Rota 120 de passagem: esse é o meu jeito ranger de ser!

Rota 120

A famosa rota 120.

Não famosa no sentido literal da palavra já que não é como se uma pessoa de outro continente a conhecesse, mas por ser um lugar bem reconhecível por todos das redondezas, sendo popularmente conhecida como a "rota que sempre chove".

... E hoje não poderia ser diferente, né?

As nuvens no céu eram carregadas, tão escuras quanto poderiam ser, mas não eram muitas. Vez ou outra, enquanto uma passava pela outra deixando suas lágrimas naturais e torrenciais caírem sobre a região, conseguíamos ver o sol das dez da manhã dar um tímido olá para toda aquela grama alta e as poças d'água terrosas quase intermináveis. Diante de Ayzen, um caminho difícil: enfrentar os capins de quase sua altura para poder alcançar seu objetivo, sem conseguir ver muito além do seu curto e restrito campo de visão.

Veja bem: a rota 120 não é exatamente como a maioria das outras. Devido as inundações da região pelas constantes chuvas, é comum a presença de alguns micro-pântanos, bem como da vegetação ser tão bem alimentada naturalmente que simplesmente não para de crescer. Qualquer caminho que possa vir a ter existido, hoje estaria coberto de capim-elefante, gramíneas e hidrófitas, muito provavelmente por conta dos treinadores que preferem pegar outro caminho do que forçar passagem pelo charco. É natural, então, que a vegetação tome de volta o que lhe pertence, certo?

Para a sorte de Ayzen, sua roupa não estava exatamente errada para a situação, já que estava sim calor apesar da chuva. Sabe quando tá caindo aquele toró mas não refresca nada e fica tudo abafado? Pois é.

Ambipom foi a primeira a perceber o pequeno grande empecilho na caminhada dos dois: a estrada terminava ainda no início da rota, dando lugar ao que parecia ser um dos seus característicos pântanos, com vegetação tão alta que nem mesmo a própria macaquinha conseguia alcançar o pico esticando suas caudas para se dar "pézinho". Ela voltou seu olhar para o Ranger, curiosa... Oras, não é exatamente todo dia que se vê algo do tipo, né?

A símia, então, tornou a olhar adiante para o pântano e cuidadosamente colocou uma das suas caudas na água morna, tentando checar sua profundidade. Não demorou muito para tirar e mostrar para Ayzen o que parecia ser uma fundura de 10 a 20cm. Fácil de passar com a bota de couro, eu diria, apesar de certamente ser o suficiente para encharcar seus pés e a barra de sua calça. Além disso, a quantidade exorbitante de capim-elefante que se misturava com as hidrófitas e que por sua vez se misturavam com outras plantas menores era preocupante, mas não impossível de se passar. Claro, como dito anteriormente, é um terreno difícil de se navegar mas nada impossível para um Ranger acostumado com atividades naturais. Era só chato mesmo não conseguir ver muito adiante de onde se está indo, né?

Apesar dos apesares, se Ayzen parasse alguns segundos para observar o seu redor, se depararia com um cenário tão bonito quanto uma pintura. A chuva caía, agora leve, com as gotículas d'água repousando sobre as flores abertas das hidrófitas, essas enfeitando todo o pântano quase como se tivessem sido colocadas ali perfeitamente posicionadas - a natureza, em sua mais pura forma, é realmente algo impressionante.

Vento não era algo que o treinador conseguiria sentir com a parede de capins o circulando, mas era possível sentir o aroma que a brisa que passava acima da vegetação trazia consigo - uma mistura de lírio aquático com outras flores não identificáveis a princípio, mas um cheiro extremamente agradável e perfumado ao olfato. Por sorte, parecia vir diretamente da direção que Ayzen e Ambipom estavam indo, quem sabe não possam encontrar algum jardim ainda mais bonito no caminho para a rota 109?

Rota 120

Apesar da pequena dor no coração, Ayzen fazia o que alguém em sua situação precisaria fazer: cortar a vegetação para poder passar sem muitos problemas. Isso facilitava (e muito!) toda a caminhada que precisavam fazer em direção a Rota 109, que não devia estar tão longe assim, mas por conta de todo capim-elefante, não conseguiam ver muito bem.

Ambipom seguia na frente. Por ser uma símia, tinha facilidade de ficar pulando para lá e para cá com suas caudas - não que ajudasse TANTO assim mas pelo menos a divertia naquele terreno tão trabalhoso de se passar e ocupava um pouco sua cabecinha numa brincadeira que inventou com si própria para não se entediar.

Dito isso, em determinado momento, Ayzen percebeu que toda aquela comoção de capim indo pra cá e pra cá por conta da Ambipom simplesmente... Parou. Passaram-se alguns segundos e nada.

O que diabos poderia ter acontecido?

...

Passados alguns outros segundos, o Ranger sentiu uma leve cutucada no seu braço, vindo de uma das caudas da símia, que o trazia para perto de si. Quando finalmente Ayzen chegou onde ela estava, Ambipom sinalizou com a outra cauda para que fizesse silêncio e observasse o que acontecia diante deles.

Finalmente a grande parede de capim-elefante acabava, dando lugar a um segundo pântano de uma beleza ainda mais estonteante. Lembra do cheiro de flores que mencionei há alguns minutos? Pois é. Não só haviam as mais diversas hidrófitas com suas flores abertas sobre a água e perfume delicioso pairando sobre o ar, mas também algumas pedras empilhadas enfeitando todo seu entorno e centro formando uma espécie de plataforma rochosa em formato de Pokébola. Em cima dessas plataformas de pedras, uma decoração certamente humana e muito curiosa: alguns tiki totems apagados e bandeiras com estampas hula fincadas nas partes sem os palanques rochosos. O que parecia ser uma faixa grande com algo escrito estava caído sobre as pedras virado de cabeça para baixo, então, Ayzen não conseguia ler do que se tratava tudo aquilo.

Ambipom, por fim, cutucou o Ranger uma outra vez, apontando mais para a direita onde não conseguiam ver sem sair da "cobertura" dos capins-elefantes. Ali, um grupo de cinco idosos por volta de seus 70 anos de idade, todos vestidos com roupa de hula e bem cabisbaixos, com duas senhoras chorando baixinho sabe-se lá o porquê.

E agora?

Rota 120

Rangers... Como sempre se voluntariando para ajudar os mais necessitados. Uma atitude sempre tão nobre e honesta não poderia passar despercebida, né? E foi por isso que, apesar do susto inicial dos velhinhos com alguém passando naquela área tão deserta, se acalmaram aos poucos para poder falar com Ayzen, principalmente por conta da abordagem super simpática do rapaz.

- Oh, meu filho... Tudo muito péssimo. - comentou uma das senhoras que choravam, secando as lágrimas aos poucos; com a ajuda dos outros, ela conseguiu se levantar e usava sua bengala de madeira escura para chamar o rapaz e Ambipom para se aproximarem - Olha, nós somos de Alola. Desculpe os trajes, mas é normal na nossa cultura. -  com a outra mão apontou para a festa "destruída" - Todos nós moramos em Hoenn há 25 anos e todo ano fazemos nosso festival de Hula com os Kecleon daqui. Não são nossos, mas eles sempre estão aqui.

Agora que a senhora falou, se Ayzen prestasse atenção cuidadosamente poderia perceber diversos Kecleon camuflados não só nas pedras-plataforma como também na água e até mesmo nas flores das hidrófritas. Ao todo o Ranger e Ambipom conseguiriam ver uns 8 espalhados por todo o pântano - estáticos, bem camuflados MESMO.

- E estão faltando dois. Não sabemos onde estão, mas o nosso palpite é que estejam mais para a frente, após os outros capins altos, na direção da Rota 109. - agora quem falou foi um os senhores - Não conhecemos aquela área e o pântano ali é mais profundo, então não conseguimos ir. Com a idade ficamos mais baixinhos também, um dia você vai ver. - comentou com uma risada bem humorada, acariciando a cabeça da segunda senhora que ainda não parou de chorar - Para completar, um dos sumidos é a única que consegue parar essa chuva danada por alguns minutos para fazermos a dança Hula. - Ayzen suspeitaria que talvez por conta do movimento Sunny Day, mas os idosos pareciam ser leigos nesse sentido - Então, nos restou somente chorar. 25 anos anos ininterruptos e talvez pela primeira vez precisemos cancelar o nosso pequenino festival...

Rota 120

Ah, que perfeição! Não só Ayzen arrumava uma solução para o problema iminente dos idosos como também se prontificava para fazer uma varredura na direção da rota 109 para ver se encontrava os Kecleon em algum lugar por lá. A resposta dos senhores e das senhoras foi tão fofa quanto poderia ser: todos eles abriram um sorriso enorme e começaram a festejar quando Eevee invocava o bendito Sunny Day para acabar com a chuva, nem que fosse por pouco tempo.

- Você é um enviado de Arceus, muito obrigada! - disse uma senhora, que ajudava a outra a se levantar - Agora só faltam os convidados! - brincou - Se encontrá-los vai ficar tudo perfeito... Como você se chama, meu filho? Iremos com certeza ligar para a sede dos Rangers para agradecê-lo formalmente! Você merece todo reconhecimento do mundo!

Que fofura, né? Parar um pouco da sua jornada até a rota 109 para ajudar um grupo de velhinhos é algo que só um Ranger de coração puro faria de fato. Está longe de ser uma aventura agitada como as que Ayzen está acostumado, mas a vida é feita disso também, certo? Em algum dia, no futuro, nosso herói poderia contar a história de como ajudou um grupo de velhinhos de Alola a fazerem uma festa de Hula com Kecleons.

Dito isso, o rapaz rumou para a Rota 109. Ali, como dito pelo senhorzinho, era bem mais fundo MESMO - o que significava que Ayzen ficaria com a água do pântano até a cintura. É... Calça, cueca, tudo molhado! Não tem como fugir. Mas faz parte, explorar terrenos não conhecidos tem dessas.

Cinco minutos se passaram naquela jornada. Cinco minutos difíceis, com o calor e a temperatura abafada fazendo Ayzen ficar tão molhado fora d'água, de suor, quanto dentro. Ambipom pulava de um capim-elefante ao outro, com bastante cuidado para ver se encontrava os benditos Kecleon. Dessa vez, quem os viu primeiro foi o Ranger e não sua fiel escudeira.

Ainda passando em meio a vegetação insuportavelmente alta, ambos chegaram no que parecia ser uma pequena clareira. Por conta da inundação, ali também se tratava de um pequeno pântano, mas menos profundo - quiçá raso igual ao que os senhores estão fazendo seu pequeno "festival". Dessa fez foi o Ranger que percebeu uma movimentação no canto norte do mini-bioma - parecia haver um acúmulo de hidrófitas que não parecia natural, quase como se alguém tivesse colocado-as empilhadas ali para esconder alguma coisa. Se prestasse bem atenção, Ayzen também perceberia que em uma delas estava um Kecleon bem camuflado.

Ambipom, então, observava aquilo ali um pouco desconfiada. Os Pokémons não pareciam ariscos nem nada disso, mas certamente estavam protegendo alguma coisa ali. Sinalizou, então, para que seu treinador a deixasse fazer o intermédio entre eles.

O que poderia ser?

Rota 120

E foi com a diplomacia de Ambipom que, aos poucos, os Kecleon relaxaram. Digo isso porque o susto inicial que os monstrinhos levaram certamente levaria a uma hostilidade que é comum a selvagens: Ayzen e sua fiel escudeira não eram moradores daquele lugar e sequer haviam passado por ali alguma vez na vida, então, o estranhamento é mais do que normal.

Foram bons cinco minutos de conversa, viu? Mas no final das contas, a símia conseguia fazer com que os Kecleon deixassem-a ver o que tanto escondiam naquele monte de planta. Assim que conseguiu se aproximar, Ambipom abriu um leve sorriso e sinalizou para que Ayzen se aproximasse. Com certa dificuldade para atravessar MAIS UM pântano de ponta a ponta, o Ranger chegaria até o local depois do esforço - sem musculação por uns bons dias, hein? Só essa rota pequena já valeu a semana!

E, olha, não tinha como não sorrir ao ver do que se tratava: as plantas, amontoadas naquele espaço, formavam uma espécie de berço profundo, onde em sua base descansavam dois pequenos ovos de Kecleon. Algumas flores das hidrófitas enfeitavam o leito e aconchegavam-os, demonstrando ainda mais sua pequenez, já que algumas das flores eram até mesmo maiores que eles, acredita!?

A solução do mistério estava aí, então! O amor floresceu naquele pântano e o papai e a mamãe Kecleon não poderiam ir ao festival de Hula por conta disso. Por outro lado, os senhores e senhoras não sabiam o porquê da ausência dos monstrinhos, o que fez com que ficassem desolados daquela maneira. Uma aventura um pouco mais boba para o que Ayzen estava acostumado a presenciar nesse mundo Pokémon doido, mas...

É na simplicidade que moram as pequenas coisas, né?