#01 - Sereníssima

Eram aproximadamente 12:30 quando cheguei em Petalburg. Naturalmente, depois de uma viagem exaustiva como essa, uma dama deve descansar, correto?
Errado.
Botei meus pés nas terras desconhecidas do novo continente,e respirei aquele ar todo novo e significativo. E assim que lembrei que eu estava onde nenhuma outra Anthousai ousou estar (ou pelo menos eu pensava que não), decidi não desperdiçar nenhum minuto numa cama melancólica e letárgica. Azurill parecia partilhar da mesma ideia, já que não quis mais ficar entre meus braços, onde dormiu a viagem inteirinha. Depois do descanso, estava mais serelepe do que nunca, pulando pra lá e pra cá e querendo fuçar em todos os cantos possíveis. Quase entrei em confusão por isso, mas nada que meu olhar de menininha-caipira não resolvesse. Assim que consegui um mapa do continente, decidi rumar para a Rota 102, que estava logo do lado de Petalburg e parecia um lugar calmo para se começar um treinamento completamente novo. Eu nunca estive numa batalha de verdade, e agora que ela parecia cada vez mais próxima, estava suando frio. Mãos geladas e tremeliques já se tornavam constantes, e a taquicardia ansiosa não abandonava meu peito. Estaria eu pronta para essa nova jornada que se iniciava? Eu queria deixar tudo para trás e me tornar uma nova garota. Sem esse passado limitado, essa infância inexistente e uma mãe enterrada pelo amor de seu pai. É, não vou me deixar levar pelo passado. Serei outra pessoa. Outra garota. Outra mulher. E um nome então veio para mim:

- Sereníssima. -Sussurrei baixinho, quando senti a brisa do comecinho da rota abalar as árvores, levar as folhas ao vento e espalhar cabelo no meu rosto.

Eu queria ser como o vento, mesmo sendo como o rio. E para isso, eu não poderia continuar sendo Andrômeda. Eu teria que mudar. Se eu quisesse ser como o vento, deveria me chamar de...

- Serena.

Cheguei a essa conclusão baixinho, enquanto observava Azurill caminhar espirituosamente logo a frente. Sim, meu nome seria Serena, Filha dos Ventos. E não mais Andrômeda, a Princesa Acorrentada. Mudar de nome do nada arrancou-me um sorriso bobo na face. E enquanto o vento continuava a castigar delicadamente a copa das árvores, eu me tornei uma nova mulher. Feliz da vida, e acima de tudo, livre, continuei caminhando ao lado de Azurill, agora um pouco menos Rio e um pouco mais Ar. Que surpresas a Rota 102 guardava para mim?!

- Han... Me desculpa? - Falei, meio em tom de dúvida se eu deveria ou não me desculpar com a garota, que fora tão rude comigo uns segundos atrás.

Fiquei meio confusa sobre como reagir a todo aquele escarcéu. Primeiro que não fui eu que aticei a fera, e sim Azurill, que por sinal pulou para o meu colo na mesma velocidade e vontade que quicou no lago, espirrando água pra todos os lados. Pensei que no futuro eu iria explorar essa capacidade de pular que Azurill parecia ter. E pensei que iria repreende-lo por sair na minha frente sem nem olhar para os lados, visto que foi sem querer a confusão que o mesmo arranjara. Dessa vez foi uma jovem, mas poderia ser outro pokémon ou até mesmo um contrabandista, como os que trombamos em Kalos. É, eu vou falar com o pequeno assim que essa garota parar com o chilique.

- Meu nome é And... - Por um momento, vacilei. - Serena, quero dizer. Você é?

Tentei puxar assunto para ver se ela estava bem e me desculpar. Talvez ela até tenha algum pokémon para Azurill brincar, não sei. Ele iria gostar de uma interação com alguém diferente de um ser humano. E faria bem para sua personalidade meio... Arteira.

OFF - Tudo bem! Eu te entendo. Vai me guiando sobre como trabalharmos o Azurill e sua felicidade que eu vou te seguindo. Vou decidir um nome pro mesmo até o fim da rota, aí você atualiza a Box depois? Obrigada! E qualquer coisa, me manda uma MP. E obrigada por apadrinhar minha rota ^^

"Pelo menos o ódio não foi todo pra mim" Pensei, e logo após me censurei mentalmente por ter tido um pensamento um tanto quanto egoísta.

- Sou sim! Acabei de começar a jornada! Sou Serena, de Laverre, em Kalos. - Já estava me acostumando com a nova identidade. Andrômeda estava começando a ficar no passado. - Você é treinadora, tem pokémons? Talvez você possa me ajudar a treinar o Azurill. Ele é indisciplinado, sabe? Preciso treinar o pequeno.

Falei tudo de uma vez, praticamente vomitando as palavras numa rapidez impressionante. Talvez por nervosismo, talvez por ansiedade, acabei falando assim. Se Cassandra já fosse uma treinadora avançada, ela seria de uma ajuda maravilhosa! Eu estava encontrando dificuldade em treinar o meu pequeno, e uma profissional mais capacitada como a loira ali parecia ser de uma ajuda mais do que necessária. Ela exalava um ar de superioridade que me atraiu e estava me compelindo a pedir sua ajuda.

Espero que ela não se importe.

"Okay, as coisas estão começando a ficar estranhas"

- Tenho sim! Sou prevenida, sabe? Vou só até ali no canto me trocar e já me encontro com vocês. Pode dar uma olhadinha no Azurill até lá? É rapidinho! Obrigada!

E saí meio que aos tropeços, sem nem dar chance para que Cassandra se retratasse. Me embrenhei na parte mais densa da mata, onde a copa das árvores formavam uma cúpula sombria e os arbustos eram mais altos. Me escondi, praticamente, e abrindo minha bolsa que apesar de pequena, era espaçosa, procurei até encontrar meu mais novo modelito de verão, que eu comprara não fazia nem um mês, justamente para sair nessa viagem. Em Laverre, não tínhamos acesso ao mar, então eu quase não precisava de roupa de banho, no máximo um shorts com cropped pra brincar no riacho onde conheci Azurill pela primeira vez.
Enquanto eu me despia, quase que mecanicamente rápida, com medo de estar sendo observada, eu devaneava: Será que eu poderia confiar tão facilmente em estranhos assim? Foi certo eu ter confiado a posse do meu pequeno a Cassandra, uma completa estranha? Se ela for o que diz ser, Criadora, seria de uma ajuda tremenda. Mas merecia minha confiança?
Por alguma razão, eu imaginava que sim. Algo me dizia que era tudo bem acreditar na loira. E ela parecia disposta a me ajudar. Então, por que não?
Já vestida com meu conjunto azul com detalhes rosas, me achei bonita, apesar de tantas inseguranças bobas. Arrumei minha mochila e retirei meus óculos de sol, toalha e amarrei meu cabelo num coque mal-feito, quase que frouxo. Com tudo organizado, retornei ao local de encontro e entusiasmada, perguntei:

- Voltei! E então, fizemos algum progresso?

Parece que as coisas estavam avançando, finalmente. A Criadora me ajudou a pensar melhor e provavelmente Azurill evoluiria, o que era o melhor pra ele...
Não é?
Desviei desse apego bobo e entrei na água, muda. Não era muito fundo, era até agradável a extremidade onde eu me encontrava. Eu adorava água, principalmente de rios e lagos. Me sentia bem, em casa. Azurill parecia partilhar da mesma predileção, já que se divertia aos montes na água. Fazia tempo que eu não o via tão feliz. Ainda mais com seu novo amigo, Lombre. Eu não sabia muito sobre aquele pokémon, ativei então a pokédex para saber um pouquinho mais sobre o pokémon que mais parecia uma vitória-régia andarilha.

Pokédex escreveu:

Lombre, o pokémon Alegre. O corpo inteiro de Lombre é coberto por uma película escorregadia e viscosa. É terrivelmente desagradável ser tocado pelas mãos deste pokémon. Lombre é muitas vezes confundido com uma criança humana.

Enquanto ele procurava por treino, eu procurava por conhecimento. O que aconteceria em seguida?