver aqueles homens pescando fez o treinador lembrar que precisava capturar alguns Pokémon aquáticos para sua futura fazenda. Alguns Krabbys ou Staryus viriam bem a calhar, espécimes que ele ainda não possuía. – Depois vamos lá, talvez consigamos salvar alguns Krabbys de ir para a panela de alguém. – Pensar na sua fazenda também o lembrou de sua coleção de aves. Olhou ao redor procurando nas árvores por algum sinal dos famosos Hoothoot, ele sempre desejou um Noctowl. – Garoto, fique de olhos abertos. Se ver algum Pokémon voando por perto ou saindo do mar, me avise. – O Gabite acenou com a cabeça e começou a procurar enquanto acompanhava o jovem.

No entanto, aquilo que realmente chamou sua atenção foram os jovens se exercitando. Decidiu focar primeiro no que o trouxe a praia. Aproximou-se com uma atitude amigável do grupo de adolescentes, esperando uma brecha no exercício que estavam fazendo. – Oi, alguém entre vocês pode me ajudar? Estou querendo saber quais os estilos de artes marciais que prevalecem na cidade... Quero conhecer um pouco da história de Cianwood e dos feitos dos Metres locais, principalmente do líder de Ginásio Chuck.

Ele nunca conseguia se acostumar com aquilo, mesmo que essa não tenha sido a primeira vez a ser chamado de “moço” por alguém mais jovem. A garota deveria ser o que? Um ou dois anos mais nova do que ele? Não era muito, mas cada vez mais se via sendo tratado como um adulto que de fato estava se tornando. Isso o fazia pensar se estava com a aparência de alguém tão maduro assim. O rapaz um pouco corado com o tratamento esboçou um sorriso para disfarçar o embaraço. – Eu me chamo Will, de Vermilion... Desde criança ouço histórias sobre essa cidade, por isso vim aqui. Quero confirmar algumas coisas e descobrir algo novo. – Ele respondeu empolgado, apertando a mão da jovem em resposta e calando-se em seguida para ouvi-la com atenção.

Um fato interessante lhe foi apresentado, o pai do Mestre Chuck abriu o primeiro Dojô de Cianwood e aparentemente estava entre os primeiros ermitões a viver na ilha. Isso fazia daquela cidade uma criança comparada as suas irmãs de Tohjo. Se bem que depois das enchentes... – É! Vocês têm um bom número de pessoas, mas ainda assim é muito melhor aqui do que nas cidades grandes. Vermilion mesmo é um verdadeiro caos no verão.

A jovem fora muito simpática com ele, mas lhe ofereceu pouca informação além do que já sabia. Apesar disso, Will manteve-se otimista. – Quer dizer que você é discípula do grande Mestre Chuck? Legal! Estou pensando em aprender um pouco com ele também, mas fiz um juramento pessoal de desafiá-lo em seu Ginásio primeiro... – Qual a melhor forma de escolher um Mestre senão testando-o? Will já tinha os ensinamentos de seu avô, então se iria adotar um novo Sensei, sentia-se no direito de testar o seu potencial. – Por enquanto não irei procurá-lo, mas queria saber se existe alguém no nível dele aqui na ilha, um rival talvez? Se puder me dar a localização de outro Mestre, ficarei te devendo Kanata.

Enquanto Will e Kanata conversavam, Maegor mantinha-se vigilante, sempre procurando por um possível Pokémon selvagem nos arredores, fosse um aquático que se aventurasse fora d’água ou um voador que cruzasse os céus.