09 - Arrumando a casa!

Minutos se passaram depois que a boia tocou a folha d’água e nada. Seria uma maré de azar? Aparentemente sim, visto que meu pai também não conseguiu nada. Bom, talvez com a ajuda do patê de Edgar tivéssemos mais sorte. E ainda tem aquele detalhe né: a saideira sempre funciona!                                                                                

Aquele momento foi memorável em vários sentidos. Passar aquele tempo com meu velho, mesmo que tenha sido relativamente pouco tempo de distanciamento entre nós me trazia várias doses cavalares de nostalgia. Ver o sorriso aberto dele, como se encarasse dentro dos meus olhos o pequeno rebento que andava atrás de si pela corporação, observando e perguntando sobre tudo e todos, querendo aprender coisas a todo instante, sonhando com o dia que se iniciaria, enfim, sua caminhada pela vida de resgatista, uma vida dada a entrega pelo outro e pelo desafio de salvar outras vidas. Mas sob os olhares de seu Frederik, eu era só aquele garotinho recém saído de sua cidade natal para um continente totalmente diferente, fugindo de uma triste realidade que ainda assombra e trás certas nuances tristes. Seguido, claro, da constante pergunta: será que ela se orgulharia de mim?

Deixei os equipamentos de lado e sem falar nada, fui na direção de meu velho e lhe dei um abraço. - Te amo, pai! - sussurrei em seu ouvido. Tínhamos ainda o final de noite para curtir esse momento familiar, Amália e Edgar, eu e meu pai. Era, de fato, um momento bem único. E falando em momentos únicos… - Pai, tenho que fazer uma coisa antes de dormir. Acho que não vai levar muito tempo, mas não precisam me esperar. É algo que preciso fazer com meus Pokémon. - sorri e olhei para minha equipe, ainda havia uma questão a ser respondida até o fim daquela noite. Fui na direção de Kinney e dos demais. - Pessoal, sentem-se comigo, por favor. - sentei-me sobre a grama, em posição de meditação - Durante nosso treinamento percebi uma coisa muito importante. O quanto nossas vidas estão entrelaçadas umas com as outras. Sou imensamente grato por ter tido a grande benção de conhecer cada um de vocês, dos antigos aos recentes! - olhei primeiramente para Kinney, depois para Lucy, até terminar em Arges e Groen. - Antes de descansarmos desse dia tão produtivo, vamos fazer uma meditação em conjunto? - fechei os olhos e disse suavemente - Vamos conectar nossas almas, sincronizar nossas respirações. Devagar, bem calmamente. - era a primeira vez que fazia aquela atividade com todos ao mesmo tempo, e não sabia como iriam reagir. Tão pouco saber que aquela voz voltaria a dar o ar da graça. Bem, a sorte sempre esteve lançada, então vamos a ela!                                                                                  

Desde meu encontro sobrenatural com o Dusknoir do Mt. Pyre, sentia que meus sentidos "extra sensoriais" estavam mais “aflorados”. É com alguns espiritualistas dizem, o tal corpo aberto, ou seja lá o que fosse, mas estava acontecendo. Saberia eu explicar? Não. Mas não quer dizer que era irreal. Pelo contrário, era tão real quanto o suave tom amoroso que a anos não ouvia junto a meus ouvidos. Definitivamente era ela, minha mãe, Rhaela, minha heroína, meu porto seguro, minha eterna saudade. Estranhamente, aquela sensação de paz invadiu todo o meu ser, e assim que abri os olhos, percebi toda minha equipe à minha volta.

Ciri havia encontrado uma posição muito confortável para deitar entre minhas pernas e me observava com um suave balançar de cauda. Mirana escalou pelas minhas costas e repousou sobre minha cabeça como um pequeno e reconfortante montinho de neve! Lucy envolveu uma se suas rosas entre meu braço e ali ficou, cantarolando uma canção muito bonita. Arges me observava e flutuava ao meu entorno, e quando meu olhar cruzou com o dele, ele apenas balançou a cabeça positivamente, como se confirmasse uma possível suspeita que passava em minha mente. Groen repousou a cabeça sobre meus joelhos e parecia cochilar, afinal o dia foi bem cansativo. Já Kinney, bem… nossa relação era tão profunda e íntima que nem precisava tê-la em meu campo de visão para saber que ela estava ali. Soltei um pouco o corpo e senti minhas costas tocando as costas da felina, sentada na mesma posição que eu, de costas para mim, sendo aquilo que disse anteriormente: meu apoio, meu refúgio e minha melhor companhia. Ali ficamos por alguns minutos, nem uma palavra dita, só alguns olhares trocados eram suficientes para comunicar todos os sentimentos envolvidos no momento.

Após algum tempo, não sei ao certo o quanto, me levantei e retornei para juntos de meu pai, Edgar e Amália, para finalizar a noite de acampamento com qualquer que seja a atividade que eles estivessem realizando no momento. Melhor que estar em paz é partilhar esta paz com quem amamos e queremos bem, não é verdade?                                                                                      

Bem, o que é um acampamento sem marshmallows assados na fogueira? É como arroz sem feijão, carne sem molho… funciona, mas fica aquele gosto de “quero mais”!

E essa era a exata atividade que meus companheiros de acampamento estavam fazendo quando voltei para próximo do fogo. Sentei-me próximo de meu pai, mas um tanto quanto afastado do fogo, por um motivo bem óbvio: metade da minha equipe, digamos, não era muito fã de receber calor diretamente! Assim, me preocupei em me posicionar de modo que meu corpo servisse de escudo humano para que Ciri, mas principalmente Mirana ficassem protegidas. Kinney já estava acostumada com aquele tipo de situação e Groen ficava confortável só ficando mais afastado. - Obrigado pai! Agradeçam os presentes, pessoal! - recebi os marshmallows dedicados e entreguei para todos comerem, deixando o meu para o final, para assim comermos ao mesmo tempo. - Então, pai, percebi que há muitos desafios por aí e que ainda me falta muita experiência para enfrentá-los. Voltei pra casa para literalmente me organizar, treinar e fortalecer tanto meus laços com eles quanto meu próprio interior. - explicava a situação de uma forma mais sucinta e rápida possível, mas obviamente faltava um detalhe importante. - E também… tava com saudades de casa! - era uma verdade. Poderia ter todo o apoio possível para fazer um treinamento de elite na base dos The Wolves, ou até mesmo nas instalações Ranger, mas havia uma coisa nessas colinas que me atraiam, e é exatamente essa pequena palavrinha: casa!