Aya, sem sombra de dúvidas, era medrosa. Sem muita experiência, isso eu pude notar com facilidade. Chorando por causa do susto que levou, de quase ter morrido, enquanto eu ficava feliz com a possibilidade de haver alguém cuidando de nós em algum lugar. Ser trancada no local? Bem, não era confortável, mas sentar e chorar não me resolveria muito, então só podemos seguir em frente. Era “sentar e aguardar” ou “explorar”. Não foi difícil perceber que a coordenadora queria sentar e chorar, mas não foi tão difícil convencê-la a explorar.
Subimos as escadarias com algum receio. Medo dos degraus quebrando sob nossos pés. Já estive em queda livre uma vez e sei que não é agradável. Tenho minhas duvidas de que alguém fosse nos salvar uma segunda vez, caso o pior ocorresse, então me mantive atenta. Por sorte, nada ocorreria e pudemos seguir por um corredor, até nos deparar com uma porta velha e pesada. Ótimo, lá vou eu empurrar uma porta pesada...
-Mel, elas parecem intactas!
Aya dizia, parecendo admirada, enquanto respondo com apenas um “é mesmo”, começando a empurrar. A me ver tentando abrir, a garota me ajudou, o que me deixou grata. Força física não é meu forte. Do outro lado, um salão aparentemente de festas e imenso. Um palco num lugar, mesas espalhadas, nada de interessante. Adentramos para explorar, mas cometi o erro de não estar com Castiel ao meu lado, ou o Venonat...
Novamente as portas se fechavam misteriosamente. Dei um pulo com o barulho repentino, enquanto Aya reagia ao mesmo som com um berro agudo. Okay, se aquilo era uma pegadinha, já estava perdendo a graça. Infelizmente, o silêncio foi quebrado com a violência após o ataque brutal de um som agudo, pertencendo algum instrumento. Eu e Aya tapamos os ouvidos, tentando amenizar o barulho repentino persistente. Por sorte, ou azar, parava, mas o responsável mostrava a cara estranha e pintada.
O que um guitarrista fazia numa casa velha e empoeirada? Essa foi à pergunta que me veio no primeiro momento. Não estava com o grupo e não tinha o olhar mais amigável... Era esquisito, bizarro, feio, extravagante, sem senso de moda e estranho. Aponto a pokédex para o Pokémon que o acompanhava, olhando para Aya. Ela estava paralisada, estando trêmula. Ai Arceus, o que faço? Ele se pronunciava, tendo uma voz histérica, mas não era a feição ou a voz que me intimidava, mas sim o que ele dizia.
Pelo o que ele dizia, não éramos as primeiras a encontrá-lo. Um grupo havia ido à frente e levado a pior. Isso me preocupava. Mais um rocket ameaçando vidas, será que não havia algum que fosse diferente? Todos me perturbavam, tiravam noites de sono e me irritavam, ou me deixavam tão confusa que não entendia mais nada, embora apenas um realmente tenha me deixado sem saber o que responder e ocultado seu objetivo.
Agora estou diante de um assassino pervertido que me causava calafrios. Minha sorte não deve gostar de voar e, portanto, ficou em Pewter. Quem sabe algum ranger aparecesse? Só teria que tentar chamar a atenção de um, o que não seria difícil. Problema era se algum conseguiria chegar e ajudar... Sem falar nas possibilidades de encontrar alguém mais forte que o Esquisitão (eu tenho que chamá-lo de alguma forma, não é?).
O rocket andava de forma estranha, como se estivesse embriagado... Bem, talvez fosse bom, alguém sob efeito de bebidas dificilmente lutará bem, espero... Ele é louco, mas seus sentidos estão alterados, isso pode dar uma chance, mas Aya continua parada em pânico, o que dificultava um pouco. Meus olhos se arregalam ao ver a serpente desagradavelmente familiar. Era diferente, parecia maior que qualquer outra que já vi... Mas nada é tão ruim que não possa piorar, então, a serpente gigante prendia a Pikachu de Aya e a fazia de refém.
Tudo foi demais para ela e minha parceira desmaiou ao ver a cobra se aproximando. Que momento para cochilar... E agora tenho que lutar cantando pra salvar a Pikachu, eu, Aya e meus companheiros... Isso é inédito... Vou ter que, literalmente “Lalalala, ataque, lalalala”? Acho que não daria certo...
Certo, talvez uma canção calma junto com a embriaguez o faça dormir. Se o treinador dorme, os Pokémon não tem mais motivos para atacar, mas enquanto batalho, quem posso usar no combate? Respiro fundo, pegando o microfone e uma pokébola. Liberei Castiel da esfera bicolor, olhando meu pequeno anjinho. Não sei quem será o oponente, talvez Hypno, Seviper, ou algum outro que não surgiu.
-Cass, acha que pode se mover por conta?
Pergunto preocupada. Ele diz seu nome de forma lenta e arrastada. Talvez eu pudesse mandar ”sinais”, conforme o que sentia, mas daria certo? Libero Utau também e a vejo em posição de alerta, rosnando.
-Utau, preciso mais de apoio moral... Se for preciso, comande Castiel.
Uma ordem estranha, mas necessária. Fico cantando uma música de ninar e tento colocá-lo para dormir, enquanto Castiel luta sob os comandos de Utau. Ela estranhou, mas sentou-se ao meu lado e observou, dizia algo para Cass que acenou afirmativo, embora inexpressivo. É, que Arceus me proteja.
Agora cantar. Foi meu sonho, e ainda é em parte, cantar, mas não assim, nessa situação. Faz tempo que minhas músicas se resumiam a melodias para acalmar Juan em noites de chuva. Respiro fundo.
-Tudo bem, irei cantar para você, mas antes que conhecer meu oponente e quero a liberdade de todos aqui, caso você seja derrotado.
Digo com autoridade, batendo de leve no microfone, testando a sonoridade do mesmo. Se não fosse a situação, poderia ser divertido lutar cantando, ficaria para uma próxima, quando não houvesse vidas em perigo.