[Gym Battle] Vs Wattson #26

Algum tipo de... obra? Conforme olhava os arredores, era um vai-e-vem de pessoas uniformizadas com dezenas de placas e luzes esparsas ao redor, indicando alguma manutenção no edifício do ginásio. Francamente, por que essas coisas só acontecem comigo? Não delongou em uma moça loura trajando jaleco com um crachá bem evidente em seu peito, destacando sua função quanto àquela obra.

E lá se vai mais um chá de cadeira. Bom, pelo menos Abigail me disse que seria só um pouco.

— Ah sim, sem problemas, vou esperar ali naquele sofá — era uma localização no saguão, não muito longe dali. Retruquei, e não havia o porquê ficar conversando ou mesmo puxando papo com alguém que apenas quer trabalhar, huh? Dirigi-me ao recinto onde aguardaria.

Sem cerimônias, sentei no sofá, recostando a cabeça sobre o estofado. Suspirei simultâneo a um cerrar sucinto das pálpebras, mirando o teto logo a seguir, deixando meu consciente dormir por ínfimos segundos para perder-me novamente em minhas imaginações. A única coisa que pensava no momento é em como a batalha seria. Não é que estou nervoso, apenas gosto de desenhar o rumo e fazer de tudo para que nada saia do meu controle; é como uma partida de xadrez: quem quer vencê-la, deve tomar o meio do tabuleiro e ditar o ritmo do jogo, seja na defensiva ou na ofensiva.

Caso alguém me pedisse uma visão geral dos elétricos, a primeira coisa que pensaria é em velocidade titânica e detentores de bom potencial ofensivo, seja físico ou especial. Claro, existem sempre as exceções e os monstrinhos híbridos, com combinações que poderiam me dar dor de cabeça. Para o desafio, tinha algumas boas opções: Nalu, Shiranui, Vijam, Balerdroch. Dos quatro, apenas dois tinham agilidade razoável para competir no quesito, no entanto, tinham desvantagem. O que pensei em trazê-los é justamente apostar em uma boa defesa e ter o suficiente para um contra-ataque.

Se vai dar certo ou não, quiçá se sair da maneira com que desenho, não poderia responder agora.

Maldita a hora em que dei ouvidos àquela engenheira. Alguns minutos é um cacete, aquele velho miserável me deu um chá de cadeira por uma hora. Vi a bateria do meu Rotom Phone se esvair e nada do Wattson me chamar; tive de aguardar todo esse tempo, aproveitando minha plataforma de músicas e fazendo qualquer outra coisa. Quase voei no pescoço de Abigail quando de cara limpa a loura guiou-me até o salão de batalhas; puta merda, nem um pedido de desculpas? De todo modo, apenas segui, taciturno, pela direção que a engenheira mostrara.

Enfim, a arena; não havia nada de muito destoando, apesar dos LEDs dispostos nos vértices da arena retangular toda recoberta de metal. Mais ao fundo, o barulhento velho guardião da terceira insígnia saudava-me de maneira enérgica com pinceladas escandalosas. De todo o modo, ele só está tentando deixar o clima um pouco mais leve — ainda assim não quer dizer que vá baixar a minha guarda, sendo símbolo dessa a feição sempre sisuda e pálpebras semicerradas, os orbes oceânicos sempre bailando lá e cá, inquietos, analisando tudo ao redor.

— Não, é o meu terceiro — respondi, posicionando-me de prontidão na ala do desafiante.

Mantendo sua energia intrínseca, Wattson materializara o primeiro de seus guardiões, um roedor elétrico com detalhes anis por seu corpo. Conveniente, huh?

Diante das opções que tinha, acho que era a hora apenas para ver o que aquele monstrinho tem além do “normal”. E nada melhor do que trazer esses movimentos à tona com uma desvantagem, huh?

— Venha — murmurei, soprando à esfera bicolor partida que evocava o brilho alvo, materializando o gastrópode róseo no campo. Fazia um tempo que não batalhava com Gastrodon, ademais. — Nalu, Toxic e Earth Power.

Ainda é muito cedo para um veredito, vamos ver até onde isso vai, não é?

Encore? Velho maldito. Quando desafiei o ginásio, fiz as escolhas contra quaisquer outras espécies que poderiam me trazer uma dor de cabeça maior. Acredito que subestimei aquele roedor cerúleo até demais. O movimento tirado da cartola por Wattson poderia me deixar encrencado caso não pensasse em uma saída o quanto antes: Nalu está preso ao envenenamento pelos próximos ataques e, como não existe uma proteção eficiente, estaria fadado apenas a utilizar o Toxic pelo restante da batalha.

Nada mal, vovô.

O problema é que agora teria de mudar minha estratégia o quanto antes. Nunca foi uma decisão concreta utilizar Shiranui no combate por conta de suas defesas e mesmo sua tipagem — ora, ainda existem alguns voadores que podem fazer bastante coisas contra os elétricos, todavia não era o seu caso. Entretanto, ouvi atentamente as ordens do guardião da terceira insígnia, consistindo em tentar adormecer Gastrodon para desencadear uma sequência de ataques. De todo o modo, não fora uma rodada perdida, afinal Minun estava intoxicado.

Cerrei as pálpebras, respirando fundo. Ao abri-las, encarei o líder de ginásio, deixando um meio sorriso presunçoso tingir os lábios; se o vovô queria que eu pensasse em alguma maneira de sair daquela situação o quanto antes, não precisei de muito tempo para me livrar daquela ocasião ímproba — ao menos, naquele ínfimo turno. Arqueei a esfera bicolor metálica de Nalu, recolhendo-o sem muitas cerimônias.

Em minha mão direita já estava a minha próxima escolha, mesmo que momentânea. Deixei o braço teso, acionando os mecanismos de liberação da cápsula, materializando, dessa vez, Xatu para o campo de combate.

— Shiranui — convoquei-o, soprando o seu nome ao vento. — Light Screen.

De qualquer modo, trazê-lo para o combate por mais desvantajoso que seja me garantia um turno para recolocar as coisas no lugar e, novamente, ter o controle do combate em minhas mãos. Se por um acaso o ataque de Minun atingisse, a habilidade de Shiranui também transmitiria a mesma condição para o elétrico; caso não, o psíquico levantaria uma barreira para protegê-lo, potencializada pela lama que carregava consigo.

Isso poderia até mesmo desencadear um retorno de Nalu ao combate, dessa vez livre daquele golpe maldito e teria o caminho livre para partir para a ofensiva.

Wattson não era qualquer um. Contudo, se estiver em posição de vantagem o quanto antes, tudo volta ao cenário ideal que imaginei desde quando fiquei sentado no sofá no saguão.

Vejamos o que é que acontece a seguir, não é?

Tsc... Essa é a dança das cadeiras mais duradoura que já vi. Se outrora estava com a vantagem e tendo a possibilidade de o psíquico erguer uma tela protetiva, tudo aquilo que planejei fora jogado aos ares no momento em que a segunda canção entoada por Minun atingira Shiranui, colocando-o para dormir sem delongas ou cerimônias.

Esse velho vai dar mais trabalho do que imaginava.

Apostar na sorte não me fora tão favorável quanto imaginei, e o líder de Mauville fez questão de ponderar a escolha. Suspirei fundo, mordiscando o canto dos lábios em furor ínfimo, recolhendo o pássaro psíquico de volta para a sua cápsula bicolor. Ainda austero, fitei Wattson, os orbes cerúleos tão penetrantes quanto me é intrínseco, semicerrando as pálpebras — mesmo que pouco. Indagou-me se não era de falar muito; por mais que respondê-la seria simplório, preferi não o fazer.

— Nós voltamos à estaca zero de novo. Você já conhece duas de minhas escolhas, o que te coloca em uma posição de vantagem. Mas o veneno já tomou conta do corpo de Minun, e ele não vai mais durar tanto assim. No final das contas, nem eu e nem você temos a vantagem. Aquele que derrubar o primeiro pokémon, vai vencer — provavelmente o vovô já sabia disso, contudo, deixá-lo ciente de que não sou nenhum ingênuo era alguma coisa. De fato, a vantagem crucial é derrubar um, contudo, não seria o fim do mundo qualquer um dos monstrinhos nocautear dois ou mais.

Que merda. Acho que vou passar ainda um tempinho a mais do que imaginei aqui. Todavia, quem se importa, huh? Só de ter o dinheiro e pôr as mãos na terceira insígnia me seria satisfatório por si só.

E mais uma vez, materializava um novo monstrinho para o campo de batalha, desta vez um já conhecido por Wattson: Gastrodon. O gastrópode volvia a encarar o seu primeiro adversário. Agora que tenho noção daquele golpe que me era tão problemático, bastava não prosseguir no erro, huh?

— Nalu, Earth Power — pedi calmamente.

Mesmo que Gastrodon durma, as possibilidades de Minun derrotá-lo antes de o veneno tomar conta de seu corpo por inteiro eram baixas, além de ser o suficiente para volver daquela condição que tanto me seria problemática. O que é que você vai fazer agora, vovô?

O veneno agiria derradeiramente não muito tempo daqui. Uma pena que Nalu assim que entrara, foi induzida ao sono pela canção entoada pelo roedor elétrico. Ainda assim, não fora de todo o ruim: com defesas altas e dotado de vitalidade titânica intrínseca, Gastrodon seria uma boa parede para alguma tentativa ofensiva de Minun. Caso não acorde para dar alguns ataques que ordenaria, de todo o modo, ao fim do turno volveria ao seu estado original; se partisse para a ofensiva, o monstrinho de Wattson dificilmente aguentaria a combinação entre o ataque da lesma rósea e as toxinas.

Supondo que não ele não acordasse, por que não, ao fim de isso tudo, lançar Shiranui para tentar acordá-lo também? Quiçá, volvendo para o seu estado original, suas telas protetivas seriam de grande utilidade assim que tiver a oportunidade de usá-las.

Tudo bem. Tenho dois caminhos que é possível de seguir. De todo modo, ainda é necessário ver se o gastrópode aguentaria e o quanto aqueles ataques poderiam ser prejudiciais a Nalu. Ok, acho que tenho tudo organizado para o que viria depois; só precisaria de um pouco de sorte a seguir — por mais que odeie utilizar disso como fator decisivo, ainda assim, batalhas são frutos disso.

— Acorda logo, Nalu. Earth Power em sequência — continuei a inferir de maneira mais calma.

Perfeito, acho que as coisas estavam indo até melhor do que imaginei quando retornei Shiranui. Assim que Nalu recobrou a sua consciência, utilizou daquele ataque que adquiri não muito tempo pensando exatamente em sua performance, precisando atingir apenas dois dos golpes para que nocauteasse o primeiro roedor elétrico. Tardou muito até que, finalmente, adquirisse uma boa vantagem na luta contra Wattson. Méritos também a Minun, uma espécie que não esperava que o líder utilizasse em meu desafio.

Fora mais laborioso do que imaginei, além de ser necessário usar de dois monstrinhos para detê-lo.

O vovô recolheu o roedor cerúleo com um certo ar inconformado, ainda que o parabenizou. Não delongou para que arqueasse uma segunda. Admitiu a dificuldade com a única fraqueza que os elétricos tem para contornar, inferindo a improbidade que traziam sempre que os desafiantes adentram seu ginásio. E, claro, como todo líder de ginásio, Wattson tinha suas estratégias para sair dessas situações melindrosas.

Trouxe ao campo, então, um Magneton. Mas por que diabos ele lançou justo aquele com fraqueza quádrupla aos ataques de Nalu? Exprimiu sobre eu entender a situação e, se aquele era uma espécie que poderia contornar aquela situação, havia um motivo.

Espera. A não ser que ele tenha algo que esteja pensando. Deixei um sorriso tingir o canto dos lábios, discretos, com pinceladas de presunção no mesmo. Arqueei a cápsula bicolor de Nalu, recolhendo o gastrópode róseo de volta para a sua cápsula. Fixei minhas vistas sobre a figura brincalhona de Wattson.

— Os tipo solo só tem três fraquezas: água, grama e gelo. Desses três, água é inutilizável, já que a habilidade do Nalu vai só absorver o ataque e aumentar suas propriedades ofensivas; utilizar um golpe de gelo não adiantaria muita coisa, dando brecha para que eu atacasse com tudo, porque não teria efetividade que você quer; a única real fraqueza do Gastrodon são ataques do tipo grama. Não é uma má estratégia — inferi, deixando o corpo relaxar um pouco, ainda mantendo aquela expressão que passava um ar de confiança enorme sobre mim; ora, desavisado, poderia perder um grande coringa nesse ginásio, huh? Tomei em mãos a segunda esfera bicolor, brincando com a cápsula em meu dedo indicador, volvendo a fitar Wattson. — Talvez o que eu faça agora pareça loucura, mas também existe a chance de dar certo. Sabe como é, temos que trabalhar com as probabilidades e pensar nos dois cenários.

Pressionei o botão ao centro da cápsula, evocando novamente o feixe enérgico níveo que cintilou pelo lado da arena por ínfimos segundos. Assim que a energia se esvaiu, materializou-se, novamente, Shiranui, estatelado e inerte sobre o chão metálico, ainda acometido pela condição que lhe fora imposta pelo Minun agora já nocauteado.

— Acorda logo, Shiranui. Use o Light Screen — pedi, dessa vez, com os orbes cerúleos bailando entre o ímã e seu mestre e, por fim, fitando o pássaro dorminhoco do meu lado da arena.

Tem uma chance de o que estou pensando dar certo. Ainda que desse errado, tenho, também, como contornar a situação sem muitas improbidades. Tudo dependeria de como o líder e o seu metálico se comportariam a partir dali.