[Rota Atemporal]Dia de Praia

Passaram-se inúmeras possibilidades sobre o que seria uma vida medíocre para a hoenniana, afinal dissera outrora que a vida como uma andarilha era solitária. Nicholas reservou-se ao silêncio, e manteve a postura compreensiva; até coçou o cérebro para entender o que seria, todavia, seria melhor indagar em outro momento que se encontrassem, já que o momento a sós estava chegando ao seu fim.

Foi com entusiasmo retraído que recebeu a notícia de que veria Artemísia novamente, e não somente em explorações excêntricas por entre o mundo, como em oportunidades mais casuais. Ainda taciturno, deixou matizar um riso mais aéreo e jocoso diante da afirmativa da hoenniana. Não era segredo para ninguém — para as testemunhas e a própria Mísia — de que não fora somente airosa feição e curvas o fizeram se abrir para seguir a encontrá-la, como a conexão que as duas almas ali tiveram — e não, leitor, não estou dizendo que estão apaixonados como dois Pidovezinhos, mas vai que, né?

Com gracejos aqui e acolá, iniciavam o caminho de volta, como se fossem um só em um enlace afável dos braços e corpos.

— Você conhece cada peça ali tão bem quanto eu — inferiu, conforme os olhos se voltavam ao horizonte terrestre mais à frente. — Eles podem até ficar bem. O meu medo são os outros banhistas — por fim, vocalizou um riso curto e manso da garganta.

Não deve ser um segredo que há tempos o loiro não se engraçava com outra garota dessa maneira, tendo de paquerá-la para conseguir algo, sem nenhum drama ou correr risco de vida. Assim sendo, fora um momento aprazível; e mesmo que Nicholas não quisesse voltar, sabia de que, hora ou outra, seria arrastado pelos demais na orla. Matutando sobre isso e pensando em cenários sobre seus próximos passos, fora surpreendido pelo vocativo de Artemísia, libertando-se da aprazível dança de braços e corpos, empurrando seu corpo para trás repentinamente. Recostou as costas e até tentou até acomodar o corpo, isso se a hoenniana não se lançava por cima de seu corpo. Em resposta cálida àquele beijo lúbrico, devolvia em sua mesma intensidade o baile do músculo bucal; o frenesi controlava por completo seus instintos, e assim sendo, as mãos desceram até a mais voluptuosa das curvas do sinuoso corpo de Mísia, pressionando-os com intensidade, conforme a temperatura subia naquele emaranhado repleto de desejos.

Foi iniciativa de loira se desvencilhar da dança — quase — lasciva, inferindo para que o kantoniano não se esquecesse da mesma. Rira, e era no desenho dos lábios que as intenções de Artemísia eram retribuídas, um claro sinal não-verbal. A adrenalina e o frenesi subiram conforme os lábios de Artemísia tateavam ora seu queixo, ora seu pescoço, fazendo com que o sangue fervesse. E pouco antes dela se afastar, em impulso quase bestial, a mão destra viajou até as loiras madeixas, segurando-as, trazendo seu rosto para próximo de sua boca. Por fim, viajou até o ouvido da hoenniana.

— Dentro de alguns dias, me encontra em Lavaridge, de noite. De manhã, a gente sai pra explorar, e à noite... — finalizou dramaticamente tateando com sua língua o pescoço da hoenniana, deixando com que desabrochasse em um beijo ao pé do ouvido, moroso, carregado de todo aquele frenesi que circulava em suas veias.

Não tardou para que chegassem à costa, dentro de poucos segundos. Artemísia desceu e agradeceu Critias por tudo o que fizeram nesse lapso de tempo, volvendo para onde estavam as coisas sem tornar para trás.

Nicholas até pensou em segui-la, mas tinha que lidar com um segundo Gyarados o atormentando com os resquícios de outrora.

— Me põe na água, Critias, por favor — pediu, claramente sem jeito. Desde o começo, em momento algum, houve algum rubor em sua face; todavia, ao perceber que o sangue seguia circulando, ficara claramente envergonhado.

A respiração seguia descompassada e aumentava com o esforço mental para acalmar os ânimos. Precisou de considerável tempo para começar a ver tudo se normalizar, e por fim, o ambiente estava controlado enfim. Respirou bem fundo, com agora tudo sob controle — já falei que precisou de um lapso estimado de tempo pra isso.

Conforme voltava, pôde ver, ao longe, Charizard e a Dragonite começando a se afeiçoar por causa de um milho. Mano, um milho, porra! Ivy em sua gula desenfreada pediu o segundo milho de Balerdroch, e como barganha, deu um senhor lambeijo no focinho. Se Adão não negou uma maçã de Eva porque ela estava como veio ao mundo, o réptil alado não foi nada besta e retribuiu aquilo; agora, ambos estavam lado a lado, claramente constrangido, mas tateando o chão como se quisessem que suas mãos se encontrassem por acaso, como adolescentes ao ver a primeira paixonite na escola.

— Desde quando? — indagou para si mesmo, tal se matutasse em voz alta, conforme caminhava pela areia para onde jazia Hermos e Mithra. — E eu achando que ele só tinha tamanho, ele finalmente cresceu, já é um hominho — e por fim riu, chegando à barraca. Pôde ouvir os protestos de Artemísia sobre onde estavam os demais. — Bom, enquanto os furacões não vêm, a gente pode tomar uma, né? — precisa molhar as palavras depois de tudo que aconteceu no mar, certo?

Pegou duas do cooler — pokéineken, deixando claro —, abriu-as, ofereceu uma à Mísia e começou a beber a outra, volvendo a se sentar sobre o cooler.

Cadê o resto da turma, hein?

Todo vilão tem um passado triste, e aqui jaz o começo da derrocada moral de um rapaz no auge de seus dezoito anos depois de uns amassos quentes com um mulherão. Passar um bom tempo na água é autoexplicativo, confere? Era torcer para que todos tivessem bom senso e não mencionassem esse fato, acredito.

— Eles crescem realmente rápido. Até ontem, era só um Charmanderzinho curioso — a nostalgia invadiu a sua – agora – sã mente. — Ainda que ele tenha todo esse tamanho e força, ele ainda é uma criançona. Bom saber que tem algum lado mais maduro nele — permitiu-se o gracejo. Levou a garrafa até a boca, dando um gole no conteúdo.

Se outrora hesitava quanto ao furacão, o cataclisma chegava, e tinha forma humanoide, um com madeixas loiras e a outra de coloração preta. Nicholas até ensaiou como retrucar, mas Artemísia, arguta que só ela, respondeu à brincadeira até mesmo rindo; isso fazia até mesmo o kantoniano desarmar toda a postura que teria, isso se não fosse Karinna já lançando um olhar de soslaio, como se estivesse a soltar uma bomba atômica. Por sorte, Mísia se levantou para ir pegar um milho, conforme as instruções de Luch. Entretanto, seu comentário era bem mais invasivo que o normal.

De guarda baixa, acabou ouvindo sobre a marcação na cueca — Nico não ousou olhar, todavia, havia a chance de ter algum resquício do lascivo momento com Artemísia ainda no mar. Estava a se preparar para engolir um pouco de cerveja normalmente, isso se não tivesse ouvido aquilo. Como um efeito reflexo, cuspiu a bebida alcoólica, engasgando claramente com a surpresa do comentário somado à falta de pudor; foram algumas boas tosses.

— Pelo amor de Arceus — indignado, lançava olhar inquisidor à psíquica, fuzilando, tal como ela fizera no momento em que se viram. Ergueu do cooler onde jazia sentado, claramente constrangido, e foi na direção do carrinho de milho – e após alguns passos, com ninguém vindo, certificou-se de arrumar de novo para que não houvesse nenhuma confusão quando aquilo.

Não tardou muito para que pegasse o seu pago — caprichado na manteiga, diga-se de passagem — e voltasse ao QG de operações onde os demais jaziam. A pauta era um tal show de talentos, tão repentino quanto aquele encontro sobre uma determinada marca de sucos; esta parecia ser nostálgica à hoenniana, citando sobre aquele refresco ter cruzado as fronteiras de seu continente natal. Karinna parecia se preparar para chamar um batalhão de monstrinhos, já que participaria, não sem antes conversar com o loiro.

— Isso realmente me pegou desprevenido, e queria saber desde quando esses dois tão de papinho — riu, manso, matutando sobre a situação excêntrica que os alados resolveram partir para os lambeijos. — Fica de olho também, se não sai um filhotinho no primeiro perdido desses dois — inferiu, por fim, até que a especialista finalmente puxasse cada um deles para um recinto separado.

Quiçá, o loiro poderia manter alguns de seus talentos ocultos, todavia Karinna fez questão de desenterrá-los, lembrando sobre o kantoniano ser um exímio cantor e amante de instrumento de cordas. Mísia recordou também sobre a imagem de Nicholas adentrar a sede em Rinshin com um violão.

— É, eu lembro — recordou, comentando de maneira singela, serena. —, deveria estar tentando tirar a ferrugem ou tentando aprender alguma coisa nova. Fazer uma pestana é chatinho, ainda mais quando se está desacostumado — comentou. Artemísia também lamentou ainda não ter ouvido seu show particular, aproveitando a deixa para inquirir sobre outro ritmo. — Pra tocar um pagode, teria que ver as cifras e ouvir um pouco pra tentar tirar a música. Eu costumo de tocar mais rock. Não garanto, mas posso tentar, se quiser — se um atacante quando faz um gol e o dedica, seria isso o que um musicista o faz.

Artemísia comentava sobre ir com seu fóssil até a barraca de milho, restando somente o amante da natureza junto ao kantoniano. O olhar de Nicholas era quase inexpressivo, temendo até algumas perguntas sobre que o mesmo faria. Foi até o cooler, terminando de tomar a sua cerveja e já puxando outras duas — antes de qualquer protesto, pegou de marca boa e as abriu. Uma para o unoviano e uma para si. Sentou-se novamente sobre o cooler.

— Não tô com instrumento nenhum aí, tem que dar a sorte de eles terem um violão, um cavaco ou uma guitarra — deu um gole na cerveja, inferindo para quebrar o gelo. — Aí, cadê o Hayato?

Torcia, naquele momento em que os rapazes jaziam sozinhos, que o unoviano não comentasse sobre o ocorrido lá no mar... Aparece logo, Hayato!