[GYM Battle] Vs. Brawly #33

Finalmente, pude parar em Dewford depois de tantas idas e vindas; resolvi algumas pendências, fiz algumas alterações na equipe — e estava prestes a chocar dois ovos que me foram reservados há muito tempo — e parti para o ginásio na pacata vila em um canto mais remoto de Hoenn, completamente circundada pelo titã azul aquático, tendo como referência para exploradores e afins a Granite Cave mais afora da cidade. Por ora, não era de meu interesse.

O ginásio de Dewford não era uma construção tão magnânima ou mesmo estava acoplado a qualquer outro edifício de suma importância como em Rustboro: um simples casebre, singelo e bem simpático, aliás. Sua fachada remetia a academias esportivas, populares no mundo todo. O atendente estava treinando no momento, tendo de interrompê-lo para anunciar a Brawly minha chegada. Aguardei-o sem pestanejar.

Ínfimos segundos depois, o líder do ginásio viera ao meu encontro. Tinha desgrenhadas madeixas azuis, usava roupas que remetia ao surf — com um óculos de natação anexo à sua testa — e pele morena. Conforme adentrávamos na arena, indagara se era eu quem seria o seu desafiante naquela tarde corriqueira e monótona em Hoenn, direcionando-me à posição onde jazeria conforme o desafio prosseguia. Brawly fez um aquecimento bem sucinto antes de materializar o primeiro monstrinho que utilizaria.

Evocou o alvo brilho da cápsula bicolor, e assim que o casulo luminoso irrompera, revelou um Heracross. Belo exemplar para me enfrentar, Brawly.

Aquele espécime era bem peculiar. Dotado de presença ofensiva colossal e também boas defesas, o inseto tinha uma velocidade ímpar em relação a demais lutadores. Não obstante, Heracross tem acessos a movimentos deveras interessantes, além de uma habilidade que não é nada fácil de se lidar; normalmente, para lidarmos com atacantes físicos, utilizamos do recurso da queimadura. O besouro, no entanto, transformava sua fraqueza em força, aumentando ainda mais os seus poderes de ataque. Era mais problemático do que imaginaria.

Por sorte, tenho alguns monstrinhos que posso lidar com Heracross, e mesmo que este não o faça, sobreviveria tempo o suficiente para que o analisasse melhor. Arqueei uma esfera bicolor, brincando com a cápsula enquanto fixava as vistas sobre o Heracross de Brawly; quem sabe, não poderia prever os seus movimentos, ainda que com sorte, antes mesmo de iniciar, huh?

— Conheça o nosso adversário, Shiranui — murmurei, enquanto materializava Xatu para o campo de combate. A ave abria as suas suntuosas asas, descerrando as pálpebras após um duradouro cry; não delongou em encarar o seu adversário naquele momento. — Reflect e Air Slash.

Era o ideal para um início promissor: levantar boas defesas e então testar suas capacidades defensivas com um ataque.

Não me leve a mal: além de eu não gostar de falar, acredito que o líder se mantivera neutro para, quem sabe, deixar-me mais à vontade no desafio. Bom, que seja então. Ainda taciturno e fronte sisuda com as mãos imersas no bolso, permiti apenas as írises oceânicas dançarem, livres, para captarem os movimentos do besouro, pensando em estratégias imediatas caso entrasse em algum imbróglio naquela investida inicial.

Agora, restava apenas aguardar os comandos do líder e torcer para que tudo ocorresse conforme planejei antes mesmo de entrar no ginásio.

Não é como se fosse de todo o ruim, afinal. Contava desde quando Brawly materializara o besouro anil a possibilidade de utilizar ataques noturnos, quiçá até mesmo mais mortíferos que aquele. Contudo, tenho de me lembrar que Shiranui não tem acesso a curas — ainda — e nem mesmo era dono de defesas tão exorbitantes; o que garantia sua sobrevida naquele combate era, no entanto, sua velocidade exacerbada e a barreira física que levantara.

Ainda assim, havia um lado bom naquilo tudo: com um único ataque, grande parte da vitalidade de Heracross se esvaíra assim que as lâminas serrilhadas evocadas por um suntuoso balançar de asas de Shiranui atingiram-no. No fim das contas, minhas suposições estiveram certas, afinal: com uma tela levantada e explorando as fraquezas dos lutadores, mesmo que Xatu não aguente os três, o feérico seria o meu coringa naquele embate.

Se até então a estratégia estava funcionando, não havia o porquê mudar o curso da correnteza que, até então, era propício para mim, huh?

— Continue com mais dois Air Slash — mantive-me irresoluto, com atenção voltada por completo no combate. Ademais, Brawly comentara outrora sobre a escolha de Xatu; acredito que simplesmente ignorá-lo não poderia me dar boas impressões. Creio que seja possível comentar coisa ou outra sem dar muita corda pra aquelas conversas duradouras até demais, quiçá até mesmo ceifar meu foco por inteiro, na luta, não é? — Shiranui não é só um bom atacante, como também é versátil e pode fazer mais coisas. Ele é um verdadeiro coringa.

Restava apenas esperar, não é? Quem sabe, Heracross não poderia se exaurir justo nesse turno.

Até então, nada diferente do que planejei desde o início. Com mais dos ataques duplamente efetivos, Shiranui nocauteou o besouro combatente sem muitas delongas. Ainda que levara danos consideráveis — em um cenário onde a tela protetiva fora utilizada desde o início —, o feérico ainda tinha energia para seguir na luta.

Brawly elogiara a escolha e, quiçá, a escolha nos ataques de Shiranui. Não pude esconder um certo sorriso presunçoso tingindo o canto dos lábios: o líder de ginásio estava agindo conforme havia desenhado em minha mente antes de desafiá-lo, e isso refletiu nos monstrinhos que trouxera para combater — não só pela vantagem dos tipos, mas por seu comportamento em combate. O esportista também não delongou em materializar a sua segunda escolha, e o espécime me era familiar: Poliwrath.

Nada mal, Brawly.

O aquático é um adversário problemático, sem dúvida. Sabe atacar, defender-se bem e é dono de ataques que trazem dor de cabeça aos seus desafiantes. Ademais, todas as suas habilidades acabam por ser um problema, ainda mais se evocado o clima chuvoso, aumentando sua velocidade vertiginosamente e eventuais golpes aquáticos, o que causaria inúmeros problemas. De todo o modo, conheço também a possibilidade de Poliwrath tentar colocar Shiranui para tirar um cochilo. No entanto, a habilidade natural de Xatu poderia me impedir, ao menos de início, de isso acontecer. Talvez isso vai ser um pouquinho mais difícil do que imaginei, todavia, ainda tenho o controle do embate nas minhas mãos.

Simplesmente ir a uma ofensiva desmedida agora me seria ímprobo. Antes mesmo de atacar, tenho de ter cautela e ter o terreno ao meu favor não apenas para Shiranui manter-se por mais tempo no combate, como dificultar os movimentos de Poliwrath. O pássaro tem algumas ferramentas que me permitem fazer isso tipo de jogada; presunçosa, ousada, ímproba, no entanto, certeira.

— Thunder Wave e Light Screen — ordenei ao pássaro os movimentos posteriores.

E então, o que seu Poliwrath me reserva, Brawly?

Confesso que não esperava pelos movimentos seguintes de Brawly. Queria armar uma barreira tanto física quanto especial para reduzir o potencial ofensivo de Poliwrath, e mesmo paralisado, o ataque lutador fora um coringa que deveria ter levado em conta. Bom, nada que Shiranui não possa virar o jogo: agora com o estado de paralisia do lutador aquático, o pássaro ainda contava com velocidade natural maior que o anfíbio. Em caso de o pássaro não resistir, ainda há a possibilidade de deixar o campo para entrar qualquer outro dos que levei.

Ainda tinha Vijam, Mayakashi e Balerdroch. De algum modo, cada um deles havia certa vantagem em relação ao tipo do ginásio, além de exaustivos treinos em relação ao seu nivelamento, ferramenta que estou apoiando-me fortemente.

Não tenho muito mais escolha. Arriscar uma barreira física e, em seguida, um movimento ofensivo pareceu-me a melhor escolha. Quanto ao restante, deixo nas mãos da sorte — dizem que tê-la também é uma habilidade, huh?

— Reflect e Psychic — pedi, em seguida. Respirei um pouco mais fundo, com certa apreensão; quem sabe, a paralisia não joga ao meu favor.

Ótimo. Tudo perfeito até aqui. Além de a paralisia, enfim, funcionar, Shiranui conseguia erguer mais uma barreira que, com sorte, não seria dissipada na próxima rodada e mesmo que fosse, era a carta branca para o pássaro feérico conseguir esvair o restante da vitalidade titânica de Poliwrath. A paralisia por seu golpe não atingiu Xatu, deixando o caminho mais aberto para uma possível vitória.

Bom, de todo o modo, segundo os cálculos, Shiranui levaria mais um monstrinho de Brawly mesmo que a ofensividade não fosse o seu forte. Pode ser que ocorram imprevistos, claro, mas sempre que traço qualquer plano para enfrentar quem quer que seja, trabalho apenas com as possibilidades racionais.

Muito bem. Vejamos até onde isso vai dar.

— Psychic. Duas vezes — soprei ao pássaro, semicerrando as pálpebras na direção de Poliwrath e olhando de relance para Brawly. Quem sabe não detectaria alguma linguagem corporal vindo do líder, huh? Ser nicoforado é para poucos.