[Rota Atemporal]Dia de Praia

Ainda que leve, o tatear da treinadora nas loiras madeixas junto daquela aproximação mansa deixaram o loiro mais à vontade. Permitiu o braço destro se envolver por entre as sinuosas curvas da cintura da hoenniana, trazendo-a mais para perto, acompanhando-a na ânsia de tornar aquele entrelace dos músculos realidade. Próximos um ao outro, a respiração quente de ambas como um clímax proveitoso era percebida, fazendo ambos ficarem bons minutos naquela dança ardente.

E foi só ao vim conforme encarava os olhos castanhos de Artemísia que esta se permitira a um singelo gracejo com a metáfora que Nicholas fizera outrora. Um curto e estalado selinho foram a despedida daquele tão próximo contato — ao menos, por enquanto. E conforme afastava, o loiro seguiu a sorrir tal como outrora na orla, com os olhos um pouco semicerrados e com certa indecência que podia ser lido por qualquer pessoa.

— Me fala uma coisa — quebrou o silêncio conforme inferia aquilo de maneira mais pausada. Conforme fazia isso, Gyarados posicionava seu corpo mais à frente, deixando à disposição de ambos os treinadores para que segurassem em suas escamas. — Já viu um pescador voltar para costa com um só peixe? — bom, para meio entendedor, meia palavra basta; da vontade do loiro, aquele não seria o último dos dois.

Nicholas segurou com a mão destra o corpo serpentino de Critias, e a seguir, a esquerda se enlaçou com a destra de Artemísia — a hoenniana também segurou o corpo de Gyarados para seguirem ali.

— Eu preciso te confessar uma coisa: — deixou um aprazível riso se desenhar nos lábios conforme fitava os olhos de Artemísia. — Essa é a minha primeira vez fazendo isso — ergueu a sobrancelha, torcendo para que a hoenniana não ficasse apavorada e, mesmo que com ínfimas nuances de receio, a confiança em Gyarados e em Gastrodon era tamanha que sabia que nada demais aconteceria. — Espero que esteja preparada, sereia — olhou para frente, dando dois tapinhas no corpo da serpente oceânica. — Garota, vai!

Exclamou o pedido à Critias. A marítima entendeu o pedido e logo jogou seu titânico corpo para dentro da água; sendo Mísia e Nicholas quase que uma extensão de seu corpo por estarem segurando nela, a inércia fez o seu trabalho e levou os três para o interior do mar, enquanto Nalu seguia seu caminho separadamente.

Prendiam a respiração para aguentar passar um tempo lá dentro. Em determinados pontos, o contato visual entre ambos de mãos entrelaçadas era inevitável, e o loiro não podia deixar de demonstrar uma expressão mansa ao lado da hoenniana, a prova de que estava bem à vontade.

Sendo humanos, não aguentariam tanto tempo em um lugar não natural. Critias não avançava até pontos que a pressão era insuportável, ademais, foram até determinado ponto que podiam ver algumas coisas únicas em Sinnoh. Em alguns corais encrustados, as duas adaptações de Shellos residiam, uma em cada recife diferente onde seu corpo jazia camuflado — Nico e Mísia teriam de observar com calma para vê-los —; um cardume de Magikarps nadava livremente em grande número, um contraste com a cor cristalina do oceano; o mais surpreendente era bem mais ao fundo, onde de uma gutural escuridão, uma luz se fazia presente. Se ambos observassem com mais afinco, veriam uma silhueta nada comum de se encontrar naquele ponto do oceano; cada flash de luz era esparso, contudo, compreendiam a mesma frequência e intensidade.

Puderam, ambos, presenciar até mesmo a insólita presença de Lumineons.

O fôlego estava acabando. O loiro pressionou com pouco mais afinco as escamas de Critias, e ela entendendo, lançou o seu corpo na direção da superfície. Estando a serpente titânica em seu habitat, ascendeu rapidamente de volta onde o ar circulava de maneira melhor para seres humanos — em determinados pontos, Mísia e Nicholas precisaram segurar com mais força para não se desgrudarem do corpo do monstrinho. E não tardou muito para que colocassem parte do seu corpo para fora do mar.

Ficaram submersos por um bom tempo, então a respiração ávida era natural — além de jogarem o cabelo para trás, a ponto de não atrapalhar a visão.

— Você viu aqueles Lumineons lá no fundo? É a primeira vez que vejo esses caras — um certo quê de empolgação, contudo, ainda discreto. — Se olhasse bem, tinha uns Shellos camuflados em uns corais.

Não era mais segredo de que Artemísia era uma amante dos aquáticos, provável que sua empolgação seria quase palpável naquele ponto. Quiçá, poderia até mesmo falar de outras coisas que os olhos de Nicholas não foram capaz de enxergar. O treinador resumiu-se a somente ficar ouvindo sobre toda a experiência aprazível daquele singelo mergulho, sem equipamento nem nada, somente com os olhos nus e guiados por uma Gyarados.

Como seguiram durante o mergulho próximos, emergiram também próximos. Dera o tempo de recuperar o ar perdido durante o mergulho, e estando um do lado do outro, fora como se o corpo do kantoniano agisse por impulso. De maneira súbita, passou a mão entrelaçada por trás da cintura, tal como a outra mão fora na direção da sinuosa curva do corpo da hoenniana. E se outrora avançava mais lentamente, dessa vez, fizera com mais ímpeto. Era como se deixasse seus instintos agirem, e assim sendo, os lábios e músculo bailavam em ritmo mais acelerado, frenético, quente; as mãos pressionavam mais o corpo da garota, como uma resposta ao estímulo fervoroso. Caso lhe fosse permitido, o objetivo era arrancar ainda mais ar do que o mergulho.

Foi como Nicholas disse há pouco tempo: chegar na costa com um peixe só, não dá, né?

O ambiente aprazível depois de uma experiência estonteante era o melhor cenário para uma atitude tal qual a do loiro. O frenesi fazia o sangue percorrer mais cálido em contraste com a água, e adrenalina circulava seu corpo com afinco; a cada vez que sentia algum estímulo do toque de Artemísia em seu ombro, repetia-o em sua cintura, tal se deixasse controlar pelos instintos mais irracionais possíveis.

A treinadora tomou a iniciativa de se afastar pela respiração descompassada, e assim sendo, o loiro também demonstrava o quão ofegante estava. Ainda aéreo, não conseguia estimular o tempo que ali passara, somente deixando que o espaço-tempo seguisse seu fluxo normal e a mente desligasse, ao melhor estilo “carpe diem”. Nicholas estava claramente satisfeito e não era segredo, dado o desenho de riso jubiloso em seus lábios; mantinha o riso aberto conforme buscava compassar novamente sua respiração.

Pouco tempo após, sentiu o tatear leve da mão de Mísia em suas costas, e suavemente alavancou a treinadora na direção de seu peito, como um convite ardoroso para um abraço, bem próximos. Deixou uma risada mansa escapar após os ditos da treinadora, inferido que iria esquentar o seu corpo com o calor do loiro.

— Você não precisa nem pedir — foi o que respondeu, puxando o corpo da loira para ainda mais próximo. Envolveu com o braço esquerdo até a sua mão repousar pouco mais abaixo de seu ombro, e em manso movimento vertical, tateava a pele de Artemísia suavemente. A mão direita ia na direção das longas madeixas da treinadora; em movimentos singelos com a ponta dos dedos, ora afagava onde seria a raiz, ora descia sua mão, tal se percorresse os belos fios dos alvos cabelos de Mísia. Cerrou as pálpebras e sentiu um arrepio por cada célula de seu corpo conforme a garota soprava tão brandas palavras e seguia a beijá-lo próximo ouvido; sentiu, como outrora, tal um reflexo, uma reação para tal. A mão direita segurou um bocado do cabelo, puxando-o para trás morosamente e, claro, sem força em excesso. Era como se abrisse caminho até o ouvido de Artemísia, e achegava-se morosamente, sendo possível sua pele sentir a respiração quente e levemente descompassada do kantoniano. — O prazer é todo o meu, Artemísia. Espero que não seja a última vez que vamos nos encontrar — soprou, quase como se balbuciasse, antes levemente morder o lóbulo da orelha da treinadora, descendo lentamente, com os lábios tateando a orelha mansamente, além do cálido ar que vinha de suas narinas.

E por falar em ar, uma lufada repentina descendia na direção dos dois humanos que ali jaziam. Nicholas ergueu os olhos na direção, podendo ver claramente a figura de uma pedante Crobat. Ao se dar conta, Critias, sempre protetora, descerrou suas pálpebras e passou a fitá-la com seus olhos de caçadora. Do âmago de sua garganta, ensaiava um rugido ímpar, capaz de fazer as almas afugentarem de seus corpos, restando somente a casca de carne vazia. Contudo, Artemísia reconheceu a presença da morcega, batizada de Stormy. Automaticamente, o kantoniano — agora já separado do corpo da loira pela surpresa do voador johtoniano — ergueu sua mão esquerda, lançando uma piscadela para Gyarados, em sinal não verbal de que não precisava de aquilo.

Critias desfez sua postura de ataque, todavia ainda alerta, submergindo mais uma parte de seu corpo titânico nas águas do mar.

Não delongou para que Stormy começasse a rodear o corpo, julgando cada expressão e centímetro do corpo do kantoniano. Se outrora estava jocoso por estar a sós com Artemísia, enquanto aquilo ocorria, sua expressão fria volveu, conforme acompanhava a trajetória de Crobat com seus orbes cerúleos.

— Qual que é a chance de ela gostar de mim? E por que deve ser negativa? — desfez sua aparência mais séria, volvendo sua expressão para Artemísia, dando uma piscadela, tal se justificasse aquele gracejo. A seguir, ouviu sua indagação sobre os demais estarem buscando ou mesmo intrigados com a demora de ambos. — Eu sinceramente passaria o resto da tarde aqui. Mas, se quiser, a gente volta... — é claro que não desmancharia a postura galanteadora, e caso Mísia quisesse voltar, ofereceria a mesma carona de Gyarados, para que voltassem abraçados tal como outrora. Dessa vez, quiçá, mas íntimos, huh?

Ergueu uma sobrancelha e adiantou um pouco o lábio inferior, como se admirasse o comentário leve inferido pela treinadora hoenniana. Sua feição desmantelou-se no momento em que Artemísia até ensaiou um sermão para a morcega venenosa, e nesse momento, bateu suas quatro asas e açodou para bem longe dos dois humanos que ali jaziam; claro, arrancou uma mansa risada do loiro.

Assistiu Mísia se achegando, tateando as madeixas molhadas do loiro, mexendo algumas poucas mexas. Lamentou não poder passar mais um tempo, já que a caçula estava aguardando na orla e, por tê-la feito uma promessa, não poderia ficar mais ali; ademais, ainda ofereceu ao kantoniano uma calorosa despedida. Nicholas retribuiu a iniciativa assim que a treinadora agarrou sua nuca, aproveitando cada segundo daquele selinho mais demorado.

O riso sem graça junto à confissão era um emaranhado de desabafo com doses ínfimas de melancolia. Talvez Mísia com a personalidade que carrega não se sentisse assim, todavia, sentir-se solitário já fez parte do cotidiano de Nicholas por algum período. Reservou-se, taciturno, conforme o rosto da hoenniana encaixava em seu peito. Em resposta automática, levou sua mão destra para os cabelos alvos da treinadora, volvendo a afagá-lo, assim como fizera outrora.

Respirou fundo.

— A gente só vai no automático, e quando percebe, vê mais os nossos pokémons que família ou amigos — matutou em voz alta diante do questionamento de Mísia. — Eu sei bem como é. E a gente pra se iludir, só ativa o piloto automático — riu sucintamente, manso. — Não sei se esse é o nosso fardo por escolhermos ser viajantes. Talvez seja.

A mão que estava no cabelo viajava até o queixo de Artemísia, tal se fizesse uma linha, tateando esse percurso de suas madeixas, passando pelo pescoço, fazendo uma digressão por entre sua maçã do rosto até chegar ao destino final. Suave, levantou o belo rosto da treinadora, avançando morosamente seu rosto, deixando aquele percurso florescer em mais um beijo lento. A mão esquerda do loiro trazia-a mais para perto, envolvendo por sua cintura, vez ou outra fazendo movimentos verticais entre seu corpo, como se afagasse — tal qual uma massagem.

Jazeu ali por alguns bons minutos.

Recolheu infimamente os lábios, mantendo a proximidade exacerbada, com os narizes encostando-se nas pontas.

— Mas não quer dizer que deva ser sempre assim — a mão que repousava no queixo começou a afagar a sua bochecha com seu polegar após jogar para trás algumas mexas de seus cabelos. — Vamos para perto do monte Chimney, depois exploraremos as ruínas de Shimmer, um fazendo companhia para o outro, que tal? — deixou a indagação florescer em mais um selinho delongado. — Não precisamos só nos vermos nessa correria também. Tem vários restaurantes, vinhos e por aí vai. Quem sabe, a gente vai até pra uma balada juntos. Adoraria passar mais tempo contigo. Você é uma ótima companhia — mordiscou-lhe o lábio inferior, volvendo a encostar os rostos como outrora. — Espero que nos encontremos assim por muito mais vezes — por fim, um último selinho, não tão demorado, porém não tão curto. — Sendo assim, é hora de devolver quem eu sequestrei para o meio do mar por um bom tempo.

E logo após esse gracejo, Nicholas afastou-se minimamente. A mão que envolvia sua cintura descia até sua perna e sua destra repousou em suas costas, e em um movimento brusco, ergueu Artemísia, segurando-a no colo, tal o mocinho carregando a princesa resgatada. Não pode deixar de gargalhar mansamente por tê-lo feito repentinamente — vai saber se a assustou. Nadando com ela no colo, aguardou que sua Gyarados esticasse sua cauda, levando-os até a sua cabeça.

Por fim, o loiro posicionou-a em sua frente, sentando por detrás da garota, envolvendo-a em terno abraço — o braço esquerdo percorreu sua barriga e desafogou em sua curvilínea cintura, já o outro passou por entre seu pescoço, sem pressioná-la. Um singelo gesto de afeição, por fim: um singelo e estalado beijo em sua testa.

— Só espero que eles não tenham feito merda...

Critias, Nalu, Artemísia e Nicholas então começavam o trajeto de volta para a orla. Todos deveriam estar bem, confere?