[Sonho] Um Conto de 1001 Noites, por Sherazade Charizard

Off: Hellozes! o/
Eu aqui, embarcando nesse delírio psicodélico e doce -q
Let's que let's )o)

O casebre era só o perfume da pipoca fresca, amanteigada de lambuzar os dedos. Quem tentasse espiar, de longe, não conseguiria entender o que se passava naquele chalé de madeira, cujas luzes estavam todas apagadas, com exceção daquela sobre a porta da entrada. Lá dentro a única iluminação vinha da TV, com a imagem pausada num logo de uma produtora qualquer.

Podia não parecer, mas a singela sala daquela fazenda tinha quase a lotação máxima atingida, já que família Oddish se amontoava ao redor da única poltrona em frente ao aparelho, e o grande Tropius pousava seu pescoço sobre o encosto do assento. Já era tarde, então as galinhas e as Blisseys tinham ido se recolher, sobrando para os gramíneos e a curiosa Shuckle - que hoje serviria como um apoio de pés - aproveitarem a noite com a Criadora. Ah! Woobie estava lá também, mas como uma boa Swoobat, já tinha achado seu lugar, pendurada de cabeça para baixo numa viga no teto.

Kiki, a dona e proprietária desse cantinho, distribuía os potinhos de pipoca para os grupos antes de se sentar na poltrona com seu próprio baldão e uma delicada taça de vinho. Esse seria o seu fim de noite na granja, descansando após um dia de labuta. Era noite de Halloween, sim, mas a única fantasia que ela queria era seu camisão folgado e surrado, sua pantufa de dedo e um bom gole de vinho. Uma vantagem das casas no campo: ficam distantes do tumulto citadino. Enfim, eis o momento perfeito para uma sessão de um filme qualquer - já que hoje a garota não estaria só. Se ela vai assistir tudo até o fim? Bem, preciso dizer que essa taça de vinho não é a primeira da noite, então...

Preciso aprender a escolher filmes, ou confiar menos nos recomendados do Pokéflix, já que dessa vez caí na cilada de um suspense entediante. A última coisa que me lembro foi quando a moça protagonista caiu pela segunda vez na clássica ocasião de "ouvi um barulho lá no sótão; estou sozinha, desarmada, sem telefone e no escuro, mas vou sair do meu quarto trancado pra ver o que há lá embaixo". Girei os olhos nas órbitas e então... Puft.

Tudo ficou escuro de repente. Era estranho porque eu achava que tinha consciência de ter dormido, então o instinto de me levantar da poltrona e ir pro quarto veio logo, mas não teve efeito algum. Primeiro porque não importava o que eu fizesse, continuava escuro. Gente, eu sentia minhas pálpebras levantarem, mas não conseguia ver nada. Sob meu corpo só um emaranhado de algo fofinho e doce. "Doce?" Será que Vileplume lançou um Sweet Scent na sala? "Não, é açúcar puro." Pera, como meu olfato ficou assim tão forte?

Tenho plena consciência que não é dia, mas sinto o calorzinho da manhã e ouço pássaros cantarolando em algum lugar. Fazendo algum esforço pra me levantar, escorreguei da nuvem de algodão doce. "Algodão doce? QUE?!" Okay. Deve ser um sonho, não é possível. E um dos mais loucos que já tive. Agora estava caindo em queda livre, mas é um sonho né, não posso morrer nele. Posso?! Calma, calma, calma, FREIA! Agitei freneticamente os únicos membros que eu sentia possuir: mãos. Nesse caso elas estavam muitíssimo coladas ao meu corpo, sem braços e, obviamente, me fizeram voar. Clássico dos sonhos.

"Quem sou eu? O QUE sou eu? Onde eu tô?". Escutei com perfeição e nitidez um "psiu" acompanhado de uma sugestão cabulosa. Vinha de um lugar logo abaixo de mim, de um Totodile - não me pergunte como eu sei onde e o que ele era, meus instintos simplesmente sabiam e, quando ele falou, muitas silhuetas se revelaram na minha mente, como num mapa desenhado, mais do que 3D.

- ... Que?! - entre tantas informações, demorei um pouco pra assimilar o pedido dele - Não, obrigada. Já sou comprometida. - mentira, só queria distância daqueles dentes pontudos que não viam um fio dental há um tempo, sinto daqui.

Voei um pouco mais adiante e, pela mágica do sonho - e de toda biologia de um Woobat - eu conseguia discernir o castelo lá na frente, me sentindo inevitavelmente atraída pra ele. Não custou pra eu perceber também outra criatura viva por lá...

- A-la, outro lagarto. Esse parece que vai se preparar pra um churras... Ah, é um Charmander. Sonho esquisito da peste. Parece que tô num encontro de répteis. Será que eu sou algum réptil-voador-cego? Maldição... - foi também inevitável sair falando sozinha, porque de alguma forma meus sons me ajudavam a notar mais detalhes das coisas.