[Recrutamento de aprendiz] Gray Fox

Gray se lembrou bem do conselho do primeiro sacerdote que tinha encontrado lá na entrada e então anunciou sua presença para os outros reunidos naquele corredor. Foi uma moça jovem, de kimono cinza claro, a única a interromper a "oração" que repetiam e erguer a cabeça para olhar o rapaz.

Os olhos da garota piscaram várias e várias vezes, e se mantiveram bem estreitos por bastante tempo, graças às luzes às quais sua vista não estava mais tão adaptada, depois de tanto tempo no escuro e de olhos fechados. Ela tinha o cabelo negro amarrado num coque na nuca. Quando ficou de pé para falar, revelou-se baixinha de estatura.

– Boa... Olá. – quanto tempo estavam ali que já perderam a noção da hora? – Aguarde um instante, sim?! Vou avisar a ele.

Ligeira ela abriu apenas uma fresta das largas portas, entrou e as fechou imediatamente. Passaram-se minutos que podiam parecer horas com a garota lá dentro e Gray lá fora, esperando, em meio ao escuro, a penumbra da porta, e as vozes murmurantes dos outros sacerdotes tão disciplinados que não pararam um instante sequer. A porta então abriu-se pouco, mais uma vez, e de lá a moça saiu.

– Pode entrar. Morty está à sua espera. – deu um passo para o lado, liberando a passagem e abrindo a porta para o rapaz e sua turma.

A sala onde o líder estava não era tão ampla, tanto que as inúmeras velas acesas por lá eram capazes de trazer uma iluminação muito boa, além de um calor incomum se comparado ao restante frio do Gym. As chamas produziam inúmeras sombras bruxuleantes e estranhas, algumas delas quase pareciam vivas... E era estranho o fogo ser tão agitado ali dentro, onde não tinha janelas para que o ar corresse.

Morty estava no centro da sala, sentado num grande almofada preta que contrastava com suas roupas igualmente pretas, exceto pela bandana e o cachecol roxos. O homem abriu os claros e os direcionou para a porta assim que Gray entrou; mas ele nada disse, apenas pousou os braços sobre as pernas e continuou com seu semblante sereno e calmo. [imagem ilustrativa]

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

O olhar pacífico de Morty acompanhou Gray fazer seu caminho e sentar-se diante do líder, ainda que não lhe tivesse sido sugerido tal. O mesmo silêncio permaneceu até que o especialista enfim apresentasse seu motivo de estar lá, fazendo com que Morty apenas erguesse as sobrancelhas, expressando curiosidade.

– Eu lembro de vocês, outro Especialista em Fantasmas. Já me enfrentaram no passado. – é claro, aquele encontro não fazia muito tempo e tinha marcado Gray como um treinador do mesmo Tipo do Gym, inclusive Doll estava lá também – Não compreendo o seu propósito. Já esteve aqui e me derrotou, ostenta minha insígnia como prova disso e a titulação que o identifica como especialista. O que o faz crer que o seu próprio conhecimento não é o suficiente?

Morty desviou os olhos rapidamente para uma das velas à sua esquerda quando a chama dela se agitou tanto que quase se apagou. Seu olhar então percorreu a sala mais um pouco, mesmo enquanto ele falava, parecia que buscava alguma coisa.

– E digo mais. Meu conhecimento não está disponível pra ser sorvido, ele não é infindável, mas por me pertencer o que faço é compartilhar.

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

Quando o candidato disparou a falar atraiu a total atenção do líder, que naquele instante deixava de lado sua busca visual pelas manifestações misteriosas naquela sala. Uma olhadela para o canto superior direito demonstraria que Morty puxava na memória a ocasião do outro encontro deles, pra recordar o movimento que Gray mencionava. Depois, toda sua reação se resumiu num olhar mais ameno e até um meio sorriso.

– Gosto da forma que você pensa, preciso admitir. – uma leve confirmação também com a cabeça – É sempre positivo refletir sobre situações importantes: vitórias, derrotas, confrontos, diferenças, semelhanças... A propósito, se você também vê formas de aprender com os fantasmas, então temos mais alguma coisa em comum. Só que você tem razão, eu faço isso no silêncio, pra que eu possa dar à eles todo o respeito para serem ouvidos. Quero, entre outras coisas, ajudar os fantasmas, e não falo apenas de Pokémon, mas também de pessoas que muitas vezes não concluíram sua passagem por conta do que passaram em vida. Então guardam angústias que precisam ser ouvidas.

Parece que alguns concordavam com aquilo, de fato, já que as velas tornavam a reagir às palavras de Morty, que ao perceber isso sorria levemente mais uma vez, antes de prosseguir com suas palavras.

– Mas seu método também é bem vindo, pois a música traz a alegria e o conforto que muitas almas precisam; ou até mesmo auxiliam na reflexão e busca pelas memórias de suas vidas. – é, Morty não era assim tão avesso à música e ao barulho, aparentemente só tinha escolhido um outro caminho para seu Gym – Então parece que temos semelhanças e diferenças, e ambos reconhecermos que não estamos ainda no fim de nossos caminhos. Se você crê que eu tenho algo a compartilhar contigo, o que você teria pra compartilhar comigo? – seguia sua entrevista com outra pergunta emblemática, querendo arrancar aquelas reflexões do candidato.

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

– Histórias? Gosto de histórias... – uma mão ia até o queixo quando Morty declarava seu interesse naquela parte e seguia escutando – ... Uhm, também gosto da ideia de dividir algumas tarefas. É verdade que esse tipo de colaboração é muito bem vinda, ainda mais com a velocidade com que as coisas tem sido descobertas mundo à fora.

Era uma verdade. Apesar de Morty não ser do tipo que se prendia ao Gym cem porcento do tempo, ele obviamente não podia se afastar dali por muitos dias graças ao compromisso que tinha com a Liga Pokémon. Entretanto, era sabido que o líder era um homem estudioso e que adorava conhecer pessoalmente as fontes das mais variadas histórias sobrenaturais. Pra isso era sempre bom ter um aprendiz por perto pra lhe cobrir nesses casos.

– E você já teve mais contatos com o outro mundo, Gray? – diferente das outras, essa pergunta parecia mais uma curiosidade da parte do loiro, como um complemento ao seu gosto por histórias. Sobre "outro mundo", é claro, falava daquela grande incógnita que é o plano em que as almas vivem.

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

Morty esperava uma resposta mais simples, como um "sim" ou "não", mas no fim receberia uma resenha completa de uma das jornadas mais incomuns que o especialista já tinha vivenciado. Diante do relato as expressões do tão tranquilo Morty foram diversas. De olhos arregalados de espanto até sobrancelhas arqueadas daquela incredulidade de quem se questiona "mas isso é mesmo possível?!".

Era uma história das boas, de fato, cheia de personagens, linhas temporais, reviravoltas. Tinha tantos elementos que, se quisesse realmente estudá-la, Morty precisaria de papel e caneta, e sem dúvida mais detalhes do que o breve resumo de Gray - que em si já era rico em detalhes! No fim, a mão voltava ao queixo em reflexão quando ele teve sua deixa pra falar.

– Nossa, isso foi realmente interessante e impressionante. Ta aí uma viagem pela qual eu nunca passei, mas não vou negar que gostaria, hehehe. – sim, ele sorriu um pouco, afinal não era sempre sério mesmo, só uma pessoa muito tranquila – Eu poderia embarcar nessa por um longo tempo, mas há algo que preciso fazer por aqui e... Coincidência ou não, lembra um pouco do Ouija que você comentou. Mas provavelmente vai ser menos intenso que essa sua aventura. Gostaria de participar?

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym